Lucian e seus soldados haviam sido escoltados até seus aposentos pelo Duque Ramsel, mas por nada ter para fazer, decidiram treinar, mesmo que com espadas falsas. Logo, após descansarem por algum tempo, os cavaleiros reuniram-se no campo de treino do Palácio da Princesa.
Apoiando o queixo na mão, Lucian observava seus homens treinarem com as espadas de madeira que lhes haviam sido emprestadas, imerso em pensamentos.
A jovem senhora que ele vira no jardim confundiu-o com sua resposta.
"Nunca nos conhecemos," ela disse simplesmente antes de partir sem sequer olhar para trás.
Uma pessoa normal pelo menos lançaria um olhar antes de responder, mas ela não o fez.
"Sua Alteza, no que está pensando?" Adrian perguntou, percebendo que seu mestre parecia preocupado.
"Aquela dama... ela era estranha," replicou Lucian.
"Que dama?"
Lucian assentiu.
"Ela estava servindo chá no jardim! E estranhamente, senti… como se a conhecesse." Ele balançou a cabeça, incrédulo.
Como poderia ele conhecer uma mulher de Eldoria se nunca havia pisado no reino?
"Está falando da senhora de cabelos prateados?" Glain aproximou-se dos dois homens, apoiando sua espada no ombro e ofegante.
Ele vinha treinando por horas. Embora tivesse notado o comportamento estranho do grande duque quando receberam seus aposentos, não pôde perguntar-lhe sobre isso—por um motivo simples: um servo não tinha o direito de questionar seu mestre.
Lucian levantou o olhar para o homem de cabelos castanhos.
"Você a conhece?"
Uma risada nervosa escapou de Glain, fazendo Lucian franzir a testa.
"Peço desculpas," Glain prontamente se curvou, recuperando a compostura antes de continuar. "Acredito que era a Princesa Cynthia, a mulher com quem você vai se casar."
Lucian fez uma careta ao ouvir suas palavras.
Ele ia se casar com uma mulher que jogava chá fora sem motivo? Ele ouvira que ela era uma vilã, mas não esperava que sua conduta fosse tão dura, até com o que comia e bebia!
Não é à toa que odeio esses Eldorianos. Eles são todos...
A mandíbula de Lucian se apertou com o pensamento de ter que se casar com uma mulher que não dava valor a nada—nem a humanos, nem a alimento. Ele havia visto inúmeras pessoas perderem suas vidas no campo de batalha porque não podiam dispensar uma gota de água ou uma migalha de comida, ainda assim ela desperdiçava os luxos que tinha.
Percebendo a raiva do grande duque, Adrian tossiu para limpar a garganta antes de falar. "Não se preocupe, Vossa Alteza. Contanto que não se envolva com ela, nada dará errado," ele sorriu, tentando acalmar a fúria de Lucian.
O homem de cabelos escuros levantou-se do seu lugar. "Acho que esqueceu. Estou para me casar com essa mulher. Já estou demasiado envolvido com ela, e nem sequer posso..." Ele fez uma pausa, incapaz de continuar.
Recusar.
A palavra ficou presa em sua garganta. Ele não podia expressar sua desaprovação dessa aliança abertamente perante seus súditos, nem num lugar público onde guardas eram permitidos circular. Qualquer pessoa poderia ouvir, e outro conflito poderia surgir a qualquer momento.
Quando Lucian se calou, um homem de cabelos ruivos levantou-se do seu lugar. "Ouvi de um servo que os preparativos do casamento estão prontos."
"Parece que estão com pressa," caçoou Dylan. "Ah! Mas quem não quereria se livrar de uma princesa tão malvada?"
"Dylan!" O homem de cabelos ruivos franzia a testa, reprovando suas observações ultrajantes sobre a princesa.
"O que? Estou falando a verdade. Querem se livrar dela, então estão jogando ela em nosso reino através do casamento," Dylan resmungou.
"Controle sua língua!" exclamou Glain asperamente.
O som de alguém pigarreando chamou a atenção dos três homens. Nervosamente, Dylan, Adrian e Glain moveram seus olhares para um homem alto de cabelos loiros que estava um pouco afastado deles.
Lucian ergueu as sobrancelhas, examinando o homem. O homem loiro usava um terno escarlate com padrões de renda dourada. Tinha um sorriso nos lábios finos enquanto os olhava, com os braços cruzados.
"E você é?" Lucian exigiu, aproximando-se do estranho.
Um leve riso escapou do homem antes dele falar. "Devia ter me apresentado. Eu sou Alistair De Luminas, Rei de Eldoria. Estou surpreso por você não me reconhecer. Nós já nos encontramos antes."
Alistair fez uma pausa, travando olhares com Lucian. "No campo de batalha. Mas suponho que realmente é difícil reconhecer um ao outro sem nossas armaduras."
O jovem de cabelos escuros curvou a parte superior do corpo em uma reverência. "Eu, Grande Duque Lucian de Erion, saúdo o Rei de Eldoria," falou Lucian suavemente, embora desejasse pegar uma espada e golpear o homem diante dele.
Ele tentava desesperadamente controlar seu desprezo—não podia se dar ao luxo de cometer um erro. Rei Valeriano jamais o perdoaria.
Os soldados de Lucian espelharam o comandante, saudando o Rei Alistair.
"Oh! Não precisam ser tão formais. Vocês estão prestes a ser meu cunhado," Alistair disse, delicadamente levantando Lucian de sua reverência e acenando com a mão para que os soldados também se levantassem.
"Como poderíamos não ser?" disse Dylan, sua voz gotejando sarcasmo.
Todos conheciam a tensa relação entre Selvarys e Eldoria, e a casual dispensa de formalidades de Alistair soou como sal na ferida.
Adrian deu um cotovelada no braço de Dylan, sinalizando-lhe para ficar em silêncio. "Você e sua boca grande vão nos meter em grandes problemas!" ele sussurrou com os dentes cerrados, tentando disfarçar sua irritação.
"Pelo menos eu me atrevo a dizer a verdade! Diferente de você," Dylan sussurrou de volta, zombando.
Alistair riu, batendo palmas duas vezes. Uma fileira de servos entrou no vasto campo de treinamento, carregando grandes bandejas. Os soldados lentamente moviam-se para as bordas, fazendo espaço para os servos.
"O que é isso?" Lucian exigiu, confuso.
"Oh! Apenas alguns... presentes," o homem de cabelos loiros respondeu com um sorriso radiante. "Para minha irmã. Sei que apesar de ser um príncipe..." Alistair fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. "Espero que você faça minha irmã feliz e possa dar a ela tudo de que ela precisa."
Lucian apertou os lábios, mantendo-se em silêncio. Não era que não esperasse tal insulto dos Eldorianos, mas ouvi-lo do próprio rei era outra história!
"Majestade, peço desculpas, mas... não posso aceitar isso," afirmou o homem de cabelos escuros firmemente, travando seu olhar esmeralda com o violeta do rei.