O País das Águas Termais.
Antigamente, essa terra foi considerada uma potência militar, assim como as outras grandes nações, com sua própria vila ninja, estrategicamente p7 fronteiras.
Soldados e ninjas eram treinados para combate, e os aldeões viviam em constante estado de alerta. Porém, com o passar do tempo e as inúmeras guerras, o país começou a se afastar dos conflitos.
Os líderes locais perceberam que, ao invés de sustentar uma força militar desgastada, poderiam prosperar de outra forma: transformando sua terra em um refúgio de paz e descanso.
Hoje, o País das Águas Termais é um destino procurado por todos aqueles que desejam escapar das tensões e lutas do mundo ninja.
Suas fontes termais, espalhadas por toda a região, são conhecidas por suas propriedades curativas e relaxantes, atraindo pessoas de todas as nações.
Pequenas vilas turísticas surgiram ao redor dessas fontes, com pousadas, casas de chá e jardins onde os visitantes podem apreciar a natureza e recuperar suas energias.
A caravana de comerciantes que Sekiro estava protegendo seguia para uma dessas vilas. Eles haviam recebido uma encomenda para um estabelecimento de fontes termais em expansão, que precisava de mercadorias finas, tecidos especiais e produtos raros que não poderiam ser facilmente encontrados por ali.
A jornada tinha sido longa e cheia de desafios, com estradas tortuosas e uma constante vigilância para evitar possíveis ataques.
Depois de vários dias de viagem, finalmente chegaram ao seu destino. A vila estava envolta por uma névoa suave que subia das águas aquecidas, dando um ar quase místico ao lugar.
O cheiro suave de ervas e minerais perfumava o ar, e o barulho tranquilo da água corrente parecia aliviar qualquer tensão que ainda restasse nos membros cansados da caravana.
Sekiro ficou encantado com o cenário à sua volta. As colinas suaves e o vapor que subia das águas mornas ofereciam uma paisagem que nunca havia experimentado em Ashina, nem mesmo no território do Ministério Central. A viagem até aqui tinha sido longa, e o treinamento em meio a esse ambiente pacífico não havia sido tão frutífero quanto ele esperava, mas talvez toda essa jornada ainda guardasse algo de valor.
Antes de relaxar e aproveitar a atmosfera do país das águas termais, Sekiro sabia que precisava cumprir o protocolo e obter a assinatura do líder da caravana, atestando a conclusão da missão. Ele se aproximou do homem, que parecia tão aliviado quanto impaciente para encerrar o compromisso.
O líder assinou o papel prontamente, mas não sem adicionar um longo texto de avaliação. Provavelmente, incluiria uma reclamação formal sobre o ataque que sofreram de um ninja inesperado no caminho. Sekiro, por sua vez, observou-o com calma, sem realmente se importar.
Em sua visão, um cliente que não demonstrasse o devido respeito a um shinobi estava praticamente pedindo para ser morto enquanto dormia.
Ao se afastar, Sekiro sentiu um leve peso sair de seus ombros. Agora, com a missão oficialmente encerrada, ele e Anko tinham a liberdade para explorar e, quem sabe, descobrir o que esse local poderia oferecer.
"Vamos lá, pirralho! Hoje, deixe que a irmãzona aqui te apresente as maravilhas desse mundo." Anko sorria de orelha a orelha, o entusiasmo evidente em sua voz.
Sekiro ergue uma sobrancelha, analisando-a com um olhar ligeiramente desconfiado. "Deixa eu adivinhar... uma estalagem de fontes termais onde o dono deixa você comer enquanto se banha... e que, coincidentemente, tem dango no cardápio."
"É isso mesmo!" Anko exclama com uma risada, sem qualquer vergonha em ser tão previsível. Antes que Sekiro pudesse protestar, ela já o segurava firmemente pelo braço e o arrastava pela estrada movimentada da vila, desviando com facilidade das pessoas.
Conformado, Sekiro solta um suspiro de derrota, mas logo relaxa. Não havia motivo para resistir, e, no fundo, ele até achava engraçado estar sendo guiado por Anko com tamanha animação. Talvez essa fosse uma chance rara de aproveitar algo simples, longe das batalhas e treinos constantes.
Ao chegarem à estalagem, o aroma das fontes termais misturado ao cheiro doce de dango fresco despertou os sentidos de Sekiro. Ele até esqueceu por um instante a preocupação com seu treinamento e as missões. O local era aconchegante, com vapor subindo das fontes e o som suave de água corrente, que parecia prometer uma calma que ele não sentia havia muito tempo.
Anko olhou para ele, com um brilho no olhar, como quem já antecipa a surpresa dele ao experimentar o dango. "Vamos, pirralho, aproveite. As fontes termais daqui são famosas por relaxar até os guerreiros mais tensos."
Sekiro riu levemente, um sorriso quase imperceptível se formando em seu rosto. "Só porque você falou tanto disso, vou dar uma chance."
Enquanto ambos se preparavam para entrar nas águas quentes e reconfortantes, Sekiro percebeu que essa viagem, apesar de inesperada, talvez fosse exatamente o que ele precisava para lembrar que havia mais no mundo do que batalhas e o peso da honra.
...
A fonte termal estava situada ao ar livre, cercada por uma suave névoa que se elevava da água quente e pairava levemente sobre a superfície.
Rochas de vários tamanhos formavam o perímetro da fonte, moldadas e dispostas de forma a parecerem naturais, como se aquele lugar fosse esculpido pelo próprio tempo.
Algumas das pedras maiores projetavam-se para fora da água, criando pequenas ilhas onde folhas caídas se acumulavam e flores silvestres, delicadas e resistentes, brotavam nas frestas, trazendo um toque de cor ao ambiente.
Ao redor da fonte, uma cerca de bambu amarelado oferecia uma sensação de privacidade sem isolar o visitante da beleza natural ao redor.
Árvores altas, de troncos robustos e galhos retorcidos, erguiam-se ao redor, com suas folhas murmurando suavemente ao vento, que ocasionalmente soprava e trazia o leve aroma de pinheiro e musgo.
Pequenas lanternas de papel estavam penduradas em postes de madeira, iluminando o local com uma luz suave e acolhedora, que se refletia na superfície da água e criava padrões cintilantes. Esses brilhos dançavam na névoa, como se o próprio vapor fosse dotado de vida.
Acima, o céu estrelado se estendia em uma vastidão sem fim, repleto de pontos luminosos que brilhavam intensamente contra o fundo negro da noite.
A lua, cheia e prateada, iluminava o ambiente, lançando seu reflexo nas águas da fonte e criando uma atmosfera quase mágica, como se aquele lugar fosse um santuário secreto.
O som era um convite à paz. A água murmurava suavemente, se movendo em pequenos redemoinhos ao redor das pedras submersas.
De vez em quando, o canto distante de uma coruja quebrava o silêncio, mas logo tudo voltava à quietude, como se o próprio local protegesse sua serenidade.
Ao entrar na fonte termal, Sekiro sentiu o calor da água envolver seu corpo.
A decoração ao redor, as pedras dispostas cuidadosamente e a estrutura de madeira ao redor, criavam uma harmonia natural com o céu estrelado que se estendia acima. Era um cenário quase irreal, algo que ele jamais poderia imaginar nos tempos de guerra e caos de sua vida anterior.
Ele se deixou imergir mais na água, a temperatura relaxando cada músculo tenso, até sentir seu corpo ceder completamente ao ambiente. Por um instante, Sekiro fechou os olhos e inspirou fundo, aproveitando o aroma sutil de ervas e madeira que pairava no ar.
"Me arrependo de não ter feito isso antes," murmurou, um leve sorriso cruzando seu rosto. "O Japão é muito grande; com certeza devia haver alguma fonte termal escondida em algum lugar."
Ele se lembrou das suas inúmeras viagens, enfrentando perigos, esgueirando-se por florestas densas e cavernas esquecidas, percorrendo campos de batalha onde a única pausa vinha no breve silêncio após um confronto.
Ainda assim, nenhum daqueles lugares, por mais lendários ou sagrados que fossem, lhe ofereceu a paz que sentia agora.
Enquanto mantinha os olhos fechados, fragmentos de suas lembranças retornavam: o som das lâminas se chocando, os gritos e a poeira dos combates, o peso da responsabilidade em proteger Ashina.
Agora, envolto pela tranquilidade daquela fonte termal, Sekiro quase sentia como se tivesse finalmente conquistado um momento de redenção, mesmo que breve.
"Isso é uma maravilha," Sekiro falou de olhos fechados, deixando seu corpo se afundar mais na água quente. O vapor subia, envolvendo-o em uma bruma relaxante, quase como um cobertor de calor reconfortante. Ele soltou um suspiro satisfeito, aproveitando cada segundo daquele raro momento de descanso.
"Eu sei, né." Uma voz feminina, bem familiar, de repente chamou sua atenção.
Sekiro abriu os olhos e olhou para a direita, onde viu Anko sentada ao seu lado, completamente à vontade e... completamente nua. Ela parecia não ter qualquer pudor enquanto relaxava ao seu lado, com uma toalha pequena sobre a cabeça e um prato de dangos na mão, mordiscando um dos bolinhos com satisfação.
"O que você está fazendo aqui?" Sekiro perguntou, em um tom de voz calmo, sem demonstrar vergonha ou surpresa.
Anko deu uma risadinha, levantando o olhar para ele enquanto mastigava o doce com um brilho malicioso nos olhos.
"O banho é misto", respondeu, como se sua presença ali fosse a coisa mais natural do mundo, ignorando qualquer traço de hesitação de Sekiro.
Ele evitou olhar diretamente para ela, sentindo o calor do ambiente se intensificar. Não era apenas o vapor da água quente – era a presença de Anko, o jeito descontraído dela que parecia misturar perigo e encanto em uma só expressão.
"O que foi? Nunca viu uma mulher pelada antes?" Anko perguntou, assumindo uma pose exageradamente sensual, com um sorriso provocador.
Sekiro desviou o olhar, os músculos do rosto endurecendo em uma tentativa de manter a compostura. "Você deveria dar mais valor a si mesma. Uma dama não deveria se mostrar assim para um homem que não é seu."
Ela gargalhou alto, uma risada solta e despreocupada que ecoou no ambiente. "Oh, não me diga que está com vergonha? Pode olhar à vontade, a irmãzona Anko deixa. Mas, se quiser fazer algo a mais..." Ela inclinou-se ainda mais, até que ele sentisse o toque suave dos seios dela em seu rosto, como um convite que se materializava entre eles.
"Não, obrigado. Temos que acordar cedo amanhã." Sekiro respondeu firme, mas sem se afastar. Uma parte dele queria aproveitar a proximidade e a sensação de normalidade que ela oferecia, mesmo sabendo que não deveria.
"Hahaha, é verdade!" Anko riu, deixando o momento se desfazer como uma piada que só ela entendera. Então, recostou-se, jogando uma toalha úmida sobre os ombros. "Além disso, achei que você pudesse aproveitar uma companhia. Banhos assim são para relaxar, né? E nada relaxa mais que boa comida e uma mulher gata do seu lado."
"Jura? Onde? Não vejo nenhuma mulher bonita por aqui." Sekiro disparou, com um sorriso de canto.
Ela estalou a língua, fingindo irritação. "Vá se lascar, seu moleque ingrato! E fala como se fosse uma diva, né? Fique sabendo que essas cicatrizes aí são ridículas!"
"Cicatrizes?" Sekiro reagiu, franzindo as sobrancelhas com genuína surpresa.
Ele olhou para si mesmo como quem observa um estranho. Sob a luz suave e o vapor denso, passou os olhos sobre seu próprio corpo – algo que raramente fazia. As cicatrizes cobriam seus braços, peito, até as pernas. Cada marca era uma lembrança de batalhas esquecidas, de feridas cujas dores pareciam vir de outra vida.
Conforme analisava cada linha, cada marca, ele percebeu algo perturbador: novas cicatrizes estavam aparecendo, surgindo como se o próprio corpo revelasse segredos que ele não conhecia. As pequenas linhas cortavam a pele antes intacta, brotando lentamente, como se a água quente as estivesse libertando de um lugar profundo dentro dele.
Anko, ao lado, assistia com um raro silêncio. Ela percebeu seu olhar distante, quase assustado. Sua expressão provocativa se dissolveu em algo mais suave, mais cuidadoso. "Você parece alguém que já viveu muito mais do que deixa transparecer, Sekiro. Mas... é estranho. Você é jovem demais pra ter esse tipo de marcas."
Sekiro permaneceu em silêncio por um instante, mas depois esboçou um leve sorriso, como se guardasse algo que só ele compreendia. "Já pensou que talvez eu seja mais velho? Talvez, até mais velho do que você?"
Ela riu, mas havia uma hesitação em seu riso, como se algo na maneira como ele falara a tivesse desestabilizado. "Pff hahaha! Conta outra", disse, descrente, mas os olhos agora traziam uma faísca de dúvida.
Ela o observava atentamente, e Sekiro sentiu que estava sendo avaliado, como se, naquele momento, Anko tentasse decifrar algo que havia passado despercebido até então. Aos poucos, o semblante dela deixou de ser apenas uma máscara de provocação e se tornou algo mais profundo, como uma curiosidade genuína.
Então ela sussurrou, quase para si mesma: "Você é tão... diferente. Muito mais maduro do que qualquer um que eu já conheci. Você luta como um shinobi veterano, como alguém que já viu o pior e o melhor da vida."
Sekiro permaneceu em silêncio, observando o reflexo distorcido de seu próprio rosto na superfície da água. As novas cicatrizes, linhas delicadas e misteriosas, continuavam a se formar, como se quisessem lembrá-lo de algo que ele ainda não sabia.
A verdade estava se revelando pouco a pouco. Algo em sua própria existência estava à beira de se romper, de mostrar o que ele realmente era – talvez um segredo tão antigo quanto o próprio tempo, ou algo que ele carregava sem saber, uma vida que ia além daquela que ele conhecia.
"Não me diga..." Anko murmurou, interrompendo o próprio pensamento.
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