Solaris rapidamente se coloca à frente do grupo, abrindo os braços como se quisesse proteger as freiras e as crianças. O coração dele batia acelerado, mas ele tentou manter a voz firme.
"Quem é você? O que quer de nós?" Solaris perguntou, encarando o homem misterioso.
O homem, vestido com um capuz escuro e uma máscara que cobria metade de seu rosto, ergueu as mãos lentamente em sinal de paz.
"Relaxa, garoto," disse ele com uma voz rouca, porém calma. "Eu não sou uma ameaça."
Helena, ainda segurando uma das crianças mais novas no colo, deu um passo à frente. Seus olhos estavam cheios de desconfiança, mas também de esperança.
"Você... você pode nos ajudar?", perguntou a freira, sua voz trêmula de preocupação. Ela olhou para as crianças, que tremiam de frio e medo.
O homem misterioso observou o grupo por alguns segundos. Seu olhar percorreu as crianças, suas roupas finas e corpos frágeis, claramente não preparados para a noite fria na floresta.
"Venham comigo", disse ele finalmente, sua voz suave, mas firme.
Helena hesitou por um momento, trocando olhares com Solaris. O menino olhava fixamente para o homem, tentando discernir se podia confiar nele, mas sabia que não tinham muitas opções. Com um leve aceno de cabeça, Solaris deu um passo para trás, deixando o caminho livre.
"Não temos escolha, Solaris," sussurrou Helena. "Precisamos de ajuda."
As freiras e as crianças começaram a seguir o homem pela trilha escura. As árvores pareciam ainda mais altas e sinistras enquanto caminhavam. Solaris ficou ao lado de Helena, sua mente girando com perguntas que ele não sabia se queria fazer em voz alta.
"Para onde estamos indo?", perguntou Solaris, tentando não demonstrar medo.
"Para um lugar seguro", respondeu o homem sem olhar para trás. "Vocês não sobreviveriam a noite aqui fora."
Helena respirou fundo, aliviada por pelo menos ter algum tipo de orientação, mas o ar ainda estava pesado de incerteza.
"Por que está nos ajudando?", perguntou ela, tentando entender as intenções do estranho.
O homem fez uma pausa, parando por um segundo no meio do caminho antes de se virar levemente, sua voz baixa e enigmática.
"Porque já estive onde vocês estão agora... e ninguém me ajudou."
A resposta deixou tanto Helena quanto Solaris em silêncio, trocando olhares carregados de dúvidas, mas também de gratidão.
Solaris olhou para o homem com mais atenção. Suas palavras, embora enigmáticas, carregavam uma dor que ele parecia entender, algo que Solaris não conseguia ignorar.
"Obrigado..." Solaris murmurou, mantendo a cautela.
Enquanto seguiam pela floresta, o grupo caminhava em silêncio, exceto pelo som abafado das folhas secas sendo esmagadas sob seus pés. A tensão entre as árvores crescia, mas a presença do homem misterioso de alguma forma acalmava um pouco as crianças e as freiras.
Após alguns minutos, eles chegaram a uma pequena caverna escondida pela vegetação densa. "Fiquem aqui até amanhecer," disse o homem, parando na entrada. "A essa hora, os soldados não virão até aqui."
Helena ajudou as crianças a entrarem na caverna, enquanto Solaris ficou na entrada, olhando o estranho.
"Você vai nos deixar aqui?" Solaris perguntou, sem conseguir esconder a preocupação na voz.
O homem virou a cabeça na direção dele, os olhos sombrios mas não hostis. "Eu voltarei. Há mais coisas acontecendo do que você pode imaginar, garoto. Fiquem escondidos... e fiquem seguros."
Com isso, o homem se afastou, desaparecendo nas sombras da floresta. O silêncio voltou, deixando apenas o som distante da floresta ao redor.
Helena se aproximou de Solaris, colocando a mão no ombro dele. "Você fez o que podia. Agora, precisamos descansar e manter a esperança."
Solaris assentiu, mas seus pensamentos ainda estavam no homem misterioso e no perigo que parecia cercá-los. Ele não sabia o que o futuro reservava, mas estava determinado a proteger todos à sua volta, custe o que custar.
Helena, vendo que as crianças estavam acordadas, decidiu continuar a história que sempre contava para acalmá-las.
Helena: "Venham, crianças, vou contar a continuação da história do anjo."
As crianças se aproximaram dela, algumas ainda segurando seus cobertores, outras com os olhos curiosos, prontas para ouvir.
Helena: "Diziam que, certo dia, o anjo caiu do céu com um estrondo tão alto que acordou todos os habitantes de uma pequena vila. A terra tremeu, e uma enorme cratera se formou no chão."
Os olhos das crianças se arregalaram enquanto Helena continuava.
Helena: "Os moradores, curiosos e também assustados, se aproximaram da cratera. Uma nuvem de poeira e fumaça ainda se erguia, e do meio dela, o anjo surgiu. Ele era lindo, como todos imaginam que um anjo deveria ser... mas os seus olhos, ah, seus olhos brilhavam com um ódio indescritível."
Ela fez uma pausa, dando tempo para as crianças absorverem a imagem. Uma delas puxou o cobertor para mais perto do rosto.
Helena: "Sem mostrar piedade, ele começou a destruir tudo. Casas viraram cinzas, árvores caíram, e os habitantes... eles não tiveram chance. A vila foi apagada da face da terra."
As crianças prenderam a respiração, sentindo o peso da história.
Helena: "Dois dias se passaram... até que um mago misterioso apareceu. Dizem que ele possuía conhecimentos antigos e uma sabedoria que poucos jamais teriam. Ele lutou bravamente contra o anjo, usando sua magia para confrontá-lo."
Os olhos das crianças brilharam com uma mistura de medo e fascínio.
Helena: "Com grande esforço e usando o poder dos Sete Cristais, o mago conseguiu aprisionar o anjo. Cada cristal representava uma parte do poder que o mantinha preso, uma prisão tão forte que ninguém jamais poderia quebrar. E, desde aquele dia... o anjo nunca mais foi visto."
Ela terminou a história, olhando para os rostos das crianças. Algumas suspiraram de alívio, outras ainda estavam presas à tensão da narrativa.
Helena: "E é assim que termina... por enquanto." Ela sorriu, acariciando a cabeça de uma das crianças. "Agora, todos para a cama. Amanhã será um novo dia."
Enquanto as crianças se ajeitavam, ela olhou para a entrada da caverna, perdida em pensamentos.
Na manhã seguinte, o sol mal tinha nascido quando uma presença encheu a caverna. Solaris, que acabara cochilando, acordou de repente com uma sensação estranha no ar. Uma aura sombria e pesada pairava sobre eles.
Todos começaram a se mexer, ainda grogues, mas Helena foi a primeira a perceber o homem de volta à entrada. Sua figura estava envolta em sombras, como se a escuridão da noite o seguisse mesmo à luz do dia.
Helena se levantou rapidamente e colocou as crianças para trás, se aproximando dele com cautela.
Helena: "Você voltou..." ela falou baixinho, mas havia algo em sua voz que mostrava tanto alívio quanto desconfiança.
O homem inclinou levemente a cabeça, seu capuz escondendo grande parte de seu rosto, mas o brilho frio de seus olhos estava visível.
Homem: "Disse que voltaria, não disse?"
A voz dele parecia mais rouca do que na noite anterior, como se carregasse o peso de mil batalhas. Helena cruzou os braços e deu um passo à frente, olhando para ele diretamente nos olhos.
Helena: "Quem é você realmente? Por que nos ajudou?" Havia firmeza em sua voz, mas também um certo nervosismo. Ela precisava entender quem ele era.
O homem fez uma pausa, como se estivesse escolhendo bem suas palavras.
Homem: "Meu nome é Kairon. E como eu disse, já estive na posição de vocês. Vi vilas queimarem, famílias serem destruídas... E não pude fazer nada."
Solaris, que observava a conversa à distância, deu um passo à frente, sua curiosidade misturada com incerteza.
Solaris: "Então por que está nos ajudando agora? Por que você não ficou e lutou com a gente?"
Kairon olhou para o menino, seus olhos sombrios mostrando algo que Solaris não conseguiu decifrar imediatamente.
Kairon: "Lutar? Contra o que? O exército que dizima vilas? Ou contra o próprio destino que insiste em seguir seu curso?" Sua voz era um misto de amargura e resignação. "Vocês não têm ideia do que realmente está acontecendo."
Helena franziu o cenho, aproximando-se mais, sua preocupação visível.
Helena: "Então nos diga. O que está acontecendo? Por que a vila foi atacada?"
Kairon ficou em silêncio por um momento, o peso da verdade visível em sua expressão.
Kairon: "Vocês foram pegos em algo muito maior. O rei quer poder, e ele está disposto a destruir qualquer um que esteja no caminho. Há uma magia antiga... algo que desperta no coração dessas terras. E vocês, talvez sem saber, estão no centro disso tudo."
Solaris sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele olhou para Helena, que agora parecia ainda mais preocupada.
Helena: "Magia antiga? O que isso tem a ver com a gente?"
Kairon deu um leve sorriso, um sorriso sombrio, quase de desespero.
Kairon: "Mais do que vocês podem imaginar. Especialmente o garoto."
Todos na caverna ficaram em silêncio. Helena olhou para Solaris, confusa e protetora, mas sem entender completamente o que Kairon queria dizer.
Helena: "O que você sabe sobre Solaris?"
Kairon virou-se completamente para o menino, sua aura sombria mais intensa, mas não ameaçadora.
Kairon: "O que ele despertou... o que ele tocou. Esse poder é perigoso, e agora muitos virão atrás dele."
Solaris sentiu o peso daquelas palavras, como se o futuro de todos ao seu redor estivesse em suas mãos.
Helena: "Se ele está em perigo... o que podemos fazer?"
Kairon olhou para ela, sua expressão finalmente suavizando um pouco.
Kairon: "Vocês precisam aprender a lutar. Precisam se proteger. E para isso, vocês terão que confiar em mim."
Kairon olhou para Helena, esperando sua resposta. O silêncio na caverna se tornava mais pesado a cada segundo que passava. Helena apertou os punhos, claramente lutando internamente com o que acabara de ouvir.
Helena: "Eu... não posso permitir isso. Solaris é apenas uma criança, ele não deveria ter que carregar essa responsabilidade. Nós... nós encontraremos outra maneira."
Kairon suspirou, sua expressão ficando mais séria e sombria.
Kairon: "Outra maneira? Não há outra maneira, irmã. O destino já foi traçado, e quanto mais vocês resistirem, mais sofrimento virá."
Helena balançou a cabeça, sua voz se erguendo, carregada de emoção.
Helena: "Não! Ele é só um garoto! Não vou deixar que você o envolva em mais perigos. Já perdemos tudo. Ele merece uma chance de ser... de ser só uma criança."
Antes que Kairon pudesse responder, Solaris deu um passo à frente, ficando entre Helena e Kairon. Seus olhos estavam decididos, a voz firme, mesmo que ainda carregada de incerteza.
Solaris: "Eu... eu quero fazer isso."
Helena olhou para ele, surpresa e chocada.
Helena: "Solaris, não. Você não entende—"
Solaris: "Não, Helena. Eu entendo! Eu quero ficar mais forte. Eu não vou fugir mais. Se existe algo que posso fazer para proteger vocês... para proteger todos nós, então eu vou fazer!"
As palavras de Solaris ecoaram na caverna, e Helena, com o coração apertado, percebeu que o menino à sua frente estava crescendo muito rápido. As lágrimas ameaçavam brotar em seus olhos, mas ela se manteve firme, tentando protegê-lo.
Helena: "Mas... Solaris, você não precisa carregar esse fardo sozinho. Não deveria."
Solaris respirou fundo, suas mãos tremendo levemente, mas ele ergueu o queixo, tentando demonstrar mais confiança do que realmente sentia.
Solaris: "Eu não estou sozinho. Eu tenho você. E... eu tenho ele."
Kairon observou a cena em silêncio, seus olhos sombrios fixos no menino. Ele viu algo em Solaris, algo que não via há muito tempo. Talvez fosse coragem, talvez fosse teimosia. Mas uma coisa era certa: Solaris não era apenas um garoto comum.
Kairon: "Você tem coragem, garoto. Isso é bom... mas coragem sozinha não basta. Você precisará de muito mais do que isso."
Solaris olhou diretamente para Kairon, seus olhos cheios de determinação.
Solaris: "Então me ensine. Me ensine como lutar... como usar essa magia."
Helena, tentando conter o desespero, deu um passo à frente, segurando o braço de Solaris com delicadeza.
Helena: "Solaris... por favor. Pense bem. O que você está pedindo—"
Kairon interrompeu, sua voz grave, mas não sem uma certa compreensão.
Kairon: "Ele já decidiu, irmã. E, sinceramente, vocês precisam dele mais do que imaginam. Se ele quer aprender, eu o aceitarei como meu pupilo."
Helena ficou em silêncio, o coração em conflito. Ela queria protegê-lo, mas sabia que o mundo não lhes daria essa escolha por muito mais tempo. Finalmente, ela soltou o braço de Solaris, seus olhos marejados.
Helena: "Se é isso que você quer... então eu não posso impedi-lo. Mas, por favor, tenha cuidado. Não se perca nesse caminho."
Solaris assentiu, a expressão séria no rosto infantil. Ele sabia que não seria fácil, mas também sabia que não podia voltar atrás.
Kairon se aproximou, ficando cara a cara com Solaris. Ele colocou a mão no ombro do garoto e falou em um tom que parecia carregar o peso de anos de batalhas.
Kairon: "Prepare-se, Solaris. O caminho à frente é cheio de perigos. A magia que você tocou é antiga e poderosa... mas também traiçoeira. Você precisará dominar o controle sobre ela, ou ela o dominará."
Solaris assentiu, com o coração acelerado, mas com uma força renovada dentro de si.
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Nas semanas seguintes, Solaris começou a treinar com Kairon, explorando os primeiros passos no uso da magia. Cada manhã, antes do sol nascer, ele se levantava e começava o treinamento.
Kairon o ensinava como sentir a energia mágica ao seu redor, como manipular pequenos feitiços, focando primeiro na concentração e no controle. Cada lição era difícil, e Solaris muitas vezes caía exausto, seu corpo ainda jovem lutando para acompanhar a exigência da magia.
Kairon: "Se você não conseguir controlar o fluxo da magia, ela consumirá você. Não se trata apenas de poder... trata-se de equilíbrio."
Solaris ouvia atentamente, tentando absorver cada palavra, mesmo quando o cansaço ameaçava dominá-lo.
Helena observava de longe, o coração dividido entre orgulho e medo. Ela via Solaris crescer a cada dia, se tornar mais forte, mais determinado, mas não podia evitar a preocupação de que ele estivesse se distanciando demais da inocência de sua juventude.
Certa manhã, enquanto o sol ainda subia no horizonte, Solaris finalmente conseguiu conjurar um feitiço de defesa, criando um escudo brilhante ao seu redor.
Solaris: "Eu consegui...!"
Kairon assentiu, um raro sorriso de aprovação cruzando seu rosto.
Kairon: "Sim, você conseguiu. Mas isso é apenas o começo."
Onze anos se passaram desde aquele fatídico dia em que Kairon aceitou Solaris como seu pupilo. A pequena clareira no meio da floresta, que antes parecia sombria e ameaçadora, agora abrigava uma casa simples, construída por Kairon, Helena, e as freiras, que cuidavam das crianças. Com o tempo, todos encontraram uma certa paz naquele refúgio.
Agora, com 18 anos, Solaris estava prestes a partir em sua jornada para encontrar os cristais. Ele se tornara um jovem forte, não só no corpo, mas na mente e no espírito. A magia, que antes parecia uma força incontrolável dentro dele, agora fluía com naturalidade, graças aos anos de treinamento com Kairon.
Na manhã de sua partida, Solaris saiu da casa ao amanhecer, o sol começando a surgir entre as árvores. Ele carregava uma pequena mochila, com apenas o necessário para a longa jornada à frente. Kairon estava ao seu lado, observando em silêncio, enquanto Helena e as crianças se despediam com olhares emocionados.
Helena se aproximou de Solaris, seu rosto marcado por uma mistura de orgulho e tristeza. Ela sempre soube que esse dia chegaria, mas não estava preparada para dizer adeus.
Helena: "Você cresceu tanto, Solaris... Eu sabia que esse dia chegaria, mas... é difícil acreditar que o menino que eu conheci agora é esse jovem tão forte."
Ela colocou a mão no rosto de Solaris, os olhos marejados, mas sorrindo com orgulho.
Helena: "Prometa-me que vai se cuidar. Não importa o quão forte você tenha ficado, sempre haverá perigos no caminho."
Solaris segurou a mão de Helena, sentindo o peso da responsabilidade, mas também o amor e carinho dela.
Solaris: "Eu prometo, Helena. Eu vou voltar. E quando eu voltar, vou trazer os cristais e garantir que todos estejam a salvo. Vocês são minha família... e vou protegê-los."
Kairon, que até então observava em silêncio, deu alguns passos à frente, parando ao lado de Solaris. Ele colocou a mão no ombro do jovem e, pela primeira vez em muito tempo, abriu um sorriso de aprovação.
Kairon: "Você está pronto, Solaris. Eu te ensinei tudo o que sei, mas agora o resto depende de você. Encontrar os cristais não será fácil. Cada um está guardado por perigos maiores do que qualquer coisa que você enfrentou até agora."
Solaris assentiu, sentindo o peso das palavras de Kairon, mas também a confiança que seu mestre depositava nele.
Solaris: "Eu vou encontrar os cristais, Kairon. E vou proteger todos como você me ensinou. Não vou falhar."
Kairon fez um leve aceno de cabeça, satisfeito com a determinação de seu pupilo.
Kairon: "Lembre-se, o poder que você carrega pode tanto te proteger quanto te destruir. Use-o com sabedoria. E não se esqueça de quem você é."
As crianças se aproximaram, com os rostos tristes, mas sabendo que Solaris precisava partir. Uma das crianças, a mais nova, puxou a túnica de Solaris, com os olhos marejados.
Criança: "Você vai voltar, Solaris?"
Solaris se ajoelhou na frente dela, sorrindo gentilmente.
Solaris: "Claro que vou. E quando eu voltar, vocês estarão todos a salvo, e nossa casa será ainda mais forte."
Ele se levantou, olhando uma última vez para Helena, Kairon, e as crianças. A clareira, que por tanto tempo fora seu lar, parecia agora mais distante, mas ele sabia que precisava partir. A jornada seria longa e cheia de desafios, mas Solaris estava pronto para encará-los de frente.
Helena: "Vai com Deus, Solaris. Estaremos rezando por você todos os dias."
Solaris deu um último abraço em Helena, apertando-a com carinho, e depois se afastou, caminhando pela trilha que o levaria ao desconhecido. Kairon observou o jovem desaparecer entre as árvores, com um misto de orgulho e preocupação.
Kairon: "Ele tem um longo caminho pela frente... Mas se alguém pode mudar o destino, é ele."
Helena assentiu, ainda com lágrimas nos olhos, mas com esperança no coração.
Helena: "Sim... ele é nossa esperança."
E assim, Solaris partiu em sua busca pelos sete cristais, deixando para trás sua família, mas carregando consigo todo o amor, a força e a sabedoria que eles lhe deram. A floresta, que antes fora um refúgio, agora parecia apenas o ponto de partida para a verdadeira batalha que estava por vir.
Helena olhou para Kairon, seu semblante sério e cheio de preocupação. Ela hesitou por um momento, mas finalmente falou o que estava em seu coração.
Helena: "Por que você não contou a ele, Kairon? Por que não disse que ele é a criança da profecia... que ele terá que lutar contra o Anjo?"
A tensão no ar era palpável. Helena sabia o quão pesado era o destino de Solaris, e a ideia de manter isso em segredo a incomodava profundamente. Kairon, porém, permaneceu calmo, olhando para o horizonte como se já soubesse a resposta antes mesmo da pergunta ser feita.
Kairon: "Ele já sabe, Helena." Sua voz era firme, mas carregava um peso profundo. "Mesmo que eu não tenha dito nada, ele já sabe. Só ele conseguiu ler aquele livro... o livro que ninguém mais pode tocar, muito menos entender."
Helena balançou a cabeça em negação, suas emoções transbordando.
Helena: "Mas ele não sabe o que isso realmente significa. Ele não sabe o quão perigoso é... O que ele terá que enfrentar."
Kairon suspirou, olhando para a trilha pela qual Solaris tinha partido.
Kairon: "Ele sabe mais do que você imagina. Ele carrega esse fardo desde o dia em que abriu aquele livro. Cada feitiço que aprendeu, cada batalha que enfrentou... foi um passo em direção ao que está por vir."
Helena baixou os olhos, lutando contra as lágrimas. A ideia de que Solaris teria que enfrentar o Anjo, a força por trás da destruição de tantas vidas, era aterrorizante.
Helena: "Ele é só um garoto..."
Kairon: "Não mais, Helena. Não mais. E você sabe disso."
A freira enxugou uma lágrima que escorreu por seu rosto, tentando encontrar consolo nas palavras de Kairon, mas o medo ainda a consumia.
Helena: "Então é isso? Vamos simplesmente deixar que ele enfrente isso sozinho?"
Kairon: "Ele não está sozinho. Nunca esteve. E quando a hora chegar... ele saberá o que fazer. Ele é o escolhido, Helena. O destino dele está selado, quer a gente aceite ou não."
Helena olhou para Kairon por um longo momento, buscando alguma forma de esperança nas suas palavras, mas tudo o que encontrou foi a dura realidade que ambos já sabiam há muito tempo.