A fuga de Aetheria havia sido apenas o início. Após deixar a cidade em ruínas, Aria Voss liderava seu pequeno grupo de sobreviventes pelas planícies áridas que se estendiam ao norte, rumo às Montanhas de Glaia. As paisagens, outrora deslumbrantes e vivas, agora estavam envoltas em uma neblina sombria, com o som constante de trovões ecoando nas nuvens. A presença dos guardiões em Elysium parecia ter afetado o próprio mundo, como se o equilíbrio natural estivesse se deteriorando rapidamente.
O grupo avançava em silêncio, as faces sombrias e cansadas de seus integrantes refletindo o medo e a incerteza. Entre os que seguiam Aria, estavam Darian, um engenheiro de tecnologia militar, e Lena, uma jovem curandeira que havia perdido sua família nos primeiros ataques. Ambos foram atraídos pela determinação e conhecimento de Aria, acreditando que ela sabia como salvá-los. O resto do grupo era composto por outros civis — uma mistura de habilidades, mas todos unidos pela necessidade de sobrevivência.
Aria, no entanto, estava absorta em seus pensamentos. Ela sabia que o Altar do Véu era a única esperança para Elysium, mas as incertezas a assombravam. Será que ela realmente conseguiria ativá-lo? E se o sangue dos antigos heróis não fluía mais em suas veias? O peso de suas dúvidas apertava seu coração, mas ela não podia demonstrar fraqueza. O grupo dependia dela.
"Estamos quase lá?" Lena perguntou, a voz rouca pela longa caminhada.
"Não sei o quanto falta exatamente," Aria respondeu, olhando para as montanhas nebulosas à frente. "Mas precisamos continuar. O tempo está contra nós."
Darian, que caminhava ao lado de Aria, franziu o cenho. "Você tem certeza que esse Altar é real? E se for apenas uma lenda?"
Aria parou por um momento e olhou para ele. "Trabalhei minha vida inteira para entender essas lendas. E agora elas estão se tornando realidade, como você mesmo viu. Se há algo que pode parar os guardiões, está no Altar do Véu."
Darian assentiu, mas Aria percebeu a dúvida em seus olhos. Ela também tinha as mesmas dúvidas, mas não podia se dar ao luxo de hesitar.
Ao entardecer, o grupo chegou à base das Montanhas de Glaia. A neblina densa se tornou mais fria e cortante, e as pedras do caminho eram escorregadias e traiçoeiras. Lena se aproximou de Aria, preocupada. "Há algo estranho aqui... posso sentir. Como se algo estivesse nos observando."
Aria também sentia isso. O ar estava carregado de uma energia antiga, quase opressora. Ela se perguntou se essa sensação estava relacionada ao véu que os textos antigos mencionavam — talvez o mesmo poder que mantinha os guardiões adormecidos ainda estivesse presente, mesmo que enfraquecido.
De repente, um som distante, semelhante a um rugido, ecoou nas montanhas, fazendo o grupo parar instantaneamente. Todos se entreolharam, com olhos arregalados de medo.
"O que foi isso?" perguntou Darian, a mão automaticamente indo para a pequena pistola que carregava — uma arma quase inútil contra os gigantes que haviam enfrentado.
Aria sentiu um calafrio percorrer sua espinha. "Não estamos sozinhos."
Antes que pudessem reagir, o chão tremeu levemente sob seus pés. Não era um tremor forte, mas o suficiente para fazer todos se desequilibrarem. Outro rugido ecoou, mais perto desta vez. Aria sabia o que aquilo significava. Os guardiões haviam sentido sua presença.
"Precisamos nos mover, agora!" Aria gritou, empurrando o grupo adiante pela trilha íngreme que levava às montanhas. Eles começaram a correr, ofegantes, enquanto o som de passos pesados ressoava à distância, cada vez mais perto.
As sombras começaram a se formar na neblina atrás deles, grandes e ameaçadoras. Aria olhou para trás, vendo as formas colossais dos guardiões surgindo da bruma, suas figuras brilhando com a mesma luz dourada que ela havia visto em Aetheria. Eles estavam vindo, destruindo tudo em seu caminho.
"Corram!" Darian gritou, pegando Lena pelo braço e acelerando o passo.
Aria liderava o grupo, ofegante, sentindo o coração disparado no peito. O caminho se tornava cada vez mais íngreme, e as pedras soltas dificultavam o avanço. A cada passo, os guardiões se aproximavam, seus rugidos ressoando como trovões.
Finalmente, Aria avistou uma abertura na montanha. Uma caverna. "Ali!" ela gritou, apontando. "Entrem na caverna!"
O grupo correu desesperadamente para o abrigo improvisado. Quando todos estavam dentro, Darian e outros começaram a empilhar pedras e entulhos na entrada para tentar bloquear a passagem, na esperança de que os guardiões não os seguissem até ali.
Aria, ofegante, se encostou na parede da caverna e fechou os olhos por um momento, tentando recuperar o fôlego. Os sons lá fora ficaram abafados, mas ainda podiam sentir as vibrações dos passos dos guardiões.
"Isso não vai segurá-los por muito tempo," disse Darian, olhando para a entrada bloqueada. "O que fazemos agora?"
Aria abriu os olhos e olhou para o fundo da caverna. O túnel se estendia para longe, iluminado apenas pela lanterna que Lena segurava. Algo naquela escuridão parecia... convidativo, como se o próprio local estivesse chamando por eles.
"Vamos seguir em frente," disse Aria, com a voz firme. "Este lugar... pode ser parte do caminho para o Altar. Não podemos parar agora."
Sem outra opção, o grupo começou a avançar pela caverna, movendo-se em silêncio e com cautela. À medida que caminhavam, as paredes de pedra ao redor deles começaram a se transformar. Gravuras antigas, semelhantes às que Aria havia visto no livro das Crônicas, cobriam as superfícies, narrando histórias de batalhas épicas, rituais místicos e o selamento dos guardiões.
"O Altar deve estar perto..." Aria murmurou, mais para si mesma do que para os outros.
Mas no fundo, ela sabia que o pior ainda estava por vir. Os guardiões haviam sido despertados, e não descansariam até que completassem sua missão de restaurar o equilíbrio, mesmo que isso significasse destruir tudo.
E Aria, agora mais do que nunca, precisava descobrir como detê-los. O tempo estava se esgotando.