Nos dias que se seguiram, Jesse, Lyra e Callen começaram a retomar a rotina na Academia, mas as memórias da sala antiga e da estranha esfera ainda pesavam sobre eles. Mesmo que a vida acadêmica estivesse de volta ao normal, as descobertas que haviam feito, e o mistério que envolvia as Ruínas, ocupavam as mentes do trio.
**As aulas de magia elemental**, em especial, começaram a ganhar um novo significado para Jesse. Seu controle sobre o gelo, antes considerado limitado, agora parecia ter uma conexão mais profunda com os segredos que as Ruínas escondiam. Ele passava horas nos campos de treinamento, tentando explorar os limites de sua magia, enquanto Lyra o observava com olhos atentos.
"Você está ficando obcecado com isso, Jesse," ela disse, um dia, enquanto o via conjurar uma série de cristais de gelo. "Não acho que precise provar nada a ninguém."
Jesse parou por um momento, seus olhos focados no chão coberto de gelo à sua frente. "Não se trata de provar. É sobre entender. Essas Ruínas, essa magia... está tudo conectado. Eu sei disso."
Lyra cruzou os braços, inclinando a cabeça de forma pensativa. "Você acha que seu talento com o gelo está ligado às Ruínas, não é?"
Ele assentiu. "Sim. Elas me chamaram de volta lá. E meu poder... parece que responde a algo maior do que só treino. Sinto que há algo dentro de mim esperando para ser descoberto."
Callen, que chegava naquele momento, interrompeu a conversa. "Vocês estão falando sobre o que aconteceu com a esfera, não é?"
Jesse olhou para ele, com uma expressão de incerteza. "Sim. E sobre as Ruínas."
Callen suspirou, sentando-se ao lado dos dois. "Se formos continuar tentando desvendar isso, precisaremos de mais informações. A Academia tem registros antigos, talvez mais sobre as Ruínas e os Deuses."
Lyra balançou a cabeça. "O problema é que os registros mais antigos são restritos. Só alunos avançados ou professores podem acessá-los."
Jesse pensou por um momento, a mente sempre funcionando em busca de uma solução. "E se conseguíssemos um passe temporário? Alguma forma de acessar essas informações sem levantar suspeitas?"
Lyra sorriu, inclinando-se para ele. "Agora está falando minha língua."
Os três passaram os dias seguintes planejando como conseguir acesso aos registros mais antigos da Academia. Sabiam que não poderiam simplesmente invadir a biblioteca restrita, então precisavam de uma abordagem mais sutil.
**Uma semana depois**, durante um dos raros intervalos entre aulas, eles se aproximaram de um professor conhecido por ser mais flexível com as regras, o mestre Alistar. Ele era famoso por simpatizar com alunos que mostravam "iniciativa" – o que, em muitos casos, significava ir além dos limites impostos.
"Então, vocês estão interessados nos registros antigos, hum?" Alistar disse, observando os três com um sorriso malicioso. "Por que o súbito interesse em história?"
Jesse foi o primeiro a responder, tentando manter a calma. "Queremos entender mais sobre as magias antigas, principalmente aquelas ligadas às Ruínas. Acreditamos que possa nos ajudar a aprimorar nosso controle mágico."
Alistar estreitou os olhos, claramente curioso, mas também cauteloso. "Vocês sabem que o acesso é restrito, certo?"
Lyra entrou em cena, sempre com sua lábia afiada. "Claro, mestre. Mas somos alunos dedicados, prontos para aprender e, quem sabe, trazer novas descobertas para a Academia."
O professor riu baixo, cruzando os braços. "Ah, sim. Dedicação. Vejo muito disso em vocês. Mas estejam avisados, se forem pegos fazendo algo que não deveriam, não poderão contar comigo."
Jesse sorriu, já sentindo que estavam perto de seu objetivo. "Nós entendemos, mestre. Obrigado pela oportunidade."
Com a bênção de Alistar, o trio finalmente conseguiu acesso à biblioteca restrita durante uma breve janela de tempo em que outros alunos e professores estariam ocupados com um evento anual da Academia. Era sua chance de descobrir mais sobre as Ruínas, e talvez, sobre o que os Deuses realmente planejavam.
Enquanto vasculhavam os antigos pergaminhos e livros empoeirados, eles descobriram referências a um grupo de magos conhecidos como **Os Vigias**, que tinham a tarefa de selar fragmentos de poder divino espalhados por várias dimensões. Esses fragmentos, conhecidos como os **Fragmentos dos Deuses**, eram selados para impedir que os Deuses recuperassem sua força total.
"Então é isso," Callen murmurou, segurando um pergaminho que descrevia um desses fragmentos. "Esses fragmentos podem ser o que as Ruínas escondem. E o Despertar dos Deuses é sobre eles tentando reunir esses pedaços de poder."
Lyra leu por cima do ombro dele, sua expressão grave. "Se for isso, Jesse... nós temos muito mais a enfrentar do que apenas criaturas etéreas. Estamos falando de entidades que podem remodelar o mundo."
Jesse, sentindo o peso de tudo o que haviam descoberto, fechou os olhos por um momento, tentando processar. "Se é isso que as Ruínas guardam, então não podemos deixar que os Deuses recuperem esse poder. Não importa o que aconteça, precisamos impedir o Despertar."
Com as informações agora nas mãos, Jesse, Lyra e Callen sabiam que o tempo estava contra eles. A Academia era apenas o começo de uma jornada muito maior – uma que os colocaria em rota de colisão direta com os próprios Deuses.
Nas semanas que se seguiram, Jesse notou que algo estava diferente em Lyra. Ela parecia mais distante, distraída até, mesmo quando estavam imersos nas descobertas sobre as Ruínas e os Fragmentos dos Deuses. Ele sabia que havia algo mais, algo que ela estava escondendo.
Uma tarde, enquanto caminhavam pelos jardins da Academia após o treinamento, Jesse finalmente decidiu perguntar. "Lyra, você está diferente ultimamente. O que está acontecendo?"
Ela suspirou, desviando o olhar. "Eu estava esperando o momento certo para falar sobre isso, mas... acho que não tem mais como adiar." Lyra parou, olhando diretamente para Jesse, os olhos carregados de uma tristeza que ele raramente via nela. "Minha família... eles arranjaram um casamento para mim."
Jesse franziu a testa, sentindo uma onda de surpresa e preocupação. "O quê? Um casamento arranjado? Mas... você não disse nada sobre isso antes."
Lyra deu de ombros, a frustração evidente em seu rosto. "Eu não queria falar sobre isso. Achei que talvez... pudesse encontrar uma forma de evitar. Mas é complicado, Jesse. Minha família é de uma casa nobre, e eles esperam que eu me case com alguém que fortaleça nossas alianças políticas. O casamento está marcado para daqui a alguns meses."
Jesse sentiu um aperto no peito, vendo o quanto isso estava afetando Lyra. "E você... não quer isso, certo?"
Ela balançou a cabeça. "Claro que não. Eu odeio a ideia de ser forçada a casar com alguém que nem conheço, apenas por causa do nome da minha família. Mas... não sei o que fazer. Se eu desobedecer, isso pode prejudicar minha família e eu posso ser deserdada."
Jesse ficou em silêncio por um momento, processando tudo. Sabia que Lyra era forte e decidida, mas essa situação claramente a estava consumindo por dentro. Ele não podia simplesmente ficar parado e ver sua amiga sofrer assim.
"Temos que encontrar uma maneira de sair dessa," Jesse disse finalmente, sua voz firme. "Você não merece ser forçada a fazer algo que não quer."
Lyra olhou para ele com uma mistura de gratidão e incerteza. "Eu... aprecio sua ajuda, Jesse. Mas o que podemos fazer? Minha família tem influência, e eles não vão simplesmente desistir desse casamento porque eu não quero."
Jesse pensou por um momento, lembrando-se de todas as vezes em que ele, Lyra e Callen enfrentaram situações aparentemente impossíveis. Eles sempre encontraram uma saída, de alguma forma.
"Talvez haja outra solução," Jesse sugeriu, os olhos brilhando com determinação. "Precisamos descobrir mais sobre essa pessoa com quem você supostamente vai se casar. Se houver algo que possamos usar para convencer sua família a cancelar o casamento, talvez possamos te livrar disso sem causar tanto impacto."
Lyra olhou para ele, considerando a ideia. "Você acha que isso funcionaria?"
"Eu não sei, mas vale a pena tentar," Jesse respondeu. "Nós sempre encontramos uma maneira, Lyra. E dessa vez não vai ser diferente."
Com uma nova determinação, Jesse e Lyra começaram a investigar a família e o homem com quem ela estava prometida. Nos dias seguintes, eles descobriram que o noivo era um jovem nobre de uma família influente, mas com algumas manchas ocultas em seu histórico. Apesar da aparência de perfeição que sua família projetava, rumores de envolvimento em práticas ilegais e disputas internas começavam a emergir.
Enquanto avançavam com a investigação, Jesse percebeu o quanto isso estava pesando em Lyra. Ela tentava manter sua atitude usual, mas as noites sem dormir e a pressão de sua família estavam começando a deixá-la visivelmente exausta.
Uma noite, enquanto eles se reuniam na biblioteca para discutir as últimas descobertas, Lyra finalmente desabou. "Jesse... eu não sei se vou conseguir lidar com isso. Eu sempre soube que minha família esperava muito de mim, mas isso... é demais."
Jesse se aproximou dela, colocando a mão em seu ombro. "Você não está sozinha, Lyra. Nós vamos passar por isso juntos, e eu prometo que vou te ajudar a encontrar uma saída."
Ela sorriu, embora fosse um sorriso cansado. "Obrigada, Jesse. Eu realmente não sei o que faria sem você."
Com o tempo, enquanto a investigação avançava e novas alianças se formavam na Academia, Jesse e Lyra começaram a perceber que a solução talvez não fosse apenas expor os segredos do noivo, mas também enfrentar diretamente as expectativas da família de Lyra.
A jornada de ambos para impedir o casamento arranjado se tornou mais uma prova de que, juntos, eles eram capazes de enfrentar qualquer obstáculo – seja ele um enigma ancestral ou as pressões de uma família nobre.
E Jesse, embora relutante, sabia que as respostas para tudo o que buscava – sobre seu poder, as Ruínas, e seu próprio destino – estavam cada vez mais perto de serem reveladas.
Enquanto Jesse e Lyra continuavam a investigar o noivo e sua família, uma antiga solução começou a tomar forma na mente de Jesse: o duelo de honra. Era uma lei arcaica, esquecida pela maioria, mas ainda tecnicamente válida entre as famílias nobres. Ela permitia que qualquer parte envolvida em uma disputa pudesse desafiar o outro lado em um duelo, com o vencedor decidindo o destino da questão em disputa.
Jesse não mencionou a ideia de imediato. Ele sabia que, apesar de ser uma solução, o desafio seria enorme. A família de Lyra era poderosa, e o noivo dela, conhecido como Kieran, tinha fama de ser um lutador habilidoso, além de ter vastos recursos e apoiadores.
Depois de algumas noites ponderando sobre o assunto, Jesse decidiu contar a Lyra. Eles estavam na biblioteca novamente, revendo as informações que haviam conseguido reunir sobre Kieran.
"Lyra, eu tenho pensado em uma maneira de resolver isso," Jesse começou, seu tom sério chamando a atenção dela.
Lyra olhou para ele, seus olhos cansados, mas curiosos. "O que você tem em mente?"
"Existe uma antiga lei de duelo," Jesse explicou. "Ela ainda está em vigor entre as famílias nobres. Se eu desafiar Kieran e vencer, você não será obrigada a se casar com ele. Podemos colocar um fim a isso sem manchar a reputação da sua família."
Lyra ficou em silêncio por um momento, absorvendo a informação. "Um duelo? Jesse, você sabe o quão perigoso isso seria? Kieran não é apenas habilidoso, ele tem o apoio de sua família inteira. Eles vão fazer de tudo para garantir que ele vença."
"Eu sei," Jesse respondeu calmamente. "Mas também sei que você merece uma chance de decidir seu próprio destino. Não vou deixar que ele te controle, ou que sua família te use como uma peça de negociação."
Lyra respirou fundo, lutando contra a mistura de medo e esperança que sentia. "Eu não quero que você se machuque por minha causa, Jesse."
"Eu sei o que estou fazendo," ele disse com um sorriso confiante. "E além disso, você me ajudou tantas vezes. Agora é minha vez de fazer o mesmo por você."
Lyra hesitou, mas finalmente assentiu. "Se for essa a única maneira... então eu confio em você."
Com a decisão tomada, Jesse sabia que precisava se preparar. A Academia oferecia oportunidades de treinamento, e ele começaria a treinar ainda mais intensamente. Sabia que cada minuto seria crucial para enfrentar Kieran, e talvez sua maior preocupação não fosse a habilidade de Kieran com uma espada, mas o fato de que a família dele faria de tudo para garantir que o duelo fosse a favor do noivo.
Jesse também tinha que manter seu plano em segredo. A última coisa que ele queria era que a família de Lyra soubesse do desafio antes de estar pronto. Nos dias que se seguiram, ele começou a praticar com Callen e outros amigos da Academia, usando cada oportunidade para aprimorar suas habilidades em combate.
Ao mesmo tempo, Lyra lidava com a crescente pressão da sua família. As preparações para o casamento estavam em andamento, e os sussurros de alianças políticas e expectativas apenas aumentavam seu desconforto. Ela sabia que não poderia falar sobre o duelo com ninguém, e isso a deixava ansiosa.
Enquanto isso, Jesse se tornava cada vez mais determinado. O duelo não seria apenas uma luta pela liberdade de Lyra, mas também uma prova para si mesmo. Ele não sabia o que os Deuses realmente queriam ou como impedir o seu despertar, mas, naquele momento, sua missão era clara: proteger sua amiga e ajudá-la a escapar de um destino que ela não escolheu.
O momento do desafio estava se aproximando, e Jesse sabia que não havia volta.
Jesse partiu para o norte com o objetivo de treinar intensamente, preparando-se para o duelo que iria decidir o destino de Lyra. Ele planejava ficar apenas algumas semanas, tempo suficiente para aprimorar suas habilidades em combate e, quem sabe, dominar algo mais poderoso para enfrentar Kieran. No entanto, o norte revelou ser um lugar implacável e misterioso.
As terras geladas do norte não eram apenas desafiadoras por suas condições extremas, mas também por causa das antigas lendas que cercavam a região. Diziam que poucos magos ousavam se aventurar ali devido às forças ocultas que dominavam o gelo, forças que pareciam responder apenas àqueles com uma conexão verdadeira com o frio — e Jesse, com seu talento para a magia de gelo, encontrou-se em sintonia com aquelas energias. Cada dia de treinamento o levava a descobrir novas facetas de sua magia, mas, ao mesmo tempo, ele sentia que o tempo estava escapando de suas mãos.
As semanas se transformaram em dois meses. O isolamento, as duras condições e o treinamento extremo o empurraram a seus limites. Mesmo que quisesse voltar antes, ele sabia que não estava pronto. Somente depois de um tempo considerável, quando finalmente conseguiu controlar o poder do gelo de uma forma mais refinada, Jesse soube que estava preparado para enfrentar Kieran. Mas o tempo havia passado rápido demais.
Ao retornar para a Academia, com o corpo cansado, mas a mente mais afiada do que nunca, Jesse chegou bem no dia do casamento. O ar estava pesado com expectativa. As festividades já estavam em andamento, e a cidade estava repleta de membros da nobreza. A cerimônia estava prestes a começar, e Lyra estava à beira de perder todas as esperanças. Ela estava vestida com um esplêndido vestido de casamento, seu rosto uma máscara de resignação, e seu olhar vazio, como se tivesse aceitado o destino que sua família havia imposto.
Quando Jesse chegou às portas da capela, sujo, cansado e envolto em um manto cinza, o choque de sua presença foi imediato. Murmúrios surgiram entre os convidados, e até mesmo os guardas hesitaram por um momento ao ver o jovem mago que todos haviam dado como desaparecido.
Lyra, que estava no altar ao lado de Kieran, notou o tumulto e, ao olhar para trás, seus olhos se arregalaram ao ver Jesse. Seu coração bateu forte, e uma chama de esperança que ela acreditava estar extinta reacendeu.
Jesse avançou até o altar, ignorando os olhares surpresos e as murmurações ao seu redor. Quando finalmente chegou diante de Kieran e da família de Lyra, ele se virou para todos e, com uma voz firme, anunciou: "Eu, Jesse das Ruínas, reivindico o direito de um duelo de honra pelo destino de Lyra."
O salão ficou em silêncio absoluto. Os olhos de Kieran se estreitaram, e a família de Lyra olhou para ele com incredulidade. "Você está louco," Kieran rosnou, dando um passo à frente. "Você some por dois meses e acha que pode simplesmente aparecer no dia do meu casamento e exigir um duelo?"
Jesse manteve sua postura, seus olhos fixos em Kieran. "Eu sei o que estou fazendo. Você sabe tão bem quanto eu que a lei do duelo de honra ainda está em vigor. Se você recusar, será visto como um covarde aos olhos da nobreza."
Kieran riu com desdém, mas sabia que Jesse tinha razão. Sua família, no entanto, não estava disposta a perder a aliança política tão facilmente. "Ele está certo," um dos membros da família de Kieran disse, sua voz amarga. "Se você recusar, arrisca nossa honra."
Lyra olhava para Jesse, ainda incrédula de que ele havia realmente voltado. Ela quase não conseguia acreditar no que estava vendo e ouvindo, mas no fundo, sabia que Jesse sempre encontrava uma maneira de surpreendê-la.
Kieran, com um sorriso confiante, finalmente assentiu. "Muito bem, então. Se você quer tanto perder sua vida, assim será. Eu aceito o duelo."
Jesse não mostrou medo. O treino no norte havia feito dele alguém muito mais forte, tanto fisicamente quanto mentalmente. Ele sabia que esse seria o maior desafio que já enfrentara, mas estava pronto. Mais do que qualquer coisa, ele estava pronto para salvar Lyra, custe o que custar.
O duelo seria ao amanhecer, e os preparativos começaram imediatamente.