Chapter 3 - Cemitério Trancado

De manhã, a chuva torrencial da noite havia parado na cidade de Reavermoure. Ela deixou o solo molhado e poças cheias de água, onde a água espirrava quando as rodas das carruagens passavam sobre ela.

Uma dessas carruagens parou diante da mansão Winchester. Era o Sr. Nottingham que tinha vindo visitar Colette, que agora se encontrava na sala de estar sob a supervisão da Senhora Doris.

Em outro lugar no solar, Mallory decidiu sair para visitar o túmulo de seus pais, pois fazia um tempo desde sua última visita a eles. Ela virou-se para olhar pela janela e murmurou,

"As nuvens começaram a se acumular novamente."

"Parece que sim, milady. Uma estação chuvosa precoce," Hattie concordou, ajudando Mallory a se vestir.

Mallory desviou o olhar do céu sombrio para Hattie e perguntou, "Como estão as coisas lá embaixo?"

"O Sr. Nottingham estendeu um convite à Lady Colette, sugerindo um passeio pelo seu pomar," Hattie relatou. Elas saíram do quarto, e a criada caminhou atrás de Mallory. Ela sussurrou, "Se quer saber minha opinião, o homem parece que vai propor casamento a ela a qualquer momento."

Mallory ofereceu um pequeno sorriso e disse, "Colette vai ficar nas nuvens."

Se dependesse de sua prima, ela teria estreado na temporada passada. Mas o Tio Wilfred achava que era cedo demais, pois sentia que sua prima era imatura. A Senhora Doris não compartilhava o mesmo pensamento e acreditava que ele estava adiando a estreia de sua filha para dar tempo a Mallory, o que havia criado um conflito.

"E sobre seus próprios pretendentes, milady? Devemos esperar mais um pouco caso eles apareçam?" Hattie perguntou, seguindo logo atrás dela.

"Se os pretendentes estão realmente interessados, não creio que se importariam em esperar pelo meu retorno," Mallory respondeu. Ela manteve a cabeça erguida enquanto caminhava pelos corredores, embora sentisse seu peito apertar. Mas a verdade era que sua criada era apenas muito gentil para pensar que alguém apareceria à porta por ela. Se as pessoas tivessem que vir, já teriam vindo, ela pensou.

Hattie informou, "Vou buscar os guarda-chuvas, caso o céu decida chorar sobre nós," e deixou o lado de Mallory.

Enquanto Mallory caminhava em direção à entrada do solar, ela passou pela sala de estar. Com a porta aberta, ela pôde ver o Sr. Nottingham relaxado em uma extremidade do sofá luxuoso. E quando seus olhares se cruzaram, o comportamento dele mudou de relaxado para rígido. Inconscientemente, sua mão foi ao nariz como se quisesse escondê-lo.

Mallory fez uma careta internamente, inclinando-se levemente para o homem antes de ela e Hattie partirem na carruagem. Ela olhou pela janela da carruagem, observando as árvores passarem, de modo que pintavam uma tela de verde contínuo.

Ao chegar, Mallory desceu da carruagem, Hattie ao seu lado com guarda-chuvas na mão. As paredes da igreja haviam desbotado de branco para bege. As portas de entrada estavam escancaradas para os visitantes. Havia várias janelas coloridas com belas pinturas nelas. Ela se lembrou de quanto gostava de visitá-la durante o verão quando ia com seus pais.

O cemitério ficava não muito longe, atrás da igreja.

"Senhorita Mallory. Já faz um tempo desde a sua última visita," uma voz a cumprimentou do altar. O padre estava em seus trinta e poucos anos, com cabelos castanhos e óculos. Ele ofereceu um sorriso acolhedor. Mallory e Hattie se curvaram diante dele.

"Padre Shane," Mallory reconheceu, sua voz suave. "Peço desculpas pela minha ausência. Como o senhor está?"

"Igual a quando você me viu pela última vez. Exceto por algumas dores nas costas ocasionais. Parece que estou envelhecendo mais rápido do que esperava," Padre Shane brincou. "Embora eu deva confessar que não esperava vê-la hoje, de todos os dias, ouvi dizer que é época da temporada. Aconteceu alguma coisa lá...?" Sua voz diminuiu porque ele tinha ouvido sobre o encontro dela na última temporada.

"Sempre acontece algo," Mallory disse com um toque de amargura. Era porque, embora soubesse que não estava errada, foi silenciada, com homens como George Kingsley se safando. O erro estava no mundo em que viviam, ela pensou consigo mesma.

"Talvez você gostaria de falar sobre isso?" Padre Shane virou a cabeça na direção do confessionário.

"Não há muito o que confessar. Eu abri a porta em George Kingsley, esperando quebrar o nariz dele." Mallory suspirou, seus olhos se voltando para as velas que agora queimavam brilhantemente.

Padre Shane olhou ao redor rapidamente, notando que era apenas eles. Ao ouvir sua decepção, ele perguntou, "Você se arrepende de sua ação?"

O olhar de Mallory retornou ao padre antes dela sussurrar, "Nem um pouco. Eu gostaria de ter batido a porta com mais força." Hattie tossiu com suas palavras, virando-se para se certificar de que ninguém estava ouvindo sua senhora, porque se a palavra se espalhasse, isso poderia causar problemas à sua senhoria.

"..." Padre Shane ficou sem palavras. Compondo sua expressão, ele disse, "Violência não é o modo de lidar com as coisas. Especialmente quando você está lidando com uma pessoa cuja família está quatro posições acima da sua. Poderia ser prejudicial," ele a lembrou no final.

"Eu entendo," Mallory murmurou, e a verdade deixou um gosto amargo em sua boca.

Padre Shane conhecia Mallory desde sua infância e o trágico incêndio. Ele se lembrava de seus pais serem figuras bem vistas em Reavermoure, embora nunca tivesse conversado com eles. Ele suspeitava que suas raras visitas à igreja eram devido aos horrores da noite em que ela os perdeu.

Mallory inalou profundamente, "Na próxima vez, lidarei com as coisas de maneira diferente."

"Espero que em gerenciar a situação e não na força de tornar o Sr. Kingsley sem nariz," Padre Shane esperava. Ele então afirmou, "Você tem um bom coração, Senhorita Mallory. Coisas boas vêm para quem as merece e conquista."

Depois que Padre Shane foi chamado para outro assunto, Mallory saiu da igreja, deixando sua criada rezando, e dirigiu-se ao cemitério. O vasto cemitério sem folhas de Reavermoure, cheio de lápides irregulares, estendia-se diante dela.

Enquanto Mallory caminhava, um corvo de repente cruzou seu caminho, fazendo com que ela abruptamente parasse seus passos e suspirasse suavemente. Ela viu o pássaro voar para uma das árvores próximas antes de pousar nela e olhar para ela.

Ignorando o pássaro, ela seguiu na direção dos túmulos de seus pais. Ao chegar lá, notou que os túmulos estavam úmidos e limpos por causa da chuva da noite anterior. Memórias de seus últimos momentos com eles surgiram, e ela cerrou os punhos enquanto seu respirar tremia.

"Perdoem-me por não ter vindo visitá-los antes..." a voz de Mallory quebrou o silêncio. "Eu senti tanto a falta de vocês."

Ela não sabia se seus pais podiam ouvi-la. Nos dias seguintes à partida deles, sua avó se tornou seu consolo, guiando-a gentilmente pelo labirinto da perda.

Sua avó a encorajava com um sorriso compreensivo. 'Você deve falar com eles, Mal. Mesmo que não respondam, é importante que não se sintam sozinhos.'

'Eles realmente estão ouvindo?' Mallory perguntou enquanto segurava a mão de sua avó.

'Oh, sim. Tenho certeza de que estão ansiosos para ouvir tudo sobre suas aventuras,' sua avó a tranquilizava com um sorriso. 'Você quer que eles saibam, não é?'

Um sorriso surgiu no rosto de Mallory ao lembrar. Naquela época, as histórias fantásticas de sua avó eram um bálsamo para seu coração dolorido, oferecendo um breve conforto. Quando ela terminou de falar com os túmulos de seus pais, Hattie se aproximou, parando a uma distância respeitosa para esperar.

"Muitas vezes, desejo que o passado não seja nada mais do que um longo sonho do qual ainda não acordei," disse Mallory, que havia ouvido os passos de Hattie no chão molhado. "E ao acordar... eles estariam lá comigo."

Hattie podia sentir a tristeza na voz de sua senhora. Ela tentou confortá-la, "Talvez, em outro reino além do nosso alcance, eles continuem a existir, milady. Minha mãe costumava dizer que aqueles que nos deixam se tornam estrelas ou o próprio ar que respiramos."

"Algo para olhar... sabendo que não serão tirados de nós," Mallory refletiu com um sorriso carinhoso nos lábios. Ela respirou fundo, antes de soltar o ar. "Uma vez eu chorei... muito, querendo ver meus pais, mesmo sabendo que nunca mais os veria. Minha avó, Deus a abençoe, sugeriu uma busca caprichosa pelos espíritos deles aqui entre esses túmulos."

"Lady Selia deve ter sido uma pessoa interessante de se conviver," Hattie comentou, observando o sorriso de Mallory crescer.

Mallory virou-se para encontrar os olhos de Hattie e observou, "Ela era. Ela me ajudou a permanecer íntegra, impedindo-me de me perder. Era como um cobertor. Uma pessoa calorosa." Ela tinha esperado que sua avó ficasse para sempre, mas o tempo não era amigo de ninguém. Sua avó faleceu quando ela tinha doze anos.

Justamente quando estavam prestes a voltar para a entrada da igreja, onde a carruagem as aguardava, Hattie lançou um olhar curioso para os portões largos e enferrujados.

"Está sempre trancado, não é, milady? Não me lembro de ter visto aberto," ela comentou suavemente, com um toque de admiração em sua voz.

"De fato. Esse é o cemitério mais antigo," Mallory confirmou, o grasnar do corvo ecoando mais uma vez ao fundo. Ela então compartilhou em tom baixo,

"Minha avó costumava me dizer que em tempos antigos, tesouros eram escondidos nessas mesmas sepulturas, não apenas dos de sangue real. Segundo ela, que supostamente é um segredo dos reais, dentro desse cemitério existe uma lápide quadrada, sob a qual jaz uma arma. Ela tem uma pedra, que ela descreveu como azul como a própria noite, que possui um poder insondável, mas ao mesmo tempo é uma maldição."

"Sério??" Hattie exclamou ao pensar em uma maldição.

"As histórias da avó eram vívidas, talvez até demais," Mallory disse. Sua avó tinha histórias tão selvagens que às vezes a fazia pensar se era uma das razões pelas quais a tia Doris não estava muito interessada em convidá-la para o solar.

No mesmo pensamento, ela não havia esquecido a noite anterior, onde o pingente havia parado de brilhar depois de um minuto. Isso a fez se perguntar se estava imaginando coisas.

Hattie balançou a cabeça e olhou na direção oposta do cemitério interno. Ela propôs, "Talvez seja hora de voltarmos, milady."

Mallory riu baixinho, sabendo que Hattie estava assustada com a menção de possíveis maldições e fantasmas. Apesar da diferença de quatro anos entre elas, Mallory encontrava grande consolo na companhia de Hattie.

Quando chegaram de volta ao solar, Mallory encontrou outra carruagem esperando não muito longe da entrada. Parecia que Colette ia estar ocupada hoje com os pretendentes disputando sua atenção.

Hattie se desculpou por deixar o lado de Mallory, enquanto esta seguia pelo corredor.

"Mallory!" Tio Wilfred chamou. "Onde você esteve?"

"Na igreja," ela respondeu, uma ruga se formando entre suas sobrancelhas. "Está tudo bem?"

"Muito melhor que bem. Você se lembra da nossa conversa de ontem?" Tio Wilfred perguntou, e justo então, uma série de passos ecoou da sala de estar.

A pessoa a quem os passos pertenciam finalmente saiu da sala. Era um homem alto com cabelos loiros arenosos e olhos cinzentos. Ele usava um casaco marrom sobre sua camisa branca impecável.

"Barão Kaiser…" Mallory respirou, sua voz cheia de surpresa.

"Boa tarde, Senhorita Mallory," o barão cumprimentou, sua voz suave enquanto se inclinava em uma reverência respeitosa, um sorriso caloroso adornando seus lábios.

"Boa tarde," ela conseguiu responder, ainda surpresa.

Logo atrás do barão estavam Senhora Doris e Colette. Sua tia revelou, "O Barão veio especificamente para encontrá-la, Mallory."