Uma realização: Jhonattan R. R. Mischiatti
Apoio: Canal "A Catedral" no YouTube.
História baseada no mangá "Freedam: Olhos Cor de Rosa" escrito por Jhonattan R. R. Mischiatti.
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Capítulo I: Arco da Pousada Friggarista
Era uma alma que corria, e corria fugindo. Não aparentava ter casa, pois se tivesse, ficaria. Também não aparentava ter rumo, pois se tivesse, saberia. Corria desgovernado e eufórico.
As correntes que cairam de seus punhos já se distanciavam, e as árvores que seu corpo tanto se recocheteava se tornavam cada vez mais densas.
A garoa de rasgar a pele atirava contra a pele branca do garoto, e este a sentia com desespero. Embora a dor, nada lhe importava mais que sua recém liberdade.
Corria como se algo viesse atrás de si, preparado para o matar da maneira mais brutal, mas nada lhe ocorria. Arfante persegue o horizonte mal iluminado pelo cair da noite, com o frio batendo à porta, mas, mais uma vez, nada lhe importava mais do que a sua liberdade.
Pensando ter se distanciado por conjuntos e mais grupos de árvores enormes e altas, ele descansa. Deita sua cabeça sobre o tronco da árvore mais próxima, e sentindo a rígida madeira, chora com lágrimas em meio à chuva.
Ele olha para cima entre as frestas dos galhos das enormes árvores, observando o azulado escuro escarlate que o céu lhe proporcionava a vista, e chorava. Seus braços já estendidos em paralelo no chão, aos lados de suas pernas, já estavam dormentes. E ele arfava.
O medo do desconhecido lhe causava a maior das angústias, mas o sono prevaleceu, o levando para o caminho dos sonhos. Ele adormece.
Talvez o céu havia de amanhecer mais cedo naquela madrugada, não se sabe. Mas era fato de que o garoto livre se deparava com um sono terrivelmente curto, no qual ainda o fazia sentir seus ossos retrancados.
Não bastasse tal desgaste, o pobre menino tornava a correr, pois era a única coisa que sabia fazer: fugir. Dessa vez mais comportado entre os galhos, pelo excesso de luz.
Preocupado com animais selvagens, ele corre silenciosamente, na medida do possível. Galhos quebravam, folhas farfalhavam e o ruído de um terceiro resolve aparecer em meio à floresta. Antes que pudesse sequer pensar e examinar suas laterais, descobrir a fonte dos ligeiros passos e recuperar o fôlego e fugir, correr, correr e correr... ele é golpeado. Se ouve uma batida forte.
Os pássaros dão largada de seus galhos como numa corrida disputada, rumo ao céu. As árvores da floresta, todas puderam ouvir o golpear de um garoto. Um pobre garoto, que só sabia fugir.
Aos poucos a luz penetra nos olhos recém acordados do menino, que hesita até que suas pupilas se acostumem com a rajada de luz vinda dos céus. E, tomando vista, percebe uma silhueta em pé, bem à sua frente, lhe observando.
Seus tímpanos mal acostumados retomam o trabalho, e podem ouvir uma voz que misturava suavidade e hostilidade em um só timbre.
– Garoto.
A voz diz, sem se prolongar. Era uma jovem de cabelos longos e volumosos, uma pele ligeiramente escura e corpo coberto por semi-armaduras feitas, provavelmente, de restos metálicos, acompanhados de uma enorme bolsa de bagagem que comportava inumeradas flechas grandes. Todavia, tudo o que importava eram suas mãos, que posavam o ameaçar de um arco e flecha, apontado diretamente para a testa do sujo garoto de pele e cabelos brancos.
– Eu só perguntarei uma vez – dizia a jovem – me diga... você é um deles?
E o pobrezinho recuava, com medo. Pensava no que responderia àquela altura, pois dependendo da satisfação de sua resposta, teria uma flecha o acompanhando para a morte.
Sem demora, ele diz:
"Eu... eu sou um escravizado."
Fechando os olhos no mesmo instante. O medo da morte não parecia tão ruim, mas a sobrevivência e convicção de um homem o fazem lidar com a realidade. Estava o seu destino à sua frente, no peso de uma flecha.
Esperando por sua sentença, sente o tocar de uma mão no seu queixo. Era a jovem:
"Você não se parece com eles."
Um arrepio se derrama pelo corpo do pequeno rapaz, que revigora seus sentimentos e digere a sensação de continuar à viver. Mas, antes que a comemoração interna prossiga, a garota pede para que a siga.
Um garoto sem perspectiva, mas ainda possuia o dom da vida. Não havia escolha melhor, não havia nem sequer o básico. Ele a segue.
Ela mostrava familiaridade com os movimentos da natureza, se locomovendo pela floresta e entre as árvores correndo. Ele teve dificuldade para acompanhá-la, mas nada que fosse mais difícil do que sua recente fuga.
A visão se abria para um pequeno campo, cercado da própria floresta, enfeitado com um pequeno banco de duas pessoas no centro, emaranhado de cipós com toques de flores minúsculas.
A jovem se senta, e o olhava de uma forma peculiar quase como se quisesse convidá-lo para uma conversa, e assim foi feito.
– Quero que fique tranquilo. Em minutos minha irmã vai chegar, lhe apresentarei a ela.
Talvez uma emboscada para fins de assassinato, ou talvez um simples encontro de desconhecidos.
– Enquanto isso, quero que me conte... me conte tudo o que fizeram com você.
E os olhos cravam os do garoto. Uma preocupação pairava, e o coração do rapaz palpitava lembrando de tudo como um filme acelerado. Seus relances de memória mostravam fios de cabelo cortados, cordas de enforcamento, parentes estirados ao chão e uma mão apertando seu pescoço.
– Eles... eles...
E nenhuma palavra saía. Seus olhos se direcionavam involuntariamente para o pulso, que marcavam cicatrizes codificadas como "X-163418".
A jovem não percebe, e antes que o ocorra, o pobre menino continua:
– Nos escravizaram, nos amarraram, cortaram nossos cabelos, tiraram nossas vidas, nos prenderam... tudo isso por 2 anos completos...
Houve silêncio, mas nenhuma lágrima ousou cair. A jovem, repleta de empatia, o segurou pelos ombros e olhou em seus olhos, como um 'tá tudo bem' mudo.
Mesmo atormentado pelas memórias, o menino pôde perceber algo: a garota tinha uma pele de cor única; Era como se, quando iluminada pelo Sol, a coloração de sua pele tomasse uma cor nunca antes vista pelo rapaz, uma semelhança com a cor azul, mas que não podia ser esta.
O silêncio do ambiente parecia acolhedor, era um abraço disfarçado e confortável. Talvez ali fosse o céu para o tão sofrido menino. Talvez ele achara sua verdadeira liberdade.
Talvez, também, a única pessoa naquele lugar que o segurava sem machucar. Ele sentia saudade de um toque leve, e agora o tinha.
A única pessoa...
Ele temeria ser visto por outros, sem a certeza de que o vissem com os mesmos olhos pacíficos da jovem de cabelos castanhos claros. Era um lar indireto.
Se ouve um farfalhar. Vinha diretamente da mata. Em meio as árvores se vê um busto alto. Ele agora teme. Os dois jovens olham ligeiramente para o lado, procurando por uma visão esclarecedora. E estava correto: a irmã da jovem havia chegado.