A dor no crânio de Kael ainda pulsava, como se a própria natureza do espaço-tempo estivesse tentando se desintegrar dentro de sua mente. Ele não sabia por quanto tempo tinha permanecido ali, caído no chão, os olhos fechados, tentando conter a distorção com todas as forças que ainda lhe restavam. O mundo ao seu redor parecia se desfazer a cada instante, e a única coisa constante era a pressão em sua cabeça.
Quando ele finalmente abriu os olhos, Lira ainda estava diante dele, flutuando no ar com a mesma calma sobrenatural, como se a distorção que assolava o mundo não fosse nada mais do que um mero incômodo. Ela estendeu a mão, ajudando-o a se levantar, e Kael sentiu uma energia estranha em seu toque. Não era humana, mas algo mais, algo que parecia vinculado à própria distorção que ele tentava conter.
"Você... você apareceu do nada", Kael disse, sua voz rouca. "Como você...?"
"Eu sou uma Conectora também", Lira respondeu calmamente. "Mas meu papel é diferente. Eu não manipulo as realidades, eu as estudo, as entendo, e tento prever os efeitos dessa manipulação. A ruptura que você sentiu não é algo que surgiu aleatoriamente. Alguém está forçando a barreira entre as realidades, Kael. Isso está além de você e de mim."
Kael olhou para ela, tentando entender. A cidade ao seu redor estava começando a se estabilizar, as distorções no horizonte diminuindo, mas a névoa ainda pairava no ar, como se o universo tivesse sido rasgado e remendado de forma apressada.
"Quem... quem está fazendo isso?" Kael perguntou, a preocupação em sua voz aumentando. "E por que me envolveram nisso? Eu não sou mais um Conector. Eu perdi o controle."
Lira fez uma pausa, observando-o com olhos penetrantes, como se visse algo nele que Kael ainda não entendia.
"Você ainda é um Conector, Kael. E o que você não percebe é que sua desconexão da ordem não foi uma falha, mas uma consequência de algo maior que está em movimento. A manipulação das realidades não é apenas uma questão de controle, é uma questão de equilíbrio. Quando as realidades começam a se colidir, há uma força que tenta reverter esse processo. Eu sou uma dessas forças, mas nem sempre posso intervir diretamente."
Kael se afastou, tentando processar tudo o que estava ouvindo. Ele não queria ser mais do que o simples homem que tinha sido antes da missão que mudou sua vida, antes de ser marcado como "Conector". As responsabilidades e os poderes que vinham com o título lhe eram uma prisão, e ele havia se afastado disso. Mas agora, ele estava de volta no centro da tempestade, e não havia como fugir.
"Por que agora?" Kael questionou. "Por que as rupturas estão acontecendo agora? O que mudou?"
"Isso é o que precisamos descobrir", respondeu Lira, seu tom mais sombrio. "O equilíbrio das realidades está sendo manipulado por uma força desconhecida. Eu tenho algumas suspeitas, mas preciso de sua ajuda para encontrar respostas. O que está por trás das distorções não é apenas uma falha técnica ou uma falha de controle. Existe algo muito maior acontecendo."
Kael sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Ele havia sentido isso quando a distorção começou, uma presença nas sombras, algo que ele não podia ver, mas que estava lá, observando, esperando.
"Eu não posso fazer isso sozinho", ele disse, seus olhos fixos em Lira. "Eu não tenho mais controle. Não confio em mim mesmo."
Lira sorriu suavemente, como se entendesse a luta interna de Kael.
"Eu sei que você não confia em si mesmo, Kael. Mas é exatamente por isso que precisamos de você. Você é a chave para estabilizar as realidades, não porque seja perfeito, mas porque tem algo único. Sua falha é o que pode impedir a catástrofe. Precisamos que você aceite o que é e o que pode fazer."
Kael olhou para as mãos, ainda tremendo pela dor e pela força da distorção. Ele queria acreditar nela. Queria acreditar que ainda havia uma forma de controlar a situação. Mas a verdade era que ele não sabia por onde começar. Ele não sabia nem por onde as distorções vinham.
"Eu... vou tentar", ele murmurou. "Mas se eu falhar, você tem que me parar, Lira. Eu não sei até onde isso pode me levar."
Ela assentiu, a seriedade em seus olhos refletindo a gravidade da situação.
"Não se preocupe. Estarei com você."