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Despertar Abissal

🇬🇧Reili
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Synopsis

Chapter 1 - O Desejo de Viver

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Sob a sombra do luar que atravessava os vidros das janelas, uma jovem mulher sentava-se numa cama branca e simples, enquanto contemplava a janela. Aquela era sua única conexão com o mundo exterior. Uma única janela onde ela podia admirar o brilho da Lua, o suave passar das nuvens e o calor gentil do sol.

Confinada em um pequeno quarto circundado por paredes de puro branco com uma pesada porta de ferro bloqueando sua saída, não existia um único ponto de impureza no quarto.

Os olhos da garota estavam desfocados enquanto ela olhava para a janela. Os vestígios de sua sanidade estavam escondidos no sonho de um lago hipnotizante, de águas cristalinas refletindo o mundo com uma clareza de tirar o fôlego, os raios suaves do sol e o abraço macio das nuvens brancas claras. Ela ouvia gargalhadas ecoarem na brisa de primavera enquanto uma menina olhava para sua família. Sorrisos suaves decoravam seus rostos, seu amor ilimitado como os oceanos.

Eles teriam oferecido o mundo a ela.

Ainda assim, como o reflexo na água, era tudo não passava de um truque da luz. Uma única gota, uma única realização estilhaçava a ilusão com incontáveis ondas.

A garota tremia levemente. O sentimento trazia medo e alegria em partes iguais para ela. No entanto, ela não conseguia impedir sua mente de cair na voragem adoecida de memórias lá no fundo.

Era seu décimo aniversário. O aniversário da filha mais nova pertencente à respeitada família Zenia, um lar de alta nobreza.

Presentes se estendiam até onde os olhos alcançavam, palavras de elogio enchiam a cabeça da menina com flores e orgulho... enquanto maquinações políticas fermentavam nas sombras.

Tudo o que ela conseguia ouvir era o som do pânico, gritos e choro. Ela não sabia nada do que aconteceu naquela época. Tudo o que ela podia ver era que o amor e a adoração nos olhos de sua família, empregados e guardas haviam desaparecido.

O amor se foi.

Ela foi contada mentiras floridas e forçada a entrar numa sala com figuras altas vestidas de branco. Estranhos que a prenderam à mesa, rasgaram seu corpo com lâminas de metal, cortando sua carne, extraindo o seu sangue até ela ficar fraca na cabeça e decorando seu corpo com inúmeras agulhas e tubos.

Seus pedidos de ajuda, lágrimas de medo e súplicas caíam em ouvidos surdos. O sorriso amável de seu pai, o calor do afeto de seus irmãos, tudo impossível de ser encontrado.

Eles observavam com indiferença fria.

Confusão preenchia a mente dela. Por que eles não estão fazendo nada? Por que eles estão deixando essas pessoas estranhas cortá-la? Por que eles não a olham mais com calor? Por que ela merece tudo isso?

Ela chorou até perder a voz, gritos silenciosos e lágrimas secas. Mas eles nunca pararam. Quando o experimento finalmente terminou, ela foi jogada em um quarto branco. Suas bandagens encharcadas com seu próprio sangue, seu corpo à beira de desmoronar.

Dor, confusão e medo roíam sua mente com inúmeras perguntas enviando-a por um labirinto de insanidade.

O sol se pôs e a lua agraciou seu quarto com luz. Comida foi colocada em seu quarto, mas ela não tinha forças para se mover. Ela esperava que tudo fosse um pesadelo, um inferno de sua própria criação.

Mas era a realidade. O dia amanhecia e os experimentos continuavam. Ela dava socos, chutava, tentava correr. Mas era inútil. O medo do próximo experimento, o medo das lâminas afiadas cortando sua pele, o medo de seu pai assistindo seu declínio à loucura sem oferecer uma única mão para ajudar.

Mesas, cadeiras, até a cama e as paredes. Ela tentou se machucar em rebeldia só para escapar da dor dos experimentos. Mas ela sobreviveu. As paredes foram trocadas por material macio, as mesas ajustadas e sob o pretexto de proteção, algemas foram asseguradas em seus pulsos e tornozelos, roubando sua liberdade.

À medida que ela mergulhava mais fundo na insanidade, ela descobriu a verdade. Isso lhe foi revelado numa tentativa de parar a automutilação e ganhar sua cooperação.

Ela era uma mutação.

Em sua sociedade, havia uma substância que revolucionou o mundo a um grau que até as crianças lhe eram ensinado o seu atrativo.

O Sangue do Abismo.

Uma substância descoberta nos corpos de bestas provenientes do Abismo, um reino que espelhava o seu próprio como um reflexo.

Cada injeção do Sangue do Abismo concedia ao receptor habilidades inumanas que transcendiam o conhecimento comum. Alguns poderiam fazer você saltar mais alto que prédios de 2 andares, outro poderia fazer você expirar ondas de fogo. Um poderia curá-lo da beira da morte e outro fazer de você uma arma de guerra, incapaz de ser parado com armas convencionais.

Medicação, transporte, aplicações no dia a dia, o Sangue do Abismo permitiu que a civilização florescesse numa era de ouro.

O Sangue do Abismo aprimorava o corpo e fluía através das maquinarias que se espalhavam pelas cidades. Sua sociedade era dependente da substância.

Mas não existem coisas como almoço grátis. Com maiores benefícios vinham maiores riscos. Havia sempre a chance de que o Abismo reclamasse as bênçãos que concedera ao indivíduo, consumindo você e transformando-o em um de seus muitos peões.

Deformações no corpo, mudanças na mente e até a completa transformação em uma Besta do Abismo. Assim, poucos injetariam Sangue do Abismo não testado, não importa quão doce fosse a tentação.

Mas tudo mudou quando sua mutação foi revelada em seu aniversário. Houve uma tentativa de assassinato por uma família rival. Uma que tinha como alvo a filha mais nova dos Zenia.

Um frasco de sangue tão potente que transformaria qualquer um em uma besta sedenta por sangue. Quando menos esperavam, foi injetado em Alice e ela se lançou sobre os convidados.

Ela se tornou uma quimera deformada buscando destruir tudo o que pudesse alcançar. Uma besta do Abismo fadada a morrer pelas mãos dos Caçadores.

Mas então ela retornou. Seu corpo se recuperou e ela recuperou a forma de um ser humano.

Uma impossibilidade foi testemunhada.

Foi então descoberto que sua mutação a permitia resistir aos efeitos do Sangue do Abismo. Não importava o que testassem, não importava quais efeitos colaterais, ela se recuperava. Ela, que estranhamente resistia ao Sangue do Abismo, não podia experimentar os efeitos permanentes, independentemente de bons ou ruins.

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E assim eles testavam sem restrições. Com a autoridade concedida pelo chefe da família, o pai de Alice, eles podiam dilacerar sua carne desde que ela vivesse.

Ela era uma bênção para a família Zenia. Sua mutação permitiu que florescessem em uma família nobre famosa por sua pesquisa do Sangue do Abismo. Eles inovaram, trouxeram luz a efeitos ocultos e ofereceram medicina à Igreja da Lua.

Alice era um presente do conhecimento, um caminho para entender os segredos do Sangue do Abismo. Ela era um presente dos deuses invisíveis que observam este mundo.

Ela percebeu que estaria para sempre aprisionada num ciclo onde seu corpo é rasgado em pedaços pelo bem deles.

Eles tentaram convencê-la, como o sofrimento de alguém beneficiava o mundo. Mas por que ela? Por que tinha que ser ela? Ela nunca pediu por nada disto.

Mas os experimentos nunca pararam e ela passou a detestar a vida. Ela não podia prejudicar as pessoas que a despedaçavam, não podia machucar o pai ou os irmãos que assistiam friamente. Então decidiu acabar com tudo. Se ela terminasse tudo, não teria que sofrer. Sem mais dor, sem mais medo.

Sem mais olhares vazios e olhares de ódio de sua família. Ela seria livre.

Uma pontada de dor, uma inundação de vitalidade.

Seus olhos se abriram de repente, ela ainda estava neste quarto. Ela havia falhado em tirar sua vida e, em resposta a suas ações, um colar foi colocado em seu pescoço. Um dispositivo criado através do Sangue do Abismo projetado para mantê-la viva.

Se ela não tivesse mais pulso, uma dose de Sangue do Abismo curativo a traria de volta à vida. Não importa quanto ela se ferisse, não importava o método que usava, ela sempre seria trazida de volta à vida.

10 invernos. Foi quanto tempo ela passou sua vida dentro deste quarto.

10 anos de amor, 10 anos de ódio.

Esfregando a mão no seu colar, flashes de cenas de pesadelo cintilavam em sua mente. Vezes em que sua carne fora cortada para revelar seus ossos e veias. Momentos em que ela assistia horrorizada e dolorida enquanto eles removiam seus órgãos um a um para testar a eficácia do Sangue do Abismo curativo.

A sensação de ter os olhos arrancados e ficar cega por várias semanas. O ódio de seus irmãos enquanto eles batiam nela, o momento em que a raiva deles se transformou em prazer ao vê-la sofrer.

Por 10 longos anos ela cultivou sua raiva e ódio, por um momento em que finalmente escapasse deste quarto. Fora a única razão para seguir em frente.

Como a morte estava agora fora de seu alcance, só restava a ela se apegar à frágil esperança de vingança para manter sua vontade viva. Toda a dor que ela sentia, todo o seu tormento, ela devolveria tudo. Mas ela estava no seu limite, sem fim à vista, como ela lutaria?

Toda vez que se sentia entorpecida, sentia as chamas de sua vingança diminuindo, ela terminaria tudo só para sentir o sopro da vida mais uma vez. Sua vida seria reacesa e também o seu desejo de caçar e matar.

O som do metal raspando contra si mesmo ecoou nos confins vazios de seu quarto. A porta que selava sua saída se abriu, mas ela não tinha pensamentos de liberdade ou curiosidade. Acreditando que o visitante fosse um de seus irmãos procurando descontar sua raiva nela, Alice se sentou imóvel na cama.

"Que diabos é tudo isso." Uma voz soou com aborrecimento em seu tom.

Era desconhecida.

Finalmente voltando seu olhar para a porta, ela viu um homem alto e estranho vestindo uma jaqueta com penas de corvo. Ele chutou a pesada porta de ferro como se fosse nada.

Com sua entrada, sombras giravam ao redor dele a cada passo que dava. Pareciam se esticar em direção a ele, como se quisessem abraçar sua figura em reverência. Embaixo de sua jaqueta, ele usava um traje preto simples combinando. Vestia um par de luvas gotejando em sangue fresco, tingindo o chão em uma tonalidade de vermelho que Alice sentia estranhamente atraente. Seus olhos afiados vasculharam o quarto antes de repousar nela.

"Hou? O que temos aqui." Sua voz tinha uma mistura de curiosidade e divertimento.

Dando um passo para fora da moldura da porta, ele se revelou a Alice. Cabelos negros longos que balançavam a cada passo, selvagens e indomáveis como seu comportamento. Um par de olhos negros e frios a examinaram de cima a baixo antes de olhar para seu pescoço, onde um colar estava preso apertado em sua pele frágil.

"Você é uma estranha. Eu vi guardas cercando este lugar, impedindo minha entrada, então pensei que estivessem escondendo algum tipo de tesouro. Em vez disso, por todo o incômodo que tive que passar para encontrar este lugar, tudo o que eu encontro é uma pirralha com um colar e selada em um quarto. Quem diabos usa tantos guardas e defesas para uma simples pirralha?!" Ele reclamou enquanto coçava a cabeça em aborrecimento.

Estreitando os olhos em Alice, ele se perguntou por que ela estava trancada em um lugar como aquele.

Alice queria perguntar quem era o homem, mas sua voz falhou em escapar de sua garganta. Ela se sentia como se fosse encarada por um ser que despertava um senso primal de medo em seu coração.

Percebendo algo estranho, o homem franziu a testa antes de se inclinar mais para ela.

Devagar, um sorriso subiu em seu rosto. Ele viu algo profundo em seus olhos.

"Parece que você não quer ficar neste lugar. Você sonha com o mundo exterior?" Ele perguntou. Sua voz cheia de atração e tentação.

Suas palavras a fizeram congelar. Por um segundo, a sanidade foi esquecida e a insanidade recebida de bom grado em seu coração. Um sentimento estranho se acumulou dentro dela. Era sufocante e turvo, como bile presa na garganta. Queimava-a.

"Então…" Ele perguntou. "Você quer deixar este inferno e trocá-lo por outro?"

Ela assentiu.

O fogo da vingança ardia forte em seu coração.