O vento cortava o campo de batalha como uma lâmina afiada, levando com ele a poeira e o suor dos guerreiros. O som das espadas e gritos de combate continuavam a ecoar por toda a região, mas havia algo diferente no ar. Ycaro, do alto de seu posto de observação, sentia uma mudança, uma presença nova. A guerra estava se intensificando, mas não apenas pela força bruta. Algo mais estava vindo.
Enquanto os esqueletos caíam diante de seus discípulos, como se fossem apenas marionetes sem vida, um novo exército se aproximava, suas armaduras reluzindo ao sol. Eles eram humanos, mas não eram como qualquer outra força que Ycaro já tivesse encontrado. O som dos cascos dos cavalos e os estridentes clangores das espadas anunciavam a chegada dos aventureiros e paladinos. Uma força com um propósito e uma determinação que já eram perceptíveis a quilômetros de distância.
No centro dessa nova formação estava um homem, com um semblante grave e olhos que pareciam sempre calcular os próximos movimentos. Era um estrategista, alguém que conhecia a arte da guerra como poucos. Sua presença irradiava confiança, e seus subordinados pareciam segui-lo com a precisão de uma máquina bem lubrificada.
— "Eles estão chegando." — Ycaro murmurou para si mesmo, observando a aproximação do inimigo com uma calma impressionante.
Os esqueletos, que até então haviam dominado o campo de batalha, estavam sendo lentamente substituídos por esses novos adversários. Com uma coordenação exata, os humanos não estavam apenas lutando com força, mas com inteligência. Era claro que eles não eram comuns. Cada movimento parecia planejado, cada ataque uma reação calculada.
O estrategista humano, que se mantinha afastado da linha de frente, observava tudo com olhos clínicos. Ele sabia que a batalha contra Ycaro seria diferente de qualquer outra que já tivesse travado. Já tinha ouvido as histórias sobre o líder inimigo, mas jamais imaginou que sua presença fosse tão palpável, como se Ycaro fosse um enxame de abelhas prestes a devorar qualquer um que se aproximasse.
— "Eles não estão lutando como um exército comum." — O estrategista pensou, analisando os movimentos no campo. "Estão sendo guiados por algo. Não é apenas uma guerra de força bruta. Eles têm um plano."
Seus olhos então se voltaram para um dos paladinos em sua ala. Era um homem imponente, coberto de armaduras douradas que refletiam o sol como um farol. Seu nome era Lancelot, e ele liderava a vanguarda. Ele era conhecido por sua habilidade imbatível em combate, tanto com espada quanto com escudo. Mas o mais notável era a aura de liderança que emanava dele. Mesmo os aventureiros mais experientes seguiam-no com uma devoção quase religiosa.
— "Lance, o que acha de atacar de frente?" — O estrategista perguntou calmamente.
Lancelot olhou para ele com uma expressão impassível, mas dentro de seus olhos havia uma chama de coragem que queimava intensa.
— "Ainda não. Precisamos desgastá-los primeiro. Observe." — Lancelot respondeu, sua voz profunda e cheia de uma confiança inabalável.
Ele não estava falando apenas de força. Ele sabia que os esqueletos, embora fizessem o trabalho de intimidar, estavam apenas no começo da guerra. O verdadeiro teste seria contra Ycaro, e para isso, precisariam de mais que espada e escudo. Precisariam de estratégias, astúcia e, acima de tudo, paciência.
Do outro lado, em meio à resistência dos esqueletos, os discípulos de Ycaro começavam a perceber a mudança no campo. Hika estava ao lado de Thrin, observando o avanço da nova força.
— "Isso... isso não é normal." — Hika murmurou, encarando os paladinos com um olhar atento. — "Eles estão organizados, são diferentes dos esqueletos."
Thrin, com sua habilidade de ler a mente dos outros, podia sentir algo diferente no ar também. Os paladinos não estavam apenas lutando com força. Estavam pensando, organizando e esperando pelo momento certo. Mas Thrin, com o peso de sua linhagem, não se intimidou.
— "Não importa quão organizados sejam. Eles não sabem com quem estão lidando." — Thrin respondeu, sua confiança inabalável transparecendo enquanto ele girava sua espada.
Cael, ao ver os inimigos humanos avançando, se sentiu desafiado. Ele sabia que havia algo mais nas intenções desses guerreiros do que simplesmente um desejo de destruição. Havia um propósito em seus movimentos, uma coordenação estratégica que ele não tinha visto antes, nem nos próprios esqueletos.
Ycaro, sem pressa, ainda observava tudo do alto. Seu olhar, afiado como uma lâmina, captava até os menores detalhes. Ele sabia que a guerra nunca seria simples. Quando os inimigos humanos surgissem, ele teria que tratá-los com o mesmo nível de astúcia que empregava em qualquer um dos seus desafios. Esse era o jogo que ele adorava. Eles pensavam que podiam planejar, mas Ycaro já estava jogando com eles desde o início.
— "Eles acham que a força vence tudo, mas o que eles não sabem é que o verdadeiro poder está na mente." — Ycaro murmurou, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios.
O estrategista inimigo, observando cada movimento de Ycaro de longe, não sabia que estava entrando no campo de um mestre que sabia exatamente o que fazer. A guerra que ele imaginava controlada começaria a virar, e as regras que ele acreditava que dominava não se aplicariam mais.
E enquanto as tropas se aproximavam, o campo de batalha parecia se fechar ao redor deles.
A verdadeira luta estava prestes a começar.
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Fim do Capítulo 14