Capítulo 15: Revelações Sob o Sol
Laura acordou sentindo-se um pouco mais leve, como se a conversa com Isabela na noite anterior tivesse tirado um peso de seus ombros. O turbilhão de emoções ainda estava lá, mas ela sentia que conseguia respirar com mais facilidade. Decidida a ocupar sua mente, levantou-se, tomou um banho relaxante e vestiu uma roupa casual e confortável. Colocou um vestido leve de cor creme, combinando com o clima ensolarado de Portugal, e prendeu os cabelos em um coque despojado.
Ela desceu até o salão principal do hotel para verificar o palco e a estrutura onde faria sua apresentação dali a três dias. O local era grandioso, com uma decoração clássica e janelas amplas que deixavam entrar a luz natural. No centro do palco, um piano de cauda chamava a atenção como a peça principal. Laura sentiu um misto de ansiedade e entusiasmo ao se aproximar.
Lá encontrou Pedro, o gerente responsável por acompanhar a turnê, e também o gerente local do hotel, que fazia os ajustes finais no planejamento.
— Bom dia, Laura! — Pedro a cumprimentou com um sorriso caloroso. — Veio dar uma olhada no palco?
— Sim, quero ter certeza de que está tudo certo. — Ela respondeu, olhando ao redor.
— Não se preocupe, está tudo perfeito. Tenho certeza de que será um sucesso. —Marcelo o gerente local acrescentou, animado.
Após alguns minutos de conversa sobre a organização do evento, Laura agradeceu e se dirigiu ao piano no palco. Sentar-se àquele instrumento sempre lhe trazia conforto e clareza.
Ela passou os dedos pelas teclas, tocando uma melodia suave para aquecer. Depois, mergulhou em algumas das composições que havia preparado para a turnê. A música preenchia o espaço, e, sem perceber, Laura começou a cantar. Sua voz era doce, mas carregava uma emoção que arrepiava quem a ouvia.
Quando terminou, levantou os olhos e, para sua surpresa, viu Ethan parado próximo à entrada do salão, olhando para ela com uma expressão indecifrável. Por um momento, seu coração disparou, e ela desviou o olhar rapidamente, sentindo o rosto aquecer.
Ethan se aproximou, as mãos nos bolsos, o semblante mais sério do que de costume.
— Laura... você tem um talento incrível — disse ele, com sinceridade na voz.
— Obrigada — respondeu ela, tentando não demonstrar o nervosismo.
Ele hesitou por um instante antes de continuar.
— Podemos conversar?
Ela sabia que não poderia evitar essa conversa para sempre. Respirou fundo e assentiu.
— Claro.
Ethan indicou o jardim do hotel com um gesto, e os dois caminharam em silêncio até lá. O lugar era encantador, com flores vibrantes, uma fonte de mármore e bancos estrategicamente posicionados sob a sombra de árvores altas. Escolheram um banco afastado, onde poderiam conversar sem interrupções.
Laura sentou-se, ajustando o vestido sobre as pernas, enquanto Ethan permaneceu em pé por um momento, parecendo reunir coragem para começar. Por fim, sentou-se ao lado dela, mas a distância entre os dois era palpável.
— Eu queria me desculpar pelo que aconteceu ontem — começou ele, com a voz baixa e controlada. — Não deveria ter feito aquilo.
Laura cruzou as mãos no colo, olhando para baixo antes de responder.
— Não precisa se desculpar, Ethan. Acho que ambos fomos levados pelo momento.
Ele a observou por um longo momento antes de falar novamente.
— Mas eu quero me desculpar. Não quero que você pense que eu sou... — Ele parou, escolhendo as palavras. — Que eu sou alguém que age sem pensar nas consequências.
Laura ergueu os olhos, encontrando o olhar dele.
— Eu sei que você não é assim, Ethan. Mas eu... — Ela parou, tentando encontrar coragem para dizer o que precisava. — Tem algo que eu preciso contar, algo que nunca falei antes.
Ethan franziu o cenho, claramente curioso e preocupado.
— O que é?
Laura respirou fundo antes de continuar.
— Há pouco mais de dois anos, eu sofri um acidente de carro. E... como consequência, perdi parte da minha memória.
— Perdeu a memória?
— Sim. Não é como se eu tivesse esquecido tudo. Eu sei quem eu sou, lembro do meu trabalho, das pessoas próximas a mim. Mas há partes da minha vida que simplesmente... desapareceram.
Ela fez uma pausa, apertando as mãos nervosamente.
— Há pouco tempo, encontrei algumas cartas antigas. Eram de um homem com quem eu tive um relacionamento sério. Pelo que eu li, eu o amava profundamente. E, Ethan, mesmo sem lembrar do rosto dele ou dos momentos que passamos juntos, eu ainda sinto esse amor.
Ethan a encarou, com olhar apaixonado
— Você ainda o ama?
— Sim. Mesmo sem lembrar, eu sinto que ele ainda faz parte de mim. E, ao mesmo tempo, me sinto presa, porque não consigo seguir em frente enquanto não entender o que aconteceu. Não sei onde ele está ou por que não está comigo agora.
Ethan passou a mão pelo cabelo, claramente processando tudo o que acabara de ouvir.
— Laura, eu...
— Não precisa dizer nada — ela respondeu, com um sorriso triste. — Só precisava que você soubesse.
Houve um momento de silêncio entre os dois antes de Ethan falar novamente.
— Então é por isso que você se afastou ontem.
— Parte disso, sim — admitiu ela. — Mas também... eu sei que você não quer nada sério, Ethan. E tem a Carla...
— A Carla não significa nada pra mim! — Ele interrompeu, sua voz firme. — O que aconteceu entre nós foi há muito tempo. Não existe mais nada entre nós.
Laura o olhou, incerta, mas ele continuou antes que ela pudesse responder.
— E quanto a mim não querer nada sério, você está errada. Eu não sei o que você acha que sabe sobre mim, mas o que eu sinto por você é real.
Ela franziu a testa, confusa.
— Ethan, você mal me conhece.
Ele inclinou-se ligeiramente para ela, o olhar fixo no dela.
— Conheço o suficiente para saber que estou apaixonado por você, Laura.
O coração dela deu um salto com aquelas palavras, mas ela rapidamente sacudiu a cabeça.
— Ethan... não faz isso.
— Por que não? — Ele perguntou, a voz baixa e carregada de emoção. — Talvez dar uma chance para nós dois seja o que você precisa para se encontrar.
— E se não for? E se eu só acabar me machucando mais?
— Você nunca saberá se não tentar.
Laura desviou o olhar, o peso das palavras dele pressionando-a.
— Não sei se posso, Ethan.
Ele suspirou, levantando-se do banco e passando as mãos pelo cabelo novamente.
— Eu não espero que você decida isso agora. Só quero que pense. Porque eu vou lutar por você, Laura.
Ela o observou enquanto ele se afastava, sentindo-se ainda mais confusa do que antes. Aquelas palavras ficaram ecoando em sua mente enquanto ela voltava para dentro do hotel, sozinha.