A clareira onde Ycaro treinava com Cael agora estava envolta em uma atmosfera mais tensa. O ar parecia mais denso, e até os animais da floresta haviam se afastado, como se soubessem que algo grande estava prestes a acontecer.
Ycaro se afastou de Cael, observando-o com um olhar que misturava curiosidade e precisão. O jovem havia mostrado potencial, mas a verdadeira prova de sua força e compreensão ainda estava por vir. Ele precisava mais do que habilidade. Precisava entender o infinito, o verdadeiro limite que não existe.
Cael, suando e exausto após horas de treino, olhou para Ycaro com uma expressão de cansaço, mas também de determinação.
— O que vem agora, mestre? — perguntou Cael, sua voz misturada com uma pontada de exaustão.
Ycaro o observou em silêncio por um momento, como se ponderasse algo importante.
— Agora, você enfrentará o Teste do Infinito. Não é apenas um teste de força, mas de mente e espírito. Você enfrentará algo que transcende o físico, que desafiará seus próprios limites. Mas lembre-se, Cael: o sofrimento é temporário, mas a honra e a glória... são eternas. Não se deixe consumir pela dor, pois ela é passageira.
Cael sentiu um arrepio ao ouvir essas palavras. Ele já tinha enfrentado desafios antes, mas algo na maneira como Ycaro falava sobre o Teste do Infinito fez seu coração bater mais rápido. O que quer que fosse, seria algo além do que ele já experimentou.
Ycaro levantou a mão, e de seus dedos, uma aura brilhante começou a emanar, girando e se concentrando até formar uma esfera de luz que flutuava no ar.
— Este teste não é sobre vencer o inimigo, Cael. Não há inimigo aqui. O inimigo é você mesmo. — Ycaro disse, sua voz mais séria agora. — Dentro desta esfera está o Reflexo do Infinito. Ele tomará a forma de seus maiores medos, suas dúvidas, e te mostrará o que você é capaz de suportar.
A esfera brilha intensamente, e então se fragmenta em milhares de pequenos pontos de luz que se espalham pelo ar como estrelas cadentes. O espaço ao redor de Cael parece mudar, o mundo real desaparecendo e dando lugar a uma versão distorcida e sombria da clareira.
Cael sente sua respiração se acelerar. O lugar ao seu redor se transforma em um vasto campo de sombras, e à sua frente surge uma figura familiar: sua versão mais jovem, antes de entender sua verdadeira força, cheio de inseguranças e dúvidas.
— Você nunca será bom o suficiente. — A versão mais jovem de Cael disse, com uma voz fria e zombeteira. — Nunca conseguirá alcançar o que os outros esperam de você. Você é fraco.
O ar ao redor de Cael parece se tornar mais pesado, e ele sente as palavras daquela versão distorcida de si mesmo como um peso esmagador. A pressão em seu peito aumenta, e ele começa a duvidar de si mesmo.
Mas então, ele lembra das palavras de Ycaro.
"O sofrimento é temporário..."
Com um esforço, Cael respira profundamente, ignorando a pressão. Ele começa a se concentrar na energia ao seu redor, sentindo a força de sua própria mente e espírito. Ele sabia que essa versão de si mesmo não era real. Era apenas uma ilusão, uma manifestação de seus próprios medos.
O Reflexo do Infinito começa a mudar de forma, suas figuras distorcidas tomando a forma de monstros gigantescos que ameaçam engolir Cael. Mas ele não recua. Ele avança, com mais força e determinação a cada passo.
— Eu não sou mais o que você pensa que sou! — Cael gritou, com os olhos ardendo com uma força recém-descoberta.
Ele ergue as mãos, imaginando a lâmina invisível que Ycaro havia lhe ensinado a controlar. Sente a energia se concentrando em suas palmas, uma extensão de sua alma, fluindo como um rio imenso.
Com um movimento rápido, Cael cortou o ar, e a lâmina invisível cortou uma das criaturas ao meio. Mas, ao invés de desaparecer, ela se multiplicou, surgindo em inúmeras formas. Cada uma mais temível que a anterior.
Mas Cael não hesitou. Ele agora sabia que o verdadeiro inimigo não estava fora dele, mas dentro dele. Ele precisava acreditar em sua própria força, não deixar que o medo o controlasse.
A batalha não era mais contra as criaturas que surgiam, mas contra os seus próprios pensamentos, os ecos das suas fraquezas. A cada golpe, a cada movimento, Cael sentia que estava se aproximando de algo maior, algo que ele ainda não entendia completamente.
Finalmente, com um último corte, a última criatura desapareceu, e o reflexo de Cael, com seu olhar vazio e carregado de dúvidas, também se dissipou.
O mundo voltou a se estabilizar, e Cael estava de volta à clareira. Ele estava ofegante, suado, mas havia uma luz em seus olhos que não estava lá antes. Ele havia enfrentado seus maiores medos e, ao fazê-lo, havia se tornado mais forte.
Ycaro observou em silêncio, como sempre, sem parecer surpreso. Mas seus olhos refletiam algo que Cael não podia identificar — aprovação.
— O que você enfrentou agora foi uma projeção de suas próprias inseguranças, Cael. O verdadeiro teste não está no que você corta, mas no que você supera dentro de si mesmo. — Ycaro disse, com um leve sorriso.
Cael olhou para ele, sua respiração mais calma agora.
— Eu... eu entendi. Não é sobre lutar contra os outros. É sobre lutar contra o que está dentro de mim.
Ycaro assentiu.
— Exatamente. Agora você sabe. O Teste do Infinito não é sobre vencer ou perder. É sobre se entender, sobre ir além do que é possível, sobre transcender suas próprias limitações.
Cael, embora cansado, sentia que algo dentro de si havia mudado. Ele agora compreendia que a verdadeira batalha nunca era contra o mundo exterior, mas contra as limitações que ele mesmo impunha a si.
Ycaro, observando o crescimento de Cael, sabia que o jovem ainda tinha um longo caminho pela frente. Mas, pela primeira vez, ele sentia que Cael estava no caminho certo.
O verdadeiro treinamento estava apenas começando.
Fim do Capítulo 11