Capítulo 11: A Beira da Piscina
Laura estava nervosa enquanto aguardava na sala de espera. A última noite fora agitada, cheia de sonhos confusos sobre Daniel, e ela sabia que precisava de ajuda. Quando o psicólogo a chamou, ela se levantou com os ombros tensos e seguiu até a sala.
Dr. Renato a recebeu com um sorriso acolhedor. Ele era um homem calmo, com cabelos grisalhos e um olhar atento. Ele indicou a cadeira em frente à sua, onde Laura se sentou.
— Como está se sentindo hoje, Laura? — ele perguntou, fazendo anotações no bloco de notas.
Laura respirou fundo antes de responder.
— Tenho me sentido... confusa. Eu acordei de um sonho, e ele me deixou desconcertada. Não sei se é uma sensação de perda ou algo mais.
O psicólogo fez um gesto encorajador, convidando-a a continuar.
— E sobre o que era o sonho?
— Eu... vi Daniel. Eu sei que ele foi meu namorado, mas não lembro do rosto dele. Sinto que há algo importante que preciso entender sobre ele. E isso me deixa perdida.
Dr. Renato fez uma anotação rápida e então olhou para Laura com atenção.
— O fato de não lembrar de detalhes sobre o Daniel pode ser uma forma da sua mente proteger você. Às vezes, quando há um trauma ou uma situação difícil, a mente pode esconder lembranças até que estejamos prontos para enfrentá-las.
Laura refletiu sobre as palavras dele, tentando processá-las.
— Mas por que agora? Por que esses sonhos agora?
— Pode ser que você esteja pronta para enfrentar essas lembranças. Ou talvez o seu inconsciente esteja tentando lhe dizer algo. Você sente que há algo que está bloqueado? Algo que não consegue entender sobre o que aconteceu entre você e Daniel?
Laura hesitou antes de responder.
— Eu sinto que ele era alguém importante. Mas ao mesmo tempo, não consigo lembrar dos momentos com ele. É como se tivesse uma lacuna no meu coração, e isso me deixa insegura.
Dr. Renato deu um leve sorriso compreensivo.
— Isso é normal em situações como essa. Você está lidando com o processo de recuperar essas memórias e, com o tempo, isso se tornará mais claro. Se precisar de mais sessões, podemos trabalhar nesse processo de relembrar, mas o importante é que você está dando o primeiro passo para se entender melhor.
Laura assentiu, sentindo um leve alívio, mas ainda com uma sensação de incerteza no peito.
— Acho que tenho muito o que trabalhar, mas é bom saber que estou indo na direção certa.
Dr. Renato sorriu novamente.
— Sim, você está. E estamos aqui para te ajudar nesse caminho.
A consulta terminou em um tom mais calmo, com Laura sentindo que tinha, pelo menos, iniciado a jornada para entender o que estava acontecendo em sua mente.
Ao sair da clínica, ela estava ainda pensativa, quando o som de seu celular interrompeu o silêncio. O nome de Ethan apareceu na tela. Seu coração disparou imediatamente.
Ela atendeu.
— Olá, Laura. — A voz de Ethan soou tranquila, mas com um tom de cordialidade que a fez se sentir um pouco nervosa. — Acabei de finalizar o cronograma das 20 apresentações. As passagens e hospedagens estão todas acertadas. Queria te convidar para almoçar hoje para te entregar as informações pessoalmente. Que tal um almoço na minha casa de praia?
Ela hesitou por um momento. O convite era direto, e a ideia de estar em um ambiente tão pessoal dele a fazia se sentir vulnerável. No entanto, ela sabia que não podia recusar.
— Claro, aceito — respondeu, tentando manter a voz firme.
— Perfeito. O motorista vai te pegar em casa, espero que goste do lugar.
Laura desligou o telefone, sentindo uma mistura de excitação e apreensão. Ela foi para casa se arrumar, o coração acelerado. Olhou para o armário e, após alguns minutos, escolheu um vestido verde esmeralda. O tecido fluido realçava seus olhos, e o vestido parecia ser perfeito para a ocasião. Ela se arrumou com calma, tentando se concentrar no que viria a seguir, mas sua mente não parava de pensar em Ethan, nos olhares trocados durante as reuniões e na proximidade que sentia, mesmo sem entendê-la completamente.
O motorista chegou pontualmente, e Laura seguiu para a casa de Ethan. Quando ela chegou, ficou impressionada com a vista deslumbrante da casa. Uma enorme janela revelava uma praia deslumbrante à frente, com ondas suaves e areia dourada. O ar fresco do mar entrava pela brisa que passava pelas janelas abertas. A governanta a recebeu com um sorriso simpático e a conduziu até o interior da casa.
Ethan apareceu pouco depois, em um look mais casual: uma camiseta e bermuda, cabelos soltos, muito mais relaxado do que nos eventos formais. Ele a olhou por um momento, e sem perceber, disse:
— Você está linda, Laura.
Laura se surpreendeu com o elogio, mas ele logo desviou o olhar, como se não quisesse se mostrar vulnerável. Ele rapidamente mudou de assunto, convidando-a para ir até a varanda, onde havia uma bela piscina.
— Vamos aproveitar o dia? O almoço está servido, e depois, quem sabe, podemos relaxar um pouco na piscina. — Ele fez um gesto para a mesa, onde frutos do mar frescos estavam dispostos de forma sofisticada.
A mesa estava impecavelmente arrumada, com talheres de prata reluzindo sob a luz suave do ambiente. O aroma de frutos do mar frescos preenchia o ar, combinando perfeitamente com o som distante das ondas quebrando na praia. Laura e Ethan estavam sentados frente a frente. Ele parecia relaxado, os olhos atentos a cada movimento dela.
Laura deslizou os dedos pelo guardanapo de linho ao lado do prato, tentando disfarçar o nervosismo. Ethan parecia completamente à vontade, mas ela sabia que cada gesto dele era calculado.
— Espero que você goste de frutos do mar. É minha especialidade aqui na casa — comentou Ethan, enquanto servia vinho branco nas taças.
— Gosto, sim. Tudo parece incrível — respondeu Laura, com um sorriso tímido, enquanto olhava para o prato que continha lagosta grelhada e vieiras perfeitamente apresentadas.
Ethan ergueu a taça, fazendo um brinde.
— A novas oportunidades e... à música.
Laura tocou a taça na dele, tentando esconder o rubor que subiu ao rosto.
— À música — disse ela, antes de dar um gole no vinho.
Eles começaram a comer em silêncio por alguns instantes, até que Ethan quebrou o gelo.
— Então, Laura, você sempre soube que queria ser pianista?
Ela pensou por um momento antes de responder, cortando um pedaço da lagosta.
— Sempre foi minha paixão. Desde pequena, o piano era meu refúgio. Minha mãe costumava dizer que eu tinha nascido com a música na alma.
Ethan inclinou a cabeça, interessado.
— E ela estava certa. Sua dedicação é inspiradora. Acho incrível como você consegue se expressar através das notas.
Laura abaixou o olhar, tocada pelo elogio.
Enquanto cortava cuidadosamente um pedaço da lagosta, o aroma dos frutos do mar pairava no ar, misturado com a leve brisa marinha que entrava pela varanda. Ela olhou para Ethan, que parecia relaxado, mas mantinha aquele olhar intenso que a fazia hesitar antes de falar. Por fim, decidiu perguntar:
— Ethan, como você conheceu meu trabalho?
Ele ergueu os olhos da taça de vinho, estudando-a por um breve momento antes de responder:
— Vi você na televisão. Estava trocando de canal quando apareceu em um especial de música clássica.
Laura franziu a testa, surpresa.
— Na televisão?
Ethan assentiu, pousando a taça com cuidado.
— Sim. E, para ser honesto, não consegui mudar de canal. Fiquei completamente fascinado pela forma como você tocava.
Ela sorriu timidamente, desviando o olhar para o prato.
— Fico feliz que tenha gostado.
— Obrigada. É bom ouvir isso. Às vezes fico me perguntando se estou fazendo o suficiente...
Ethan ergueu uma sobrancelha.
— Fazendo o suficiente? Você está brincando, certo? Você tem um talento raro, Laura. Seu público sente isso.
Ela hesitou, passando o garfo pela borda do prato.
— Talvez. Mas desde o acidente... algumas coisas parecem fora do lugar. É como se faltasse algo dentro de mim.
Ele franziu levemente o cenho, mas manteve o tom leve.
— Faltas podem nos impulsionar também. Talvez o que você sente falta seja o que te move a continuar criando.
Laura o olhou por um instante, pensando na profundidade daquelas palavras.
— Nunca pensei dessa forma... talvez você esteja certo.
— Estou certo — disse ele, com um meio sorriso. — Pelo menos, quando se trata de perceber o potencial das pessoas.
A conversa tomou um rumo mais leve enquanto eles falavam sobre a turnê.
— Você já está pronta para os desafios dessa nova fase? — perguntou Ethan, servindo mais vinho.
Laura deu uma risada suave.
— Acho que sim. Apesar de ter a sensação de que será bem mais trabalhoso do que eu imagino.
— Será. Mas estarei lá para garantir que você tenha todo o suporte que precisar.
O tom de voz dele era tranquilizador, mas algo em seu olhar deixava Laura desconcertada. Ela desviou o olhar para o mar visível pela janela.
— A vista daqui é maravilhosa — comentou ela, tentando aliviar a tensão que começava a crescer.
Ethan seguiu o olhar dela e sorriu.
— É, sim. Mas hoje, a vista mais impressionante está bem aqui.
Laura sentiu o rosto esquentar. Ele havia falado aquilo de forma casual, mas o impacto de suas palavras a deixou sem resposta.
Eles continuaram com a refeição, entre conversas sobre música, a logística da turnê e pequenos comentários descontraídos. A cada frase, o ambiente parecia se tornar mais íntimo, embora ambos tentassem se manter nos limites da formalidade.
Quando terminaram, Ethan empurrou levemente a cadeira para trás e levantou-se.
— Que tal agora um momento mais descontraído? A piscina está esperando.
Laura riu, tentando esconder o nervosismo que crescia novamente.
— Parece uma boa ideia...
E enquanto o acompanhava até a varanda, sentia que o almoço havia sido muito mais do que uma simples refeição — era como se cada palavra trocada fosse uma peça de um quebra-cabeça que ela ainda estava tentando montar.
— Tenho alguns biquínis no closet, se quiser, você pode escolher um — disse ele com um sorriso descontraído.
Laura hesitou por um momento. Ela sabia que ele estava sendo generoso, mas ao mesmo tempo, um pensamento atravessou sua mente: ele deve ter trazido muitas mulheres ali. Por um momento, a ideia de usar um biquíni na casa dele a deixou desconfortável. Mas ela não queria parecer reticente, então aceitou.
Escolheu um biquíni laranja, que realçava ainda mais sua pele. Quando ela apareceu, Ethan não conseguiu disfarçar o olhar. Havia um desejo latente em seus olhos, mas ele não se aproximou.
Ethan estava recostado à borda da piscina, os braços apoiados no azulejo e o olhar fixo em Laura, que mergulhava os pés na água antes de entrar. O biquíni laranja realçava sua pele, e o sol refletia nos cabelos soltos, deixando-a ainda mais deslumbrante.
— Não vai entrar? — ele perguntou, com um tom casual, mas os olhos brilhando com algo mais.
Laura sorriu, tentando disfarçar o nervosismo.
— Estou me acostumando com a temperatura. A água parece fria.
Ele riu baixinho.
— Não está. Depois do primeiro mergulho, você vai se sentir renovada.
Tomando coragem, Laura deslizou para dentro da piscina, sentindo a água refrescante envolver seu corpo. Ethan observava cada movimento, como se não quisesse perder nenhum detalhe.
— Você nada sempre que tem tempo? — ela perguntou, tentando aliviar a tensão que sentia.
— Sempre que posso. Aqui, consigo desconectar. É meu refúgio.
Laura assentiu, passando as mãos pela água.
— Deve ser bom ter um lugar assim. Eu nunca pensei em algo tão grandioso para mim.
Ethan sorriu, inclinando a cabeça.
— Seu talento é grandioso, Laura. Você poderia ter o mundo inteiro como palco.
Ela riu, envergonhada.
— Não sei se penso tão longe assim. Para mim, a música sempre foi mais sobre sentir do que sobre conquistar.
Ele a olhou com admiração.
— Talvez seja isso que torna seu trabalho tão especial. Você sente. Não é apenas técnica, é emoção.
Laura desviou o olhar, mexendo na água para não encarar o olhar penetrante de Ethan.
— Você fala como se fosse um especialista em música.
Ele riu.
— Não sou, mas sei reconhecer algo extraordinário quando vejo.
A vibração entre os dois parecia tangível. Laura sentia seu coração bater mais rápido, mas Ethan, mesmo com aquele olhar que a desarmava, não se aproximava. Apenas mantinha a conversa fluindo, como se estivesse tentando prolongar aquele momento.
O clima descontraído foi interrompido pela campainha da casa. A governanta abriu a porta, e uma mulher entrou, com um sorriso irônico.
— Ethan, querido, quanto tempo. — A mulher olhou diretamente para Laura, um sorriso provocador nos lábios. — Não sabia que você estava recebendo visitas tão... interessantes.
Laura ficou surpresa e confusa. Quem era aquela mulher?
Ethan olhou rapidamente para ela, o semblante ficando mais sério.
— Carla, por favor, vá embora. — Sua voz era firme, mas havia um toque de exasperação.
Carla, no entanto, não parecia disposta a ceder.
— Ethan, não seja rude. Você sabe que sempre temos algo para conversar. — Ela deu uma risadinha e olhou para Laura, como se estivesse testando a situação.
Ethan olhou para Laura, seu semblante agora distante, e disse com firmeza:
— Carla, eu já pedi para você ir embora. Isso é uma conversa entre nós. Não vou tolerar mais isso.
Carla o olhou por um momento, mas então deu de ombros e saiu, ainda com um olhar desafiador para Laura.
Ethan, visivelmente incomodado, se aproximou de Laura.
— Me desculpe por isso, Laura. Não era o que eu queria. Por favor, se troque e o motorista vai te levar para casa. Eu... não sabia que ela viria aqui.
Laura ficou em silêncio. Seu coração estava apertado, e a tristeza começou a tomar conta dela. Pensou, com um aperto no peito, que talvez Ethan estivesse mais interessado em Carla do que nela.
Ela entrou rapidamente para o quarto, se trocando em silêncio. Quando voltou para a sala, o motorista já a aguardava. Ela sentiu o peso da despedida e entrou no carro, pensando que, no fundo, talvez a mulher que estava com Ethan fosse mais importante do que ela poderia imaginar.
O carro seguiu silenciosamente pela estrada, e Laura se viu perdida em seus próprios pensamentos, perguntando-se se tudo aquilo tinha sido um jogo para Ethan, e se ele voltaria a ficar com Carla.