A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão. (Mario Quintana)
Após desligar o telefone quando falei com Raquel, lembrei do homem que vi de longe encostado no balcão do restaurante com Maria, me arrependi de não ter ido mais perto, ver como eram suas feições. Ele parecia ser um belo homem, pensei comigo "poderia ficar mais alguns dias se aquele homem bonito estivesse se hospedando por aqui na pousada". Fiquei um tanto supressa com meus próprios pensamentos e ri sozinha.
Olhando minha imagem no espelho penso comigo: "Acho que deixei você com ciúmes amor". Simplesmente sorrio e saio.
Chegam a porta do meu chalé Luiz e Ana Maria.
- Meu Deus! Exclama Luiz. – Não é a mesma senhorita que estava conosco todos esses dias.
Apenas dou um sorriso e brinco:
- Hoje a deixei dormindo, e vou em seu lugar. - Dou uma piscadela divertida.
Chegamos ao restaurante e Maria nos espera na frente. As portas estão encostadas e ela nos conduz até onde estão os demais presentes, deixando-nos completamente à vontade.
Ao observar melhor o ambiente, vi que havia outras pessoas que não conhecia ali sentadas. Provavelmente eram os membros da cooperativa que minha fada madrinha irá me apresentar.
A mesa de jantar, estava posta em estilo jantares de família italiana, enorme e farta.
Luiz sentou-se à ponta da mesa com Ana, sua esposa, à sua direita. Sentei-me ao dado da minha nova amiga Ana Maria. Ao meu lado estava uma linda mulher ruiva, com seus sessenta anos e me olhava com certa curiosidade. A cadeira a minha frente estava vazia. Ao lado desta, sentava-se uma mulher loira muito bonita, aparentemente uns trinta anos, no inicio da gravidez e um belo homem ao seu lado, segurando sua mão quase que o tempo todo.
Foi nesse momento acho, que alguém chamou a minha atenção. Aquele homem que vi de longe à tarde, parou a frente da cadeira desocupada puxando-a e sentando de frente comigo. Não consegui tirar os olhos dele, deveria estar na casa dos quarenta a quarenta e cinco anos, cabelos negros lisos, compridos na altura dos ombros, barba bem-feita. Seu corpo era perfeito, era o tipo de homem extremamente atraente naquele jeans escuro e a camisa preta de botões abertos na altura do peito, mostrava partes de uma pele morena, as mangas da camisa estavam dobradas até a altura dos cotovelos, que deixava a mostras parcialmente as tatuagens do braço direito.
Fiquei hipnotizadas por aquele olhar negro, e nem percebi quando Maria nos apresentávamos.
- Ana... Esse é o Ulisses... - Seu olhar era tão penetrante que me senti despida quando seus olhos pousaram no colo dos meus seios, minha respiração ficou pesada, sentindo-me tensa, só com aquele olhar, imagine se ele me tocasse.
Para quebrar o clima tenso, a linda mulher ao meu lado, se apresenta me estendendo a sua mão:
- Muito prazer, sou a Giovana. Você é a forasteira, que não quis descer a serra. Maria nos falou sobre você. - Falando isso, sorriu de uma forma gentil e acolhedora.
Aquelas palavras me trazem de volta à realidade. Olhei seu sorriso era gentil e agradável, seus olhos eram azuis, cabelos loiros e uma pele muito branca, parecia um floco de neve, mas respondi no mesmo tom descontraído.
- Muito prazer, sou Ana, forasteira não sei, me considero turista. Sorri de maneira gentil e simpática, dei um longo suspiro e acrescentei. – Infelizmente amanhã devo descer a serra, já estão à minha espera, deveria ter chegado há dez dias atrás.
Nesse instante o homem a minha frente me pergunta de forma brusca:
- Alguém está a sua espera?
Para o meu espanto, gostei daquela voz, pensei que pessoa intrometida, mas meus olhos encontram os de Giovana e seu esposo Bernardo e ambos riram alto. Então Bernardo acrescenta com um ar de deboche:
- Namorado, marido talvez?
Falando isso, encara o belo homem a minha frente que está estranhamente desconfortável com a minha presença. Tenho a impressão que ele constantemente tenta inalar o meu cheiro.
Apenas sorrio e não respondo diretamente à pergunta, porém acrescento:
- Tenho negócios no litoral e já deveria estar lá, mas como mudei a rota do caminho, acabei encontrando esse lugar. Como fazia muito tempo que não tirava férias, acabei ficando, mas agora, - suspiro novamente e acrescento: – Não posso mais adiar.
Giovana, não se dá por satisfeita e me pergunta:
- Maria nos disse que você não gosta muito de falar da sua vida pessoal, mas nos disse que é uma profissional no ramo de Gestão Financeira e Contabilidade.
- Trabalho com gestão financeira e com desenvolvimento de lojas virtuais, faço toda a assessoria financeira e contábil para pequenas empresas, estou indo me estabelecer em São Francisco, pois há uma gama no mercado local e tenho um amigo que necessita de um sócio.
Novamente, aqueles olhos escuros me encaram:
- Um Amigo?
Observo que os demais e tenho a impressão que estão achando engraçado aquele homem, esculpido pelos deuses, me olhar como se fosse a última mulher da terra. E novamente tenho a impressão que ele está cheirando o ar.
Então olho nos fundos dos seus olhos sem desviar o olhar, sinto um calor em meu corpo que estava adormecido a um bom tempo, e digo:
- Um bom amigo.
Vejo que ele aperta o talher em sua mão, para não quebrar a taça que estava na outra mão.
Novamente Giovana questiona sobre o meu lado profissional.
- Ana, somos membros de uma cooperativa local. Eu mesma tenho uma empresa no vale que trabalha com geleias e doces sustentáveis, além de segmentos que trabalham com os produtos da linha de beleza veganos e sustentáveis e claro, nosso carro chefe, a nossa água mineral. Porém não temos e-commerce, e nem nenhum tipo de assessoria financeira para expandir nossos mercados. Acredito que com o auxílio da pessoa certa, podemos crescer com a distribuição dos nossos produtos. O que você acha de se estabelecer no Vale por uns tempos?
Não dando tempo para que eu responda, ela ainda comenta:
- Você está de mudança, não está? Maria nos contou e para nós é muito difícil um profissional querer ficar em uma pequena vila.
Nesse instante, o homem à minha frente me olha de uma forma intensa, não consigo dar minha resposta, pois Maria chega com os pratos e começa a colocar a comida sobre a mesa.
Aproveito a descontração de todos com os pratos, onde deixo de ser o centro das atenções para olhar aquele homem esculpido pelos deuses e um pensamento me vem à cabeça: "se ele for o chefe da Cooperativa, trabalho de graça". Observo suas mãos fortes, seu peito a mostras pelos botões abertos da camisa preta de mangas compridas e dobradas acima do cotovelo, deixando à mostra uma tatuagem tribal no seu braço direito, olho sua boca, carnuda e contornada pela barba bem-feita. Não teria como não me imaginar beijando aquela boca, ou aquelas mãos me tocando, segurando ou explorando o meu corpo. De repente sinto um desejo adormecido invadindo o meu ser, me sinto totalmente excitada, ficando umedecida pelo desejo de ser possuída por aquele homem.
"Merda molhei a droga da calcinha".
Penso comigo que ele poderia me possuir ali mesmo, naquele momento sobre a mesa de jantar. Então para a minha surpresa, meus olhos encontram os deles e poderia jurar que ele tinha lido os meus pensamentos e mostrou certa excitação. Meio brusco quase derruba a taça de vinho, pede licença e vai ao banheiro. Fico ruborizada, pois também me senti excitada com o tesão que vi em seus olhos.
Ao olhar para o lado, vejo Bernardo sorrindo, pois ele havia percebido a minha excitação e o meu desejo por Ulisses, então rindo da situação acrescenta:
- O Lobo despertou.
E todos riem, menos eu, que não entendi o comentário e mesmo assim estava muito constrangida por alguém perceber o desejo do meu corpo há muito não tocado.
Ulisses demorou a voltar, pois atendeu o telefone e ficou quase todo o jantar do lado de fora, falando sem parar.
No mais o jantar foi agradável, rimos muito e todos estavam sendo gentis. Percebi que estavam tentando me deixar à vontade, menos Ulisses que ficou mais ao longe, com sua taça de vinho e mexendo a todo o momento no celular.
Ao final do jantar, nosso ritmo na conversa soava como se todos fôssemos velhos amigos, com brincadeira e risos, talvez um pouco com a ajuda do vinho, já que a noite estava agradável para a bebida.
Era hora da despedida, pois desejava sair cedo, nem o café tomaria, já havia acertado as diárias com Maria. Foi nessa hora que a mulher de cabelos ruivos, Marcia, que estava um pouco distante de mim o jantar inteiro, como um mero expectador, olhou para Giovana num tom firme e me encarou, dizendo:
- Ana, não vá amanhã para o litoral. Desça conhecer a vila, nossa cooperativa e venha ouvir nossa proposta.
Aquela fala me pegou desprevenida, fiquei confusa, pois o jantar inteiro ela não me deu atenção. Sua conversa era evasiva e aleatória. Era como se ela não estivesse presente de espírito na sala, e constantemente respondia mensagens no celular, sem dar atenção aos demais.
Giovana, sendo muito amável, me olha com uma expressão calorosa no olhar:
- Fique, por favor, você foi a pessoa certa na hora exata. Ao falar assim ela ri.
Bernardo por sua vez complementa:
- Minha mulher é muito verdadeira, Ana, e quando gosta de alguém, ela gosta. – Giovana lhe retribui o sorriso,
Enfim, vencida, pergunto:
- Como faço para chegar no Vale? E se puderem me fornecer o telefone do hotel ou pousada, já gostaria de reservar um quarto.
Nesse instante, Marcia, me olhou e falou.
- Nossa pousada está passando por reformas, mas há um loft, sobre a minha garagem, totalmente independente da minha casa, eu alugo sempre para turista, você ficará à vontade lá, até porque você tem espaços para os seus cães. Fica definido assim. Falou firme como uma ordem.
Já percebo que ela era a mulher da palavra final e concordo com sua colocação.