Angélica podia ver os rostos invejosos de suas amigas enquanto era escoltada para fora da festa com o Rei. Hilde parecia querer lutar com ela. Seus olhos ardiam com raiva e ódio. Angélica se tornou certa de que suas amigas agora a excluiriam ainda mais do círculo de amizades. Elas já estavam com ciúmes de sua habilidade de atrair homens, mas como ela não estava interessada em casamento, elas não estavam preocupadas. Agora certamente estariam.
Mas Angélica tinha outras coisas com que se preocupar além de suas amigas invejosas. Coisas como, por que o rei queria estar com ela em particular? O que ele faria? Como ela poderia escapar? Ou o que ela deveria dizer ou fazer para fazê-lo perder interesse por ela?
Sua mente inundou com muitas ideias enquanto eles caminhavam pelos grandes salões do castelo. Ela caminhava ao lado do Rei e dois dos seis homens que estavam próximos a ele andavam atrás deles. Um deles era o homem com cicatrizes.
Angélica podia sentir suas auras sombrias a cercando. Seu cérebro estava enviando sinais de alerta, como se ela estivesse caminhando em direção ao fogo. Ela não entendia por quê, mas algo sobre eles gritava perigo.
—"Você não precisa ter medo, Angélica," o Rei falou.
Como ele sabia que ela estava com medo?
—"Tudo que eu quero é ter uma conversa com você," ele garantiu.
Sua voz era tão suave e tranquilizadora que ela quase acreditou nele.
Eles entraram no que parecia ser o salão. Era uma sala grande com grandes lustres pendurados no teto. Vários quadros decoravam as paredes e um tapete grosso cobria o chão. No centro, havia uma mesa retangular cercada por dois sofás e dois divãs. Cada um do lado oposto.
—"Sente-se," o Rei gesticulou para que sentasse em um sofá.
Angélica fez como ela foi instruída e o Rei sentou-se em um divã à esquerda dela. Ela pensou que eles ficariam sozinhos, mas os outros dois homens juntaram-se a eles. Eles sentaram na outra extremidade da mesa.
O olhar de Angélica caiu acidentalmente sobre o homem sentado bem à sua frente, e ela quase congelou de horror. De perto, seu rosto parecia ainda mais horroroso. O lado direito de seu rosto estava completamente danificado. Alguns lugares não tinham pele e ela podia ver a carne crua.
As cicatrizes pareciam profundas, e Angélica se perguntou se elas alcançavam sua boca. Mas mais que seu rosto cicatrizado, seus olhos escuros a assustaram ao encontrar seu olhar. Olhos que a desafiavam a continuar olhando para ele. Ele sabia que ela havia ficado repelida por seu rosto, mas ela não conseguia controlar. Ela não tinha a intenção de ofendê-lo.
Angélica tentou sorrir para ele, mas seus lábios recusaram-se a mover. Nem ela conseguia desviar o olhar. Ele segurou seu olhar com o dele.
—"Angélica."
—"Sim." Angélica chamou, sobressaltada. A voz do Rei a tirou dos olhos escuros do homem com cicatrizes e ela virou-se para ele. "Vossa Majestade." Ela acrescentou rapidamente.
Ele sorriu para ela. "Este é Lorde Rayven." Ele apresentou o homem com cicatrizes. "E esse é Lorde Quintus." Ele gesticulou em direção ao que estava sentado ao lado dele.
Angélica evitou olhar para Lorde Rayven e foi direto para olhar o homem sentado ao lado dele. Lorde Quintus era tão belo quanto o Rei, mas Angélica não olhou para ele por muito tempo. Ela ainda estava abalada pelo olhar do homem cicatrizado, e ela ainda podia sentir seus olhos nela.
—"Ambos solteiros," o Rei acrescentou.
Angélica sorriu, sentindo-se desconfortável. Ele estava tentando arrumar um parceiro para ela? Ela pensou que ele estava interessado nela.
—"Por que uma jovem bela como você ainda não se casou?" ele perguntou então.
Angélica não sabia como responder. "Eu tendo a afastar os homens." Ela respondeu então. Ela faria ele perder o interesse por ela, assim como fez com muitos outros homens.
O Rei inclinou a cabeça para o lado e a estudou curiosamente. "Como assim?" ele perguntou.
Era hora de usar suas cartas. "Homens não gostam de mulheres de pensamento livre, educadas, com ambições e sonhos." Angélica respondeu. "Eu li mais de trezentos livros sobre mais de uma centena de assuntos diferentes. Meu sonho é abrir uma escola para jovens meninas e ensinar a elas como escrever e ler, Vossa Majestade," ela disse.
Ela esperava que isso fosse suficiente para assustá-lo.
O Rei recostou-se em seu divã com um sorriso divertido. "Interessante," ele disse, depois virou-se para os outros dois homens na sala.
O coração de Angélica deu um salto. Ela podia sentir o olhar sombrio do homem cicatrizado nela novamente, mas ela não ousou olhar para ele. Ela não queria fazer nada que o ofendesse novamente. Ela já se sentia mal pela forma como reagiu antes.
—"Então você está procurando um homem que a deixe seguir seus sonhos?" o Rei perguntou.
—"Eu estou procurando um homem que me trate como sua igual, Vossa Majestade," ela disse, sabendo que essa frase incomodava os homens.
Mas não o Rei. Ele parecia estar ainda mais intrigado por ela.
—"E o que você fará se você não encontrar tal homem?"
Angélica sabia que ela não poderia viver sozinha neste mundo onde mulheres não tinham voz. Seu pai poderia morrer em batalha a qualquer momento, e então ela ficaria sozinha com seu irmão mais novo. A vida se tornaria muito difícil sem um homem ao seu lado.
—"Eu sou otimista, Vossa Majestade," ela respondeu com um sorriso.
O Rei assentiu pensativo. Por algum motivo, ela sentiu que ele gostava dela e não do jeito que um homem gosta de uma mulher.
—"Ela seria uma boa Rainha," Lorde Quintus falou, que tinha estado em silêncio todo o tempo.
Não! Isso não era o que ela esperava que acontecesse.
O Rei riu. "Ela não é a escolhida."
A escolhida?
Ele estava procurando alguém específico?
—"Mas ela é algo," ele acrescentou, virando-se para ela.
Por algum motivo estranho Angélica pensou que seus olhos azuis gelados estavam brilhando. E então ele se inclinou para perto dela, aprisionando-a com seus olhos. "Diga-me, Angélica. O que você é?" ele perguntou.