Koji lentamente abriu os olhos e percebeu que estava caído em um chão de terra.
— Que lugar é esse?
Ele ouvia vozes humanas e sua visão estava turva. Apesar disso, levantou-se e viu a situação em que se encontrava.
— O campo? Eu tô no campo de resgate — disse Koji, com o sentimento de culpa visível por não ter salvado Roger.
Como o campo estava superlotado e havia pouco espaço para se movimentar, as pessoas estavam sangrando, sujas, gravemente feridas, e crianças e bebês choravam, sem falar nas pessoas religiosas que estavam concentradas em orar a Deus.
— Não é um lugar tão ruim assim — brincou Spherea, no ouvido de Koji em tom de deboche.
De repente, um homem careca com barba grande e roupas esfarrapadas, que estava bem bêbado, acertou um soco inesperado no lado esquerdo do rosto de Koji.
— Acha que essa sombra vai te livrar de apanhar, seu idiota! Eu não tenho medo, seu lixo! — gritou o homem, totalmente desequilibrado com passos para direita e esquerda, com a barba suja e boca melada de cerveja.
— Eu não imaginava que um bêbado desprezível te bateria, eu achei isso sensacional — comentou Spherea, surpreso com o ocorrido.
Uma raiva explosiva e repentina dominou Koji, diante do olhar transtornado do bêbado que encarou-o com nojo.
— Por que não fica no chão? Ou prefere que eu te mate agora?
O homem, que sentia mais raiva a cada segundo, pegou uma garrafa de vidro quebrada, enquanto a expressão de Koji mudou completamente e seus olhos ficaram mais objetivos.
Justamente quando Koji levantou-se e decidiu dar um passo à frente com o pé direito, na direção do homem, o bêbado rapidamente levantou a garrafa de vidro e colocou-a contra o pescoço de Koji, que retraiu com sucesso a projeção de seu corpo para trás.
— O quê? — perguntou-se o homem, com os olhos arregalados, impressionado com o desvio.
Koji cerrou o punho, esticou o braço e deu um soco no queixo de seu adversário. O homem caiu com o som de suas costas batendo no chão, mas a raiva de Koji não se dissipou. O homem estava no chão inconsciente e teve sua mandíbula deslocada, e Koji estava disposto a matá-lo, mas inesperadamente, as suas mãos foram algemadas.
— Ahn? — reagiu Koji, espontaneamente surpreso por ser algemado.
— Vou te levar para ficar com os outros portadores voluntários — disse firmemente e com postura, um militar de cara fechada.
O militar, nenhum pouco receptivo, levou Koji até a sala isolada. A porta da sala era de ferro, com apenas uma pequena janela, área de 25 metros quadrados, iluminação fraca e uma pequena TV no canto superior.
Koji sentiu-se inseguro no local, olhou calmamente para todo o cômodo e não viu ninguém. Mas percebeu a presença de duas pessoas nos cantos da sala, no canto direito e esquerdo.
— Tahiko, quem é o novato? — perguntou o homem deitado no canto direito da sala, segurando um livro e com um olhar caído.
— Não faço ideia — respondeu Tahiko, sentado em caixas empilhadas no canto esquerdo da sala.
— Quem são esses caras? — questionou Koji, enquanto olhava para os cantos escuros da sala, ele estava cansado de encrencas.
Um dos rapazes no local, chamado Tahiko, ficou de pé e andou até Koji.
— Quem te mandou aqui? — perguntou o rapaz, com a sobrancelha direita exageradamente levantada e um sorriso estranho.
— Eu ainda não sei como vim parar aqui — Koji estava desconfiado.
O rapaz afastou-se, e de maneira aleatória, mudou de comportamento e expressão completamente.
— Eae cara. Eu sou o Tahiko, e aquele cara no canto é o Saik. Tudo bem? — disse o rapaz, dessa vez, agitado com um sorriso simpático e amigável.
— Como se chama? — perguntou o cara deitado no canto da sala, cujo seu nome era Saik, informado pelo Tahiko.
Tahiko era um homem alto de 1,85 de altura, 25 anos, tinha um físico atlético acima do normal, olhar exagerado e penetrante com uma sobrancelha arqueada, cabelo cacheado preto com um corte semelhante ao moicano, vestia uma jaqueta justa de cores azul, preto e branco que terminava no quadril, por fim, ele era muito expressivo.
Saik tinha uma altura humilde, 1,79, 24 anos, corpo minimamente saudável e olhos caídos, cabelo liso e dividido em duas cores, vermelho na parte de cima do cabelo e preto em toda parte lateral/inferior, vestimenta igual a do Tahiko com exceção de uma luva usada na mão direita, ao contrário do seu colega expressivo, Saik era mais contido, apesar de social e piadista, um piadista de piadas. Acho que chamá-las de piadas já foi um elogio da minha parte.
— Meu nome é Koji. Essa sala… O que é? Por que estamos aqui?
— Não tá vendo a desgraça que tá essa cidade? Nem a praia que era a única coisa boa sobrou — falou Tahiko, com um sorriso torto enquanto massageava seus bíceps.
Antes que uma conversa começasse entre eles, Spherea reapareceu, atraindo o olhar de Saik, que perguntou ao Koji sobre sua sombra.
— O seu demônio está em forma de sombra? Por que ela está fisicamente visível? Cara, isso não é nada normal.
— Eu tenho um pacto defeituoso. É só isso que eu posso falar — Koji respondeu, retraído e incomodado ao tocar nesse assunto.
Apesar do pouco barulho na sala isolada, o alto alarme do campo foi ouvido pelos três.
— Merda. O que tá acontecendo? — preocupado e ansioso, perguntou Koji.
— Deve ser algo muito louco, mas se liga que vai ser divertido — afirmou Tahiko, seu sorriso empolgante encheu o local de ânimo para a futura missão.