Chapter 13 - Capitulo 12

Eu abri os olhos devagar, sentindo o calor suave da areia e o frescor das ondas tocando minha pele. O céu estava claro, e as árvores próximas balançavam com a brisa. 

Por um momento, não compreendi onde estava. Mas, à medida que me levantava, com o rosto ainda sujo de areia, a realidade me atingiu: eu havia sobrevivido. Depois de nadar até a exaustão, finalmente cheguei a terra firme.

O alívio começou a se espalhar pelo meu peito, e um riso involuntário escapou dos meus lábios.

— Pfff... Hahahaha! — Deitado de costas na areia, olhando para o céu, meus braços esticados, eu só conseguia pensar: Eu escapei! Tentei conter o riso, mas a sensação de liberdade era quase indescritível. 

O cansaço que me consumia parecia evaporar, substituído por uma energia renovada.

Após quase 15 anos preso numa cela de pedra, eu finalmente estava livre. Vi o céu azul de novo. 

Algumas pequenas lágrimas se formaram no meu rosto antes de se transformarem em rios de choros , mas eu me levantei, sentindo meus pés afundarem na areia pela primeira vez na vida. 

A textura macia e quente por causa do sol me fez hesitar por um segundo, mas logo comecei a andar, com um sorriso de orelha a orelha.

Não pude evitar; a alegria era incontrolável. Comecei a correr pela praia, rindo de mim mesmo, minha risada ecoando entre as árvores e o mar. Livre, pensei. Tudo parecia perfeito, por mais improvável que fosse.

— Hahahaha! — Gargalhava, o corpo vibrando com a euforia. 

Mas, de repente, como se o tempo tivesse congelado, meu sorriso desapareceu. Meus olhos se fixaram à frente. Não muito longe, havia um grupo de homens.

Eles me observavam à distância, suas expressões variando entre surpresa, descrença e choque . 

Olhei rapidamente suas roupas. Não pareciam soldados. Talvez fossem guardas de alguma vila próxima. Também havia um homem amarrado, com o rosto esfregado na areia, e uma cova aberta ao lado dele.

Meu coração acelerou e um nó se formou em minha garganta.

— Merda... — murmurei, sentindo a velha sensação de azar voltando com tudo. 

A alegria que me preenchia há poucos segundos evaporou, sendo substituída por uma apreensão crescente. Eu acabara de escapar de um pesadelo, e a última coisa que queria era ser capturado de novo.

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Ainda atordoado com os acontecimentos, olhei ao redor, tentando entender a situação. 

Eu havia escapado de Tártaros, mas agora me via diante de algo inesperado. Não muito longe, um Velho homem com uma expressão feroz me encarava com interesse. 

Seus olhos verdes penetrantes e o cabelo dourado que começavam a perder o seu brilhos, mas havia algo nele... uma elegância sutil que me lembrava o meu finado mentor.

— Olá, jovem estranho. Entendes de minha língua? — perguntou o velho homem, sentado à minha frente, sua voz firme, mas sem hostilidade.

Acenei com a cabeça, reconhecendo a pergunta. Ainda não sabia exatamente o que ele queria, mas me mantive atento.

Ele continuou, com uma confiança tranquila em suas palavras: — Normalmente, eu perguntaria quem é você. Mas, considerando suas roupas rasgadas e a proximidade da prisão de Tártaros, a verdadeira pergunta é: o que pretendes em fazer ?

Eu não respondi de imediato. Minha mente ainda tentava assimilar o que estava acontecendo. Esse homem, apesar de sua postura imponente, parecia alguém com quem se podia dialogar. Após alguns segundos de silêncio, ele se apresentou:

— Quanto a mim, sou Willian, mercenário e capitão. — Sua voz carregava uma autoridade que não precisava de esforço para ser imposta.

Observei cada detalhe enquanto ele falava. Sua aparência contradizia sua forma articulada. Mesmo sendo claramente um guerreiro experiente, havia algo refinado em sua fala. 

Permaneci calado, e ele, aparentemente confortável com minha falta de resposta, prosseguiu como se estivesse contando uma história qualquer.

— Vim a esta ilha para enterrar vivo um dos nossos. — Ele apontou para o homem acorrentado no chão. A camisa do sujeito estava manchada de sangue, claramente resultado de um espancamento recente. 

— Ele tentou ficar com a maior parte de um ouro roubado. E, como já havíamos concordado com a divisão do saque, não posso deixar isso passar impune.

O sorriso de Willian ao explicar a situação parecia quase casual, como se estivesse falando sobre algo rotineiro. Eu observava atentamente o homem caído, que gemia de dor, enquanto Willian continuava sua explicação.

— Alguns dos amigos dele mais leais insistiram que eu o perdoasse. Alegaram que ele precisava do ouro para pagar remédios para a sua família doente. — Willian suspirou, mantendo o tom controlado. — Mas não posso simplesmente deixá-lo ir. Se ele tivesse vindo falar comigo, talvez aceitasse que ficasse com uma parte maior. Mas escolheu roubar, e se eu o perdoar sem punição, perderia o respeito dos meus homens.

Havia um leve brilho nos olhos de Willian enquanto ele sorria. Algo em seu jeito sugeria que ele estava prestes a me envolver em algum plano estranho.

— E é por isso que você é um achado fortuito. — Ele disse, olhando diretamente para mim, com a mão no queixo, avaliando minha reação.

Eu arqueei uma sobrancelha, confuso. — Como? — Perguntei, tentando entender onde aquilo iria dar.

— Você me dá a chance de mostrar misericórdia a Hidalgo — disse Willian, apontando para o homem amarrado na areia. — Sem parecer fraco. E os rapazes ainda vão se livrar do clima pesado com um pouco de diversão.

Minhas sobrancelhas se franziram. Diversão? Tentei juntar as peças.

— E como eu conseguiria isso? — Perguntei, com um tom cauteloso.

— Você e Hidalgo vão lutar até a morte. — Ele explicou com um sorriso relaxado, como se estivesse descrevendo uma atividade cotidiana.

Meus olhos se arregalaram por um breve momento. A proposta era tão absurda que demorei alguns segundos para processá-la. Mas percebi que Willian estava falando sério.

— Se Hidalgo vencer, ele será aceito de volta ao grupo — continuou ele, como se estivesse explicando uma regra de um jogo simples. — Se você vencer, ele terá tido o direito de julgamento por combate, mesmo sem merecê-lo. E você ocupará o lugar dele no grupo.

Ponderei por um momento. Tudo parecia um jogo de sobrevivência. E, mesmo sem muitas opções, precisava descobrir qual era a melhor maneira de sair dessa situação.

— E se eu vencer, mas não quiser fazer parte do seu grupo? — Perguntei, curioso.

— Nós matamos você e encontramos outro homem para substituir Hidalgo. — Willian respondeu sem hesitar, com uma naturalidade desconcertante.

Por um instante, não consegui evitar erguer as sobrancelha, surpreso. A brutalidade da proposta era direta, crua. Mas de certo modo, isso me agradava. Eu já havia enfrentado muitas situações piores. 

O tempo em Tártaros me ensinou a ver as oportunidades, por mais insanas que fossem.

Respirei fundo e respondi, com um toque de sarcasmo na voz:

— Parece justo. Acho que nasci para ser mercenário. E ficaria encantado em matar o seu amigo... o "Verme". — Senti o canto da minha boca se curvar em um sorriso irônico.

Willian riu, como se estivesse apreciando minha atitude.

— Hahaha! Gosto do seu espírito. — Ele disse, com um brilho nos olhos.

Entretanto, ele não deixou de me alertar: — Por falar nisso, Hidalgo é um dos melhores espadachins da nossa tripulação.

Dei de ombros, desdenhando o aviso.

— Hm... Acho que você não anda muito por aí, não é? — Retruquei, permitindo que um raro sorriso confiante surgisse em meu rosto.

Willian me observou por um breve momento, antes de explodir em uma gargalhada.

— Hahahaha! Soltem Hidalgo! — Ordenou ele, ainda rindo. — Devolvam-lhe a espada... E que a diversão comece!