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Chapter 9 - O que fazer?

Clap! Clap! Clap!

As palmas ecoaram do telhado de uma pequena residência. Koji e a moça grávida se viraram e se depararam com um homem bem arrumado, seu rosto hexagonal com lateral reta lembrava o Ryan Reynolds. Com sorriso confiante, vestia-se como um executivo, cabelo bem penteado num corte pompadour curto, e parecia pronto para uma reunião de negócios ou um jantar romântico.

Este homem se chamava Tramen, um portador singular, distinto por carregar o Prisma Vermelho em vez de estar vinculado a pactos demoníacos. Os prismas eram fontes de poder excepcionais, totalmente independentes, com apenas três existentes em todo o mundo.

Koji franziu a testa, estranhando a presença daquele homem. A moça perguntou.

— Conhece ele?

— Não conheço, mas já me liguei do que tá havendo —respondeu Koji.

Spherea não perdeu tempo e disse na mente de Koji.

— Se é esperto, então já percebeu a brincadeira, né?

O rapaz desceu do teto da residência para a calçada da avenida, com os braços abertos e um comportamento amigável. Sua receptividade causou uma estranheza, mas o mesmo abriu as conversas.

— Estou impressionado, eu tinha certeza que dois Gyakus seriam suficientes pra te matar. 

— Mas os teus anjos da guarda são surpreendentes, essas esferas valem ouro.

Koji manteve-se sério, sem abertura para uma conversa amistosa.

— Você é o cara que controla esses bichos? — perguntou Koji, de uma maneira seca.

— Sempre acho essa palavra ofensiva demais para os meus pets — respondeu o rapaz elegante com um tom levemente ofendido.

Nesse curto momento, Koji notou uma marca no punho esquerdo de Tramen. 

— Não precisam se preocupar, ok? Eu vou deixar vocês irem, isso tudo foi apenas um erro de leitura da minha parte.

— Vai nos deixar ir? Mesmo depois das minhas esferas terem simplesmente matado dois Gyakus seus? — Koji estava achando isso esquisito e seu olhar desconfiado era nitído.

— Ué? Por que não? Os meus pets são recicláveis e sei que essa afirmação é um pouco problemática — respondeu Tramen com um sorriso — E você? Está grávida?

— Sim, vai ser meu segundo filho.

Tramen se aproximou da moça, olhando para sua barriga.

— Que venha com saúde e possa desfrutar do mínimo de coisa boa nesse mundo, não é? — disse ele com simpatia.

Tramen andou até Koji e falou.

— Podem ir. Antes que os meus colegas mais ignorantes cheguem aqui.

Como foi liberado, Koji começou a andar com a moça na avenida rumo às bases militares. Ele ainda estava confuso, e Spherea aproveitou para ressaltar algo.

— É melhor você prestar aten-

De repente, um barulho altíssimo rompeu o solo na frente do Koji. Ele não conseguia expressar nada além de espanto pelo que estava vendo. A moça grávida acabou sendo empalada viva por uma cauda de escorpião gigante. Koji rapidamente entendeu.

— É o mesmo… mesmo escorpião que atacou eu e o Roger.

O cordão que a moça carregava no pescoço, além do terço, era verde e tinha um pingente com a foto de um garotinho, caiu no chão. Koji se agachou, pegou o cordão e ficou abalado com a cena. 

A mulher teve seu tórax inteiramente atravessado e destruído pela cauda, a ponto de partir o corpo dela ao meio. A parte inferior caiu na abertura do solo causada pelo aparecimento da cauda. A cena era horrorosa, e o sangue parecia pesar nas costas de Koji.

Ele não conseguia se mexer, estava paralisado, assim como aconteceu na morte de Roger. Em sua expressão, havia um sentimento de desistência.

— O que eu tô fazendo? Eu não, não, nunca consigo nada — murmurou Koji com desespero e perdição presentes no tom de sua voz. 

Seus joelhos cederam à fraqueza, e assim ele ficou, ajoelhado diante daquela cena. O rapaz, olhando para Koji ajoelhado, disse.

— Normalmente, as pessoas falam para outras que elas têm uma grande família, grandes casas e outras coisas. Mas contigo, eu digo que tem uma grande técnica. 

Koji não estava chorando, mas seu olhar fixo no solo parecia perdido em algum canto.

— Eu matei a moça porque precisava disso, é quase uma obrigação para que eu tenha várias e várias criaturas sob meu controle. Mas eu não preciso te matar, está ouvindo?

Tramen deu as costas para Koji, que estava ajoelhado e cabisbaixo, e gritou.

— Tem 10 segundos para sair da avenida. Os meus pets amam uma destruição desnecessária!

Dez...

Nove…

Enquanto os segundos passavam, Koji continuava abatido, sem esboçar reação alguma. Mas Spherea não queria ficar calado e falou.

— Então acabou, Koji? Se está desistindo de tudo agora, pelo que andou até aqui?

— Isso não importa mais, Spherea — respondeu Koji, com amargura.

Oito…

Sete…

Do céu, caíam centenas e centenas de criaturas estranhas, cada uma com cerca de seis metros de altura e deformações físicas horríveis, uma mistura grotesca de organismos de animais comuns. Esses eram os pets que o rapaz falou.

Seis…

Cinco…

A avenida, já devastada, estava prestes a enfrentar algo ainda mais devastador. O estrondo de suas quedas iminentes encheu o ar, o que prenunciava a destruição.

Quatro…

Spherea, em um raro momento de solidariedade, disse a Koji.

Três…

— Eu nem consigo zombar de você nesse momento, eu só sinto pena.

Dois…

— Eu também — O olhar de resignação e tristeza do Koji era corrosivo.

Um…

Os segundos passaram e deram lugar a uma destruição quase completa. As criaturas colidiram com o solo, causando um afundamento de 80% da rodovia. Uma gigantesca nuvem de poeira subiu ao ar, obscurecendo tudo ao redor.

Koji estava caído no chão, muito próximo da abertura no solo onde parte do corpo da moça havia caído. Ele olhou com dificuldade para os lados, vendo as casas, carros e outros objetos completamente destruídos. 

A poeira densa, causada pela queda das criaturas deformadas e tóxicas, fazia-o tossir sangue.

Com um grande esforço, Koji se virou de barriga para cima, e seus olhos se encheram de lágrimas ao ver centenas de milhares de esferas escuras formando uma grande e forte base circular de proteção ao seu redor. As esferas, como que obedecendo a um comando silencioso, juntaram-se perfeitamente para protegê-lo.

— Você sabia que isso aconteceria um dia, Pai? — a voz embargada de Koji pela emoção e lágrimas banhavam seu rosto.