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Chapter 20 - O Crepúsculo dos Deuses

O grupo avançava em silêncio pelas terras desoladas do leste de Elysium, um lugar onde o tempo parecia ter parado. O vento soprava como um sussurro sombrio, carregando com ele segredos antigos e promessas de destinos terríveis. As árvores, retorcidas e mortas, se erguiam como sentinelas silenciosas, observando os heróis enquanto se aproximavam do lugar indicado no misterioso pergaminho.

Após dias de viagem, chegaram a um vale oculto, envolto em neblina espessa. No centro do vale, uma montanha negra se erguia, sua superfície irregular como se tivesse sido esculpida por forças antigas. No topo da montanha, uma construção monolítica se destacava — um templo antigo, esquecido pelo tempo, mas pulsando com uma energia inquietante.

"Este é o lugar," disse Elara, com a voz carregada de gravidade. "Sinto que algo nos espera lá dentro, algo que está além de tudo o que já enfrentamos."

"Então vamos acabar logo com isso," respondeu Aldric, firme, sua mão repousando sobre a espada. "Se há algo que devemos enfrentar, que seja agora."

O grupo subiu a montanha em silêncio, cada passo um desafio contra a pressão esmagadora que emanava do templo. Quando finalmente alcançaram a entrada, foram recebidos por um portal imponente, adornado com símbolos e runas que brilhavam com uma luz pálida e fantasmagórica. Kaelion examinou as runas, sua expressão de preocupação aumentando a cada segundo.

"Essas runas... são de uma língua perdida há milênios. Este lugar foi construído pelos primeiros seres a caminhar em Elysium, aqueles que moldaram o mundo antes mesmo das nações se erguerem," explicou ele. "E estas inscrições falam de um poder que não deveria ser perturbado."

Elara se adiantou, sabendo que não havia retorno. "Não temos escolha. Vamos entrar."

Ao passarem pelo portal, o grupo foi envolvido por uma escuridão densa, interrompida apenas pela luz das tochas que carregavam. O interior do templo era vasto e alienígena, suas paredes cobertas por inscrições que contavam histórias de deuses antigos e guerras cósmicas. Mas algo mais chamou sua atenção: um altar no centro do salão, onde uma figura encapuzada aguardava.

A figura levantou o capuz, revelando um rosto que parecia ao mesmo tempo humano e etéreo, uma mistura de traços que não pertenciam a este mundo. Seus olhos brilhavam com um conhecimento antigo e um poder que era ao mesmo tempo fascinante e aterrorizante.

"Finalmente, vocês chegaram," disse a figura com uma voz que ecoava pelas paredes do templo. "Eu sou o Arauto do Crepúsculo, o guardião deste templo e dos segredos dos antigos deuses. Vocês são corajosos, mas também imprudentes. Ao entrarem aqui, selaram seus destinos."

"Quem é você realmente?" perguntou Elara, tentando manter a calma diante da presença intimidante. "E o que quer de nós?"

O Arauto sorriu, um gesto que não trazia conforto. "Eu sou o último remanescente dos antigos, aqueles que criaram Elysium. Fui deixado aqui para proteger este lugar, para garantir que o poder dos deuses não fosse reclamado pelos mortais. Mas agora, vejo que a escuridão que vocês enfrentaram foi apenas um prelúdio. O verdadeiro mal se aproxima, e vocês não podem detê-lo."

Kaelion avançou, encarando o Arauto. "O que significa tudo isso? Que poder é esse que tanto teme?"

O Arauto ergueu as mãos, e ao fazer isso, o templo começou a tremer. "O poder dos deuses. Eles estão adormecidos há eras, mas o véu que os separa de nosso mundo está se rompendo. Se eles despertarem completamente, trarão consigo o fim de Elysium."

"Então precisamos impedir isso!" exclamou Aldric, desembainhando sua espada.

O Arauto olhou para Aldric com uma mistura de pena e respeito. "Vocês, mortais, sempre tão determinados a lutar contra o inevitável. Mas não é tão simples. O poder que vocês enfrentam é absoluto, e eu... eu fui encarregado de garantir que ninguém interfira."

Com um movimento súbito, o Arauto convocou uma energia negra que tomou forma ao seu redor, criando uma aura de poder imenso. Elara sentiu o Véu de Arannis, mesmo em sua forma destruída, reagir a essa presença, como se reconhecesse o poder divino.

A batalha foi instantânea e brutal. O Arauto, apesar de sua aparência frágil, era uma força a ser reconhecida. Kaelion lançou feitiços de proteção, tentando manter a energia do Arauto à distância, enquanto Aldric e Miriel atacavam com precisão. Rashid, sempre ágil, tentava encontrar uma brecha, mas o Arauto antecipava cada movimento com uma facilidade assustadora.

Elara, no entanto, percebeu algo. Enquanto o Arauto lutava, sua conexão com o templo e o poder dos deuses parecia vacilar, como se parte dele estivesse presa a um dever que ele não queria cumprir.

"Vocês não entendem!" gritou o Arauto, sua voz ecoando como um trovão. "Eu não desejo a destruição de Elysium, mas estou preso a este dever. Se falhar, os deuses irão despertar, e nada poderá pará-los."

Foi então que Elara compreendeu. O Arauto não era o verdadeiro inimigo; ele era um guardião relutante, preso entre seu dever e a destruição iminente. Ela se aproximou, tentando alcançar a parte humana que ainda residia nele.

"Arauto, você não precisa fazer isso," disse Elara, sua voz suave, mas firme. "Ajude-nos a impedir que esse poder seja liberado. Juntos, podemos encontrar uma maneira de selar os deuses sem destruir Elysium."

O Arauto hesitou, a energia ao seu redor oscilando. "Eu... eu fui criado para proteger este lugar. Mas se o véu cair, tudo será perdido. Eu não posso permitir que isso aconteça."

"Então lute ao nosso lado," disse Kaelion, se juntando a Elara. "Há sempre uma escolha."

Por um momento, o Arauto baixou suas defesas, permitindo que Elara se aproximasse. Ela estendeu a mão, tocando levemente o braço dele, sentindo a tensão e o conflito internos.

"Eu... posso tentar," disse o Arauto, sua voz vacilando. "Mas se falharmos, todos nós seremos consumidos."

A luz no templo começou a pulsar mais intensamente, e o chão sob seus pés começou a rachar, revelando uma escuridão sem fim abaixo. O Arauto, com esforço evidente, começou a canalizar sua energia para selar as rachaduras, concentrando-se com uma intensidade desesperada.

O grupo se juntou a ele, canalizando sua própria força e energia para apoiar o Arauto. Aldric segurava sua espada com firmeza, Kaelion murmurava encantamentos de poder, Miriel mantinha seus olhos fixos na escuridão crescente, e Rashid, com uma determinação silenciosa, segurava uma das mãos do Arauto, oferecendo-lhe a força necessária para continuar.

A batalha era interna e externa, uma luta contra as forças divinas que tentavam romper o véu. O templo tremia, e o ar estava carregado de eletricidade e magia antiga.

Finalmente, com um grito de esforço extremo, o Arauto conseguiu canalizar toda a energia remanescente para fechar as rachaduras. A escuridão começou a recuar, puxada de volta para o abismo. O templo estremeceu violentamente uma última vez antes de finalmente se aquietar.

O Arauto caiu de joelhos, exausto, mas aliviado. "Conseguimos... por enquanto. Mas o véu permanece frágil. Precisamos encontrar uma maneira de reforçá-lo, ou este será apenas um adiamento do inevitável."

Elara se ajoelhou ao lado dele, colocando uma mão em seu ombro. "Faremos isso juntos. Vamos encontrar uma maneira de proteger Elysium, sem a necessidade de mais sacrifícios."

O Arauto olhou para ela com gratidão, mas também com cansaço. "Eu tenho fé em vocês. Mas lembrem-se, os deuses não perdoam facilmente. Eles não esquecerão o que aconteceu hoje."

Com essas palavras, o grupo ajudou o Arauto a se levantar. A escuridão que antes ameaçava engolir tudo havia sido contida, mas a sensação de perigo iminente ainda pairava no ar. Elysium havia sido salvo por enquanto, mas os heróis sabiam que essa vitória era apenas temporária.

Enquanto o sol começava a se pôr no horizonte, banhando o templo em uma luz dourada, o grupo iniciou sua descida da montanha, deixando para trás o Arauto e o templo antigo. O caminho à frente era incerto, mas seus corações estavam firmes. Eles haviam enfrentado deuses, entidades sombrias e os próprios medos. E estavam prontos para o que viesse a seguir.

E assim, com o crepúsculo dos deuses se aproximando, o primeiro volume da saga de Elysium chegava ao fim.