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O sussurro ainda pairava no ar, como uma sombra invisível que parecia se mover com o vento. Jesse ajustou a foice em sua mão, o frio metálico da lâmina contra sua pele, e avançou mais profundamente pelas ruínas. O sentimento de estar sendo observado era quase palpável, e ele mantinha os sentidos aguçados, atento a qualquer movimento.
As paredes do templo, embora desgastadas pelo tempo, pareciam ter uma textura peculiar, quase como se estivessem vivas. Jesse notou que as runas cobriam a maior parte das superfícies, algumas ainda brilhando com uma luz fraca e etérea. A luz da lua refletia nas runas, lançando padrões estranhos e enigmáticos ao redor.
Ele avançou cuidadosamente, seu coração batendo com uma mistura de excitação e apreensão. As lendas falavam sobre uma entrada secreta que levava ao verdadeiro coração das ruínas, onde os segredos dos deuses antigos estavam guardados. Jesse estava determinado a encontrar essa entrada, mas sua compreensão sobre os deuses e suas intenções era limitada. A ideia de impedir um Despertar Divino parecia mais uma teoria absurda do que uma ameaça real.
"Se há algo de verdade nessa história de deuses despertando, eu não tenho ideia do que esperar", murmurou Jesse para si mesmo. "Talvez eles estejam apenas tentando sair do confinamento que lhes foi imposto. Ou será que são apenas histórias antigas que ganharam vida própria?"
Chegou ao que restava de um antigo templo no coração das ruínas. No centro, enterrada sob camadas de poeira e musgo, estava a foice quebradiça e rachada que ele encontrara na infância. Ajoelhou-se ao lado dela e passou os dedos pelas rachaduras. Um calor estranho emanava da arma, como se guardasse um segredo que apenas ele poderia descobrir.
"Você parece mais viva hoje, hein?", disse Jesse com um sorriso irônico, tentando se acalmar. As lendas que circulavam pelas aldeias falavam do Despertar dos Deuses — uma ideia vaga e nebulosa que falava sobre seres antigos voltando a exercer poder. Jesse havia zombado dessas histórias, considerando-as superstições sem fundamento.
Ao tocar a foice, um tremor percorreu seu corpo. O chão sob seus pés vibrou e uma rajada de ar gélido correu pelas ruínas, levantando poeira e folhas mortas. Ele se levantou rapidamente, seus olhos vasculhando o ambiente, mas não viu nada além das pedras imóveis e do céu estrelado.
Então, ele ouviu.
Um sussurro.
Baixo, mas claro.
**"Os deuses não esquecem, Jesse. O tempo deles está próximo."**
O sangue de Jesse gelou. Olhou ao redor, tentando encontrar a fonte do som, mas sabia que não havia ninguém ali. O sussurro parecia vir das ruínas, ou talvez... da própria foice.
"Estou começando a achar que estou mesmo ficando louco", murmurou, esfregando os olhos. No entanto, a sensação de que algo maior estava em movimento era inegável. Ele se lembrou das histórias que ouviu sobre as Ruínas Antigas: não eram apenas restos de uma civilização perdida, mas portas para dimensões de bolso. Cada uma dessas dimensões continha mundos diferentes, cada um com suas próprias regras e mistérios. Era possível que o que ele estava enfrentando estivesse ligado a esses mundos escondidos.
Com um último olhar para a foice em suas mãos, Jesse respirou fundo. Ele sabia que a jornada que tinha pela frente seria repleta de desafios desconhecidos. O verdadeiro teste estava apenas começando e a necessidade de descobrir a verdade sobre os deuses e as dimensões escondidas o impulsionava para frente.
Jesse se levantou, decidido a explorar o que as ruínas e suas dimensões ocultas poderiam revelar. Enquanto avançava mais profundamente nas sombras das Ruínas Antigas, um misto de ansiedade e curiosidade o acompanhava.
A descoberta estava apenas começando e ele estava determinado a desvendar os segredos que as ruínas guardavam.
Jesse caminhou pela passagem estreita, com o coração acelerado e os sentidos aguçados. A cada passo, o ar ficava mais frio e denso, como se ele estivesse se aproximando de algo antigo e profundo. O corredor serpenteava para baixo, levando-o a um local onde a luz da lua não alcançava.
A câmara à sua frente era imensa, suas paredes cobertas de runas que brilhavam com uma luz tênue. No centro da sala, um altar de pedra maciça estava cercado por símbolos complexos e padrões geométricos. A aura de energia era palpável, quase como uma pressão invisível que fazia o ar parecer mais espesso. Jesse se aproximou do altar, seus olhos fixos nos símbolos e nas inscrições que cobriam a superfície.
"Vamos ver o que você tem para me mostrar", murmurou Jesse, tirando o caderno de anotações e comparando os símbolos no altar com os que ele havia registrado. A luz que emanava das runas parecia responder à sua presença, pulsando em um ritmo suave e constante.
Enquanto examinava o altar, ele percebeu que as runas formavam um padrão que se repetia em ciclos. O símbolo de gelo que ele havia notado anteriormente parecia ser a chave para compreender o restante do conjunto. Jesse tentou recitar as palavras que conhecia, na esperança de ativar algum mecanismo escondido, mas nada aconteceu.
Desalentado, ele se afastou e sentou-se no chão frio, refletindo sobre o que havia encontrado. As lendas das Ruínas Antigas falavam de portas para dimensões de bolso, mundos diferentes que se conectavam através de feitiçarias e tecnologia antiga. Se essas ruínas realmente funcionavam como portas, era possível que o altar fosse um ponto de acesso para uma dessas dimensões.
"Se isso é uma porta para outro mundo, talvez haja algo que eu possa usar para entender o que está acontecendo", pensou Jesse, tentando juntar as peças do quebra-cabeça. Ele começou a examinar mais de perto os símbolos ao redor do altar, procurando qualquer pista que pudesse indicar uma forma de abrir ou ativar a entrada.
Após um tempo de análise, ele notou um pequeno símbolo na base do altar, que parecia ser diferente dos outros. Era uma representação estilizada de uma chave, e Jesse tinha a sensação de que isso poderia ser crucial. Ele retirou a foice da mochila e a posicionou sobre o símbolo, como se tentasse encaixá-la em uma fechadura invisível.
Um som de rocha se movendo fez Jesse erguer a cabeça. O altar começou a brilhar intensamente, e uma fenda se abriu na base, revelando uma escada que descia ainda mais para as profundezas da estrutura. A luz emanava da fenda, iluminando a escada que parecia levar a um lugar ainda mais misterioso.
Jesse respirou fundo e desceu as escadas, a sensação de que estava entrando em algo monumental aumentando a cada passo. A escada parecia interminável, e ele sentiu que cada degrau o aproximava de algo antigo e poderoso. Ao alcançar o fundo, ele entrou em uma nova câmara, onde um cenário impressionante se desdobrava diante de seus olhos.
A sala era vasta, com um teto alto e arcadas majestosas. No centro, um grande portal estava inscrito com runas ainda mais complexas e brilhantes, que pulsavam com uma energia vibrante. O portal parecia estar em espera, como se aguardasse um desafio ou um sinal para se ativar.
Jesse se aproximou do portal, sentindo a energia vibrar através de suas mãos enquanto ele tocava as runas ao redor. Era como se o portal estivesse conectado a algo maior, uma rede de mundos diferentes que se estendiam além de sua compreensão.
"Então é isso", pensou Jesse. "Se há uma chance de impedir qualquer coisa relacionada ao Despertar dos Deuses, eu preciso entender como usar isso."
Ele observou o portal, sabendo que o verdadeiro desafio estava prestes a começar. A cada momento, a sensação de que algo grande estava por vir se intensificava. Jesse sabia que precisava se preparar para o que estava além daquela entrada, pois o destino de muitos mundos poderia depender das escolhas que ele fizesse a partir daquele momento.
Com uma determinação renovada, ele se preparou para atravessar o portal, pronto para enfrentar os mistérios e perigos que o aguardavam nas dimensões escondidas além das Ruínas Antigas.
Após atravessar o portal, Jesse foi envolvido por uma sensação estranha — o ar parecia mais denso, carregado com uma energia que ele nunca havia sentido antes. O mundo de **Ætheris** era tão vibrante quanto perigoso, com cada sopro de vento e cada folha carregando traços de magia elemental.
Durante dias, ele vagou sem rumo, observando de longe como as pessoas deste mundo manipulavam os elementos com uma naturalidade desconcertante. Embora fosse talentoso com gelo, aqui, ele parecia uma anomalia — sua magia, considerada fraca no mundo em que viera, parecia ainda mais deslocada. No entanto, ele ouvira rumores de um lugar que poderia ser a chave para compreender melhor esse mundo e talvez até encontrar respostas sobre o Despertar dos Deuses: a **Academia de Magia Ætheris**.
E foi assim que ele se viu na entrada dessa imponente instituição, sem entender completamente como o sistema funcionava, mas com a esperança de que ali encontraria conhecimento — e poder.
No dia do exame de entrada, a academia estava em alvoroço. Jovens magos de todos os cantos de Ætheris estavam reunidos para provar suas habilidades e conseguir uma vaga. Jesse misturou-se à multidão, mantendo sua origem das **Ruínas Antigas** em segredo. Ele sabia que, se os habitantes de Ætheris não conheciam as Ruínas, mencionar algo sobre elas só levantaria suspeitas.
Ele observava os outros candidatos enquanto caminhavam em direção à arena onde o exame ocorreria. Havia um garoto que conjurava pequenos fogos de artifício com um movimento de mão, uma garota que controlava correntes de água em espirais graciosas no ar, e até mesmo um grupo de jovens que pareciam dominar a arte da manipulação de terra, fazendo pequenas colunas brotarem do chão ao menor toque.
Jesse, no entanto, mantinha-se discreto. Sua magia de gelo, ainda considerada a mais fraca, era o que ele tinha — mas ele sabia que havia mais. Sua foice rachada, pendurada em suas costas, parecia brilhar levemente sob o sol, como se guardasse um poder que ele ainda não compreendia totalmente.
"O que exatamente é o Despertar dos Deuses?", ele murmurou para si mesmo enquanto observava o imenso edifício à frente. Ele sabia muito pouco, e a maior parte do que ouvira eram fragmentos e boatos. Alguns diziam que era o retorno de seres poderosos que trariam caos ao mundo, outros falavam de uma profecia antiga que ninguém entendia por completo. Jesse, no entanto, acreditava que havia algo maior por trás disso — algo relacionado ao éter e às próprias Ruínas Antigas. Mas, por ora, ele manteria essas perguntas para si.
Enquanto entrava na arena, Jesse sentiu uma onda de magia atravessar o ar. Seria aqui que ele daria o primeiro passo em sua jornada para desvendar os segredos deste mundo — e talvez até os seus próprios.
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