A casa de Anastasia estava envolta em um silêncio confortável, quebrado apenas pelo som ocasional do vento noturno que soprava suavemente lá fora. A luz dourada das lamparinas iluminava a sala, criando um ambiente aconchegante. Renier estava recostado em um dos sofás grandes, com Anny deitada sobre seu colo. A pequena dormia profundamente, a respiração ritmada enquanto estava aconchegada. Renier, por sua vez, tinha os olhos fechados, mas claramente estava desperto, com uma mão repousando suavemente sobre os cabelos de Anny.
Anastasia estava sentada em outro sofá, seus olhos pousando na cena com um olhar sereno. Malo ocupava parte do espaço ao lado dela, também adormecida, sua forma robusta apertada no sofá. Aura, em uma poltrona próxima, observava tudo com um ar de tranquilidade incomum, os olhos carmesins brilhando com à luz fraca.
— É curioso... — Anastasia disse, a voz baixa para não perturbar o silêncio. — Ele tenta parecer frio e distante o tempo todo, mas veja como cuida dela. Não hesitou nem por um momento em deixá-la dormir ao lado dele.
Renier abriu um leve sorriso, os olhos ainda fechados.
— Acho que devo isso a ela. — Sua voz soou calma, mas havia um toque de arrependimento. — Da última vez, fui para o território dos Demônios sem sequer me despedir. Só estou mimando a pequena agora para compensar.
Aura, com os braços cruzados, deu uma risada curta.
— Isso vai deixá-la melosa. — comentou, com um sorriso provocativo. — Assim como a Malo ficou com toda a atenção que você deu.
Anastasia riu, cobrindo a boca com a mão para não acordar as duas adormecidas. Renier apenas deu de ombros, um leve sorriso ainda no rosto.
— Não é minha culpa. — Ele respondeu, com uma pitada de sarcasmo.
O ambiente permaneceu descontraído, mas Anastasia mudou o foco da conversa, olhando diretamente para Aura e Renier, como se estivesse planejando algo.
— Mas e vocês dois? — começou ela, um sorriso brincalhão surgindo em seus lábios. — Enquanto estavam sozinhos, deram o primeiro passo no relacionamento?
Aura levantou uma sobrancelha, um tanto surpresa pela pergunta direta.
— Não tivemos tempo para esse tipo de coisa. — respondeu ela, mas sua expressão endureceu levemente. — Por que insiste tanto que Renier tenha mais uma esposa?
Renier permaneceu em silêncio, observando a conversa se desenrolar enquanto acariciava o cabelo de Anny, claramente deixando que as duas resolvessem isso.
— Porque... — Anastasia começou, sua voz mais suave agora. — Prefiro que Renier tenha mais pessoas a quem se apegar e que possam ajudá-lo a carregar o peso que ele carrega. E, sinceramente, acredito que você seja a âncora certa para isso.
Aura piscou, a surpresa evidente em seus olhos. Por um momento, ela desviou o olhar, como se ponderasse sobre as palavras de Anastasia.
— Não sou alguém que possa substituir você. — disse ela, finalmente, em um tom mais sério. — Você é a humanidade dele, Anastasia. Eu não sou.
Renier riu baixinho, interrompendo a tensão que começava a se formar. Ele abriu os olhos e olhou para ambas, sua voz tranquila mas cheia de significado.
— Vocês duas são importantes para mim. — disse ele, com um sorriso sincero. — Assim como Malo e Anny, embora de formas diferentes. Mas saibam de uma coisa: nenhuma de vocês é substituível.
As palavras de Renier fizeram Aura arregalar os olhos ligeiramente, uma leve cor tomando suas bochechas. Ela respirou fundo antes de falar, tentando mascarar seu embaraço.
— Está insinuando que eu deveria ser sua esposa também, Renier?
Renier olhou para Anastasia, que, com um sorriso de encorajamento, fez um leve gesto de aprovação. Com mais confiança, ele voltou seu olhar para Aura.
— Sim. — disse ele, com firmeza, mas também com um toque de humor. — Isso se uma Rainha dos Demônios poderosa aceitaria um garoto como eu como marido.
Aura ficou momentaneamente sem palavras, seus olhos piscando em surpresa genuína. Mas logo, ela sorriu de lado, cruzando os braços enquanto o olhava de forma quase desafiadora.
— Você não é apenas um garoto, Renier. — respondeu ela, um brilho intenso em seus olhos. — E, depois de tudo o que passamos... seria impossível não aceitar.
O clima na sala ficou mais leve, preenchido com um sentimento de conexão e promessas. Anastasia sorriu, satisfeita, enquanto Renier e Aura compartilhavam um olhar de entendimento silencioso. Mesmo com os desafios que ainda estavam por vir, naquele momento, eles encontraram algo que os uniria ainda mais.
A sala estava iluminada suavemente pelas lamparinas, criando um ambiente acolhedor, mas de tom íntimo. Anastasia observava com um olhar ponderado, as mãos delicadamente descansando sobre os joelhos, sua presença serena e tranquila como sempre. Seus olhos se voltaram para Aura e Renier, e com uma voz suave, mas carregada de uma convicção tranquila, ela falou.
— Eu sei que você tem sido a âncora dele, Aura, — disse Anastasia, seu tom baixo, mas cheio de significado. — Sempre ao lado dele, impedindo que se perca no peso do que carrega como Guardião Negro. Mas, Renier... — Ela pausou, deixando suas palavras pairarem no ar enquanto seus olhos se dirigiam ao jovem, que ainda acariciava os cabelos de Anny com um gesto delicado, quase paternal. — Ele precisa de mais âncoras. Não apenas para não se perder no dever, mas para lembrar de por que ele luta. Porque, às vezes, é fácil esquecer quando a carga é tão grande.
Aura olhou para Anastasia, a expressão dela oscilando entre ceticismo e compreensão, os olhos carmesins refletindo a luz suave da sala. Sua postura se manteve firme, mas o coração de Aura parecia pesar com as palavras de Anastasia. O silêncio que se seguiu foi denso, como se o ar ao redor de todos estivesse carregado de algo que ainda não havia sido completamente dito.
Anastasia, percebendo o efeito de suas palavras, continuou, agora com um tom mais suave, mais pessoal.
— Eu não quero que ele carregue todo esse fardo sozinho, — ela murmurou, como se estivesse confidenciando um pensamento profundo. — E não quero ser a única que o mantém conectado ao que realmente importa. Eu acredito que você pode ser outra ancoragem, outra razão pela qual ele se lembra de quem é, além do Guardião. Mais pessoas... mais motivos. Isso é o que ele precisa.
Renier permaneceu em silêncio, os olhos fixos na pequena Anny que dormia em seu colo, mas sua mente estava longe, refletindo sobre as palavras de Anastasia. Não era mentira.
Ele sabia que, por mais que tentasse se afastar do peso de sua responsabilidade como Guardião Negro, sempre havia algo que o puxava de volta para o que realmente importava: as pessoas que ele amava. Ele lembrava claramente do momento em que tentou se afastar de sua avó Makoto, desejando se distanciar de qualquer laço familiar, mas foi Anastasia quem o trouxe de volta.
Da mesma forma, foi Aura quem o lembrou de que não estava sozinho, especialmente quando foi confrontado pelas palavras da Sombra na batalha. Ele se sentiu impotente naquele momento, mas as palavras de Aura o impediram de sucumbir. Ele sabia, no fundo, que tanto Anastasia quanto Aura haviam se tornado fundamentais para ele de maneiras que ele não conseguia mais negar.
Aura, percebendo o estado introspectivo de Renier, se levantou da poltrona com um movimento gracioso e decidido.
Ela se aproximou dele, sua presença dominadora preenchendo o espaço, e, sem hesitar, beijou-o com uma intensidade surpreendente. A ação foi rápida, mas não menos poderosa, e fez Anastasia olhar para a cena com um toque de surpresa. A ousadia de Aura foi algo que não passava despercebido, mas talvez fosse apenas parte da natureza dominante de uma Oni.
Quando Aura se afastou, ela sorriu de canto, a confiança estampada em seu rosto.
— Agora, espero que você seja o guerreiro que sempre foi. — Ela disse, sua voz cheia de desafio. — Se deseja uma mulher do meu calibre, vai acabar ficando preso demais. Não vai conseguir escapar de uma Rainha.
Renier ficou sem palavras por um breve momento, claramente surpreso pela audácia das palavras dela e pela situação em que se encontrava. Ele achou aquelas palavras, e a forma como fora colocado, surpreendentemente atraentes. O tom desafiador de Aura, sua confiança... tudo isso mexeu com ele de uma maneira que ele não esperava, mas que, de certa forma, o estimulava.
O clima na sala, no entanto, mudou quando o som suave de Anny, ainda com sono, quebrou o silêncio.
— Já é hora de comer doces? — A pequena esfregava os olhos, confusa com o barulho que havia feito, ainda tentando acordar completamente de seu sono.
Renier riu suavemente, a cena descontraída trazendo de volta um pouco da leveza ao ambiente.
— Acho que é melhor levar a Malo e a Anny para a cama. — Ele disse, sorrindo, enquanto se levantava, cuidadosamente ajeitando Anny em seus braços.
Anastasia olhou para o cenário com um sorriso suave, sentindo que, apesar das complexas dinâmicas entre eles, o vínculo que compartilhavam era forte e real. E, em meio a tudo isso, o futuro parecia um pouco mais claro, mesmo que os desafios ainda estivessem por vir.
Continua…