— O último Æthar veio para o nosso mundo...
A voz do ancião soou baixa, carregada de uma melancolia difícil de ignorar. Ele estava parado à beira de uma montanha meditando e olhando para o horizonte.
Apesar de proferir palavras tão graves, seus pensamentos estavam muito longe, focados não apenas no presente, mas no passado distante — uma memória de mais de uma década atrás, quando outro Æthar havia cruzado o véu entre os mundos.
Naquela época, o rastro de um dos Æthar caído o intrigou profundamente. Ele sempre havia sido capaz de ler esses rastros como se fossem livros abertos.
Com cada um deles contava uma história sobre a alma do ser que o deixara para trás: faíscas de ambição, chamas de paixão, luzes de esperança ou sombras de medo ou temor.
Mas aquele rastro, o de mais de uma década atrás, fora completamente diferente de qualquer outro que ele já tinha visto.
— Seu rastro era... vazio.
O ancião franziu a testa, ainda perplexo, mesmo depois de tanto tempo. — Sem cheiro, sem cor, sem intenção. Como uma fumaça branca que se dissipou sem deixar vestígios como se já tivesse queimado tudo em sua passagem antes de cair.
Não havia bondade, nem maldade, nenhum desejo de mudar o mundo. Era como se ele não tivesse propósito ou mesmo qualquer vontade de existir.
Ele se lembrava de ter tentado seguir aquele rastro, uma tarefa árdua. Era fraco demais, quase impossível de detectar. Logo, o vestígio desapareceu, como se o Æthar tivesse se perdido em algum lugar longe de sua visão.
— Deve ter caído em algum lugar no mar... ou perto do Império.
Suspirando, ele balançou a cabeça. — Pobre criatura...
Talvez tenha morrido no impacto, talvez os imperiais o tenham encontrado e o destruído. Não importa. Alguém assim, sem chama ou ambição, teria sido engolido por este mundo.
E seu destino seria cair no esquecimento, seja morrendo por ninguém ou numa batalha que não faria diferença para este mundo.
Por um tempo, ele acreditou que aquele Æthar havia sido apenas um desvio insignificante, uma alma sem relevância. No entanto, algo continuava a incomodá-lo.
Não conseguia esquecer o vazio daquela alma. Não importava o quanto tentasse afastar a lembrança, ela voltava sempre, como uma sombra à espreita.
— Por que continuo pensando nele?, perguntou-se. — Será que vejo alguma esperança naquele ser que não conheço?
Não… absurdo , ainda sim a dúvida era frustrante, mas sua mente logo foi levada de volta ao presente. Ele sabia que não podia se dar ao luxo de se perder em devaneios do passado. Outro Æthar havia caído agora, e este era tudo menos insignificante.
— O último..., murmurou, apertando as mãos levemente ao lembrar do novo rastro. — Seu rastro era poderoso.
Diferente daquele que havia caído anos atrás, o rastro deste novo Æthar era impossível de ignorar. Ele brilhava como um farol no escuro, chamando a atenção de todos que podiam percebê-lo.
— Como o sol, ele irradiava luz e ordem. Todos "Eles" os viram. E era belo, quase como algo divino.
Eu não podia negar a grandiosidade do rastro. Havia algo majestoso naquela alma, algo que parecia destinado a trazer ordem ao caos do mundo.
No entanto, conforme eu observava mais de perto, a beleza era apenas superficial. Por trás daquela luz, havia outra coisa. Algo podre escondido.
— Orgulho..., — disse, com uma pitada de nojo. — Um orgulho fétido, que quase se escondia em meio aquele desejo de ordem e a beleza que ele parecia exibir.
Durante sua longa vida, ele tinha visto outros como esse novo Æther. Almas poderosas, mas movidas por orgulho e vaidade, dispostas a dobrar o mundo à sua vontade, não pela justiça ou pela bondade, mas para satisfazer seus próprios egos.
— Este último trará mudança mas isso será algo bom ?..., disse com um suspiro pesado. — A era está prestes a mudar novamente. E mudanças extremas nunca vêm sem tragédias.
Ele sabia o que estava por vir. Toda vez que um ser com uma presença tão avassaladora surgia, o equilíbrio do mundo era ameaçado. Guerras eclodiam, impérios caíam, civilizações inteiras podiam ser destruídas. E, mais uma vez, ele se via impotente diante das forças que estavam se movendo.
— Estou velho demais para isso..., disse para si mesmo, sentindo o peso dos anos sobre seus ombros. — Não posso estar em todos os lugares, não posso manter a paz em todos os cantos.
Ele sentiu suas mãos tremerem levemente, não apenas pela idade, mas pela incerteza do futuro. O mundo estava mudando, e ele sabia que não seria capaz de carregar esse fardo sozinho por muito mais tempo.
— Talvez seja realmente o fim desta era..., sua voz tornou-se mais fraca. — Mas e se...?
Uma fagulha de pensamento passou por sua mente. E se houvesse alguém? Alguém que pudesse preencher o vazio deixado pelo Æther de uma década atrás e equilibrar o orgulho avassalador do último que havia caído? Não um herói, daqueles que buscavam glória e reconhecimento, mas um guardião. Alguém que lutasse não por si mesmo, mas pela proteção do que restava.
— E se houvesse alguém assim...?, ele ponderou, com uma ponta de esperança em sua voz. — Alguém que não buscasse poder ou orgulho, mas simplesmente a vontade de proteger o mundo.
Ele fechou os olhos, permitindo-se um momento de sonho antes que a realidade o puxasse de volta.
— Alguém como esse... faria toda a diferença. — O ancião então se lembrou de alguém a muito tempo atrás era semelhante aos dois, Æthar em sua mente, ele era poderoso não havia maldade nem bondade em seu ser, e sua alma era cinza e brilhante como de uma espada mas foi a tanto tempo atrás….
—Haa…. Lyon's eu sinto sua falta seu tolo…
Porém, assim como ele , também não tinha um propósito fixo em algo ou em algum desejo. Será que foi por isso que o mataram ?...