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Espaço entre o começo e o fim.

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Synopsis
Lian Rid acreditava que sua existência era um abismo sem fim. Cercado por violência, traições e perdas irreparáveis, ele carregava um vazio que o consumia dia após dia. Quando sua vida chegou ao fim de forma brutal, ele pensou que a escuridão finalmente o havia reivindicado. Mas a morte foi apenas o começo. Desperto em um mundo estranho, onde a realidade parece dobrar-se sob regras desconhecidas, Lian descobre que os ecos de sua alma carregam mais do que dor. Algo dentro dele chama forças que não deveriam existir. Algo que pode moldar ou destruir este novo mundo. Neste lugar, onde segredos são mais perigosos do que espadas e sombras parecem sussurrar verdades proibidas, Lian enfrentará escolhas que desafiam sua própria essência.
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Chapter 1 - Prólogo cap 0 - Nas Cinzas da Ruína

A vida de Lian Rid, como diriam os pessimistas, era uma completa desgraça. Não havia escassez de dor e miséria em sua existência.

Seu pai, um policial de quarenta anos, não passava de um trapo humano embriagado, cujo único talento consistia em afundar-se no sofá, assistindo a programas sem graça e soltando risadas sem sentido com programas idiotas.

Aquele sujeito repugnante vivia às custas do governo e de sua esposa, esbanjando a maior parte de suas verbas em jogos de cassino. Para Lian, seu pai era pouco mais que um cadáver em decomposição, afundado naquele sofá imundo, exalando um odor insuportável.

O seu pai sofria de (TEI) Transtorno Explosivo Intermitente e, nas ocasiões em que a raiva o dominava, ele não hesitava descarregar sua fúria em Lian.

Os insultos eram cruéis e implacáveis: "Você é um inútil, nada que você faz presta, sua praga! Você é uma maldição nesta família, garoto!". Essas eram as frases mais recorrentes que Lian escutava.

Além das agressões morais, o pai também partia para a agressão física, deixando marcas visíveis em todo o corpo de Lian. Mas, apesar de tudo, eram as cicatrizes emocionais que corroíam sua alma. Ele vivia em constante medo, nunca sabendo quando seria alvo da ira de seu próprio pai.

A mãe de Lian era uma mulher promíscua, conhecida nos círculos mais baixos como a "dama de ouro", traduzindo na linguagem dos leigos, uma puta.

Surpreendentemente, o bacaca do seu pai nunca desconfiou disso. Ela costumava dizer "Vou sair com minhas amigas, Osvald, cuide das crianças". E o idiota caía na mesma conversa todas as vezes, incapaz de enxergar a verdade por trás da fachada da esposa.

Lian também tinha uma irmã, chamada Bia. Mas ela tinha câncer terminal. Para Lian, Bia era muito mais do que uma simples irmã. Ela era sua confidente, sua melhor amiga e a única fonte de conforto e apoio em meio ao caos que reinava em sua família.

Os Rid residiam em um pequeno vilarejo isolado, situado nos confins de uma localidade remota e esquecida, onde a civilização parecia ter se perdido há tempos. Era uma comunidade onde a normalidade era apenas uma miragem distante, contrastando com os vizinhos bizarros e excêntricos que habitavam nas proximidades.

Dona Stela, a vizinha da direita, era uma senhora idosa de cabelos grisalhos que escondia um segredo obscuro: ela era uma traficante de entorpecentes de alta qualidade. Sim, você leu corretamente, entorpecentes da pesada.

Sempre que Lian retornava da faculdade, seus ouvidos eram brindados com os gritos estridentes de Dona Stela ecoando de dentro de sua humilde residência: "Vai uma verdinha, meu jovem?!". Era como se a velhinha desfrutasse em revelar seu negócio ilícito de forma nada sutil.

E o sempre gentil Lian, mesmo que em tom de brincadeira, respondia com um sorriso sarcástico: "Só quando eu for fazer turismo no inferno, dona Stela". Era um jogo de palavras que denotava a estranha relação entre vizinhos nesse cenário bizarro e perturbador.

A vizinha da esquerda, Dona Raley, era uma figura ainda mais peculiar e perigosa. Ela se envolvia no obscuro mundo do contrabando de armas, movimentando um mercado clandestino que alimentava a violência e o crime. Enquanto isso, seu marido, Tom, ganhava dinheiro sujo com a venda ilegal de animais exóticos, alimentando um comércio clandestino de espécies protegidas e desafiando todas as leis existentes.

Os Rid, por mais disfuncionais que fossem, pareciam meros amadores comparados à exclusividade sombria e perigosa de seus vizinhos. Era como se a normalidade não tivesse lugar nessa pequena cidade remota, e os Rid estivessem cercados por um mundo paralelo de atividades criminosas.

O surrealismo atingia seu ápice quando até mesmo os representantes da lei, os policiais, visitavam a casa de Dona Stela para desfrutar das suas ofertas de maconha. Era uma ironia perturbadora, onde o sistema utilizava o próprio sistema para alimentar seus vícios e escapar da realidade. Aqueles que deveriam fazer cumprir a lei e proteger a comunidade se entregavam à transgressão e ao prazer ilícito, criando uma teia de corrupção e hipocrisia.

Lian nunca foi um garoto popular na escola, sofrendo constantemente com o bullying impiedoso por ser considerado um nerd esquisito. "Quatro olhos, nariz de tucano e nerd nojento" eram apenas alguns dos insultos cruéis que ele recebia regularmente. Os responsáveis pela escola negligente e repleta de indiferença pareciam fechar os olhos para sua dor, sem fazer questão de intervir.

"Foda-se as regras, foda-se o sistema", tornou-se o dilema de Lian em meio a toda aquela miséria que ele tinha que enfrentar dia após dia.

Foi com essa determinação que ele espancou um garoto que fazia bullying com ele, Jones, era o seu nome. Um moleque esquelético, magro como uma vara. Mas Lian não estava tão distante desse tipo corporal.

O que se sucedeu depois desse confronto foi um verdadeiro show de horrores, executado pelos comparsas de Jones. Eles agarraram Lian e lhe infligiram a pior surra que ele já havia sofrido em toda sua vida.

— Vamos, bixinha, levanta e luta! — proferiu um dos garotos musculosos, depois de desferir um soco na boca do estômago de Lian, que se encontrava sem fôlego, caído no chão úmido do beco.

Com a raiva pulsando em suas veias, Lian encontrou forças para se levantar, ainda que cambaleante. O rosto ensanguentado e os olhos cheios de fúria, ele proferiu com dificuldade: — Eu vou matar vocês, todos vocês! Seus desgraçados! —

Mas as palavras bravas de Lian foram como um grito solitário no abismo, perdido no vazio. O que se seguiu foi uma torrente de violência desenfreada. Os sete marmanjos, alimentados pela ira e pela crueldade acumulada, desferiram golpe atrás de golpe em Lian, como predadores sedentos pela presa mais vulnerável.

A surra que se seguiu foi implacável. Cada pontapé e soco desferido contra Lian era como uma investida destrutiva, um golpe destinado a quebrar seu espírito e sua resistência. O som de seus ossos sendo esmagados e sua carne sendo dilacerada ecoava pelo beco, enquanto Lian se via impotente diante da fúria de seus agressores.

A escuridão o envolvia, a dor lancinante se mesclava com o gosto metálico do sangue que inundava sua boca. Ele lutava para respirar, sentindo como se o ar lhe fosse arrancado com cada pancada. Seus olhos encheram-se de lágrimas de angústia e impotência, enquanto seu corpo agonizante se contorcia no chão sujo e frio.

A sorte, finalmente, parecia ter se compadecido de Lian quando um segurança do colégio, atraído pelo barulho da briga, interveio. Os marmanjos, receosos das consequências, afastaram-se rapidamente, como hienas assustadas por um rugido de um leão.

Lian, quase sem vida, permaneceu imóvel no chão, seu corpo marcado por hematomas e feridas abertas. Cada parte de seu ser clamava por alívio, por uma pausa naquela dor lancinante. O segurança, consternado com a cena que se desdobrava diante de seus olhos, chamou por ajuda e logo uma ambulância foi acionada.

Foi no limiar entre a consciência e o desvanecimento que Lian encontrou-se, à beira da morte. A violência que ele enfrenta deixou cicatrizes profundas, tanto físicas quanto emocionais. O beco sombrio e cruel tornou-se testemunha de seu sofrimento, de sua luta desesperada por sobreviver em meio ao caos.

A verdade é que Lian não era dotado de nenhum atributo admirável. Sua aparência era, no mínimo, medíocre. Ele não possuía nenhum traço especial que pudesse chamar a atenção, nem uma beleza estonteante, nem um corpo bombado. Seu rosto era apenas mais um rosto comum na multidão, sem traços marcantes ou atrativos que pudessem fazer as pessoas se voltarem para ele.

Lian, depois de concluir a escola e entrar na faculdade de física, aprendeu da maneira mais difícil que o ditado "tudo que ela pode dizer é um não" poderia se tornar uma realidade cruel. Ele decidiu se declarar para uma caloura, chamada Camila, aquela garota deslumbrante que fazia seu coração bater mais rápido desde o primeiro dia de aula. Com coragem correndo em suas veias, ele escreveu uma cartinha cheia de doçura, expressando seus sentimentos mais profundos.

No entanto, a resposta de Camila não poderia ter sido mais distante de um conto de fadas romântico. Ela devolveu a cartinha com uma surpresa desagradável: uma grande e fétida merda de cachorro. E para piorar, teve a audácia de proclamar: "É isso que você é, seu merdinha!".

E é era isso a vida de Lian, uma merda.

Apesar de não ser um devoto cristão, Lian era obrigado a acompanhar sua mãe, Tâmia, à igreja. Ela buscava redenção pelos pecados de traição e adultério, mas no dia seguinte já estava trepando com qualquer pessoa disposta a pagar-lhe uma generosa quantia em dinheiro.

Sua ideologia se resumia a pedir perdão sempre que pecava, acreditando que isso lhe permitiria escapar das consequências. Era uma ironia no mínimo intrigante, ver Tâmia buscando salvação em um lugar sagrado, apenas para retornar aos seus velhos hábitos pecaminosos tão rapidamente.

Apesar de sorrir para todos ao seu redor, Lian carregava um vazio interno profundo. O mundo ao seu redor parecia desprovido de cores, uma realidade caótica e desoladora.

No entanto, chegou o dia que o câncer levou a sua irmã, Bia. O seu estado mental era, no mínimo, lamentável.

Após a morte de Bia, ele encontrou uma forma de escapar dessa realidade ao dedicar-se diariamente ao cuidado da senhora Vani em um asilo.

Vani era muito mais do que apenas uma babá para Lian, ela era uma figura materna que preenchia o vazio deixado pela ausência de afeto em sua própria família.

Durante sua infância até os 18 anos, ela cuidou dele, proporcionando-lhe amor, estabilidade e um senso de pertencimento. Em meio à escuridão e ao caos de sua vida, Vani era um raio de luz, uma presença reconfortante e carinhosa.

Contudo, a vida traiçoeira não poupou Vani por muito tempo. Ela sofreu um trágico ataque cardíaco no dia que deveria ser de celebração, o aniversário surpresa de Lian. A dor da perda foi avassaladora, deixando-o em estado de choque e desespero. Aquela que havia sido sua figura materna e fonte de amor incondicional foi subitamente arrancada de sua vida, deixando um vazio insuperável. Aquilo foi o estopim da sua sanidade.

Resumidamente: a vida de Lian era uma desgraça completa, um verdadeiro inferno na terra. Mas algo estava prestes a acontecer, trazendo uma mudança radical em sua vida.

Num beco escuro e sombrio, Lian se viu confrontado por um trombadinha, armado até os dentes e sedento por roubar tudo o que ele tinha. A arma estava apontada diretamente para sua cabeça, e a voz do bandido ecoava ameaçadora: "Vamos, seu filho da puta, passa tudo!"

Diante dessa situação desesperadora, algo dentro de Lian se quebrou. Ele não tinha mais nada a perder, sua vida já era um abismo de vazio extremo. Então, num impulso desesperado, ele respondeu com uma determinação fria: "Mata, pode matar."

Não havia medo em suas palavras, apenas resignação e uma vontade de encerrar o tormento que era sua existência. Ele se via como uma sombra perdida, sem propósito ou esperança. Seu desejo era ser libertado desse sofrimento constante, mesmo que isso significasse o fim em mãos criminosas.

A vida o havia tratado com desprezo e crueldade, empurrando-o para o fundo do poço. A escuridão havia se tornado sua companheira constante, e ele estava disposto a abraçá-la de uma vez por todas. Afinal, se não havia nada além do vazio, por que continuar vivendo?

Então um som ensurdecedor ecoou pelo beco. "Bam! Bam!" Dois tiros certeiros perfuraram o ar, atingindo em cheio a cabeça de Lian. A vida que ele conhecia chegou ao fim ali, num instante sangrento e cruel. Sua existência, marcada por desilusões, violência e um vazio insuportável, encontrou um trágico desfecho.

Enquanto seu corpo inerte jazia no chão sujo do beco, as vozes desesperadas dos transeuntes se misturavam em um frenesi de pânico. "Puta merda, mataram o cara aqui, alguém ajuda!", exclamava alguém, desesperado por socorro. Mas para Lian, não havia mais ajuda, não havia mais esperança.

A escuridão rapidamente o envolveu, como um manto que silenciava suas dores e apagava sua presença do mundo. Ele se tornou apenas mais um triste relato de violência e desespero, um rosto esquecido no mar de horrores da cidade.

Enquanto a vida cruel de Lian Rid chegava ao seu fim prematuro e trágico, mergulhando-o numa eternidade de escuridão e silêncio, algo indefinível dentro dele indicava que algo estava por vir. Embora sua existência terrena tivesse sido marcada por sofrimento e desilusão, uma centelha de energia persistia no âmago de sua alma.