Na avenida da Universidade, o grupo de civis liderado pelo Tahiko caminhava esperançosamente, pois as bases militares estavam próximas com poucos quilómetros para chegada. Contudo, Tahiko estava agoniado, irritado e demonstrava isso livremente.
— Cadê? Cadê? — sua raiva dava-se a ausência de Gyakus próximos da avenida, Tahiko queria muito quebrar uma bicho na porrada.
Para a sua infeliz surpresa, o que chamou sua atenção não foi a presença de um Gyaku, mas sim uma notificação de conversa do Saik no seu fone de comunicação
Primm!
— Diz Saik, O que foi?
— Que? Não tá sentindo isso? — Saik se surpreendeu, ele andava na destruída Avenida Central, mas algo estava sendo sentido por ele, e o Tahiko não sentir era estranho demais.
Nesse momento, o olhar de Tahiko foi puxado por uma coisa que não poderia ser explicado, sua atenção apenas se desprendeu e acompanhou algo invisível que aparentemente voava.
— Tahiko? Tá me escutando?
— Já sei o que quer falar — respondeu Tahiko, com um olhar nervoso e uma postura atônica.
— Tahiko, tenho certeza que isso não é comum. Estou sentindo uma energia massiva, mas de uma forma extremamente contida.
Com o alerta ligado, Tahiko gesticulou para as pessoas pararem de andar e começou a averiguar o local. Olhava para os prédios, becos e veículos que tinham na avenida.
— Tem outro portador na região, e aparentemente não é qualquer um — afirmou Tahiko, olhando para os vários lugares da rodovia.
Na Av Central, ou do outro lado da conversa, Saik olhou para sua mão esquerda e tentou liberar energia interna, mas percebeu que a sua liberação estava sendo reprimida. O que estava causando isso?
Um portador acima de Saik e Tahiko se encontrava na mesma região e isso era preocupante.
De repente, um grito de criança foi ouvido por Tahiko na Av da Universidade, tentando se guiar pela voz de um garoto, ele achou a criança dentro de um carro abandonado, sujo e sem rodas.
— Calma, calma, calma. Eu te achei — disse Tahiko, com as mãos no vidro do carona, tentando acalmar o garoto desesperado e com os olhos cheios de lágrimas. Era estranho ver Tahiko se comportando assim.
O terceiro portador nesse plano de evacuação avançava na Avenida do Porto e não aparentava inquietação, Koji não queria demorar e progredia rapidamente com seu grupo.
— Estamos perto? — perguntou uma moça grávida que segurava um terço próximo da boca, sua expressão aflita era evidente.
— Estamos — uma resposta assertiva foi o bastante para manter a confiança alta, Koji mantinha seus olhos para frente e de vez em quando, averiguava os interiores dos estabelecimentos na intenção de achar sobreviventes.
— Parece que de certa forma a evacuação deu certo. Não tem ninguém nas casas.
Ao lado do Koji, Spherea olhou para a mulher e com uma risada contida, disse baixinho para ele.
— Não acha isso engraçado? Parecem tão desesperados que teriam dificuldades até para morrerem.
— Se pelo menos fossem loucos e sorridentes, talvez seria engraçado.
As coisas estavam calmas demais, estranho…
Um tremor repentino assustou as pessoas e o balançar dos prédios era nítido, Koji não demorou e sinalizou gritando para todos.
— Se aproximem! Se juntem! Logo logo!
Ele gritava para o grupo se juntar, tentando manter uma ordem, instruindo todos a ficarem calmos.
— Fiquem calmos! Se acalmem!
Não havia passado nenhum um minuto e o solo voltou a tremer violentamente, as rachaduras na avenida eram assustadoras. O responsável por isso surgiu a vinte metros do Koji, um lagarto gigante de 15 metros e cor escura emergiu, sua aparência intimidadora aumentava o pavor dos civis.
— Fiquem atrás de mim! Não corram! — com firmeza, um olhar de raiva e uma confiança mascarada, gritou Koji.
Mas o jovem portador não sabia que nem tudo estava sob seu controle, muito menos a decisão individual de outra pessoa. Duas pessoas, em pânico, correram em direção às casas próximas, uma péssima escolha.
— Não! Não! Não! — Koji até gritou, mas não adiantou.
O lagarto atacou brutalmente, comendo os corpos como se estivesse meses sem se alimentar e dilacerava-os com as garras. Koji, lutando para reprimir sua apatia diante desse cenário, tentou reagir rapidamente.
Com um grito de determinação e raiva expressada na face, ele correu para se aproximar do Gyaku. Porém, antes que pudesse chegar, o monstro soltou um rugido muito agudo diretamente no Koji. A onda de vento criada pelo grito era tão forte que empurrou Koji para trás, impedindo o avanço.
— Achou mesmo que isso daria certo? — comentou Spherea, que segurou Koji e impediu-o de ser empurrado para mais longe.
De forma repentina, Spherea sumiu e isso interferiu na atenção do Koji. O lagarto, que se movimentava agilmente e com precisão, revelou suas quatro línguas peçonhentas que se estenderam depressa, como serpentes caçando suas presas.
As línguas enrolaram Koji, prendendo-o firmemente.
— Merda. Se não dá pra ganhar, eu posso tentar distraí-lo. É o que eu consigo fazer — pensou Koji, se movimentando de maneira desconfortável para se desprender das línguas.
Koji também estava bravo com Spherea.
— Aquele maldito traíra. Some numa hora dessas.
O monstro levantou Koji e o arremessou com força no quarto andar de um prédio comercial de seis andares.
Aaaah! Aaaah!
Koji foi arremessado pelo Gyaku contra o quarto andar do prédio, seu corpo atravessou a parede, mas por sorte, as esferas surgiram na hora exata para amortecer o impacto. Com o choque suavizado nos interiores do prédio, as esferas absorveram toda a força do impacto e possibilitaram que Koji saísse ileso.
Enquanto isso, a criatura se encontrava desenfreada, esmagando, mordendo e cortando vários civis que tentavam correr para os becos ou casas. Koji se levantou lentamente, as esferas flutuavam ao seu redor.
Koji tocou na orelha esquerda e notou que o seu fone de comunicação sumiu.
— Deve ter saído no impacto.
Ele se dirigiu ao buraco no prédio causado pelo impacto de seu corpo e observou uma cena inicialmente caótica na avenida, mas ele notou algo peculiar.
— Que estranho…
Curiosamente, Koji percebeu que as esferas causavam um forte incômodo no lagarto. O Gyaku parou de matar as pessoas e começou a ter uma reação desesperada, balançando a cabeça de um lado para o outro e soltando rugidos agonizantes.
— Essa reação é repulsiva. As esferas incomodam, talvez provocam uma fraqueza na sensibilidade — Koji estava imensamente surpreso, isso nunca tinha passado pela sua cabeça, seus olhos brilhavam neste momento.
Com essa nova descoberta, Koji viu uma oportunidade única. O Gyaku estava completamente desorientado, seus movimentos eram descoordenados e sua fúria direcionada unicamente para o desconforto com as esferas.
Agora era o momento de agir, ele pulou do prédio com as esferas se movimentando para debaixo de seus pés, criando uma plataforma que manteve-o no ar. Com essa ótima base, Koji voou na direção da criatura, que balançava a cabeça loucamente.
Koji sentia-se pronto para acabar com o lagarto.