Cedo de manhã, o sol mal havia acabado de raiar, lançando uma suave luz dourada sobre a vila adormecida. As ruas estavam vazias, e a maioria das pessoas ainda repousava em suas camas, envolta no silêncio tranquilo do início do dia. Mas, para um ninja, essa era uma das horas perfeitas para começar.
Sekiro, diligente e disciplinado, já havia preparado tudo na noite anterior para a missão que o aguardava. Ele era o tipo de guerreiro que jamais deixaria os detalhes ao acaso. A possibilidade de conflito era real, e ele não poupara esforços para se certificar de que todas as contramedidas estavam planejadas. Além disso, passara algum tempo na loja de um velho artesão, adquirindo ferramentas novas e afiadas, cada uma cuidadosamente selecionada para as situações que ele poderia enfrentar.
Agora, seus bolsos ocultos, antes leves e vazios, estavam preenchidos com equipamentos adicionais. Kunais, shurikens, bombas de fumaça e outras ferramentas especiais pesavam em sua roupa, mas ele sabia disfarçar o peso com maestria, movendo-se com a mesma leveza de sempre. Ninguém, apenas observando, seria capaz de notar as armas escondidas que levava consigo.
Com a Cabaça Curativa firmemente presa ao cinto, Sekiro se sentia preparado para lidar com qualquer ferimento que surgisse. Não via necessidade de carregar outras poções ou bandagens extras, pois confiava em sua habilidade e resistência. No entanto, por precaução, ele ainda escondia algumas ataduras discretamente. Caso ainda estivesse em Ashina, teria incluído algumas pastilhas medicinais, pois conhecia bem os perigos e as exigências daquele lugar.
Antes de partir, Sekiro fez uma última inspeção em sua modesta casa, conferindo cada detalhe para ter certeza de que tudo estava em ordem. Ele respirou fundo, absorvendo o ar frio da manhã que parecia renovar sua determinação. Em seguida, puxou o cachecol, cobrindo o nariz, um hábito que havia desenvolvido ao longo dos anos, uma forma de esconder não apenas seu rosto.
...
Nos portões de Konoha, o sol começava a subir no horizonte, iluminando as primeiras caravanas que partiam sob a vigilância dos guardas da vila. Mercadores, ninjas e cidadãos comuns passavam apressados, cada um ocupado com suas próprias tarefas matinais. Sekiro se misturava à multidão, observando atentamente a movimentação. Em pouco tempo, identificou a caravana de seu cliente e, com passos firmes, aproximou-se do homem que aparentava ser o líder do grupo.
O homem, de aparência descuidada e ar pomposo, percebeu a aproximação de Sekiro e o observou com uma expressão de desdém. Seus olhos percorreram o jovem ninja da cabeça aos pés antes de ele disparar, em um tom incrédulo:
"Você está me dizendo que é nossa escolta?!" O homem exclamou, sua voz saindo em um grito áspero que fez alguns passantes olharem. A saliva espirrava de sua boca, e a expressão de repulsa era clara em seu rosto. Ele era obeso, feio e marcado por rugas profundas que, junto com a respiração ofegante e pesada, lembravam a de um porco velho. No entanto, ele se vestia como um nobre, com roupas opulentas e adornos reluzentes, como se quisesse convencer os outros de sua importância.
"Sim." Sekiro respondeu, com a calma habitual. Seu olhar não se alterou, e ele manteve a postura serena, imperturbável. Em outra vida, ele lidara com situações intensas e desafios mortais. Ainda assim, essa era uma situação inédita para ele. Estava acostumado ao respeito e à deferência dos clientes, que entendiam a importância dos shinobis e reconheciam sua força e experiência. Mas aquele homem não demonstrava nem um pingo de consideração.
"Não venha com essa, seu pirralho fedorento!" o homem explodiu, elevando ainda mais o tom de voz. "Isso aqui não é jardim de infância! Exijo uma conversa com seu Hokage!" Sua face tornou-se vermelha de raiva, quase grotesca. Ele estava fora de controle, e sua gritaria ecoava pelos portões, chamando a atenção das pessoas próximas.
Sekiro permaneceu impassível, mas, por dentro, sentia um misto de surpresa e leve irritação. Aquela situação o pegara desprevenido, mas ele não se deixava abalar. Apenas revisou mentalmente o conteúdo da missão, lembrando que o único objetivo era proteger os suprimentos – a segurança do cliente, ao que parecia, não era uma prioridade expressa. A ideia lhe arrancou um sutil pensamento sarcástico: "Em nenhum momento foi especificado que o cliente precisava voltar com vida, apenas os suprimentos."
Por um breve momento, os olhos de Sekiro mudaram de cor, passando de um tom negro para um brilho amarelo intenso. Mas antes que qualquer coisa pudesse acontecer, uma figura surgiu ao lado do homem, interrompendo o que poderia ter sido uma explosão de hostilidade.
"Opa, meu nobre!" A voz era feminina, carregada de um tom brincalhão. Sekiro viu uma mulher de aparência peculiar, sorrindo com a confiança de quem está em completo controle da situação. Antes que o comerciante pudesse reagir, ela lançou um braço ao redor do pescoço dele, puxando-o contra a lateral de seus seios, como se fosse o gesto mais natural do mundo.
A mulher era alta, esguia e tinha um físico bem definido. Os olhos castanhos, profundos e com um brilho perigoso, eram cercados por uma expressão travessa e um toque de algo mais sombrio. Seu cabelo púrpura, preso em um rabo de cavalo solto, caía em mechas desordenadas, emoldurando seu rosto com um charme ousado.
A roupa da mulher era uma combinação única de funcionalidade e provocação: uma jaqueta bege sobre uma blusa preta, curta o suficiente para revelar um pedaço do abdômen tonificado, e uma saia curta sobre shorts apertados. Meias arrastão cobriam suas pernas até os joelhos, adicionando um toque provocativo ao conjunto.
"Vamos todos nos acalmar, certo? Não queremos nenhum acidente antes mesmo de sairmos daqui." Ela sussurrou perto do ouvido do comerciante, mas sua voz tinha um tom ameaçador por baixo da aparente leveza. Ela apertou o braço ao redor do pescoço dele, um sorriso perverso no rosto enquanto o homem, de repente, começava a se debater, sua expressão antes confiante transformando-se em puro pânico.
Sekiro observava a cena em silêncio, tentando esconder um leve sorriso.
"O que foi, nobre?" Anko continuou, apertando mais o pescoço dele enquanto o homem tentava se afastar, com o rosto ficando gradualmente mais roxo pela falta de ar. "Afinal, não queremos que alguém se machuque e tenha que ser deixado para trás, né?"
As palavras soavam suaves, mas o tom deixava claro que era uma ameaça. Quando o comerciante começou a perceber que seu "charme" não estava funcionando e que sua situação era bem mais complicada, Anko relaxou o braço e o soltou, deixando-o cair no chão.
O homem ofegava, tentando recuperar o ar e esfregando o pescoço com as mãos trêmulas. Sekiro o observava de cima, seus olhos com um brilho divertido e ligeiramente desaprovador. Anko, por outro lado, parecia estar se divertindo muito.
"Oh, prazer em conhecê-lo!" ela disse, se virando para Sekiro, ignorando completamente o comerciante que ainda tentava se recompor no chão.
"Meu nome é Mitarashi Anko, mas pode me chamar de Anko."
Sekiro inclinou a cabeça em um leve sinal de respeito. "Sekiro," ele respondeu simplesmente, mantendo o tom formal.
A interação atraiu olhares curiosos dos outros comerciantes e shinobis ao redor. Alguns trocavam risadas abafadas, enquanto outros apenas davam de ombros, acostumados com o comportamento imprevisível de Anko.
Ela era uma kunoichi bem conhecida na vila, famosa tanto por sua força quanto pela personalidade irreverente e perigosa.
"Bem, Sekiro," Anko continuou, ainda sorrindo enquanto observava o comerciante recuperando o fôlego. "Parece que nosso cliente aqui estava precisando de uma 'liçãozinha' antes de sair para a estrada. Que tal começarmos essa missão com o pé direito?
Sekiro estava diante de Anko, que o observava com seu típico sorriso provocador. A ninja era conhecida por sua personalidade expansiva e por um certo gosto por provocar os mais jovens, e Sekiro, sendo uma figura tão quieta, parecia o alvo perfeito para sua diversão.
"Até onde eu sei, você é o baixinho que eu devo tomar conta durante a missão, não é?" ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
"Uhm... o Hokage disse que enviaria uma jonin para me acompanhar...", respondeu Sekiro, com sua voz calma e quase desinteressada.
"Vish, você é bem calado, hein?" Anko estalou a língua, claramente desapontada. "Vamos lá! Se solta! Eu não quero fazer companhia a uma parede durante a viagem toda."
Ela balançava as mãos de um lado para o outro, incentivando-o a ser um pouco mais expressivo, mas Sekiro permaneceu em silêncio, apenas observando-a com curiosidade, como se tentasse entender o comportamento imprevisível daquela mulher. Para ela, o olhar dele era quase um desafio.
"Sigh... já tô vendo que essa missão vai ser um saco...", resmungou Anko. "Ah, quer um dango?"
Ela sacou do bolso vários espetinhos de dango e os balançou na frente de Sekiro. Ele inclinou a cabeça, observando os doces como se analisasse a situação.
Normalmente, ele recusaria, mas uma ideia passou pela sua cabeça: uma brincadeira leve, algo que ela não esperaria de alguém tão calado quanto ele.
Embora ele não saiba de onde esse impulso repentino de infantilidade tenha surgido, Sekiro estava disposto a seguir com ele.
Então, sem aviso, Sekiro avançou rapidamente, pegando sete dos oito espetinhos de uma vez só. Em uma fração de segundo, ele já estava mordendo o primeiro, comendo vorazmente, sem nenhuma culpa.
Antes que Anko pudesse reagir, ele já havia comido quase todos os dangos e devolveu os palitos vazios em sua mão, olhando para ela com um olhar inocente, mas desafiador.
Anko ficou paralisada. Ela olhou para os palitos vazios em sua mão, depois para Sekiro, tentando processar o que acabara de acontecer. Seu sorriso congelou, e seus olhos pareciam ter perdido o foco, como se estivesse em choque.
"Seu verme!" Ela finalmente gritou, despertando do transe. "Como ousa comer todos os meus dangos?! Eu vou te matar!"
Sekiro, sem esperar, deu um pequeno sorriso e saiu correndo. Ele sabia que ela provavelmente levaria algum tempo para alcançá-lo, e a ideia de ver Anko correndo furiosa atrás dele parecia... divertida.
Anko, por sua vez, não podia acreditar que um genin tinha acabado de roubar seu precioso dango. Era um ultraje! Rápida como uma sombra, ela começou a persegui-lo, gritando várias ameaças e promessas de vingança. A cada passo, ela tentava alcançá-lo, mas Sekiro, ágil e motivado, parecia se divertir com a situação.
No caminho, outros ninjas e civis olhavam a cena, surpresos e divertidos, vendo a famosa Anko Mitarashi correndo atrás de um garoto genin com olhos furiosos.
"Volta aqui, seu ladrãozinho insolente! Eu vou fazer você comprar uma dúzia de dangos pra mim!"
Sekiro só ria internamente, enquanto acelerava o passo, satisfeito por ter conseguido arrancar uma reação tão intensa de alguém como Anko. E enquanto ela o seguia de perto, ele sabia que talvez aquela missão fosse menos monótona do que imaginava.
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