Capítulo 10:Papo Entre Amigos
O relógio marcava nove da manhã quando Ethan se acomodou em sua ampla cadeira de couro no escritório de seu hotel principal. O sol penetrava as janelas de vidro, iluminando a mesa impecável, organizada com documentos, um notebook aberto e uma xícara de café fumegante. Ele ajustou a câmera do computador para iniciar a videoconferência com Marcelo, o gerente do hotel de Portugal, um de seus empreendimentos mais lucrativos na Europa.
Do outro lado da tela, Marcelo apareceu impecavelmente vestido, com uma postura profissional que refletia seu papel.
— Bom dia, senhor Ethan. Tudo pronto para começarmos? — perguntou Marcelo, com seu sotaque português ligeiramente carregado.
— Bom dia, Marcelo. Vamos direto ao ponto — respondeu Ethan, cruzando os dedos sobre a mesa. — Como estão os números do trimestre?
Marcelo passou a exibir gráficos e relatórios, detalhando o crescimento nas reservas e os investimentos realizados. Ethan ouvia atentamente, intercalando perguntas pontuais que denotavam sua habilidade em negócios.
Depois de quase meia hora, Marcelo mudou o tom.
— Sobre a turnê que acontecerá aqui no hotel, já temos tudo preparado para a artista? Gostaria de saber mais sobre ela para alinhar nossa equipe.
Ethan inclinou-se para trás na cadeira e sorriu ligeiramente, com ar de quem domina a situação.
— Laura é uma pianista excepcional. Elegante, dedicada e cheia de talento. O público vai adorá-la. Estou trabalhando diretamente com ela para garantir que tudo saia perfeito.
Marcelo assentiu, anotando as informações.
— Parece que será um grande evento. Vamos garantir que ela tenha toda a infraestrutura necessária.
— Ótimo. Confio em você para manter nosso padrão de excelência, Marcelo. — Ethan finalizou a conversa com um aperto de mão virtual antes de encerrar a videoconferência.
Assim que desligou, a porta do escritório foi aberta levemente, e a cabeça de Solange, sua eficiente secretária, apareceu.
— Senhor Ethan, Fabrício está aqui. Posso deixá-lo entrar?
— Claro, mande-o entrar.
Fabrício surgiu em seguida, com o sorriso característico e o charme descontraído que sempre carregava. Vestia jeans e uma camisa social dobrada nos braços, o contraste perfeito com a formalidade de Ethan.
— Ethan! Sempre tão formal. Acho que você já nasceu de terno — brincou Fabrício, abrindo os braços para cumprimentá-lo.
— Alguém precisa manter a ordem por aqui, e certamente não será você — respondeu Ethan, levantando-se para um abraço caloroso.
Ambos se sentaram no sofá próximo, onde Fabrício parecia à vontade.
— E aí, como vai o império dos hotéis? — perguntou Fabrício, com um tom de provocação.
— Mais sólido do que nunca. Mas e você? Como estão os negócios no setor imobiliário?
— Nada mal. Fechei um contrato excelente na semana passada. Agora só preciso convencer minha esposa a tirar umas férias e gastar um pouco do lucro no seu hotel de Portugal.
Os dois riram, relembrando as brincadeiras da época de faculdade.
— E Carla? Como estão as coisas com ela? — perguntou Fabrício, mudando o tom para algo mais curioso.
Ethan suspirou, cruzando os braços e encostando-se no sofá.
— Terminei com ela.
Fabrício arqueou as sobrancelhas.
— Sério? Mas achei que vocês estavam bem...
— Bem? — Ethan soltou uma risada seca. — Ela era ciumenta, possessiva e insistia em controlar minha vida. Era para ser apenas diversão, mas acabou se tornando um problema. E, para ser honesto, eu não a amava.
Fabrício balançou a cabeça, compreensivo.
— Faz sentido. Você nunca foi de se prender por obrigação. Mas ela parecia bastante interessada em você... talvez até demais.
— Demais é exatamente o problema. Não sou do tipo que suporta gritaria ou cenas públicas por insegurança. Prefiro estar sozinho do que com alguém que não confio.
Fabrício assentiu, mudando o tom novamente.
— E essa tal pianista? A Laura, certo? Vi algo na internet sobre a turnê.
Ethan franziu o cenho por um breve momento, mas relaxou ao responder.
— Ela é interessante. Extremamente talentosa. Mas meu interesse nela é puramente profissional, antes que você comece a especular.
— Ah, Ethan... — Fabrício sorriu, brincalhão. — Você é sempre tão cauteloso, mas é óbvio que se acha intrigado por ela.
Ethan não respondeu imediatamente, apenas deu um leve sorriso, desviando o olhar.
A conversa seguiu de forma leve, com os amigos relembrando histórias da faculdade e discutindo negócios. A manhã passou rapidamente, e Fabrício se despediu pouco antes do almoço, deixando Ethan com seus pensamentos.
Enquanto organizava seus papéis e revisava o cronograma da turnê, Ethan ficou por um momento olhando para o horizonte através das janelas amplas. Ele sabia o que queria, mas estava ciente de que precisava ser cuidadoso. Laura era muito mais do que um talento em ascensão.
Sem revelar nenhuma emoção clara, Ethan voltou ao trabalho, mas uma coisa era certa: ele tinha planos para Laura, e não pretendia deixar nada ao acaso.