O Amanhã é construído hoje. Permita-se reinventar a sua realidade.
(O Pensador)
Sem me dar conta de onde estávamos me pego observando Ana, aqueles cabelos Loiros acinzentados com leves fios prateados, para mim a beleza da mulher está na sua natureza, sem forçá-la a mudar, odiava mulheres artificiais que só agradam aos olhos. Mas aqueles olhos verdes contornados de pretos, dando ainda mais calor a eles, seus ombros desnudos pelo vestido azul, seu perfume, se não me controlasse a tomaria nos braços ali mesmo.
Maria comentou que ela viaja sozinha, não veio com ninguém, disse que na sua caminhonete há muitas caixas como se fosse uma mudança. Disse que não falou muito ao chegar, que só que estava de passagem, com destino ao litoral onde iria buscar trabalho e refazer a sua vida. Mas, por que refazer a vida? Essa pergunta martelou na minha cabeça.
Vi no fundo do seu olhar uma dor, que se assemelhava a minha, a dor da perda. Mas, vi também um fogo, um desejo carnal, e esse desejo me deixou sem jantar, pois não consegui ficar à mesa, junto dos demais, ainda mais que ela estava visivelmente excitada. Eu poderia sentir seu cheiro a quilômetros, então para que meu lobo a minha fera interior não assumisse o controle da situação, precisei ficar distante, falando ao telefone e adiantando alguns trabalhos e acompanhando de longe a movimentação na mesa.
Vendo que Giovana, não estava conseguindo persuadi-la foi então que mandei uma mensagem a Marcia, solicitando para finalizar a situação.
Tinha algo naquela mulher que eu queria e muito, talvez tê-la por uma noite, seria o suficiente? Não sei, o que sabia naquele exato momento era que precisaria tê-la.
Desde que perdi Amanda minha esposa, nunca mais tinha deixado alguém mexer com meus sentimentos, meus sentidos estavam aflorados. Bernardo, aquele desgraçado, tinha razão, o Lobo acordou.
Quando todos nos despedimos para voltar ao Vale, Bernardo chegou ao meu lado com um tom de voz sacana na voz, e comentou:
- Vai conseguir dormir, meu amigo? Eu senti de longe a excitação da mulher, acho que seu lobo também sentiu. Vai assumir também e marcar território? Falou rindo.
- Filho da puta. Bufei - Lembra quando você viu a Giovana a primeira vez, na estrada com o carro quebrado, tentando descer a serra, você praticamente a comeu no primeiro momento.
Com um riso debochado, Bernardo acrescenta:
- Mas tem uma diferença, eu nunca tinha vivido essa emoção, estava experimentando pela primeira vez, mas você que já tinha adormecido seu lobo, hein meu Alfa, como será?
Não saberia se conseguiria ir, a minha vontade era ir até o seu chalé e a tomar nos meus braços e não a soltar.
Mas esse sentimento é de companheiros, eu já tive a minha, pelo menos era o que eu acreditava, Amanda fosse a minha companheira. Quando ela morreu a oito anos, num grave acidente, após uma convivência de dezoito anos incríveis, não tive o abatimento esperado, muitas vezes o lobo perde a vontade de viver, todos em nossa comunidade esperavam o meu isolamento, que eu seria consumido pela depressão e tristeza. Mas a dor da perda precoce da Amanda me deu forças, para lutar e zelas por todos da nossa alcateia.
Agora, aquela mulher ali, com aqueles olhos verdes e aquele perfume de flor de laranjeira que ela exalava, não sai do meu olfato. As sensações são muito diferentes, do que senti pela Amanda e o que estou sentindo pela forasteira, sempre me ensinaram que o lobo tem apenas uma companheira, a vida toda.
Dei partida no carro, mas não consegui sair do lugar, desligo o motor, saiu do carro e deixou o meu lobo assumir. Deveria correr um pouco, mesmo sabendo aonde meu lobo iria, mas o homem também deseja ir, precisava sentir, mas de perto aquela mulher.
Quando meu lobo chegou próximo ao chalé, a cachorra de Ana estava na pequena varanda, sentiu o cheiro do lobo e começou a latir. Eu sabia que teria de voltar à forma humana, pois meu lobo era irracional, poderia atacar o belo animal. Fiquei ali no escuro entre as árvores, nu, sentindo minha masculinidade pulsar de tesão por aquela mulher.
Ana abre as portas, fala com a cachorra, até chama sua atenção e olha com desconfiança em minha direção. Tive de reunir todas as minhas forças para segurar o meu lobo, até porque ela não sabia sobre nós. Era alguém que estava de passagem e seria bem provável que jamais entenderia, pois, nossa raça era coisa de cinema, filmes de terror.
Então Ana resolve recolher seu cão e nesse momento a afaga e a beija. Eu sinto como ela é especial em relação ao cão. Será que haveria uma chance de nos aceitar? Afinal nós tínhamos muitos humanos que moravam no vale e nos aceitavam, como família, como companheiros.
Mas precisava falar com os mais velhos, porque até onde eu saberia, não teria mais uma companheira, pois já tive essa ligação com alguém no passado.
Para a minha surpresa, Ana abre a porta do chalé novamente e caminha de um lado a outro da pequena varanda. Reparo na agitação daquela mulher, bem como sinto sua excitação, não acredito quando percebo o que ela estava fazendo. A mulher estava se masturbando em plena noite, do lado de fora do seu chalé. Aqueles sons que ela fazia, aquele perfume que vinha dela, foi absorvido por minhas narinas.
E não consegui me conter. Fui até ela, bem devagar, nu, pois minhas roupas jaziam onde me transformei, meu pau estava ereto de tesão. Eu só a queria, só por aquele momento, meu lado lobo a desejava e o lado humano também, fui chegando perto, observando cada gemido e odor vindo dela, e em cada momento a excitação crescendo dentro de mim, ela poderia se assustar, gritar. Não era certo o que eu estava fazendo, mas meu lobo deseja essa mulher, como há tempos, ele não aparecia para reclamar uma fêmea.
Assim, como era possível desejar alguém dessa forma? Eu nunca tive esperança de ter alguém novamente ao meu lado, sabia que minha companheira há muito tinha me deixado, mas nesse momento eu me permitiria a essa entregar, por apenas essa noite.
Mas precisaria falar com os mais velhos, porque até onde eu sabia, o que senti por Ana, eram sentimentos de companheiros, e eu já vivi isso no passado, não sabia que era possível viver essa sensação novamente.