De repente, um homem de terno com aparência mais longeva e cabelo grisalho abriu a porta da sala, ele entrou e perguntou com uma expressão receptiva.
— Já se enturmaram?
— Quem é ele? — sussurrou Koji ao Tahiko, ainda confuso com o que estava acontecendo.
— Ah é, que falta de educaçme é Nahão da minha parte. Meu noome, faço parte da Unidade Principal da Torre — apresentou-se o agente, fechando a porta da sala — Mas e vocês? Seria bom que se apresentassem agora.
A Torre era um departamento internacional de inteligência financiado pelas maiores potências do mundo, com objetivo de tornar possível a existência humana com os Gyakus ou até mesmo com portadores criminosos.
Koji, Saik e Tahiko permaneceram calados, pois estavam com um pé atrás. Nahome escorou-se na parede enquanto acendia um cigarro com isqueiro.
— Eu entendo que desconfiem, mas não temos tanto tempo para demorar. Já sei que vocês são portadores, possuem demônios por dentro. Vai ser uma ajuda e tanto para nós, apenas digam seus nomes e suas técnicas.
— Meu nome é Saik, a minha técnica é Energia Maleável.
A Energia Maleável conferia ao usuário a habilidade de moldar as dimensões, formas e ações de sua energia interna de maneira livre e versátil. Esta técnica permitia a criação de diversas manifestações de formas e comportamentos, adaptando-se a diferentes situações de combate, defesa e utilidade.
Por exemplo, Saik podia usar uma pequena quantia de energia interna e transformá-la em escudo para sua defesa em algum combate.
Sobre as energias, os demônios, normalmente, concediam duas energias de poder aos seus portadores, energia interna e energia externa. A interna era unicamente utilizada em relação a técnica que o usuário possuía, ou seja, se a técnica fosse usada para uma ofensiva ou defensiva, o gasto seria de energia interna. No caso da externa, seu uso dava-se em ampliar suas capacidades físicas, tornando-o mais rápido, forte, ágil e etc.
— Sou Tahiko, a técnica que eu tenho é a Amplitude Natural.
A Amplitude Natural era uma técnica de poder única que elevava todos os atributos e características humanas ao seu auge extremo. Essa técnica transformava o usuário em um ser sobre-humano, aprimorando suas capacidades físicas, mentais e sensoriais a níveis extraordinários. Para Tahiko, o cuidado de seu físico sempre foi sua prioridade.
Nesse caso, Tahiko, como portador de um demônio que já lhe concedia a Amplitude Natural, a sua vantagem era exatamente essa, o que ele já tinha naturalmente, outros tinham por normalidade dos pactos entre demônios e humanos.
— E você? — perguntou o Nahome, soltando fumaça como se fosse chaminé.
— Eu me chamo Koji, a minha técnica é Esferas.
— Esferas? Que diferente.
A técnica de poder chamada Esferas envolvia a manipulação de energia escura para criar esferas poderosas e versáteis. Essas esferas são condensações de energia escura, distinta da matéria e da energia comum, frequentemente associada ao vazio do universo.
O silêncio dos jovens portadores tomou conta do cômodo, mas Nahome não esperava muito tempo para explicar as coisas.
— Este lugar é o último campo de resgates que sobrou na cidade. As coisas estão bem perdidas, os militares parecem formigas que morrem sem nem ao menos saberem como morreram.
— Acredito que já saibam das criaturas, e nesse momento somente a região em que estamos não está evacuada. Seremos os últimos a saírem dessa cidade.
Imprevistamente, o capitão das Forças Armadas no campo, chamado Williams, abriu a porta da sala e logo direcionou um aviso de última hora para Nahome.
— Nahome, precisamos urgentemente sair da cidade. A região em que estamos é a única com humanos. Dynami está evacuada, os militares não estão conseguindo se aproximar daqui para nos levar. Já perdemos mais de 25 mil homens somente na tentativa de evacuar essa região. Estamos sem resgate.
O clima estava pesado e os gritos desesperados das pessoas presentes no campo podiam ser ouvidos da sala isolada.
— Sabem quantos Gyakus tem por perto? — perguntou Saik, enquanto caminhava para o canto da sala a fim de guardar seu livro.
— Até agora, três foram vistos próximos daqui. Precisamos de vocês. Apesar de terem me contado sobre vocês serem outra coisa. Sei que não são humanos e isso assusta, mas agora somos aliados, todos aqui estão torcendo por vocês.
Preocupado estava o capitão Williams, seus olhos ardiam com o suor que escorria de sua testa.
— Nos diga o plano de evacuação, capitão — enquanto apagava o cigarro na parede, Nahome buscava entender o plano militar.
Dispostos para realizarem o plano de evacuação, Nahome e o trio de portadores acompanharam o capitão até o centro do campo, cercado por uma grande multidão presente, Williams explicou o plano.
— Ao todo, são 60 pessoas aqui, as únicas vias de segurança que temos no momento são as três principais avenidas dessa região, a Avenida do Porto, Central e Avenida da Universidade. A ideia é que cada um de vocês, Koji, Saik e Tahiko, levem sob cuidados, 20 pessoas até ao extremo sul de Dynami. Lá estão as últimas bases militares da cidade.
— Estamos muito longe das avenidas? — perguntou Koji, com o olhar apreensivo para o capitão.
— A localização do campo é estratégica, as avenidas estão do nosso lado e as três são inteiramente retas. Então tentem ao máximo seguir a estrada sem olhar para os lados. Deem prioridade para salvar o máximo de vidas, e lembrem-se, caso as criaturas apareçam, mate-as com a garantia que nenhuma pessoa será atingida por algo, entendido?
Williams definiu cuidadosamente o caminho de cada portador, Koji ficou responsável pela Avenida do Porto enquanto a Central foi para os cuidados de Saik, e no caso de Tahiko, a Avenida da Universidade. Eles receberam pequenos fones de comunicação, caso precisassem informar algo.
No início da longa Avenida do Porto, Koji olhou para o chão de concreto e pensou um pouco, enquanto vinte pessoas estavam à sua espera.
— É pai… o senhor disse que eu não teria mais preocupações, acho que você se enganou.
— Preparados? — perguntou Saik, a frente de seu grupo na Central.
— Só bora! — de empolgação e energia, gritou Tahiko na Avenida da Universidade.
— Boa sorte para gente.