Eve~
"Piedade?" Meu pai zombou, o som da sua voz ecoando pelos elegantes pisos de mármore das Alturas Lunares, a casa branca do Alfa. "Você não merece piedade."
"Mas Pai—"
"Não me chame disso!" Ele rosnou em meu rosto, seu hálito quente contra minha pele. "Você não tem porra de um."
"Não depois do que você fez com a nossa filha," minha mãe se juntou, sua voz afiada enquanto ela ficava ao lado dele, envolta em roupas de grife manchadas de sangue; o sangue da minha irmã, seus saltos clicando no chão da suíte luxuosa.
Suas palavras me despedaçaram. Eu também era filha dela.
"Eu não machuquei a Ellen!" Tentei dizer a eles, minha voz tremendo.
"Não, você não tentou machucá-la," uma voz familiar interrompeu, calma mas fria.
Esperança surgiu em meu coração quando reconheci a voz. Levantei minha cabeça para encontrar os olhos castanhos do meu noivo. "James..." eu sussurrei. Ele estava seguro. Ele não estava preso. "Graças à deusa," murmurei baixinho, alívio inundando meu corpo por um momento.
Ele se aproximou de mim, seus olhos cheios de lágrimas. Doía ver ele desmoronar por minha causa. Era injusto com ele. Ele se ajoelhou diante de mim, suas mãos tremendo.
"Eve..." Ele acariciou meu rosto, o frescor do seu toque contrastando com o calor das minhas lágrimas.
"James, me desculpe tanto," eu sussurrei, esperando contra a esperança que ele entendesse.
"Apenas confesse," ele disse baixinho, as lágrimas brilhando em seus olhos. "Conte a eles a verdade."
Meu sangue gelou, e meu coração afundou. Eu esperava estar ouvindo ele errado. "O quê... do que você está falando?"
"Você não precisa mais mentir. Eu entendo. Você estava com ciúmes e com medo. Mas você tem que se abrir." Seus olhos estavam suplicantes, mas suas palavras estavam me matando.
Ele não acreditava em mim.
"Não fui eu!" Eu gritei, o desespero entrelaçado em cada palavra.
Sua expressão mudou, seu rosto ficou frio enquanto se levantava. Em um movimento rápido, ele se afastou de mim, como se meu toque o enojasse. Então, como em um pesadelo, ele apontou um dedo acusador para mim.
"Você fez isso, Eve. Você me disse que estava planejando algo."
Meu mundo desabou naquele momento. Olhei para cima, atordoada. "Do que você está falando?" eu sussurrei, meus ouvidos zumbindo de choque.
James se virou de mim e retirou um pequeno saco transparente do bolso. Ele o balançou no ar para todos verem. "Isso foi o veneno que eu encontrei no quarto da Ellen, Alfa," ele anunciou, sua voz firme e forte.
A sala ficou em silêncio, o ar frio da casa arrepiando minha pele enquanto todos os olhos se fixavam no frasco de comprimidos em sua mão. Era um que eu nunca tinha visto antes. Meu estômago revirou enquanto o pavor me enchia. O que estava acontecendo?
"Isso não é meu," eu disse, minha voz tremendo. "Eu não—"
"Cale-se!" Meu pai urrou, sua voz retumbante no elegante cômodo enquanto ele avançava, seus olhos ardendo de raiva e ódio. "Não nos minta. Não somos tolos. Você sempre teve ciúmes de sua irmã. Eu sabia que você era o gêmeo amaldiçoado. Você mataria a bênção desta alcateia por causa da abominação que você é!"
Cada palavra parecia uma punhalada no coração, me sangrando até secar. Ninguém acreditava em mim.
"Por favor, você tem que me ouvir," eu implorei, esfregando minhas mãos, lágrimas escorrendo pelo meu rosto. "Eu não fiz isso." Eu rastejei em direção a James, mas ele recuou de mim como se eu fosse um animal doente.
"Não se aproxime de mim!" Ele grunhiu, sua voz cheia de nojo.
"James, você me conhece." Eu estava desesperada. "Eu nunca faria isso. Depois de tudo que passamos juntos, você sabe—"
"Eu pensei que te conhecia," ele me interrompeu, seu tom gelado. "Mas você me enganou. Eu nunca te conheci de verdade."
Seus olhos não tinham mais o calor que eu lembrava. Eles estavam frios e distantes, como se ele estivesse olhando para uma estranha. Eu não podia perder ele também.
"Não!" Eu gritei, minha voz se quebrando. "Sou eu, sua Eve," implorei, levantando meu dedo para ele. "Você me pediu em casamento. Eu sou para ser sua esposa." Tentei lembrá-lo, minha voz tremendo.
"Eu me arrependo," ele cuspia.
Eu queria morrer.
"Ellen estava certa sobre você o tempo todo. Eu gostaria de ter escutado. Pobre Ellen." Sua voz ficou mais alta enquanto ele continuava a falar. "Você deveria ser executada. Você deveria ser morta por seus crimes e pelo monstro que você é."
Suas palavras cortavam mais fundo do que qualquer lâmina poderia. Se nossos papéis fossem invertidos, eu teria ficado ao lado dele. Como ele poderia se voltar contra mim assim?
"Mas eu não fiz isso!" Eu gritei, mas a raiva do meu pai se inflamava, e o que eu senti em seguida foi o pé dele batendo no meu lado. O chute foi tão forte que o ar foi expulso de mim, e a dor se espalhou pelo meu corpo, ameaçando me afogar.
"Leve-a," meu pai ordenou, sua voz fria e autoritária, reverberando pelas paredes polidas de mármore. "Leve-a para a cela até eu decidir como nos livraremos dela."
Os guardas me pegaram sem hesitação, me arrastando violentamente pelo piso reluzente.
"Por favor..." eu sussurrei, mas ninguém olhou para trás. Nem mesmo James.
"Você deveria ter escutado, Eve," meu lobo disse enquanto eu era levada para as celas.
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Na cela, ratos corriam pelo meu redor, as frias paredes de concreto se fechando sobre mim. Tudo o que eu podia fazer era chorar. Em uma única noite, eu havia perdido tudo. No meu aniversário de dezoito anos—o dia que deveria ter sido um novo começo—eu havia perdido tudo.
Por que eles não podiam perceber que eu nunca faria isso com minha própria irmã? Eu amava a Ellen. Ela era minha irmã. Eu teria me sacrificado por ela, se chegasse a isso. Eu me lembrava da forma como ela sussurrou para eu correr enquanto vomitava sangue.
O que aconteceria comigo agora? Esta noite, eu deveria ter encontrado meu lobo—não um Lycan. Eu me lembrava da profecia que previa isso.
Sob o olhar prateado da lua cheia, gêmeos nascerão. Um traz bênção, esperança e luz, o outro uma maldição, mudando como um Lycan, destinado a trazer ruína e escuridão para a alcateia.
Ellen e eu havíamos nascido na noite de uma lua cheia, tornando a primeira parte da profecia verdadeira. E na noite do nosso aniversário de dezoito anos, minha irmã havia despertado um lobo, e eu... eu havia despertado um Lycan. Não ajudou que minha irmã também havia sido envenenada. Todos os dedos estavam apontados para mim, e eu fugi—apenas para ser capturada.
"Você podia ter escapado," meu lobo disse, sua voz laced with frustration. "Você não deveria estar aqui."
Eu tentei ignorar o Lycan que havia despertado dentro de mim, aquele que havia causado tudo isso.
"Este é o seu destino," ele disse.
"Não, me deixe em paz!" eu gritei na escuridão da cela. Eu odiava o que eu havia me tornado.
Eu me lembrava de como meus olhos haviam brilhado de vermelho durante minha primeira transformação, a característica distinta dos Lycans. Eu me lembrava do caos que seguiu e como Ellen havia cuspido sangue logo depois. Eu era o único Lycan no banquete. Eu me tornei o suspeito. Eu nunca tive uma chance.
Lycans eram inimigos jurados dos lobisomens. Qualquer Lycan encontrado em nosso território era imediatamente executado, e era o mesmo nas alcateias de Lycans. Despertar um Lycan como um lobisomem era o maior crime na alcateia. As escolhas eram ou se tornar um fugitivo ou a morte.
"Você não fez nada de errado," a voz na minha mente estava mais suave agora, tentando me consolar.
A gentileza me puxou para fora dos meus pensamentos em espiral.
"Eu não fiz isso," sussurrei na escuridão da minha mente.
"Eu sei, Eve," ela respondeu, sua voz suave. "Você não é um monstro."
Por mais horrível que aquela ideia fosse, pelo menos eu não estava completamente sozinha.
"Qual é o seu nome?" eu perguntei.
"Rhea," ela respondeu, sua voz baixa, um sussurro reconfortante na parte de trás da minha mente. A suavidade de sua voz contrastava com o poder bruto que eu senti durante minha primeira transformação. "Eu sou uma parte de você, e eu sempre serei."
A ideia deveria ter me enchido de medo, mas eu estava sozinha. Eu não tinha ninguém. Sem família. Sem amigos. Sem amante. Todos se viraram contra mim, e eu estava desesperada.
"Eu estou com você," Rhea sussurrou.
Pareceu como horas antes que alguém chegasse.
"Ellen," eu ofegava, meu coração batendo no meu peito. Minha irmã tinha vindo me ver.
Sua expressão estava cheia de tristeza, sua tez ainda pálida pelo veneno.
"Ellen, eu não sei o que está acontecendo. Eles todos acham que eu tentei te machucar. Você sabe que eu não fiz isso. Eu nunca faria." Eu me apressava em falar, com medo de que ela fosse embora antes que eu tivesse chance de explicar. Fui de joelhos novamente. "Por favor, você tem que acreditar em mim. Eu nunca te machucaria."
Ela se aproximou, segurando minha mão, seus dedos tremendo. "Eu sei, eu sei," ela sussurrou, sua voz suave. "Você não precisa me dizer. Eu conheço você."
Meu coração inchou de esperança. Pelo menos uma pessoa acreditava em mim. Com a ajuda dela, eu sabia que poderia ser libertada.
"Eu sei quem fez isso," ela revelou.
Eu congelei enquanto a encarava estupefata. "Você sabe?" Minha voz era um sussurro. "Quem?"
Um sorriso surgiu em seu rosto. "Fui eu."