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Chapter 2 - Capítulo 2: Ajuda não se nega

Eu sabia que não seria fácil. Mesmo que eu saísse por aí gritando e alertando a todos, dificilmente acreditariam em mim. Afinal, eu era apenas um pirralho de oito anos nesse novo mundo. No máximo, eu acabaria de castigo por falar merda. Mas eu tinha algo que ninguém mais possuía: o conhecimento sobre o que estava por vir nos próximos dias.

Além disso, existia uma pessoa que poderia me ajudar, e não era qualquer pessoa, mas sim aquele que Bartolomeu chamaria de pai no futuro. A história é um pouco complicada. Quando criei Bartolomeu em minha antiga vida, fiz questão de lhe dar um passado bem trágico. Na época, parecia interessante, pois todo "herói" com um passado difícil é considerado especial pelas pessoas. Só que eu não imaginava que esse "herói" teria que ser eu no futuro. E agora, aqui estou eu.

De toda forma, eu precisava procurar por Christopher Cooper, o lendário capitão do Sombra da Maré, um imenso navio com uma tripulação bem peculiar. Na história que eu criei, Christopher apareceria na vila sete semanas antes da maldição surgir, e durante essas semanas, o capitão, além de se afeiçoar pelo povo da vila, criaria um laço de amizade com o pequeno Bartolomeu. Então, a única coisa que eu precisava fazer era me aproximar dele, e com sua ajuda, eu poderia encontrar a pessoa que amaldiçoou a vila.

E sim, sei que você pode estar se perguntando: "Se foi você quem escreveu a história, por que não vai logo atrás do responsável pela maldição?" A resposta é simples: não fui eu quem escolheu o culpado, mas sim meu antigo amigo Murilo, o mestre da mesa de RPG. E não, eu não cheguei na parte em que meu personagem encontrava o culpado, pois eu morri pra uma casca de banana antes disso ocorrer. Patético.

Só que isso não importava mais, eu já tinha informações suficientes para fazer as coisas mudarem, só faltava colocá-las em prática.

Após ajudar meu pai com a pesca e venda dos peixes, corri para o porto, dizendo aos meus pais que iria brincar. Mas o verdadeiro motivo era porque, se eu estivesse certo, aquele dia seria a primeira vez que Christopher aportaria na vila. Eu sabia disso porque outro pirata conhecido na região havia chegado ali, e esse mesmo pirata procuraria briga com Christopher, resultando em algo que na história original faria o Bartolomeu virar um fã de Christopher.

Ao chegar no porto, meus olhos buscavam pela multidão um homem de cabelos ruivos, barba grande e desgrenhada na mesma cor, pele bronzeada e envolto em um sobretudo típico de pirata na cor púrpura. Este seria Christopher Cooper, um dos piratas mais procurados e famosos de toda Zanokar. Sua fama era tão imponente que até mesmo o pirata mais temido com nome de Oliver Black, membro renegado da família do imperador das sombras, Edward Black, o respeitava.

E foi enquanto o procurava, que pude ouvir algo que me deixava ainda mais feliz do que o encontrar. Ao longe, um tumulto ocorria. Alguns piratas estavam discutindo entre si, e lá no meio, estava Christopher, porém, no chão. O pirata estava sentado, com as costas apoiadas em alguns sacos de batatas e seus cabelos escondendo o rosto. Sua pele e cabelos estavam molhados. Aparentemente, o tal pirata que iria procurar briga com ele já o tinha feito, e ali estava o lendário capitão do Sombra da Maré, com uma postura "vergonhosa", em silêncio e caído ao chão enquanto seus homens discutiam com os outros piratas da tripulação rival. No entanto, eu sabia o que realmente estava ocorrendo, afinal, fui eu mesmo quem escreveu essa cena.

Em silêncio, Christopher se levantava lentamente. Enquanto seus companheiros de tripulação defendiam sua honra, prontos para iniciar um combate contra os outros piratas, Christopher os parava com um gesto simples da mão. Seus olhos eram calmos, contrastando com a agitação ao seu redor. Os piratas rivais observavam, confusos sobre o que ele faria a seguir. Lentamente, Christopher se dirigia ao pirata que o provocara inicialmente, mas os subordinados dele tentavam impedi-lo. No entanto, ao se colocarem em seu caminho, um simples olhar do capitão os paralisava, tornando-os imóveis.

Com um sorriso sereno no rosto, Christopher seguia em frente e tocava levemente o ombro do pirata causador do tumulto. Este, assim como os outros piratas, não conseguia se mexer, incapaz de resistir à presença imponente do capitão.

- Eu sei que você não gosta de mim Jerry Sullivan. E serei sincero, eu também não gosto de você.

Christopher olhava ao redor e via o rosto dos habitantes locais, percebendo o medo nos olhos deles diante da possibilidade de uma disputa entre piratas em seu vilarejo. Ele compreendia que um confronto poderia resultar na morte de pessoas inocentes.

- Olhe em volta Sullivan, essas pessoas merecem uma disputa entre nós por causa de orgulho? Não seria a primeira vez em que nossas tripulações lutariam, então você sabe o potencial que ambas possuem em destruir coisas... Aqui não somos piratas, somos visitantes, e estas pessoas são nossas anfitriãs... então mantenha respeito.

Após essa fala, Jerry Sullivan, o pirata rival, diminuía seu ímpeto, e como se estivesse sob efeito de magia, sua expressão de ódio se transformava em algo mais pacífico. O poder das palavras de Christopher era evidente, uma calma inesperada chegava ao ambiente tenso do porto.

- Droga... Odeio quando você está certo Cooper... Merda! - Jerry levava a mão ao rosto, o esfregando, e depois olhava para seus homens, ordenando que se acalmassem e recuassem. - Tanto faz, vamos lá, a primeira rodada será por minha conta, para compensar o ocorrido...

Como se nada tivesse ocorrido, os dois piratas caminhavam lado a lado em direção à taverna local. Para mim, aquilo era épico. Christopher não precisava demonstrar sua força com socos, tiros ou qualquer outra coisa do tipo. Ele era forte, e sabia disso, e por isso não usava sua força de forma desnecessária. Quando criei Christopher em minha antiga vida, o idealizei como um tipo de pirata diferente do que se espera como 'normal'. Não o criei para ser aquele que é reconhecido por ser implacável no combate, embora ele fosse. A maior virtude do lendário Christopher Cooper era seu carisma, suficiente para fazer as pessoas lutarem ao seu lado por lealdade e não por benefícios.

Agora que o havia encontrado, bastava me aproximar. Corria em direção à taverna, chegando primeiro que eles. Por ser pequeno e rápido, era fácil passar pelas pessoas e já que conhecia toda a vila como a palma da minha mão, então tinha tomado o caminho mais curto. Ao chegar na taverna em que Jerry e Christopher iriam beber, sentei em uma cadeira de madeira em frente ao balcão. O taverneiro, senhor Gideon, logo me reconhecia e vinha até mim.

- Olá, Bart! O que faz por aqui? - Ele perguntou enquanto limpava uma caneca de vidro.

- Ah, olá, senhor Gideon. Estou esperando uma pessoa... Ele logo chegará. - Respondi ao taverneiro.

- Entendo. E como está seu pai? - Gideon terminou de limpar a caneca e colocou o pano em seu ombro.

- Está como sempre, cheirando a peixe... - Brinquei, fazendo uma careta para Gideon, indicando o mau cheiro.

Enquanto conversava com o senhor Gideon, Christopher e Jerry finalmente chegavam na taverna. Assim que entraram, era possível ver a reação de alguns piratas presentes. Parecia que eles não conseguiam acreditar no que viam. A história entre Christopher e Jerry era antiga, com muitos anos de disputa entre eles, desde antes de ambos se tornarem capitães de seus próprios navios.

- Hmm, parece que o ambiente mudou... - Afirmava Gideon.

- Sim, e não é atoa... Aquele é Christopher Cooper. - Eu informava ao senhor Gideon enquanto fazia uma expressão de "sabe tudo".

- Chris-Christopher Cooper?! Aqui?! - Gideon assim que ouvia seu nome vindo de minha boca voltava a olhar para o capitão e assim que o reconhecia saia correndo para atender ao homem.

Eu já sabia qual seria a reação de Gideon; afinal, também o criei em minha antiga vida. Gideon era um marujo aposentado que, ao chegar na vila, nunca mais quis sair. Para manter contato com os mares, mesmo que de forma indireta, criou uma taverna, o local mais frequentado por bucaneiros. Além disso, ao longo dos anos, Gideon desenvolveu um hobby de colecionar cartazes de piratas procurados, comparando suas recompensas. Portanto, era óbvio que ele teria um de Christopher Cooper, o capitão do Sombra da Maré, cuja cabeça valia a pequena fortuna de setenta mil peças de ouro imperiais. Se você não sabe quanto isso vale, tenha em mente que essa quantia é suficiente para tornar-se um barão no império de Umbra, o maior reino, com seu próprio território.

Enquanto Gideon atendia Christopher e Jerry, eu me aproximava lentamente. Eu sabia que Christopher me ajudaria, mas não podia simplesmente chegar e dizer que a vila estava sob ameaça de uma maldição que mataria a todos e só eu iria sobreviver. Eu não sabia o quanto minha "sabedoria" influenciaria os acontecimentos. Por mais que tivesse "criado" aquelas pessoas em minha antiga vida, não podia presumir que isso me daria todo o conhecimento sobre elas. Agora, elas eram pessoas reais, com uma história, um passado que nem mesmo um habilidoso escritor seria capaz de descrever. Uma vida não pode ser resumida entre linhas de um texto.

- É... senhor Cooper... - O chamava com a voz baixa e de modo receoso.

E, como era de se esperar, nenhum deles conseguia me ouvir. Além do barulho de canecas, conversas altas e música da taverna, Gideon, Christopher e Jerry conversavam entre si, contando histórias sobre eles.

- É... senhor Cooper... ? - Tentei mais uma vez, um pouco mais alto.

E assim como na primeira tentativa, minha presença não era tão forte para que eles pudessem me dar atenção. Afinal, preciso mesmo lembrar que eu era apenas um pirralho de oito anos?

Respirava fundo e os olhava com raiva. Odiava ser ignorado, e isso não era algo exclusivo dessa nova vida. Sem perceber, deixei minha energia transbordar por causa da raiva e o resultado não podia ser diferente.

- Senhor Cooper! - Gritava furioso.

Assim que o fazia, todo o salão ficou em silêncio. Christopher me olhava assustado, poucos ali eram habilidosos o suficiente para perceber que aquele grito não era apenas de uma criança falando alto e com raiva. Tinha energia mágica transbordando de mim.

- O quê... foi isso? - Christopher falava lentamente ainda espantado com o ocorrido.

- Ah, me desculpe... - Meu rosto ficava afundado em vergonha.

De modo geral, eu obtive resultado, mesmo que não fosse o esperado. Agora tinha a atenção de Christopher, o problema é que junto a dele, veio a do resto da taverna. Gideon ia até mim me segurando pelos ombros como se quisesse me afastar da confusão.

- Desculpe, senhores. Bart é um menino bem sociável... tenho certeza de que ele apenas queria um autógrafo dos lendários capitães Jerry Sullivan e Christopher Cooper... Me perdoem. - Gideon continuava falando enquanto me afastava da confusão que causei.

Agora que havia conquistado a atenção, e talvez o interesse, de Christopher ao deixar descuidadamente meu poder mágico transbordar que cabia a mim aproveitar, ou não, a oportunidade.

-Não! Eu preciso falar com o capitão Cooper! - Gritava enquanto afastava as mãos de Gideon de mim.

- Bart, acho melhor você voltar para casa. Aqui não é lugar para crianças... - Gideon tentava abafar meu ímpeto novamente.

Obviamente, Gideon era mais forte que eu. Mesmo que eu me debatesse, para um marujo, mesmo aposentado, eu era apenas uma criança. Quando o homem adulto estava quase conseguindo me afastar deles, eu usava minha carta na manga.

- Senhor Cooper! 'Ajuda não se nega'! - Gritei alto o suficiente para que Christopher ouvisse.

Após minha fala, não conseguia mais ver o capitão, pois o corpo grande de Gideon estava em minha frente. Mas pude ver apenas a mão de Christopher tocar no ombro do taverneiro, o parando.

- Tudo bem, garoto... você tem minha atenção. - Christopher falava em tom e feição sérios.