Alguns dias depois.
Mesmo relutantes em fazer isso, Sekiro e Anko tiveram que dar adeus à vida relaxante nas fontes termais e voltar para Konoha. Os dias de descanso e risadas despreocupadas ficaram para trás, deixando em ambos uma sensação de nostalgia e um leve pesar pelo retorno à rotina. Mas, como ninjas, sabiam que o dever sempre os chamava de volta.
A viagem de volta foi muito mais tranquila e rápida do que a de ida, pois agora não precisavam seguir o ritmo lento da caravana. Sem cargas pesadas e sem a necessidade de vigiar outros, Sekiro e Anko podiam finalmente avançar sem interrupções. Eles se moviam com passos precisos e velozes, quase sem esforço, cortando a floresta como sombras. Para um observador casual, poderia parecer que estavam correndo, mas para eles, aquilo era um ritmo de caminhada — o ritmo dos ninjas.
A paisagem deslizava ao redor deles em um borrão verde e dourado, enquanto o sol se movia lentamente no céu, ora escondido pelas copas das árvores, ora iluminando a estrada.
Quando finalmente chegaram aos portões de Konoha, uma sensação de familiaridade os acolheu. O som do vilarejo ao longe, conversas, risadas de crianças, marteladas de ferreiros, lembrava-lhes de que estavam em casa. E, embora sentissem falta da paz das montanhas, havia uma energia em Konoha que os fazia sentir-se vivos.
Agora, no escritório do Hokage, ambos mantinham a postura séria e profissional, alinhados lado a lado, enquanto aguardavam que o líder da vila revisasse o relatório da missão.
"Uhm, parabéns pela missão bem-sucedida," começou o Hokage, olhando de Sekiro para Anko. "E Sekiro, fico feliz em saber que você não se deixou abalar pela sua primeira morte. Eu sei como esse tipo de coisa é difícil."
"Uhm." Sekiro respondeu da maneira firme e breve de sempre, a voz baixa e controlada.
A seriedade que ele exibia no escritório era completamente diferente de quando estava conversando a sós com Anko, onde um sorriso despretensioso e uma leveza se faziam presentes. Isso mostrava o quão estranhamente especial ela era em seu coração; mesmo que inconscientemente, ele se abria mais para ela do que para os outros.
"Eu gostaria de pedir... da próxima vez, tente não atacar o cliente. Isso pinta uma imagem ruim para a vila," disse o Hokage, sua expressão se tornando mais séria.
"Uhm... eu não prometo nada. Ele não demonstrou o devido respeito... teve sorte de não ter sido morto... não sei se os outros seriam o mesmo," Sekiro respondeu, a frustração transparecendo em seu tom. Ele cruzou os braços, lembrando-se da arrogância do cliente e da indignação que sentira.
"Infelizmente, as coisas são assim. Mas, por mais que isso seja irritante, nós vivemos disso e não podemos simplesmente afastá-los por medo," o Hokage respondeu, sua voz firme, mas com um leve tom de empatia.
"Somos shinobis... matamos, roubamos, espiamos e protegemos por dinheiro... sem perguntar nada. O respeito pela nossa habilidade e conduta é o mínimo esperado." Sekiro sentiu que suas palavras refletiam não apenas sua visão de mundo, mas uma parte profunda de sua identidade como ninja.
O Hokage suspirou, o som ecoando levemente nas paredes do escritório, que estava decorado com emblemas da vila e fotos de antigos Hokages. "Sigh, vejo que isso não vai levar a lugar algum. Apenas se assegure de não matar ninguém. Está liberado, Anko; eu quero falar com você."
"Sim, senhor," Sekiro disse, saindo do escritório.
Hiruzen observou o jovem se afastar antes de se voltar para Anko, seu rosto marcando a gravidade da conversa. "Anko, me diga o que acha do garoto. Ele parece confiável?" O Hokage perguntou, seu tom mais grave revelando a seriedade de sua preocupação.
Anko cruzou os braços, refletindo sobre suas interações recentes com Sekiro. "O pirralho leva sua vida como ninja muito a sério. Para ele, não é apenas um trabalho, mas um código de conduta que ele parece seguir com fervor. Ele é bastante calado e, quando fala, é sempre apenas o necessário. Mas notei que ele se torna muito mais sociável quando se trata de assuntos relacionados a ser um ninja."
Ela respirou fundo, lembrando das conversas que tiveram durante a missão. "Usei isso a meu favor. Tirei o máximo que pude dele, e não foi difícil, porque ele não parece se importar com seus próprios segredos. Para ele, compartilhar informações é apenas parte do trabalho."
Hiruzen assentiu, pensativo. "E quanto à sua lealdade?"
Anko continuou, sua expressão se tornando mais séria. "Sua lealdade realmente não reside na vila. Ele mencionou algo como: 'Um shinobi deve ser leal apenas a seu lorde.' Mas, como ele não tem um lorde no momento, sua lealdade reside em sua família. E como ele também não a tem, agora está voltada para seus amigos."
"É uma visão interessante," Hiruzen comentou, observando a profundidade do pensamento do garoto.
"Sim, mas o que mais me impressionou foi a estabilidade de sua mentalidade. Ele é muito mais maduro do que o normal para alguém da sua idade. Não parece ser resultado de um trauma psicológico, apenas é assim, naturalmente. Ele possui uma visão de mundo peculiar que, de certa forma, é refrescante."
Hiruzen arqueou uma sobrancelha. "Mas ele tem fraquezas?"
"Sem dúvida," Anko respondeu, seu tom agora um pouco mais cauteloso. "O garoto é extremamente arrogante e orgulhoso. Recusa-se a usar chakra, dependendo apenas de suas habilidades e força física. Para ele, o chakra tornou as pessoas dependentes e fracas. Ele chegou a afirmar que, na sua visão, qualquer um que utiliza chakra, ao perdê-lo, não passa de um ancião debilitado."
O Hokage refletiu sobre as palavras de Anko, reconhecendo o potencial de Sekiro, mas também suas limitações. "Isso pode ser um problema. A força não vem apenas da habilidade física. A compreensão e o domínio do chakra são fundamentais para um shinobi."
"Mas isso é algo para depois. Você notou algo especial nele? Talvez a possibilidade de algum Kekkei Genkai ou algum motivo para mantê-lo sob vigilância?" Hiruzen disse, tocando no pronto principal dessa conversa.
Diferente de antes, dessa vez Anko não respondeu no mesmo instante. Ela parou para pensar, refletindo sobre seu tempo ao lado de Sekiro. A memória dos momentos compartilhados dançava em sua mente, especialmente as confidências trocadas durante os banhos nas fontes termais. Aquilo realmente abriu os olhos dela para a complexidade do garoto, e ela sabia que, se essa informação caísse nas mãos erradas dentro da vila, as coisas mudariam drasticamente.
Anko se viu em um momento de dificuldade: deveria ou não contar o que sabia? O peso da decisão se instalou em seu peito, como uma pedra fria. As memórias de sua própria infância começaram a ressurgir, um eco distante de solidão e rejeição. Na escola, ela tinha poucos amigos, sempre se sentindo deslocada, um pássaro preso em uma gaiola.
Então, como um anjo enviado dos céus, Orochimaru apareceu, oferecendo a ela uma chance. Ele a aceitou como discípula, e aqueles foram os melhores momentos de sua vida. O pequeno sorriso que se formou em seus lábios ao lembrar-se disso logo foi substituído por uma expressão sombria. Ela tinha tudo o que desejava, especialmente um mentor atencioso que muitas vezes servia como uma figura paterna.
Mas essa felicidade não durou. Tudo mudou quando Orochimaru traiu a vila, e a vida de Anko nunca mais foi a mesma. Abandonada pelo seu mestre, ela se tornou alvo dos olhares julgadores da vila. Aqueles que deveriam ser seus companheiros a viam como uma aberração, uma discípula de um homem asqueroso.
Com o passar do tempo, as feridas começaram a cicatrizar, mas as lembranças permaneceram, como cicatrizes invisíveis em sua alma. Quando conheceu Sekiro, algo nele a intrigava. Ele não era comum. O garoto tinha uma aura de mistério que a atraía e a assustava ao mesmo tempo.
Estranhamente, apesar do relatório ter dito que ele era muito fechado, Sekiro escolheu se abrir para ela. Isso deveria ser apenas uma missão de vigilância, uma tarefa simples para analisar se Sekiro representava alguma ameaça à vila. Mas, para a surpresa de ambos, a relação deles começou a se desenvolver de maneiras inesperadas, florescendo em um campo de amizade.
Enquanto os dias passavam, Anko percebeu que havia se esquecido completamente do propósito original da missão. Em vez disso, ela se entregou aos momentos que compartilhavam, longe dos olhares críticos e da rejeição. Apenas ela, um garoto estranho e os risos que ecoavam em meio à paisagem serena.
Anko sempre foi leal à vila, mas a dúvida se aninhou em seu coração. O que era mais importante: a lealdade à vila ou a conexão que estava construindo com Sekiro?
"Nada, ele está limpo," Anko finalmente respondeu, decidida.
No fim, Anko escolheu seguir seu coração. Ela decidiu que a verdade sobre Sekiro permaneceria guardada em seu peito, um segredo que apenas ela carregaria.
"Fico feliz. Pelo visto, meu amigo estava errado mais uma vez. Você pode ir," disse Hiruzen, sorrindo ao dispensá-la.
Ao sair do escritório, Anko sentiu um misto de alívio e ansiedade. Ela sabia que havia tomado uma decisão arriscada, mas também sabia que, por agora, Sekiro estava seguro. E talvez, apenas talvez, ela pudesse encontrar uma nova família nos laços que estava formando.
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<1611 palavras>
Anes que vocês reclamem que o protagonista está se abrindo demais para alguém que ele acabou de conhecer e que ele sabe que não é confiável.
Saibam que isso será revelado futuramente, é tudo lógico, mas se vocês querem um spoiler...
Spoiler
Uma das quatro pessoas que forma "sekiro" ama Anko, eles não estão em um relacionamento, mas esse amor de "sekiro" o fez contar parte dos seus segredos, limitado no momento a apenas sua reencarnação e saber sobre o futuro.