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Chapter 30 - Capítulo 24: Moralidade ou Imoralidade?

Eles avançaram juntos, luz e trevas convergindo para me destruir. Cada passo que davam parecia abalar a própria fundação do Inferno, mas eu não recuei. Naquele momento, percebi que força bruta nunca seria suficiente para vencê-los. Não contra um anjo, o símbolo da ordem celestial, e Lúcifer, o arquétipo da rebeldia absoluta. Mas contra a mente, nem o Céu nem o Inferno têm defesa.

Eu esperava pela abertura, pelo momento em que a própria essência de seus papéis os tornaria previsíveis.

O anjo atacou primeiro, sua espada brilhante cortando o ar como um relâmpago divino. Suas investidas eram precisas, disciplinadas, previsíveis. Cada golpe era metódico, uma demonstração perfeita da ordem que ele representava. Eu esquivei, movendo-me em círculos, forçando-o a expor seu padrão.

— Você não pode ganhar, humano! — gritou o anjo, sua voz ainda imponente. — Minha força não é minha, mas do Altíssimo!

Lúcifer riu ao lado. — O Altíssimo? Deixe-me adivinhar, Ele te mandou aqui para morrer, não foi? Assim como faz com todos os seus peões.

O anjo hesitou, mas continuou. Ele sabia que Lúcifer estava tentando envenenar sua mente, mas o ponto já estava feito.

— Não ouça ele — provoquei o anjo, um sorriso cínico surgindo em meus lábios. — Mas me ouça: você nunca age por si mesmo. Você é uma ferramenta, não um ser.

Ele rugiu em resposta e atacou com ainda mais ferocidade. Era exatamente o que eu esperava. O anjo era uma criatura de ordem, e nada desestabiliza mais a ordem do que a dúvida. Ele já não pensava claramente; cada golpe era mais impulsivo, menos preciso.

Lúcifer aproveitou a abertura. Enquanto o anjo avançava, ele atacou, suas garras negras tentando me agarrar pelas costas. Mas ele também era previsível. Lúcifer era caos, sim, mas um caos que sempre acreditava ser irresistível. Ele agia pela emoção, e emoções são fáceis de manipular.

Eu me joguei para o lado, e, no momento exato, o ataque do anjo passou rente a mim, colidindo com as garras de Lúcifer. A luz e as trevas se encontraram em uma explosão brutal, lançando ambos para trás.

— Vocês são tão cegos que nem percebem o óbvio! — gritei, minha voz ecoando pelo salão. — Vocês não são opostos. São lados da mesma moeda, se destruindo mutuamente enquanto acham que estão no controle.

O anjo, ofegante, levantou-se. Seu rosto estava marcado por dúvida e raiva. Lúcifer, por outro lado, parecia furioso, sua forma oscilando entre a humana e a monstruosa.

— Ele está nos manipulando! — gritou o anjo. — Ele quer que nos destruamos!

— E você? — retrucou Lúcifer, suas garras tremendo de frustração. — Vai continuar seguindo ordens cegamente enquanto o humano expõe sua fraqueza?

A semente estava plantada. Eles já não lutavam comigo, mas entre si. O anjo avançou contra Lúcifer, sua espada cortando o ar com determinação divina. Lúcifer respondeu com toda a brutalidade de sua essência, suas garras e dentes tentando destruir o que representava a ordem.

Eu fiquei ali, observando, enquanto a batalha se desenrolava. Luz e trevas colidiam em uma dança de destruição, cada golpe enfraquecendo os dois. E então, no momento certo, eu agi.

Peguei um pedaço da espada quebrada do anjo, que havia caído durante o combate. Sua luz era fraca, mas ainda queimava. Avancei em direção a eles, silencioso como uma sombra. Lúcifer estava distraído, tentando bloquear um ataque do anjo. Eu me aproximei por trás e cravei o pedaço da espada em seu peito.

Ele gritou, um som gutural e profundo que fez o Inferno tremer. Seu corpo começou a se desfazer, mas não antes de lançar um último ataque, suas garras acertando o anjo no peito. A luz do anjo também começou a apagar, mas ele ainda conseguiu se virar para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de dor e respeito.

— Você... venceu. Mas a que custo? — perguntou ele, sua voz fraca.

Eu não respondi. Não havia nada a dizer.

Quando os dois desapareceram, consumidos por sua própria destruição, o salão ficou em silêncio. O Inferno inteiro parecia segurar a respiração. E então, uma voz surgiu.

— Foi isso que você escolheu? — perguntou Deus. Sua voz era serena, mas poderosa, como se viesse de todos os lugares ao mesmo tempo.

Olhei ao redor, procurando uma forma, mas não havia nada além do vazio.

— Escolher? — respondi, minha voz carregada de cansaço. — Eu não escolhi nada. Eu apenas sobrevivi.

— E agora? — perguntou Deus. — Você está diante da encruzilhada. Obediência, rebeldia... ou algo mais?

Eu ri, um som seco que ecoou pelo vazio. — Não vou me curvar, nem vou lutar contra você. Eu escolho a apatia. A ausência de escolha.

Houve um silêncio longo, pesado. Então, Deus falou novamente, mas agora sua voz parecia mais próxima, mais pessoal.

— Então você escolhe ser único. Um ser que não pertence a lugar algum. Nem ao Céu e nem ao Inferno.

— Eu escolho ser nada, e, ao mesmo tempo, ser tudo o que vocês temem. — Meu tom era firme, quase desafiador.

— E assim será. —

A luz desapareceu, e eu caí, não para o Inferno ou para o Céu, mas para a Terra. Um lugar onde eu seria tudo e nada ao mesmo tempo. Um fantasma no mundo dos vivos.