A floresta havia retornado ao seu estado original como se nada tivesse acontecido. Árvores antes despedaçadas agora se erguiam altivas, vinhas se entrelaçavam pelo solo fértil e a vegetação florescia ao redor como se celebrasse sua imortalidade. O poder de Zyra era absoluto aqui.
Observei o cenário com um sorriso de canto. Parece que o confronto vai ser mais divertido do que eu pensei...
Zyra, por sua vez, levou a mão ao queixo, um sorriso sugestivo brincando em seus lábios. Seus olhos afiados se fixaram nele com um misto de interesse e curiosidade.
— Me diga, garoto... — começou ela, sua voz carregada de um tom provocativo. — Por que está lutando como um humano?
A pergunta me pegou de surpresa, me fazendo abaixou a foice, franzindo levemente a testa.
— Como assim?
Zyra deu um passo à frente, seus movimentos fluidos como os galhos ao vento.
— A energia que você usou para me chamar... — Ela riu suavemente. — Estava na cara que você não é humano.
Permaneci em silêncio, estudando-a.
— Você tem mais poder do que qualquer um em Ixtal... talvez até mais além disso. — O olhar dela brilhou com fascínio predatório. — Então me diga, por que agir de forma tão limitada quando pode muito mais?
Inclinou a cabeça, deixando escapar um suspiro leve, dando de ombros.
— Não tenho uma resposta exata para isso. — Um sorriso divertido surgiu em meu rosto. — Mas, no momento, só estou me divertindo.
Eu ergui a foice de volta ao ombro, os olhos azuis brilhando sob a máscara de kitsune negra.
— Se eu levasse essa luta a sério... — Minha voz baixa, carregada de uma certeza inabalável. — Não restaria um único pedaço de terra para você sobreviver.
O silêncio pairou entre os dois por um breve momento antes que Zyra soltasse uma risada suave.
— Você é bem orgulhoso e arrogante, garoto... — Seus olhos brilharam com malícia. — Mas eu posso entender o porquê.
Ela se virou levemente, observando a selva ao seu redor, antes de voltar a encará-lo.
— Quem tem poder, assim como eu, sabe como é estar no topo da cadeia alimentar.
Devolvi a resposta com um sorriso, isso torna a disputa ainda mais interessante.
A floresta ao meu redor sussurrava ameaças silenciosas, como se estivesse viva e ciente da presença de sua soberana.
Zyra não precisava dizer nada para que eu sentisse sua ira, mas mesmo assim, ela estreitou os olhos, analisando-me com desdém.
— Então me diga, garoto… — sua voz era tão sedutora quanto afiada. — O que exatamente veio fazer aqui?
Dei de ombros, girando minha foice lentamente entre os dedos.
— Recebi instruções para eliminá-la. — Deixei as palavras pairarem no ar antes de completar. — Para provar minha lealdade a Qiyana.
O riso de Zyra foi curto e seco, carregado de desprezo.
— Patético. — Ela balançou a cabeça lentamente. — Receber ordens de humanos…
As folhas ao nosso redor se agitaram, como se a própria floresta compartilhasse de sua indignação.
— Vocês realmente acreditam que podem vencer a natureza? — Sua voz agora tinha um tom de desafio. — Humanos são arrogantes, acreditam que tudo pode ser moldado, controlado… Mas eu nunca serei controlada.
Sorri de canto, inclinando levemente a cabeça.
— Sabe… eu gosto da sua atitude.
Zyra arqueou uma sobrancelha, surpresa com minha resposta.
— É parecida com a minha. — Ergui a foice, sentindo a energia vibrar ao meu redor. — E isso só torna tudo ainda mais interessante.
Zyra me lançou um olhar analítico, algo na expressão dela misturava desconfiança e inquietação.
— Por que sinto que essa lealdade que você tanto fala… é falsa?
O riso escapou por trás da minha máscara, reverberando no ar como uma melodia debochada.
— Você é bem perspicaz, Zyra. — Inclinei levemente a cabeça, deixando a energia pulsar ao meu redor. — Brincadeira… Eu nunca fui leal a ninguém. Muito menos sigo ordens.
Minha foice se dissolveu como fumaça, sumindo no ar como se jamais tivesse existido. Os olhos da minha máscara brilharam com intensidade, um azul etéreo que logo se transformou num vermelho carmesim vibrante.
— Eu faço o que quero, quando quero. — Minha voz saiu firme, carregada de convicção. — E agora? Agora eu só estou me divertindo com você.
A energia ao meu redor tomou forma, a escuridão do meu traje tingiu-se de um vermelho profundo, pulsando como um coração demoníaco. Antes que Zyra tivesse tempo de reagir, ergui minha mão com firmeza, canalizando tudo em um único golpe.
A terra sob seus pés tremeu, rachando de dentro para fora antes de desabar em uma explosão carmesim brutal. O impacto ressoou pela floresta como um trovão, pulverizando tudo ao nosso redor. Quando a poeira se dissipou, um círculo de destruição se estendia por pelo menos 700 metros. O solo antes fértil agora era rochoso, morto… completamente estéril.
Meus olhos percorreram a figura de Zyra. Seu corpo estava danificado, uma parte de seu braço havia sido arrancada pelo impacto. Mas ao invés de pânico ou raiva, ela parecia… surpresa.
— Isso foi inesperado. — A voz dela carregava uma nota de admiração enquanto vinhas se contorciam ao redor do ferimento, reconstruindo seu braço perdido. Seus olhos examinaram a paisagem devastada ao redor. — Você destruiu meu território.
Observei-a bater o pé contra o chão, como se testasse o que restava do ambiente. Mas, claro, eu já sabia.
— Pedra. — Sussurrei, meu tom carregado de satisfação. — Sem raízes, sem vida… sem natureza para você manipular.
A expressão de Zyra endureceu, mas o brilho nos olhos dela dizia tudo.
Eu tinha pegado a Rainha da Natureza desprevenida. E agora… ela estava encurralada.
Eu observei Zyra terminar suas palavras com aquele sorriso lascivo, que parecia tão natural em seu rosto. Ela sabia o efeito que causava, não era à toa que sua presença exalava confiança é algo muito mais... intrigante.
— Você é esperto, Renier. Bem esperto… — Ela disse, como se estivesse saboreando a própria vitória. — Parece que eu perdi nesse quesito, não é?
Eu me mantive impassível, olhando fixamente para ela. O sorriso dela não me afetava tanto quanto ela pensava, mas havia algo no seu olhar que, por um momento, me fez questionar se talvez ela não estivesse mais no controle do que eu gostaria de admitir.
Ela continuou, sua voz soando como um sussurro sedutor. — Agora que estou aqui, o que você fará comigo, hm?
Um sorriso sutil escapou dos meus lábios, meus olhos azuis se fixaram nela com um brilho divertido. Era óbvio que ela tentava provocar, mas a provocação não me abalava facilmente. Eu estava acostumado com esse tipo de jogo. No entanto, isso não significava que eu não fosse me divertir um pouco.
— Bem… Zyra, — comecei, minha voz profunda e controlada. — A questão é: o que você acha que eu deveria fazer com você? Porque se depender de mim... você não vai sair daqui tão fácil.
Eu me aproximei um pouco, sem pressa, apenas observando como sua expressão de confiança se mantinha, apesar de tudo. Eu sabia o jogo que ela estava jogando, e eu sabia muito bem como lidar com ele.
Ela sorriu ainda mais, como se esperasse algo mais... como se achasse que tinha me pegado de alguma forma. Mas eu não era fácil de enganar.
— Não tenho pressa em decidir o que fazer com você, — disse, minha voz se tornando quase um sussurro também. — Mas posso garantir uma coisa: você vai precisar de mais do que um sorriso para me fazer mudar de ideia.
Eu estava curioso. Até onde ela iria para manter o controle dessa situação? Porque a verdade era que, no fundo, ambos sabíamos que, por mais que ela quisesse dominar o momento, ela estava lidando com algo muito mais complexo do que imaginava.
Continua…