Algumas semanas após seu retorno, enquanto Mattia relaxava em seu ambiente familiar, foi interrompido por Antony, seu tio, que o informou sobre a chegada das mercadorias que ele tanto aguardava. Imediatamente, ele se dirigiu ao pátio para verificar pessoalmente as mercadorias, acompanhado por Antony. A presença dos seguranças ao redor de sua casa evidenciava a importância e o valor das transações que estavam prestes a ocorrer.
Após a verificação das mercadorias, elas foram levadas para um galpão adjacente à casa, onde passariam por uma avaliação detalhada antes de serem preparadas para um leilão programado para a semana seguinte. Consciente do valor significativo desses negócios, Mattia optou por manter em sigilo cinco peças raras, alimentando assim a curiosidade e o interesse dos potenciais compradores.
No entanto, a proximidade do leilão foi marcada por uma reviravolta inesperada. Pietro, seu primo, recebeu uma ligação que o deixou indignado, levando-o a comunicar o problema diretamente a Mattia. A suspeita de que o empresário indiano estava envolvido em transações ilícitas provocou a ira de Mattia, que jurou vingança, mesmo que isso não resultasse em prejuízo direto para ele. Seus olhos, geralmente acinzentados, tornaram-se sombrios e carregados de determinação enquanto ele ordenava a busca pelo indiano.
Enquanto lidava com a turbulência de seus negócios, os pensamentos de Mattia inevitavelmente se voltaram para a mulher que o cativava. Mesmo diante da crise iminente, sua mente encontrava espaço para divagar sobre ela. Em um impulso, ele deixou a sala e dirigiu-se ao seu tio Antony, solicitando sua companhia até o galpão onde as mercadorias estavam armazenadas.
Entretanto, seu tio tranquilizou-o, assegurando que seu primo já havia saído para resolver a situação. Na Toscana, a família Parganno buscava solucionar seus próprios problemas, enquanto em Nova Iorque, Rani consolava sua amiga Kalie, que se sentia desapontada por uma situação mal interpretada. No entanto, enquanto conversavam, Raji entrou em casa chamando pela filha. Kalie correu até a sala para atendê-lo e Rani foi atrás dela. Ele trouxe notícias chocantes que abalaram profundamente as duas amigas.
— Aconteceu uma coisa horrível. Dois homens entraram no comercio do Radesch, quebraram tudo e levou os dois, pai e filho. Eu não sei o que aconteceu. Enquanto falava, Rani perguntou com veemência:
— Tio Raji, isso é sangue?
Foi naquele instante que Raji percebeu que foi atingido por um pedaço de vidro e imediatamente foi levado para o hospital.
Enquanto Kalie estava triste ao lado de seu pai no hospital, sua amiga se aproximou dela e, tocando em seu ombro, perguntou com delicadeza:
— Você está bem? Kalie passou as pontas dos dedos no rosto, secando seus olhos chorosos, e disse com pesar:
— Por que será que fizeram isso com o Radesh e o Hari? Eles eram boas pessoas. Compreendendo a dor da amiga, Rani tentou confortá-la:
— Oh! Não fique assim, Kalie.
Enquanto as amigas compartilhavam suas preocupações, Raji, abriu os olhos lentamente e sorriu para a filha, interrompendo o momento de tristeza. Com ternura, ele a chamou:
— Querida!
Naquele instante, Kalie voltou sua atenção para o pai, ansiosa por saber mais sobre o que aconteceu. Ela perguntou:
— Raji, você acordou. Me conta o que aconteceu, pai. Tem uns policiais lá fora, eles querem fazer perguntas.
O olhar espantado de Raji para a filha denotava a gravidade da situação. No entanto, ele optou por manter a verdade oculta, respondendo com um meio sorriso:
— Foi tudo muito rápido, querida. Eu não sei o que aconteceu. Nesse momento, um policial entrou no quarto, interrompendo a conversa:
— Com licença, eu preciso falar um pouco com o senhor Raji, tenho algumas perguntas. O indiano olhou para as duas jovens à sua frente e tomou uma decisão:
— Kalie, você e a Rani vão dar uma volta enquanto eu converso com esse homem.
Apesar do pedido do pai, Kalie não pôde deixar de sentir um aperto no coração, sabendo que algo estava errado. Raji preferiu mentir para proteger sua família, mas sua consciência pesava, pois ele sabia da verdade.
Enquanto toda aquela investigação se desenrolava, do outro lado do oceano Atlântico Norte, Mattia expressava sua satisfação com o trabalho eficaz de seu primo Pietro. Brindando com ele, disse:
— Você fez um bom trabalho, Pietro. Agora iremos até o outro indiano. Pietro assegurou o primo:
— Não se preocupe, primo. Já sei tudo sobre ele e sua família.
A determinação nos olhos de Mattia refletia seu desejo de resolver a situação. Com planos definidos, eles encerraram a noite satisfeitos com os rumos que tomariam em breve.
No dia seguinte, Pietro enviou alguém para espionar a família Rochetti. Enquanto isso, Kalie passou o resto da noite no hospital com o pai. Quando ele finalmente recebeu alta, todos seguiram para casa, pois sua mãe estava aos cuidados da vizinha. Aruna, apesar de jovem, tinha uma aparência envelhecida devido à sua saúde debilitada, e Kalie sabia que a mãe não duraria muito.
Dois dias depois, enquanto preparava o café da manhã, Kalie olhou para o pai e perguntou com curiosidade:
— Não vai me dizer o que realmente aconteceu? Eu estava esperando que o senhor me contasse por vontade própria. Raji olhou para ela incrédulo, como se não entendesse a pergunta, mas Kalie persistiu:
—Desculpa, pai, mas eu ouvi a sua conversa com os policiais. A quanto tempo anda envolvido nesse tipo de coisa? Raji, envergonhado, baixou a cabeça enquanto Kalie continuava:
— Por que está mentindo? Se fosse dentro da lei, o Radesh não teria sido sequestrado. Você sabe que esses homens podem vir atrás de nós.
As lágrimas desceram pelo rosto de Kalie, mas Raji a olhou com carinho, demonstrando arrependimento:
— Kalie, prometo que não farei novamente. Eu precisava do dinheiro para o tratamento de sua mãe. Não quis te dizer, mas o médico só deu alguns meses de vida para ela.
Incredulidade misturada com mágoa surgiu no rosto de Kalie:
— E por que não falou comigo? A Rani poderia ajudar. Ela me ofereceu dinheiro para abrir uma galeria. Ela secou as lágrimas que escorreram de seus olhos com as costas da mão. — Estou decepcionada com você, pai. Raji se levantou e, com lágrimas nos olhos, falou com sinceridade:
— Me perdoe, querida. Saí da Índia para manter vocês seguras, e vou proteger vocês, não importa o que aconteça.
Enquanto pai e filha conversavam, o telefone de Kalie tocou. Ela interrompeu a conversa para atender, encontrando sua amiga Rani do outro lado da linha, cheia de empolgação:
— Querida, tenho novidades! Vamos viajar amanhã, já comprei as passagens. Surpresa, Kalie perguntou:
— O que aconteceu? Rani respondeu animada:
— A senhora Perón amou suas pinturas e decidiu colocar duas delas no próximo evento. E quer você lá. Kalie ficou encantada:
— Sério! Isso é maravilhoso!
Durante a conversa, Kalie contou brevemente para a amiga sobre o que seu pai tinha feito e expressou sua preocupação em deixar a família sozinha. Foi nesse momento que Rani propôs:
— Estou indo até sua casa. Converso com seu pai e depois vamos sair para comprar algumas roupas para usar lá.
Em menos de meia hora, Rani chegou à porta, e as duas amigas se cumprimentaram calorosamente. Rani logo se dirigiu a Raji:
— Tio Raji, eu queria mesmo ver o senhor. Preciso muito de sua ajuda. Raji sorriu e respondeu:
— Em que posso ajudá-la? Ainda tenho alguns dias de repouso, então pode falar. Rani explicou sua situação:
— Será que o senhor pode ficar em meu apartamento durante uma semana? Eu vou precisar viajar para resolver algumas coisas e ficarei fora uma semana ou mais. Raji concordou despreocupadamente:
— Tudo bem, podemos ir à noite.
Após a conversa, Rani estava feliz, mas Kalie ainda estava preocupada com a situação. Mesmo assim, decidiram seguir em frente. Depois de arrumarem as coisas no carro, Raji, Aruna e as duas amigas partiram para Manhattan.
Três dias depois, enquanto Rani e Kalie passeavam pelas ruas de Chicago, aproveitando as férias e admirando a cidade em pleno verão, em Nova Iorque, no Hotel Plaza, Mattia estava em sua suíte luxuosa quando Pietro entrou com um envelope grande nas mãos.
— Tenho novidades, algumas boas outras ruins. Disse Pietro, chamando a atenção de Mattia.
Mattia estava sentado à mesa, encarando seu primo com seriedade enquanto aguardava por informações cruciais. Pietro, por sua vez, parecia ter algo relevante para compartilhar.
— Pietro, fale. Mattia instigou, sua expressão revelando a urgência de sua demanda.
O primo hesitou por um momento antes de responder, ponderando sobre como transmitir as notícias que tinha em mãos. Finalmente, ele reuniu coragem para dar voz aos fatos.
— A má notícia é que perdemos o rastro da Família Rochetti há alguns dias. Começou Pietro, sua expressão refletindo a gravidade da situação. — Mas a boa notícia é que finalmente encontramos aquela mulher que você tanto procurava.
As palavras de Pietro caíram sobre Mattia como uma bomba, fazendo com que seus olhos se arregalassem em surpresa. Ele esperava por essa informação há tanto tempo que mal podia acreditar que finalmente havia chegado.
— Ela é a única filha do indiano que tem uma dívida pendente com você. Continuou Pietro, abrindo um envelope e espalhando algumas fotos sobre a mesa. Mattia se viu perdido em pensamentos enquanto contemplava as imagens de Kalie, a mulher que ocupara seus pensamentos por tanto tempo.
Depois de alguns instantes, ele emergiu de seu devaneio e perguntou, com determinação em sua voz:
— Onde ela está agora? Pietro respondeu prontamente:
— Ela está em algum lugar de Chicago, mas estuda na Universidade de Nova Iorque, na Tisch School of Arts. Logo estará de volta.
A necessidade de um encontro com o indiano antes de sua partida consumia os pensamentos de Mattia. Ele sabia que precisava resolver essa questão pendente antes de seguir em frente.
— Eu preciso ter um encontro com esse indiano antes de ir embora. Declarou Mattia, sua determinação palpável na sala.
— Vou dar um jeito de fazer isso acontecer. Assegurou Pietro, antes de deixar o quarto e deixar Mattia sozinho com seus pensamentos tumultuados.