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Chapter 28 - Capítulo 23 - A Queda das Asas

Lúcifer não esperou. Antes mesmo que eu pudesse me preparar, ele se moveu, rápido como o pensamento, suas mãos se moldando em lâminas negras que cortaram o ar entre nós. Não era apenas força física. Era algo além, algo primordial. O impacto de seu ataque foi como o colapso de uma estrela, me lançando para trás, enquanto o mármore do chão se despedaçava em mil fragmentos.

Eu me levantei, cuspindo sangue. Minhas costelas doíam, e o ar estava carregado de uma pressão sufocante, como se o próprio inferno estivesse retendo sua respiração para assistir. O anjo se moveu ao meu lado, sua espada brilhando com uma luz tão intensa que parecia deslocar a escuridão ao redor.

— Não interfira — eu disse, olhando para ele. Minha voz era firme, mas meu corpo tremia. Não de medo, mas da antecipação de algo inevitável. — Este não é o seu combate.

— Você é humano, mortal. Contra ele, você é nada mais do que poeira — o anjo respondeu, seus olhos queimando com algo entre preocupação e raiva. — Deixe-me lutar.

Eu ri, um som que reverberou no vazio como vidro quebrado. Meu sorriso era cortante, mais para mim mesmo do que para ele.

— Não sou nada. E é exatamente isso que me torna perigoso.

Antes que o anjo pudesse responder, Lúcifer avançou novamente. Ele era pura energia, pura intenção. Eu não me movi. Não tentei me esquivar. Em vez disso, permiti que ele chegasse perto, tão perto que pude sentir o calor sufocante de sua presença. E então, no último segundo, eu deslizei para o lado, minhas mãos encontrando uma das veias pulsantes no chão e a arrancando com um puxão bruto.

A veia explodiu, jorrando um líquido negro e espesso que queimou o ar ao redor. Lúcifer gritou, uma mistura de raiva e surpresa, quando o fluido atingiu sua forma oscilante, corroendo-a como ácido. Ele cambaleou, e nesse momento o anjo atacou, sua espada descendo em um arco perfeito.

O impacto foi um espetáculo de luz e sombra. A espada encontrou Lúcifer no peito, e por um breve momento, ele gritou, não de dor, mas de algo mais profundo. Um som de revolta, como se estivesse sendo arrancado de sua própria essência. Mas ele não caiu. Com um movimento brutal, Lúcifer agarrou o anjo pela garganta e o lançou contra o chão.

O impacto foi devastador. O mármore cedeu, rachando como gelo fino. O anjo tentou se levantar, mas Lúcifer estava sobre ele, sua mão envolvendo a garganta do celestial enquanto sua outra mão se ergueu, transformando-se em uma lâmina negra.

— Você, servo cego, acha que pode me desafiar? Acha que sua luz pode apagar o que eu sou? — Lúcifer rugiu, sua voz ressoando como trovões no abismo.

Eu assisti, meu coração batendo em um ritmo frenético. Não era medo, não exatamente. Era algo mais próximo de uma fúria fria, de uma compreensão de que aquele momento era minha chance.

Agarrei um dos fragmentos de mármore no chão, agora afiado como uma lâmina, e me movi. Antes que Lúcifer pudesse desferir o golpe final, saltei sobre ele, cravando o pedaço de mármore em suas costas. O impacto fez com que ele soltasse o anjo, gritando, girando para me encarar.

— Você ousa? — ele rugiu, sua voz cheia de algo que parecia mais um desafio do que raiva.

— Eu não ouso nada — respondi, minha voz fria. — Eu simplesmente faço.

Ele atacou novamente, e dessa vez o mundo ao nosso redor parecia reagir. O chão se partiu, as veias pulsaram mais violentamente, e o ar estava saturado com um calor que parecia querer me consumir. Cada movimento que eu fazia era um esforço, cada respiração uma batalha. Mas eu continuei.

A luta não era bela. Não era heroica. Era um caos brutal, um espetáculo de sangue, sombras e luz que ameaçava destruir tudo ao nosso redor. O anjo voltou a se levantar, seu rosto sério, a espada novamente em suas mãos. Ele avançou ao meu lado, e juntos enfrentamos a tempestade que era Lúcifer.

Mas não havia coordenação. Ele lutava com a luz, com a pureza. Eu, com nada além de minha vontade e a amoralidade que guiava cada golpe. Enquanto o anjo mirava cortes precisos, eu buscava qualquer oportunidade, usando o próprio inferno contra Lúcifer. Veias, fragmentos de mármore, até mesmo as sombras ao nosso redor — tudo era uma arma.

Finalmente, houve um momento de pausa. Lúcifer cambaleou, sua forma oscilando, menos sólida do que antes. Ele nos olhou, e em seus olhos havia algo que não era medo, mas respeito.

— Vocês realmente acreditam que podem me destruir? — ele disse, sua voz agora mais baixa, mas ainda carregada de uma presença esmagadora.

Olhei para o anjo. Ele estava cansado, sua luz mais fraca, mas seus olhos ainda brilhavam com determinação. E então, olhei para Lúcifer.

— Não quero destruí-lo. Quero algo pior — eu disse, minha voz sombria. — Quero mostrar que você não é necessário.

Lúcifer riu, um som fraco, mas ainda assim poderoso.

— Então venha, mortal. Prove.

E eu fui.