"Um segundo nosso para o universo não é nada, mas um segundo do universo para nós é muito mais que uma vida inteira."
— "Onde estou? Quem sou eu? Para onde vou? Como cheguei aqui?"
Em um plano imenso e vazio, uma consciência nasceu. Sem lembranças e sentimentos, cheio de perguntas e sem ninguém para responder. Não havia estímulos para Rými evoluir, apenas a estagnação o esperava. Rými foi o nome que tomou para si.
Rými vagava sem rumo pela vastidão à sua frente e não sabia o que era nem onde estava, não importava para onde ia, não havia nada para ser encontrado, apenas a escuridão e o frio profundo o acompanhavam.
Vagou por muito tempo sem perceber o tempo passar, pois não havia nada para ser afetado pelo decorrer dos anos.
Milhares de anos se passaram sem que qualquer novidade aparecesse nesse plano vazio. Sem perceber, essa consciência entrou em um estado inerte. O tempo passava rapidamente, infelizmente não havia nada que
Em um momento de sua vida, o primeiro estímulo o atingiu. Surpreendido por essa nova e poderosa sensação que atacava seu ser, foi o suficiente para despertá-lo de seu sono profundo.
— "O que é isso? É tão quente e poderoso. Sinto uma força tentando me empurrar para longe." Voltando-se para a direção dessa energia, Rými percebeu uma pequena e bela luz vindo daquele local. As cores dessa luz variavam entre todos os tons possíveis, criando um lindo espetáculo para ele.
Maravilhado por essa 'visão', tentou se aproximar para apreciar melhor esse novo estímulo que criou novas e diversas sensações e emoções em seu ser. Vagando em direção à luz, o tempo passou sem perceber, contudo, Rými nunca conseguiu se aproximar dessa luz, o que criou novos sentimentos como decepção e tristeza.
Em um momento, parou de vagar e "olhou" em volta, o vazio que existia anteriormente, estava preenchido com milhares de luzes e poeiras de cores diferentes. No meio dessas poeiras, podiam ser vistas novas luzes sendo formadas e também havia locais em que essa poeira se concentrava, formando esferas concentradas de pó.
Sem saber quando tudo isso surgiu, a consciência começou a observar esses novos objetos surgirem. Mais e mais pontos de luzes aparecerem e mais pó se concentrou.
— "Há tantas coisas novas!" pensou feliz.
O tempo passou novamente e Rými observou novas coisas sendo criadas, das quais nomeou como achava melhor. Havia pontos de luz que ele nomeou de estrelas, o pó que se acumulou e girava em torno das estrelas nomeou-os de planetas, e o que circulava os planetas, de luas.
Havia outros, como asteroides e cometas, que tinham uma cauda que surgia conforme se aproximavam das estrelas. Também viu as estrelas colapsarem e formarem novos objetos, na qual teve um que parecia puxar tudo para si, não deixando nem a luz escapar.
Todas essas coisas novas o fascinou por um tempo, até que esse universo 'estagnasse' e nada novo surgisse. O sentimento de tédio veio a esse ser. Rými não gostou disso e vagou em busca de algo novo e principalmente de outro ser que parecia como Rými.
Muito tempo passou, mas nada novo surgiu e Rými ficou infeliz. Queria interagir com outros seres vivos, havia muito o que queria dizer e discutir, mas não encontrou outro com quem podia falar.
Em algum momento, depois de muito vagar por esse universo sem vida, Rými teve uma ideia. Já que não havia ninguém com quem falar, por que não criar um ser que pudesse interagir com Rými?
Nunca tendo feito isso antes, não sabia por onde começar, no entanto, Rými tinha todo o tempo do universo. Conforme o tempo passava, Rými tentou muitas coisas diferentes, mas tudo fracassou e nada resultou em outra forma de vida.
— "Depois disso só me resta a solidão."
Como sua última tentativa, Rými pegou uma pequena parte de sua consciência e separou-se do mesmo. A seguir, injetou diretamente em um planeta. Sua ideia era que o planeta absorvesse sua consciência e criasse vida.
Após fazer isso, esperou por muito tempo, mas nada aconteceu.
— "Isso falhou também, acho que é o meu destino ser solitário"
Não tendo mais nada de novo para ver aqui, Rými entrou em estado de hibernação, assim o tempo passou.
Muitos anos depois, Rými acordou, ainda meio dormente, um som chegou à sua percepção.
— "Olá, foi você que me criou? Sinto que estamos ligados." Uma voz infantil chegou à sua percepção.
Olhou em volta à procura do dono da voz, esperando encontrar outro ser como Rými, contudo, não viu nada.
— "Aqui atrás!" Virando-se para a voz, Rými viu o planeta que injetou parte de sua consciência. Diferente de antes, o planeta está verde e azul, e parecia haver algum tipo de cúpula em volta dele.
Esse planeta sofreu mudanças que Rými não sabia dizer o que as causou, porém, era algo novo que ele nunca havia visto, e isso o animou.
— "Você pode falar!" Disse surpreso. — "Qual é o seu nome?" Perguntou em seguida.
— "Eu… Eu não sei o que é isso" O pequeno planeta estava confuso, sem saber o que responder.
Vendo isso, Rými percebeu que a inteligência do pequeno planeta era pequena e imatura, mas poderia se desenvolver no futuro.
— "Vou dar um nome para você. De agora em diante, você se chamará de Atakai."
A consciência conversou com esse pequeno planeta por um tempo. Vendo que sua tentativa de criar outra vida deu certo, Rými continuou criando mais planetas conscientes.
O tempo passou e Rými criou vários planetas conscientes e os tratou como se fossem seus filhos. Também expandiu seu ser para cobrir todo o vasto universo em que vivia.
Rými também percebeu que, nos planetas mais velhos, minúsculas formas de vida consciente nasceram e se desenvolveram. Ficou feliz vendo seu universo prosperando com vida.
Assim, a maior parte do seu tempo foi gasta observando esses pequeninos seres se desenvolver e criar coisas maravilhosas. Também teve guerras e pestes que destruíram muitas civilizações, mas a maioria conseguia sobreviver. Houve até alguns que tentaram sair de seu planeta natal, mas pouco conseguiram e não iam muito longe.
Rými dividiu as civilizações em três tipos.
A primeira se desenvolveu através da tecnologia, abandonado a energia do planeta. Eles concentravam todo seu esforço em criar máquinas para trabalhar para eles. Esse desenvolvimento trouxe grandes melhorias para suas vidas, contudo eles perderam ao capacidade de manipular a natureza a seu redor com a ajuda da energia do planeta.
A segunda se desenvolveu fortemente ligada à energia do planeta, eles não tinham máquinas poderosas que trabalhavam para eles, no entanto, podiam manipular seu entorno à vontade com certa limitação, no entanto, alguns poucos tinham poder para destruir uma civilização inteira.
A terceira era uma mistura das duas outras, eles tinham tecnologias e manipulavam a energia do planeta, embora não fossem ótimos em ambos. Misturando os dois eles, conseguiram viver bem e sobreviver às suas dificuldades. Essas civilizações eram as mais raras no universo.
Rými estava feliz com o desenvolvimento de seu universo. A vida prosperava e sua consciência se espalhava por todos os cantos. Não havia perigo à vista até hoje.
— "O que é isso?" De repente, ele sentiu que perdeu o contato com um de seus planetas.
Rapidamente mudou sua consciência para o local onde deveria estar o planeta, chegando lá, viu algo que fez seu 'coração' doer.
— "Etertis! O que aconteceu com você?" Rými tentou falar com o planeta que uma vez foi verde e cheio de vida e agora estava pálido e sem brilho, sua superfície parecia coberta com algum tipo de "piche" que não conseguia reconhecer. Não houve resposta.
O tempo passou e logo perdeu a conexão com outro planeta, depois outro e outro.
Rými não sabia nem entendia o que estava acontecendo. Na tentativa de achar quem estava causando isso, Rými espalhou sua consciência por todo o universo e procurou por algo.
Depois de muita procura, perto de onde os primeiros planetas morreram, havia um ponto negro no espaço. Era grande e estava crescendo, seu corpo era escuro e lembrava o "piche" que encontrou nos planetas. Enquanto olhava, parecia estar olhando para um abismo, não importando o quanto olhasse, nunca veria seu fundo. Como parecia um abismo sem fim, esse foi seu nome.
— "Te encontrei, seu maldito."
Enquanto observava o causador de problemas, uma pequena esfera foi lançada em direção a outro planeta ao longe. Vendo isso, Rými tentou impedir, mas não importasse o quanto tentasse, nada que fazia funcionava.
Não podendo fazer nada, Rými acompanhou a esfera. Viu como ele atingiu o planeta, chegando à superfície sem causar danos. Rými esperava um grande impacto, mas isso não aconteceu.
Observando melhor o local em que a esfera caiu, esperava vê-la se expandindo e cobrindo todo o planeta, mas o que viu o surpreendeu.
Os habitantes descobriram essa esfera e tentaram entender o que era, mas ao chegar perto, alguns ficaram violentos e atacaram seus companheiros.
— "Por que eles estão lutando entre si?" Rými ficou confuso, então continuou a observar com esperança de entender o que estava acontecendo.
— "Eu vejo, isso é uma doença, ela se espalha pelo planeta através dos habitantes."
Ao observar o planeta sendo consumido, Rými viu os pequenos seres vindo com curiosidade até a esfera de "piche", depois alguns deles ficaram 'doentes', começando à atacar todos a sua frente, contaminado mais seres vivos. Conforme mais eram contaminados, mais o planeta era coberto por "piche".
Os que não estavam contaminados se defendiam, mas seus esforços pareciam inúteis. Eles lutaram com tudo o que tinham, até que seu planeta foi tomado completamente pelo "piche".
— "Como posso me livrar dessa coisa maligna?" Não querendo que mais planetas sofressem o mesmo destino, Rými começou a tentar diversas coisas, infelizmente todas fracassaram até que ele tentou a única coisa que lhe restava.
Pegando parte de sua energia vital, Rými começou a injetar em um planeta que estava prestes a ser invadido. Usar esse método podia matar Rými, mas não tendo mais opções, Rými não hesitou e faria todo o possível para salvar a vida em seu universo.
O planeta que recebeu essa energia primordial parecia energizado, toda a vida parecia mais forte e vibrante, os seres conscientes conseguiram manipular melhor a energia do planeta e pareciam ser iluminados com novos conhecimentos, criando novas tecnologias, superiores a tudo já criado.
Quando o Abismo atacou o planeta, os seres vivos conseguiram resistir, mas não vencer, criando um impasse. Não era o que Rými esperava, contudo, isso poderia dar tempo para os outros planetas se prepararem para o ataque eminente.
Para sua felicidade, o Abismo só podia atacar um planeta por vez. Se esse planeta resistisse por mais tempo, os outros poderiam ficar fortes e, com sorte, vencer esse abismo, seja lá o que fosse.
— "Não estarei aqui para ver seu crescimento, espero que todos possam crescer fortes para sobreviver a essa calamidade."
Não vendo outra solução, Rými tomou sua decisão.
Pegando toda sua força vital, a dividiu em quantidades iguais e enviou a cada planeta que ele criou. Tudo o que ele queria era ver esse universo crescer, agora ele não sabia se poderia voltar a ver esse vasto lugar outra vez.
— "Sobrevivam." Foi sua última palavra aos planetas e seu último desejo.
Do outro lado do universo, em um tempo muito distante, Edart está acordando em um novo mundo, sem saber o que lhe aguardava.