Chapter 2 - Dynami

11 anos se passaram.

Nas ruas da região oeste de Kayka, Koji estava sentado no meio-fio de uma rodovia. Com a expressão fechada, cabelo laranja e roupas vermelhas, ele segurava um bilhete em sua mão direita, aparentemente importante.

— Mate Mike Richers. Caso execute o alvo dentro de 24hrs, te recompensarei com $10 mil. Se demorar mais que isso, $5 mil será seu — estava escrito no bilhete, com assinatura de Leal, um gangster mandachuva na cidade.

— Espero que o Leal pague tudo direitinho. Preciso juntar mais grana, só assim vamos conseguir ir para Umeke — comentou Koji, olhando com aversão para o bilhete em sua mão.

Ao lado, estava Spherea, uma sombra demoníaca e humanóide de 3 metros de altura, pertencente à escrita cravada no antebraço direito de Koji, resultado do ritual negligente feito por Norman em 2014.

— Não sabe o ódio que eu sinto por não conseguir sentir gosto, esse picolé parece tão gostoso — disse a sombra, ignorando o comentário do Koji sobre dinheiro, enquanto lambia um picolé de morango.

— Sorte a sua. Picolé de morango é horrível. Talvez nada que venha do morango seja bom.

— Ahm? Sério? Eu não fazia ideia que o meu portador era um especialista em sabores.

— Quem sabe. Talvez eu também seja um piloto de avião — brincou Koji, simulando um piloto na cabine do avião — Senhoras e senhores, aqui quem fala é o comandante Koji Shhhhh Shhhhh.

— Isso foi hilário — disse a sombra, sem expressar nenhuma reação, muito menos sorriso e batendo palmas lentamente.

De repente, os alto-falantes e alarmes da cidade ecoaram um único aviso de emergência.

— Atenção, cidadãos de Kayka. Informamos que uma nova horda de Gyakus foi avistada na cidade vizinha, Dynami. Essas criaturas são altamente perigosas e violentas, portanto exigimos que se afastem ao máximo das fronteiras com a cidade de Dynami. Caso os avistamentos aumentem, se abriguem nos bunkers de apoio espalhados por toda cidade. As forças militares estão em alerta para a execução de resgates.

Gyakus era a denominação mundial dada aos monstros descomunais e anormais que surgiam ferozmente nas maiores metrópoles do mundo. Por esse motivo, as maiores potências mundiais, obrigatoriamente, criaram dois órgãos, Alliance e Torre.

Por fim, o aviso ressaltou.

— Estamos trabalhando em estreita colaboração com as autoridades de Dynami para monitorar a situação e tomar todas as medidas necessárias para garantir a segurança dos cidadãos das duas cidades.

Para a surpresa do Spherea, Koji andou na direção da ponte mais importante do estado, a Viridis River Bridge, localizada no extremo oeste de Kayka, ou seja, na fronteira com Dynami.

— Por acaso sabe para onde está indo?

— Para Dynami. O nosso alvo está lá, infelizmente vamos precisar ir — disse Koji, mostrando a identificação do alvo com foto para o Spherea.

— Mike Richers? Esse cara vai pelo menos te fazer ganhar 5 mil? 

— O Leal tá pagando muito pela morte desse cara. Por isso que comprei a briga, e bora logo que esse sol vai me matar — falou o Koji, batendo um fraco tapa no braço do Spherea como forma de motivação.

Contra a maré de pessoas desesperadas para fugirem da região próxima de Dynami, Koji e sua sombra caminharam até chegarem na Viridis River Bridge, onde havia militares que faziam o processo de integração dos cidadãos de Dynami para a cidade de Kayka. Basicamente, o normal era civis saírem de Dynami para Kayka e não o contrário. 

Quem cuidava das fronteiras era Phil, um capitão experiente, ele liderava a unidade militar nas fronteiras. O cabelo curto, barba branca e cicatrizes demonstravam o seu vasto conhecimento de batalha.

— Bom dia, eu posso entrar em Dynami? — Koji perguntou ao capitão, enquanto comia um doritos da vida.

— Por acaso é suicida? — rebateu o militar, encarando-o de frente com um leve sorriso.

Rapidamente, um outro combatente, cujo seu nome era Roger, alertou Phil.

— Capitão, do seu lado.

Ham?

O alto e tenebroso Spherea, com o seu sorriso elástico, surgiu ao lado do experiente Phil como um protetor do Koji, mas o capitão não se assustou.

— Então é um portador? Essa é uma ótima notícia — disse Phil, com tranquilidade e olhando para o Spherea de baixo para cima.

— Do que tá falando? — desinteressado, perguntou o Koji.

Phil caminhou poucos metros para a entrada de Dynami, Koji acompanhou-o e viu uma fila gigantesca de pessoas almejando a saída da cidade. O capitão olhou para Koji e disse.

— O Governo nos notificou que a situação está fora do controle, talvez a cidade inteira seja evacuada em poucas horas. Aquelas criaturas não são normais, certamente você sabe que humanos comuns não chegam perto de matar um bicho daquele.

— Ok, eu já entendi. Querem que eu ajude vocês, né? De boa, eu ajudo. — falou Koji, após olhar para a face preocupada de cada pessoa na fila.

— Ótimo. Mas as áreas mais atacadas estão um pouco longe daqui, por isso mandarei o oficial Roger te levar para a base de resgate na cidade — disse o capitão, ao puxar o militar Roger para perto.

— O que? Koji vai ajudar os militares a salvar vidas? Nossa, que mudança repentina de caráter — zombou Spherea, sorrindo e batendo palmas para o parceiro.

Com uma vista panorâmica da cidade, Koji sentiu-se incomodado quando olhou ao máximo para as ruas de Dynami e não viu ninguém. Então ele perguntou ao Phil.

— Quantas pessoas mortas?

— Sabemos que as regiões norte, leste e distrito central foram totalmente afetadas. Sem contar que as criaturas ainda estão por essas áreas, que são as mais populosas da cidade, então as estimativas são de no mínimo 500 mil pessoas mortas. 

Um veículo militar de locomoção e combates urbanos chamado marruá AM21, repentinamente, foi estacionado ao lado do capitão Phil pelo militar Roger. 

— Bora bora que eu quero testar esse motor — Roger estava animado e sorridente por finalmente conseguir dirigir um marruá.

Koji e Spherea se aproximaram do veículo, logo Phil, com a face séria, perguntou ao portador e sua sombra.

— Podemos contar com vocês?

— A gente iria entrar em Dynami com ou sem vocês — respondeu Koji, com uma expressão mais amistosa, enquanto abria a porta do carona.

— Leva eles para a base de resgate na zona leste o mais rápido possível, não sabemos quantos Gyakus estão na região — disse Phil, impondo responsabilidade e seriedade para Roger.

Era quase nove horas da manhã quando marruá AM21 atravessou os primeiros quarteirões da região leste de Dynami rumo a base de resgate, inúmeros helicópteros sobrevoavam o local para a captura ágil de sobreviventes. Koji, que estava no banco do carona, perguntou a Roger com uma certa curiosidade.

— Fazem ideia de quantos Gyakus estão dentro da cidade?

— Até onde sabemos são quatro. Fomos informados que estão se espalhando por toda cidade — disse Roger, com a mão esquerda no volante, enquanto vasculhava o porta-luvas com a mão direita.

Atento ao volante, Roger tirou um papel do porta-luvas e entregou ao Koji.

— Essa é uma descrição que um amigo deixou sobre uma criatura antes de morrer — falou o militar, concentrado em dirigir, mas com uma expressão meio abalada.

Koji percebeu a comoção controlada do Roger, e por respeito a ele, decidiu ler a descrição em silêncio.

— Uma gárgula adulta, tem 35 metros ou mais, cabeça inteira de crocodilo, três rabos e duas asas enormes.

— Eu não consigo achar isso normal, é impossível dormir bem lembrando que existem essas coisas — afirmou o oficial, agora balançando a cabeça em negação e com raiva.

Roger não fazia ideia, mas a presença de algum ser foi sentida por Koji.

— Roger, me ouve. Eu vou sair agora do veículo e você só acelera rumo a base, entendeu? — disse Koji, olhando para o militar com preocupação e com a mão direita na maçaneta do veículo.

— O que? Tá maluco? Nós já estamos perto de chegar, o capitão pediu para eu te levar até a base — respondeu Roger convicto e dividindo a sua atenção na pista e no Koji.

— Tem uma criatura atrás da gente, se não fizer o que estou pedindo, tem grandes chances de nós morrer. O que acha disso?