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Chapter 25 - Capítulo 24: Ar Puro

Parte Única

A noite estava pesada, o ar denso e carregado com o cheiro de sangue e medo. A lua cheia iluminava as ruínas esparsas ao redor da construção em que marquesa ficava, lançando sombras longas e distorcidas que pareciam acompanhar o homem enquanto ele se arrastava pela trilha de pedras desgastadas. Seu corpo estava coberto de feridas, o rosto sujo e marcado pela luta recente. Cada passo era um esforço, uma luta contra a dor que irradiava de seu lado, onde a lâmina de Pallas e seus guardas havia feito seu estrago. A construção, imponente e fria, se erguia diante dele como um monólito de pedra.

Ele sabia que não tinha muito tempo. A cada respiração, sentia a vida se esvaindo aos poucos, mas precisava ver a marquesa. Ela tinha que saber. Com um último esforço, atravessou a sala em ruínas e parou diante de uma grande abertura sem porta. Dois homens estavam lá, olhando-o com desconfiança.

"Quem é você?" um dos homens perguntou, sua mão se contorcendo em um punho.

"O… último sobrevivente." o homem conseguiu murmurar, sua voz rouca e fraca.

"Preciso… falar com a marquesa…"

Os homens trocaram olhares, hesitantes. "Deixe-me passar!" ele insistiu, desta vez com mais força, apesar da dor que atravessava seu corpo como uma lâmina quente.

"É sobre a Guarda do Corvo… e a muralha…"

Isso pareceu captar a atenção deles. Um dos homens assentiu brevemente, saindo do caminho, revelando o interior sombrio e opulento da sala.

"Levem-me a ela… por favor…"

Ele foi conduzido até o fim da sala, as paredes adornadas com algo que ele mal conseguia discernir em seu estado de exaustão. O silêncio era perturbador, interrompido apenas pelo som de suas botas manchadas de sangue ecoando no mármore frio. Finalmente, chegaram ao fim da sala, onde a marquesa esperava, sentada em sua cadeira de encosto alto

Ela era uma mulher imponente, mesmo em sua aparente fragilidade. Seus olhos se abriram, frios e calculistas, e fixaram-se imediatamente no homem. Ela usava um vestido de seda preta, contrastando com a pele pálida, e uma única joia brilhava em seu pescoço: um rubi, profundo como sangue recém-derramado.

"O que significa essa intrusão?" a voz da marquesa era suave, mas carregada de autoridade.

O homem caiu de joelhos, ofegante, com o corpo tremendo de exaustão. A água escorria de suas roupas encharcadas, formando pequenas poças ao redor de suas botas. Ele mal conseguia recuperar o fôlego, cada palavra saindo como um sussurro entrecortado. "Marquesa… eles nos traíram… A Guarda do Corvo… atacaram sem aviso…"

A sala, já envolta em penumbra, pareceu escurecer ainda mais. Os poucos que estavam presentes trocaram olhares tensos, e um murmúrio de desconfiança percorreu o ambiente. Alguns dos homens recuaram para a entrada, quase como se temessem que o próprio relato trouxesse a destruição para dentro do local.

A marquesa permaneceu imóvel em sua cadeira de encosto alto, os olhos semicerrados fixos no homem que acabara de chegar. A luz fraca das lamparinas mal tocava seu rosto, mas era possível ver que ela não parecia surpresa, apenas mais cansada. O silêncio pesado que se seguiu só foi quebrado pelo som da respiração ofegante do homem e pelo gotejar contínuo da chuva do lado de fora.

Depois de alguns instantes que pareceram uma eternidade, a marquesa finalmente falou, sua voz soando baixa, mas firme, como se carregasse o peso de séculos. "Eu já esperava por isso."

O homem ergueu o olhar, ainda ofegante, os olhos arregalados em choque e incredulidade. "Esperava por isso…? Como…? Eles… eles massacraram todos, marquesa. Nós encontramos a abertura na muralha, fizemos o que o Corvo pediu… mas… mas assim que chegamos, eles nos atacaram."

A marquesa inclinou-se levemente para frente, seus olhos brilhando com uma intensidade perigosa, embora sua voz permanecesse calma. "Os Corvos nunca planejaram honrar nosso acordo. Eles nos usaram para descobrir como o monstro passou para o outro lado, e agora, sentindo-se ameaçados, decidiram os eliminar."

O homem ainda ofegante ergueu o olhar, sua expressão carregada de confusão e medo. "Mas por que, Marquesa? Nós só queremos sobreviver... e encontrar uma cura."

Ela soltou um suspiro cansado. "Eles têm medo porque não compreendem o que não podem controlar. A doença Pansélinos... eles não têm a cura, e o que é pior, não sabem como controlá-la. Isso os assusta. Eles acham que, ao nos isolar, podem conter a ameaça."

O homem arregalou os olhos, tentando assimilar as palavras dela. "Então, eles nos mantêm deste lado da muralha por medo? Medo do que não podem curar?"

A marquesa assentiu, seus olhos fixos nos dele, como se quisesse que cada palavra sua fosse gravada profundamente na mente do homem. "Sim. Para eles, somos uma ameaça. Não apenas por estarmos doentes, mas porque a doença nos mudou. Porque, apesar de tudo, somos mais fortes. E isso é algo que eles não podem suportar."

Ela fez uma pausa, seus olhos se estreitando ao pensar nos Corvos do outro lado da muralha. "Eles nos veem como uma lembrança viva de seu fracasso, de sua incapacidade de encontrar uma solução. Em vez de admitir que falharam, preferem nos manter separados, isolados, esperando que eventualmente desapareçamos."

"Mas a cura... não existe, então?" A voz do homem falhou, tomada por uma mistura de desesperança e descrença.

"Tudo o que ouvimos deles, sobre uma possível solução..."

"Mentiras." interrompeu a marquesa, sem hesitação.

"Eles espalham esses rumores para manter a esperança desse lado controlada, para evitar que o desespero se transforme em revolta. Mas a verdade é que eles não sabem como curar a doença Pansélinos. Nenhum de nós."

O silêncio que se seguiu às palavras da marquesa foi opressor. A respiração pesada do homem, o gotejar contínuo da chuva do lado de fora, e o murmúrio distante do vento pareciam amplificar a gravidade da revelação.

A marquesa inclinou-se ainda mais, seus olhos parecendo perfurar a alma do homem à sua frente. "E é por isso que eles nos temem. Porque, mesmo sem cura, continuamos aqui. Porque eles sabem que, se um dia rompermos essa muralha por completo, seu mundo perfeito será destruído."

Um dos homens, com a voz hesitante e cheia de incerteza, se atreveu a perguntar, "O que a senhora pretende fazer agora, marquesa?"

Ela se virou lentamente para ele, seu olhar frio e avaliador. A resposta não veio imediatamente, mas quando ela falou, sua voz era uma mistura de serenidade e uma calculada intensidade. "Ainda não decidi. Há muito a considerar. O que fizermos a seguir deve ser bem pensado, e não impulsivo."

Os presentes na sala trocavam olhares nervosos. A tensão era palpável, como se cada um deles estivesse esperando por uma resposta definitiva que selaria o destino de todos. Mas a marquesa não parecia disposta a oferecer uma solução imediata.

"Agora, deixem-me sozinha." ordenou ela com um aceno de mão.

"Todos vocês. Preciso de tempo para pensar."

Os homens hesitaram por um momento, mas o peso da autoridade em sua voz não deixava margem para discussão. Um por um, eles começaram a sair da sala, lançando olhares furtivos para o homem ainda ajoelhado aos pés da marquesa. Ele, no entanto, não se moveu, a respiração ofegante enquanto observava a cena.

Quando a última pessoa deixou o recinto, a marquesa esperou até ouvir o som distante das botas batendo no chão. O silêncio que se seguiu foi quase sufocante, quebrado apenas pelo eco distante da chuva lá fora.

A marquesa se aproximou lentamente do homem ainda ajoelhado, seus passos ecoando pela sala vazia. Quando estava a apenas alguns passos dele, uma risada suave escapou de seus lábios, ressoando de forma perturbadora no silêncio pesado da sala.

O homem ergueu os olhos para ela, seu rosto uma mistura de confusão e medo. A marquesa inclinou-se sobre ele, sua expressão se suavizando, mas com uma frieza inconfundível. Ela estendeu a mão, segurando o queixo dele com uma firmeza que contradizia sua aparência frágil.

"Eu falei demais." sussurrou ela, o sorriso frio ainda brincando em seus lábios.

"Isso é um problema."

O homem tentou falar, mas a mão dela, agora apertando seu queixo com mais força, o silenciou. O olhar nos olhos dela era gélido, penetrante, como se estivesse avaliando cada pensamento que passava pela mente dele.

"Você entende o que isso significa, não entende?" A voz da marquesa era quase doce, mas havia uma ameaça velada em cada sílaba.

"Você ouviu coisas que não deveria ter ouvido. Isso o coloca em uma posição... delicada."

O homem engoliu em seco, seu corpo tremendo sob o toque dela. "Marquesa... eu... eu não direi nada. Juro por minha vida."

Ela inclinou a cabeça, como se considerasse as palavras dele. "Oh, eu sei que você não dirá nada." murmurou, seus dedos ainda segurando firmemente o queixo dele.

"Mas isso não muda o fato de que agora você sabe demais. E isso, meu caro, não é algo que eu possa simplesmente ignorar."

A marquesa aproximou-se ainda mais, seus lábios quase tocando a orelha do homem. "Além disso, infelizmente, hoje foi um dia ruim." sussurrou ela, sua voz carregada de uma doçura perversa.

***

A escuridão na sala era quase total, como se as sombras tivessem se adensado ainda mais, sugando qualquer vestígio de luz. O silêncio era tão profundo que até mesmo o som das gotas de chuva batendo lá fora parecia distante e abafado. A marquesa, que permanecia sentada no chão, finalmente se levantou, movendo-se com uma estranha e lenta elegância.

Ao se erguer, ela sentiu o líquido espesso e quente escorrendo pelos cantos de seus lábios. A sensação era familiar, mas ainda assim, incômoda. Usando o dorso da mão, ela limpou o sangue, espalhando-o pelo rosto enfaixado. O vermelho contrastava fortemente com sua pouca pele translúcida, criando uma imagem perturbadora e ao mesmo tempo majestosa.

Ela inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse ouvindo algo distante. Seus olhos, agora sem brilho, percorreram a sala, mas não havia nada ali além das sombras. Inspirando profundamente, a marquesa inalou o ar denso da sala, impregnado com o cheiro metálico do sangue e o mofo das antigas ruínas. Era um odor acre e sufocante, mas ela parecia absorvê-lo com um misto de resignação e prazer. Cada suspiro que tomava parecia pesado, carregado de uma enorme melancolia.

Depois de alguns segundos, ela se dirigiu para o canto da sala, onde um manto de veludo negro estava jogado sobre uma cadeira antiga. A peça, embora gasta pelo tempo, ainda mantinha uma aura de nobreza. A marquesa envolveu-se com o manto, deixando que ele caísse sobre seus ombros e cobrisse seu corpo magro. As dobras escuras e pesadas arrastavam-se no chão atrás dela, sussurrando segredos que apenas a noite poderia ouvir.

Com passos lentos, a marquesa dirigiu-se à porta, o eco de seus passos reverberando pela sala vazia. Quando passou pela porta, um vento frio invadiu seu corpo, como se a noite tivesse sido liberada de sua prisão temporária. Do lado de fora, a tempestade rugia com toda a sua força, trovões ribombando nos céus e relâmpagos iluminando as ruínas por breves instantes.

Ela parou por um momento à entrada, observando a cortina de chuva que caía incessantemente. As gotas pesadas batiam no chão, criando poças que refletiam as sombras distorcidas da noite. O mundo além da muralha estava envolto em uma escuridão ainda mais densa, como se a própria natureza estivesse conspirando para manter o caos em segredo.

A marquesa deu um passo à frente, saindo para a tempestade sem hesitação. A chuva fria imediatamente a envolveu, encharcando seu manto e grudando seus poucos cabelos em sua pele. Ela não parecia se importar. O frio da noite e a intensidade da tempestade não a incomodavam. Pelo contrário, parecia que ela fazia parte daquele caos, que se alimentava da energia selvagem da natureza.

Ela fechou os olhos por um breve instante, inalando profundamente o ar úmido e frio. Havia algo na pureza daquela brisa, um frescor que parecia purgar todas as impurezas ao seu redor, lavando os pensamentos sombrios que insistiam em assombrá-la.

"Está puro..." pensou ela, deixando que o momento de paz preenchesse seu ser. Era uma pureza que não sentia há muito tempo, um alívio efêmero que quase a fez esquecer da podridão que permeava sua existência. Mas a realidade, como sempre, era implacável, e o frescor da noite não era capaz de apagar a escuridão que habitava seu coração.

Quando abriu os olhos, a marquesa ergueu o olhar para o céu, esperando ver as nuvens carregadas continuarem a despejar sua fúria. Mas ao invés disso, o que encontrou foi um cenário surreal. As nuvens de chuva haviam se dissipado de repente, como se tivessem sido varridas por uma força invisível. A tempestade cessou tão abruptamente quanto começou, e o céu agora estava limpo, uma vasta tapeçaria escura salpicada de estrelas que brilhavam intensamente, como diamantes incrustados em veludo negro.

No centro desse espetáculo noturno, a lua cheia reinava suprema. Ela parecia maior do que nunca, ocupando quase todo o céu, como se estivesse prestes a devorar as estrelas ao seu redor. Sua luz prateada, normalmente suave e serena, agora banhava a terra com uma intensidade opressiva, iluminando cada detalhe das ruínas e do terreno encharcado.

A marquesa manteve o olhar fixo na lua, hipnotizada por sua presença. O brilho prateado refletia em seus olhos, e por um momento, ela se sentiu como uma criança de novo, perdida em memórias de tempos mais simples. Mas essa nostalgia durou apenas um instante, pois a lua começou a mudar diante de seus olhos.

O brilho prateado deu lugar a um tom vermelho escuro que lentamente se espalhou pela superfície lunar, como sangue manchando uma pedra branca. A cor intensificou-se, até que a lua inteira se tornou um orbe vermelho-sangue, sua luz tingindo o mundo abaixo com uma aura sinistra. Era como se a lua estivesse sangrando, uma ferida aberta no céu, despejando sua agonia sobre a terra.

A marquesa observava a transformação com uma mistura de fascinação e temor. O ar, antes tão puro, agora parecia denso, carregado de um presságio inquietante. O frio da noite intensificou-se, mas ela permaneceu imóvel, absorvendo cada detalhe da cena diante de si. Havia algo de profundamente errado naquela visão, mas ao mesmo tempo, sentia-se estranhamente atraída por ela.

Enquanto observava a lua sangrenta, pensamentos começaram a invadir sua mente, misturando-se com os sentimentos que ela normalmente mantinha enterrados. A mudança no céu parecia refletir a transformação que ela sentia dentro de si. Era como se a lua estivesse se alinhando ao seu próprio coração corrompido, revelando as sombras que ela sempre tentou esconder.

"Tão belo... e tão terrível." ela pensou, enquanto a lua vermelha brilhava intensamente acima dela. Era uma beleza cruel, que refletia sua própria natureza e o destino que parecia cada vez mais inevitável.

"Talvez, assim como a lua, eu também esteja destinada a me transformar. A me tornar algo que o mundo teme... e ao mesmo tempo, algo que eles não podem ignorar."

No meio daquele silêncio opressivo, um som distante, como um grito, cortou o ar. No início, era apenas um ruído indistinto, abafado pelo peso da escuridão ao seu redor. Mas, aos poucos, o som tornou-se mais claro, mais urgente, até que finalmente ela reconheceu o que era.

"Mãe!"

A voz ecoou na escuridão, carregada de desespero e urgência. A marquesa, ainda envolta pela luz sangrenta, virou-se lentamente na direção do chamado, seus olhos se estreitando em curiosidade. No limite da clareira, onde a luz da lua mal tocava, uma figura surgiu correndo da floresta.

Ele avançava com passos pesados, sua silhueta distorcida pela escuridão ao seu redor. O brilho da lua se refletia em seus olhos, que pareciam brilhar com uma intensidade incomum. Ele se aproximava rapidamente, mas algo estava errado. Havia algo na maneira como ele se movia, como se seu corpo estivesse lutando contra algo interno.

"Mãe!" gritou novamente, mas sua voz soava diferente, mais rouca, mais animalística.

A marquesa observava, intrigada e cautelosa, enquanto a lua, antes imponente e vermelha, parecia começar a perder seu brilho intenso. O vermelho profundo começou a se dissipar, sendo substituído gradualmente pelo brilho prateado habitual. O céu, que há pouco estava limpo e estrelado, voltou a se cobrir de nuvens escuras, e a chuva que havia cessado retornou em uma torrente repentina. A transformação no ambiente foi tão abrupta quanto havia sido sua entrada na tempestade.

A criatura finalmente chegou à clareira, mas seu corpo parecia não suportar mais o que estava acontecendo. Sua forma começou a se contorcer, como se forças opostas estivessem lutando por controle dentro dele. A carne se esticava e retraía, enquanto seus membros pareciam alternar entre o humano e o bestial.

A marquesa deu um passo à frente, o semblante antes calmo e contemplativo agora tomado pela surpresa. Ela assistia à cena, seu olhar fixo no jovem que tentava desesperadamente manter algum controle sobre si mesmo. Ele caiu de joelhos, ofegante, enquanto sua pele parecia vibrar, alternando entre diferentes tonalidades e texturas.

Ele levantou a cabeça, seus olhos encontrando os da marquesa, e por um momento, ela viu um lampejo de sua humanidade ali, lutando para se manter firme contra a transformação que o dominava. A expressão dele era de puro sofrimento, e ele parecia estar à beira de perder a batalha interna.

"M-mãe..." ele sussurrou, sua voz entrecortada pela dor.

"Eu... eu não... consegui..."

Ele cambaleou, sua forma oscilando entre a de um jovem homem e algo mais, algo monstruoso. A marquesa, ciente do perigo que aquela transformação poderia representar para o corpo do jovem, agiu rapidamente. Ela se aproximou dele com passos firmes, seus olhos avaliando cada movimento dele.

"Liam." disse ela, sua voz firme e carregada de autoridade.

"Você precisa se acalmar. Concentre-se, mantenha sua forma."

Mas era tarde demais. A luta interna de Liam estava chegando ao seu ápice. Ele soltou um grito agonizante, enquanto seu corpo cedia completamente à transformação. Suas mãos se alongaram em garras, seus dentes cresceram, afiados como lâminas, e seu corpo tomou uma forma bestial, coberta de pelos escuros, mas a transformação ainda não estava completa.

A marquesa observou. Apesar da situação, ela não demonstrou nada. Havia algo de primitivo e bruto na forma que Liam tomava, mas ainda assim, ela via nele o mesmo jovem que conhecia.

A lua, agora completamente prateada, parecia ter perdido o controle sobre Liam. Sua forma oscilou mais uma vez, os músculos relaxando, a tensão se dissipando, e ele começou a voltar ao normal. Os pelos se retraíram, as garras desapareceram, e o rosto feroz lentamente retornou ao de um jovem exausto e vulnerável.

Liam olhou para sua mãe, os olhos cheios de confusão e exaustão, antes de desmoronar completamente. Ele cambaleou para frente, mas a marquesa foi rápida o suficiente para alcançá-lo. Ela o segurou antes que ele tocasse o chão, suas mãos firmes, mas gentis, envolvendo o corpo tremulante do rapaz.

"Você fez bem, Liam." murmurou ela, sua voz agora mais suave.

"Você voltou vivo. E isso é o que mais importa."