Eve~
"Vou sentir muita sua falta, minha querida Ellen," o falso desespero da minha mãe ecoou enquanto ela me abraçava, lágrimas falsas escorrendo pelo seu rosto. "Não estrague isso," ela sussurrou duramente em meu ouvido.
Meu corpo ainda latejava pelo que os deltas tinham feito para apagar as cicatrizes. A última coisa que eu precisava era de alguém me tocando, mas eu suportei.
Eu só queria terminar com isso. Eu suspirei profundamente, me preparando para a jornada que estava prestes a realizar enquanto minha irmã ficava em um castelo. Protegida.
"Vamos, Senhorita Valmont," o motorista disse, fazendo uma leve reverência.
Fiz meu caminho até a limusine, entrando sem olhar para trás para as Alturas Lunares.
No momento em que entrei, minha pele arrepiou. Meus olhos imediatamente baixaram. Havia uma finalidade na maneira como a porta do carro se fechou com estrondo.
Não havia mais ninguém no carro exceto por ele. No momento em que entrei, eu senti — o peso sufocante de sua presença. A porta do carro bateu atrás de mim com uma finalidade que me enviou um calafrio pela espinha. Mantive meus olhos baixos, tentando estabilizar minha respiração, meu pulso martelando em meus ouvidos.
O silêncio entre nós era denso, opressivo. Eu não ousava levantar meu olhar. Endireitei minha coluna, forçando-me a canalizar Ellen — fria, insensível e intocável. Eu não podia mostrar fraqueza, não na frente dele.
Hades Stavros, o Rei Lycan, era a encarnação viva da morte. O próprio ar parecia se tornar mais pesado a cada segundo que passava, denso com uma tensão que beirava o insuportável.
"Você parece diferente," ele finalmente falou, sua voz como gelo "Não como eu imaginava que a filha de Darius Valmont seria."
Não havia inflexão, nenhuma curiosidade — apenas uma observação indiferente e plana.
"Eu não sei o que você esperava," eu respondi, minha voz oca, desprovida de qualquer calor. Ellen não se importaria. Ellen não se intimidaria. Eu tinha que ser ela.
Ele não respondeu imediatamente, mas eu senti seus olhos em mim, senti ele dissecando cada palavra, cada respiração que eu tomava. Ele se mexeu, o movimento tão sutil que mal fez um som, mas eu senti como uma onda de energia.
"Eu esperava uma mulher digna do nome Valmont," ele finalmente disse, seu tom mais frio do que antes, pingando desdém como se eu o tivesse ofendido. "Em vez disso, encontro... isso."
Eu cerrei meus punhos, unhas cravando em minhas palmas, tirando sangue. Mas eu recusei reagir, recusei dar a ele o que ele queria. Ele estava me testando. Ele tinha que estar.
"Eu não me importo com suas expectativas," eu disse baixinho, as palavras mal mais altas do que um sussurro, mas elas cortaram o ar mesmo assim.
Seus lábios se curvaram, não em um sorriso, mas em algo muito mais perigoso — um sorriso malicioso. "Bom. Porque elas são baixas."
Presas. Eu notei seus caninos alongados enquanto ele mostrava seus dentes imaculados. Lycans eram híbridos afinal; metade lobisomem, metade vampiro. Meu coração ameaçou se alojar em minha garganta, ainda assim eu não reagi. Eu não podia. Meu corpo gritava para eu reagir, para atacar, mas eu me forcei a permanecer parada, a permanecer composta.
Hades se moveu novamente, desta vez se inclinando para a frente, "Você pode fingir o quanto quiser, Ellen," ele sussurrou, seu hálito frio contra minha pele, "mas eu posso sentir seu medo. Você fede a isso."
Meu coração martelava em meus ouvidos, meu pulso acelerando apesar das minhas tentativas de acalmá-lo. Ele sabia. Ele tinha que saber.
"Você está tremendo," ele observou. Ele estava brincando comigo, afirmando sua dominação sem levantar um dedo.
"Não estou," eu menti, forçando as palavras a sairem apesar do aperto em minha garganta. Mas meus tremores me traíram.
O silêncio que se seguiu foi pior do que suas palavras. Arrastou-se, interminável e insuportável, até que finalmente ele se recostou, satisfeito com qualquer jogo que estivesse jogando.
O resto da viagem foi silenciosa enquanto passávamos pela matilha que costumava ser minha casa. Meu corpo ainda doía pelo que os deltas me fizeram passar, e eu queria mais do que tudo dormir por um milênio, mas eu não podia fechar meus olhos. Não quando ele estava sentado bem à minha frente.
Mantive meu olhar fixo na janela enquanto a limusine se afastava do centro da matilha, atravessando os territórios que eu pensava conhecer tão bem. Silverpine sempre foi uma matilha reluzente, repleta de prédios altos e imponentes, ruas limpas.
Mas conforme nos afastávamos da cidade central, a paisagem mudava. Eu franzi a testa enquanto observava as casas dilapidadas e a infraestrutura desmoronando. Me inclinei mais perto do vidro, meu peito se apertando. Isso não podia estar certo.
Onde eu esperava ver mais cidades, encontrei ruínas. Fileiras de barracos mal feitos se alinhavam nas ruas, mal se sustentando. As estradas estavam rachadas, cheias de escombros, e as pessoas — havia tantas delas — pareciam vazias e vestidas com roupas semelhantes a trapos. Crianças corriam descalças, enquanto outras se aglomeravam nas esquinas, olhando sem vida para os carros que passavam.
Um nó se formou em meu estômago, apertando a cada milha. Isso não podia ser Silverpine. Isso não podia ser a mesma matilha em que eu vivia.
Passamos por bares onde mulheres mal vestidas chamavam homens, piscando e flertando. Havia brigas à luz do dia. Isso não fazia sentido, meu pai sabia disso? As pessoas pagavam impostos, eu tinha certeza.
Um menino, não mais velho do que dez, correu até a janela, seu rosto manchado com sujeira. Ele bateu no vidro, sua boca formando palavras silenciosas. "Por favor," ele gesticulou. "Por favor, comida."
Bile subiu em minha garganta, o colar em volta do meu pescoço pesando mais do que havia pesado apenas um segundo atrás. Seria útil. Eu tirei.
Ainda incapaz de entender, mas engoli meu medo e tentei abaixar a janela. Mas ela não se abaixou.
Uma risada fria fez meu estômago revirar, e eu hesitante voltei meu olhar para Hades. Eu não tinha apenas imaginado o som. "Você tem pena deles agora?" Ele ergueu uma sobrancelha.
"Eu—"
Voltei meu olhar. O menino já estava fora de vista, apenas um pequeno ponto agora. "Eu queria ajudar."
"Ajudar?" ele repetiu, sua voz pingando com zombaria. "Você acha que um punhado de piedade vai mudar alguma coisa aqui?"
"Eu…" Minha voz vacilou, minha garganta apertando enquanto eu lutava para formar palavras. "Eu queria—"
"Não," ele me cortou abruptamente. "Não desperte algum senso equivocado de justiça agora. Não combina com você."
Eu mordi meu lábio.
"E de qualquer forma, o que você achou que aconteceria se você desse a uma criança um colar de ouro nessas ruas?"
Isso, eu podia responder. "Ele poderia comprar comida. Ele poderia compartilhar com seus irmãos, ou seus pais."
"Ele seria morto por isso," Hades continuou, sua voz uma declaração plana e sem emoção de fato. "E os adultos arrancariam seu colar de suas mãos frias e sem vida."
Meu sangue gelou. As pessoas realmente fariam isso? Com uma criança?
Thud.
O carro sacudiu de repente, atingindo algo com força suficiente para me jogar para frente ligeiramente. Eu me segurei, meu pulso disparando com um novo tipo de medo.
"Temos companhia," O motorista informou Hades.
Meus olhos se voltaram para a frente. Os pelos na parte de trás do meu pescoço se arrepiando.
Eu me inclinei levemente para o lado para pegar um vislumbre pelo para-brisa dianteiro — e meu sangue gelou.
Havia homens enormes, seus olhos cheios de assassinato e fome cercando o carro. Cada um estava armado e eles pretendiam derramar sangue.
Eles avançavam em nossa direção, olhando para a limusine como se fosse uma refeição que eles estavam esperando.
Eu não conseguia me mover, meu corpo inteiro congelado enquanto a realização do que estava acontecendo me atingia como uma onda.
"Eles estão cercando o carro," eu sussurrei, minha voz mal audível, o medo apertando minha garganta.
Hades não respondeu imediatamente. Seus olhos observavam os homens se fechando ao nosso redor, sua expressão inescrutável, como se esse tipo de ameaça fosse tão comum para ele quanto respirar. Ele era o rei — reis não lutavam. Mas esse rei parecia preparado para uma batalha.
"Fique parada," ele ordenou, sua voz um rosnado baixo, enviando um arrepio pela minha espinha. Sua mão alcançou a maçaneta da porta.
"Hades—" eu comecei, mas ele me cortou.
"Fique." Seu tom não deixava espaço para argumentos, a autoridade crua em sua voz me enraizando ao assento.
Os homens do lado de fora começaram a se mover mais rápido, fechando o cerco em torno da limusine. Um deles ergueu um clube massivo, seus olhos brilhando.
Eu engoli em seco, minhas palmas úmidas. Minha mente gritava para eu fazer algo, para lutar ou fugir.
De repente, os olhos de Hades piscaram para mim. "Nem pense em correr, a menos que você queira ser caçada."
Sem mais uma palavra, Hades abriu a porta do carro.