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Chapter 10 - Do Sonho à Realidade

Tudo relacionado aos Adormecidos estava localizado no mesmo prédio. Ariandel seguiu as instruções enviadas ao seu comunicador e rapidamente encontrou os dormitórios, situados em um dos níveis mais baixos.

Em seu quarto, havia uma cama com um colchão macio, uma mesa, uma cômoda e um banheiro separado. Os móveis eram novos e esteticamente agradáveis; o ar, limpo e estéril. A temperatura estava agradável, e a parede externa possuía uma tela oculta que imitava perfeitamente uma janela ampla, com vista para um parque coberto de neve. Vários conjuntos de roupas com o emblema da Academia, fornecidos gratuitamente, também estavam disponíveis.

"Que agradável", pensou Ariandel, um pouco comovido.

Racionalmente, ele não via nada de extraordinário; essa era uma qualidade de vida que ele já conhecia, mesmo em suas circunstâncias humildes. No entanto, para seu coração, que, mesmo sem memórias, ainda carregava sentimentos de alguém que um dia vagou pelas periferias deste mundo, aquele quarto era um luxo. Ele levou a mão ao peito, sentindo o tremor que percorria seu corpo.

Ariandel suspirou, os olhos umedecidos.

"Acho que, antes do meu despertar, eu sonhava com uma vida melhor, longe da periferia..."

Ele olhou ao redor do quarto, então sorriu e soltou uma risada suave, quase nostálgica.

"Acho que estamos subindo na vida, certo, Ariandel?" String of Faith falou, como se dirigisse ao seu antigo eu – aquele que, na realidade, nunca deixou a delegacia onde enfrentou seu pesadelo.

"Ahahaha." A risada escapou dele, mas não era apenas animação; era uma lembrança de que ele precisava viver pelas duas vidas que já perdera. Aos poucos, o som foi se dissipando, e ele forçou a si mesmo a voltar ao presente, deixando seus pensamentos dispersos retornarem ao aqui e agora.

Ele projetou suas roupas sobre o corpo e se observou no espelho, tendo dificuldade em acreditar que, mesmo já sendo bonito, possuía agora uma beleza digna de um conto de fadas. Todo o conceito que o envolvia parecia onírico e irreal. Seus olhos iridescentes, cheios de formas caleidoscópicas, refletiam uma estranha emotividade, apesar de não terem pupilas. Com um olhar satisfeito, ele invocou suas memórias, conferindo suas habilidades.

Memória: [Arco da Maturidade de Ariandel]

Classificação da Memória: Desperta

Nível da Memória: II

Tipo da Memória: Arma

Descrição: "Um arco simples, forjado com sabedoria, que representa transformação."

Encantamentos: [Arco Infinito] [Cordas do Céu]

[Arco Infinito]: "O arco cria projéteis de energia pura, dispensando a necessidade de flechas físicas e adaptando-se à essência do portador."

[Cordas do Céu]: "A corda é leve e resistente, permitindo disparos rápidos e precisos sem perda de força."

Ariandel ainda não sabia como seu nome havia aparecido ali.

"Mas o arco é incrível; é uma memória desperta que não precisa de flechas, e ambos os encantamentos são passivos."

Ele recebeu essa memória em algum momento entre sair do casulo de seda preta e enfrentar aquela amálgama de vermes. Certamente, não havia matado aquela coisa com os dentes, e a Tecelã estava pendurada no teto, certo? Memórias nebulosas... Melhor não pensar nisso. O que conseguia lembrar o fazia estremecer.

Próxima memória.

Memória: [Sonho do Coração Profundo]

Classificação da Memória: Desperta

Nível da Memória: VI

Tipo de Memória: Armadura

Descrição: "Uma túnica simples, sandálias de couro e uma capa leve. Sua aparência discreta faz com que o portador passe despercebido, como se fosse apenas mais uma sombra entre as sombras."

Encantamentos: [Refúgio do Coração] [Caminho Silencioso]

[Refúgio do Coração]: "A túnica cria uma leve aura que diminui a visibilidade do portador, tornando-o menos perceptível em meio à multidão ou ao ambiente."

[Caminho Silencioso]: "A capa e as sandálias amortecem os sons, permitindo que o portador se mova silenciosamente, sem chamar atenção."

Ele invocou o Sonho do Coração Profundo. Finos fios de várias cores surgiram ao redor de seu corpo e o envolveram em uma veste de tecido claro e macio, sem adornos; uma túnica simples, com sandálias de couro e uma capa da cor branca acinzentado. Era quase exatamente a mesma túnica de Cássia, dada por Nephis. Era confortável, e Ariandel gostou muito.

"Eu desafiei o mesmo pesadelo que Nephis, matei o mesmo Terror e tenho a mesma túnica. Como isso funciona?"

Bem, os dois únicos encantamentos de uma memória de sexto nível seriam poderosos. Aliás, eram uma combinação perfeita com sua invisibilidade.

Uma armadura desperta sozinha não seria suficiente para protegê-lo na Costa Esquecida, mas com o arco e suas habilidades, ele não poderia pedir um conjunto mais adequado para um iniciante.

"E não se esqueça de que você já é um monstro. E ainda há o potencial inexplorado do seu Legado — projeção de objetos e forças imaginárias, além da habilidade vinda da separação de seus núcleos."

"Tenho certeza de que existe o potencial para queimar alguém com algumas ilusões flamejantes. Afinal, se posso imaginar uma xícara de café quente, mesmo que efêmera, por que não fazer o mesmo com chamas?"

"Sim, realmente me sinto bem-vindo a este mundo." Já muito bem-humorado, Ariandel dispensou a Memória e deixou seu quarto, dirigindo-se à cafeteria.

O jantar foi tão generoso quanto o dormitório. O desejo de Ariandel de experimentar os doces deste mundo finalmente se realizou: além de estarem disponíveis gratuitamente para os Adormecidos, não havia limite de quantidade! Havia também carne, arroz, pão, acompanhamentos variados, molhos, legumes frescos, frutas e bebidas deliciosas.

Não que estivesse com fome. Percebera há algum tempo que não sentia fome e provavelmente não precisava se preocupar em comer ou beber. 'Excelente!' Ariandel pensou, indo direto para o café.

Após montar um pequeno arco-íris de doces em seu prato, encontrou um assento vazio e, por um tempo, esqueceu a existência do mundo. Enquanto os doces ricos, mas nada excessivos, desmanchavam-se em sua boca, sua visão cintilava com estrelas, e ele não conteve um gemido de puro prazer.

Ainda bem que ninguém podia vê-lo ou ouvi-lo; algumas meninas tropeçariam, e alguns jovens poderiam questionar a própria orientação...

Concentrou-se profundamente na experiência, memorizando cada nuance dos doces que desfrutava. Esperava poder replicá-los com sua imaginação. Para fins científicos, claro. Tudo em nome de aperfeiçoar suas habilidades, que certamente o salvaria no futuro.

'Eu posso agradecer ao Feitiço, certo? Nephis não vai me queimar se descobrir isso, vai?'

Quando terminou, já estava satisfeito e mais do que um pouco cheio. Pensou em Cássia e desejou aprofundar a amizade com ela primeiro, já que os outros dois (Sunny e Nephis) não eram os indivíduos mais sociáveis. Dificilmente conseguiria a amizade deles sem que isso se forjasse pelas provações da Costa Esquecida.

Como já era hora de sua consulta com o pessoal da Academia, ele deixou a cafeteria.

Ele não pretendia revelar todas as informações sobre suas habilidades, mas sabia que ser evasivo não o ajudaria. Se sobrevivesse, acabaria sendo conhecido por suas capacidades. Além disso, informá-los sobre seu potencial poderia desviar a atenção de seus trunfos ocultos.

E, afinal, seu Defeito exigia que ele fosse conhecido.

Em pouco tempo, encontrou-se em um pequeno escritório, sentado em frente a um trabalhador administrativo amigável, que, sem demonstrar a surpresa que teve pela aparência de Ariandel, iniciou a entrevista imediatamente.

Ele recusou o aconselhamento psicológico com modéstia polida, e a entrevista seguiu para perguntas sobre seu Aspecto.

Quando questionado sobre sua Habilidade, Ariandel respondeu com cautela:

"Feitiçaria. Ainda não me aprofundei nas minhas capacidades, mas posso dizer que meu Aspecto tem múltiplas aplicações, tanto para combate quanto para sobrevivência."

O entrevistador continuou:

"O que você é capaz de fazer com sua Habilidade?"

"Sou capaz de projetar ilusões indistinguíveis de objetos reais. Também sou hábil em ocultação e exploração, conseguindo passar despercebido até mesmo por uma multidão e reduzindo consideravelmente as chances de ser pego de surpresa..."

Ao longo da conversa a compostura do entrevistador desmoronava gradualmente:

"Incrível! Seu Aspecto é realmente incrível, e seus atributos complementam bem suas capacidades."

Finalmente, ele se apresentou:

"Obrigado. Mas eu também tenho um nome verdadeiro: String of Faith."

O entrevistador hesitou, perdendo a linha de raciocínio após a revelação. Ariandel permaneceu sério, mas um lampejo de diversão cintilou sob a máscara de serenidade que mantinha.

Após a entrevista, voltou ao seu quarto, tomou um banho demorado, riu no chuveiro e foi dormir.

Percebeu que talvez não precisasse mais dormir, mas sua mente e espírito ainda apreciavam o descanso. Deitado em um colchão macio, sua pele contra lençóis limpos e um travesseiro fofo sob a cabeça, ele dormiu como um anjinho.