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Chapter 4 - Capítulo 4: Minha força

Você deve estar imaginando minha reação, talvez algo como: "Nossa, que legal! Vou ter um irmãozinho." ou "Entendo, mamãe e papai. Serei um exemplar irmão mais velho." Mas essas são reações do campo imaginário. Minha verdadeira reação foi assim:

- O-o quê?! - Engasguei-me com a sopa que estava tomando. - Como assim você está grávida?!

Antes que me julguem, esse "evento" foi a primeira coisa fora do roteiro. Na minha antiga vida, Bartolomeu não tinha irmãos, pois seus pais haviam morrido antes mesmo que ele pudesse cogitar ter um. No entanto, agora as coisas estavam diferentes.

Minha cabeça girava, não pela possibilidade de ter um irmão ou irmã, mas pelas novas possibilidades que esse evento poderia desencadear. Sem falar que, se isso aconteceu, algo que eu fiz deve ter alterado a linha de eventos. E claro, falar com Christopher distorceu a "realidade" anteriormente estabelecida na história do Bartolomeu, já que isso não acontecia na história original. Fui descuidado.

Mas agora, eu precisava tentar acalmar as coisas. Não era hora para histerias.

- Qu-quer dizer... Nossa... Que legal... - Exibi um fraco sorriso.

- O que foi, querido? Não pense que um bebê vai tirar seu posto de filho querido. Você será sempre nosso amado Bart. - Minha mãe, com bastante delicadeza, se aproximou e me afagou.

- Isso, você é meu filho herdeiro! - Meu pai riu, mostrando os músculos.

Como se ser herdeiro de um pescador fosse algo grandioso, mas, de certa forma, me senti mais leve ao ouvir as palavras deles. Não que eu estivesse preocupado em perder meu posto de filho querido, mas era bom saber que eu tinha pais em quem podia confiar e contar.

As horas seguintes foram de grande comunhão entre mim e meus pais. Fizemos planos e promessas sobre o futuro do bebê. Eu realmente não queria perdê-los, e eu não iria perdê-los. Pela manhã, comecei algo que deveria ter feito desde o momento em que cheguei a este mundo, desde o momento em que descobri ter magia, e desde o momento em que decidi salvar meus pais: treinar.

Comecei minha nova rotina logo ao acordar. Levantava mais cedo do que todos, saía de casa e corria na praia para despertar meu corpo. Assim que terminava a corrida, fazia flexões, agachamentos e levantava alguns baldes cheios de água. Mesmo que o cansaço começasse a tomar conta de mim, eu me forçava cada vez mais a superar minhas capacidades. Sabia que não iria mudar do dia para a noite, mas pelo menos iria adquirir resistência até chegar o grande dia. Eu tinha exatamente seis semanas e seis dias para me preparar. Ou, pelo menos, era isso que eu esperava.

Depois do meu intenso treinamento, corria até o navio Sombra da Maré, que estava no porto, para me encontrar com Christopher. O navio era extremamente bonito e imponente; vê-lo de tão perto era realmente assustador, mas de uma maneira boa. O navio tinha pelo menos três divisões internas, com duas fileiras de canhões de cada lado. A madeira usada na construção era escura e parecia ser da melhor qualidade. Toda a embarcação era ornamentada com detalhes dourados de ouro puro, e tinha uma cabeça de proa em forma de onda negra, por conta da tonalidade da madeira.

Ao chegar, encontrei uma rampa de madeira que levava ao convés do navio. Ao subir, percebi que não havia ninguém de guarda, mas notei uma intensa movimentação no navio.

- Vamos! Está na hora de acordar, vamos trabalhar! - um pequeno homem gritava no centro do navio.

Ao me notar, o homem, de no máximo um metro de altura, caminhava até mim. Sua aparência lembrava um pouco meu pai, porém compactado. Sua pele tinha um tom oliva, e seus cabelos negros tinham alguns fios brancos. Ele tinha uma barba tão grande que chegava até a metade de seu torso, bem enfeitada com anéis de prata ornamentados.

- Ei, você deve ser o pirralho de quem o Christopher falou... Também é o único que teria coragem de subir aqui de forma tão descuidada... - o anão olhava para a tábua de madeira que dava acesso ao navio. - O capitão disse que você poderia aparecer por aqui hoje. Ele está na cabine. - o anão apontava. - Aliás, me chamo Edyr, o anão.

- É um prazer, senhor Edyr. Ouvi bastante sobre você, estou honrado. - respondi, fazendo uma saudação respeitosa. - Meu nome é Bartolomeu Di'Santini.

Claro que eu não tinha ouvido falar sobre ele, mas conhecia o suficiente para saber que ele era alguém que amava elogios e coisas que o fizessem parecer importante. Anões são uma raça bem egocêntrica, mas, quando você aprende a lidar com eles, fica bem fácil se relacionar.

- Hum, muito bem. Parece que os jovens de hoje em dia ainda sabem como tratar alguém importante. - Edyr falava com um leve rubor nas bochechas. - Vamos, vai logo ver o capitão... preciso lidar com esses preguiçosos. - Edyr voltava sua atenção para os marujos do navio. - VAMOS HOMENS!

Com Edyr voltando ao "trabalho", fui até a cabine indicada por ele. Todo o navio era muito bonito em detalhes, e até a porta da cabine combinava perfeitamente com o resto da embarcação. As maçanetas douradas chamavam bastante atenção, a ponto de me fazer ficar alguns segundos apreciando a beleza de uma simples porta. Sim, era realmente bonita.

Abri a porta e me deparei com uma imensa mesa de madeira no centro da sala, um mapa de todo o continente sobre ela e uma faca fincada em alguma parte do mapa. Christopher estava em uma ponta com um semblante sério, usando seu habitual sobretudo púrpura. Na outra ponta, uma mulher de roupas longas, corpo esbelto, pele negra, olhos verdes como esmeraldas e cabelos cacheados, além de um chapéu pontudo, claramente uma feiticeira. Era estranho ver aquela figura ali, pois normalmente quem estaria presente como a figura "mágica" do navio seria Zenfis, o mago, além de ser um grande amigo de Christopher.

- É... Oi? - chamei a atenção de ambos para mim, um pouco receoso.

Christopher e a feiticeira olharam para mim, um pouco espantados por não terem me notado antes, já que estavam tão focados na conversa.

- Ah, é você, Bart... Venha aqui. - Christopher me convidou.

- Este garoto... - a feiticeira finalmente falou, me analisando.

Sentia os olhos da mulher me engolirem; era como se ela conseguisse ver através de mim. Com certeza, ela não era normal. Sua voz era como seda, suave, quente, aconchegante, mas ao mesmo tempo tinha uma presença aterrorizante, fatal, venenosa. Eu simplesmente travei por um breve momento, incapaz de me mover. Quando notei que havia algo errado, forcei um pouco e minha energia mágica exalou o suficiente para me libertar daquela paralisia. Caí de joelhos, ofegante.

- Pare com isso, Selene... - Christopher a repreendeu, e em seguida olhou para mim. - Me desculpe, garoto. Ela tem esse terrível costume.

Eu estava pálido; meu coração quase saltava pela boca. Nunca tinha vivenciado algo como aquilo, mas mesmo assim a olhava diretamente nos olhos com bravura. E ela simplesmente ria disfarçadamente.

- Confesso que ele é melhor do que eu esperava... Nesta idade, conseguir sair da minha paralisia... Nada mal, garoto... - Selene falou.

- Quem é você? - Eu falava ainda com um pouco de dificuldade.

Antes que Selene pudesse falar, Christopher respondeu. O homem tinha uma expressão diferente em seu rosto. Normalmente, o capitão tinha um ar confiante, valente, uma postura de quem nunca se abalava, mas não era o caso naquele momento.

- O nome dela é Selene Moon. Ela é a feiticeira do Sombra da Maré... - Ele olhou para Selene e depois para mim com certa tristeza. - Acontece que viemos a esta ilha por um motivo, Bart, e Selene faz parte desse motivo.

Eu os olhava curioso por alguns breves momentos, até que finalmente as coisas começavam a se conectar. Se Selene era quem estava ali no lugar de Zenfis, mesmo o mago sendo como um braço direito para Christopher, então...

- Cerca de dois meses atrás, Zenfis, meu amigo e mago do Sombra da Maré, desapareceu. Nós o procuramos por todo o navio, mas mesmo estando em alto mar, apenas uma carta estava sobre sua cama. - Ele tirava do bolso um papel velho e me entregava.

Eu pegava o papel e o abria com cuidado. A carta estava bastante desgastada, como se Christopher a tivesse pegado várias vezes, talvez em busca de alguma pista deixada por seu amigo. O conteúdo era apenas um endereço, e a localização era exatamente na vila em que estávamos, a minha vila.

- Como pode ver, a localização bate com a sua vila, e por isso estamos aqui. No caminho até aqui, encontramos Selene. Ela era uma conhecida de Zenfis, por isso a pedi que viesse conosco. E, bem, como pode comprovar em primeira mão, ela é poderosa... - Christopher olhava para a feiticeira. - Só não é muito educada.

Eu analisava um pouco a situação. Não lembrava de ter escrito algo assim em minha vida passada, mas de repente em um estalo eu notei que era justamente por isso que algumas coisas que eu não entendia estavam ocorrendo, como a gravidez de minha mãe. Como eu disse anteriormente, é impossível contar uma história inteira entre as linhas de um texto; portanto, o que estava ocorrendo era apenas o "preenchimento" dessas lacunas. A falta de informações deixadas por mim na história original deixou brechas para que, nessa nova vida, ramificações da história original fossem criadas, preenchendo assim os buracos narrativos.

- Depois que você me contou ontem sobre seu sonho, acho que tudo esteja conectado de certa forma - Christopher continuava. - O nome de Zenfis estava entre os que você me disse. Só que o problema é que a data que você mencionou não é em relação a encontrá-lo, mas sim sobre a maldição...

- Senhor Cooper... - Eu o chamava enquanto forçava minha mente a pensar. - E se a maldição estiver ligada ao senhor Zenfis?

Olhei para o capitão e, em seguida, para Selene. Embora fosse algo que eu realmente não soubesse, fazia sentido. Zenfis não era um personagem que eu havia desenvolvido, então ele ter relação com a maldição não era algo impossível. Talvez ele até pudesse ser o causador da maldição, mas eu não podia falar isso para Christopher. Além de não ter provas, isso mexeria com alguém importante para ele, alguém que ele considerava um companheiro.

- Ligado ou não, precisamos investigar o quanto antes - cortava Selene. - Se o que Christopher me falou estiver certo, essa maldição ainda está em processo de desenvolvimento, então precisamos correr contra o tempo para que ela não seja finalizada - concluía a mulher.

Christopher e eu concordávamos, mas apenas falar isso não era suficiente; não tínhamos ideia por onde começar.

- Ok, mas e agora? - Eu era o primeiro a dar iniciativa.

Selene me olhava com certa surpresa. Eu tinha esquecido que eu estava no corpo de uma criança de oito anos, então não era muito comum agir como adulto, ainda mais de forma tão séria.

- Christopher me disse que você tinha potencial, só não sabia o quanto... - A mulher tinha um sorriso estranho no rosto.

- Selene... - Christopher a repreendia.

- Certo, certo... - Ela sorria maliciosa. - Se é uma maldição capaz de atingir toda a vila, ela precisa ser produzida em um lugar que cubra a vila por inteiro de alguma forma, seja de cima, ou por baixo... no caso, como não há algo acima da vila, então acredito que esteja no subterrâneo dela.

- Então é por lá que iremos começar... - Christopher falava e em seguida me olhava. - Você sabe como chegar lá?

Eu pensava um pouco e finalmente lembrava de uma passagem que eu havia escrito na minha antiga vida. Embora na história original fosse uma passagem criada para o pequeno Bart apenas usar para brincar, ela de fato levava ao subterrâneo da vila. Então, seria um belo começo.

Comentava com Christopher e Selene sobre a entrada, e ambos concordavam. Como tínhamos que iniciar logo nossa investigação, combinamos de nos encontrar à noite, assim que meus pais estivessem dormindo. E bom, Christopher só me aceitou mesmo porque sou bom em convencer as pessoas... talvez também porque eu falei que se ele não me levasse, eu não diria o restante do meu sonho que eu supostamente teria escondido dele.

Assim que a noite chegou e meus pais dormiram, deslizei silenciosamente pela janela do meu quarto, levando apenas a roupa do corpo. Como não tinha armas, preferi deixar o combate inicial para Selene e Christopher. A noite estava silenciosa, apenas alguns poucos movimentos de piratas no porto. O som das ondas batendo contra a praia cobria os ruídos causados pelo meu caminhar na areia. Ao longe, o capitão e a feiticeira me esperavam perto da entrada que eu havia mencionado. O lugar era próximo ao porto, uma espécie de abertura do esgoto da cidade até o mar.

- Então você realmente veio... - Christopher falava com um sorriso irritante no rosto. - Tome, se as coisas ficarem perigosas lá eu não tenho como ficar te vigiando e lutando ao mesmo tempo.

Quando me aproximava, Christopher me entregava uma adaga. A lâmina era negra e bonita, fazendo uma leve curva em formato de garra. O metal parecia reluzir à luz fraca da noite, mostrando runas antigas gravadas ao longo da lâmina. O cabo também era escuro, com ornamentos de madeira negra entalhada, proporcionando uma aderência firme e confortável. A guarda da adaga era adornada com pequenas gemas roxas, que brilhavam fracamente como estrelas distantes.

- Por que tudo seu tem roxo? - Eu analisava a adaga enquanto a segurava em minha mão.

- Eu gosto da cor. - Christopher sorria, arrumando seu sobretudo púrpura.

Selene ainda estava calada; aparentemente, estava concentrada. Não parecia gostar da ideia de entrar no esgoto, então apenas se manteve em silêncio, revirando os olhos após meu pequeno diálogo com o capitão.

- Vamos, não temos muito tempo... Já era hora de crianças estarem dormindo. - Christopher alfinetava minha idade, mas logo começava a adentrar a passagem.

Apenas ignorando o homem e o dando língua, todos entrávamos na passagem. Além do fedor, o lugar era bastante úmido e escuro. Ao fundo, consegui ouvir alguns barulhos de ratos correndo pelas passagens. Ver aquilo era bem diferente do que apenas imaginar, e sinceramente, bem pior.

Selene, para facilitar nossa caminhada, com um gesto de mão criava uma pequena esfera de luz, fazendo assim com que as coisas ficassem mais fáceis de se enxergar.

- Vejam. - A mulher alertava com a voz calma.

Mais à frente havia dois caminhos, ambos eram passagens de esgoto, mas o que realmente chamava a atenção era uma fenda entre as passagens, como se algo tivesse quebrado ali criando uma nova passagem.

- Provavelmente isso foi criado por alguém. - Christopher analisava a abertura. - É por aqui que devemos ir.

Selene confirmava, já tomando a frente com sua esfera de luz. O capitão iria logo atrás, e eu em seguida. À medida que caminhávamos, o solo ficava mais seco, e os passos ficavam mais fáceis de serem dados.

- Eu nunca tinha visto esse lugar... - Eu falava em tom baixo.

- Isso pode ser um bom sinal. - Completava Christopher.

De repente, algo vinha em direção ao capitão, mas ele rapidamente bloqueava, desviando o projétil. Era uma flecha.

- O quê? - Selene, que estava à frente, se assustava.

A flecha tinha passado ao lado dela, e por pouco não a tinha acertado em cheio no ombro.

- Entrem em posição! - Christopher ordenava.

Selene corria para trás do capitão e se preparava para o combate. Eu entrava em guarda, segurando a adaga que Christopher havia me dado. Mais à frente, dois esqueletos surgiam, ambos estavam com um peitoral de ferro, porém um usava um machado de mão única e o outro um arco com flechas em uma aljava presa às costas.

- Esqueletos? Aqui? - Selene se surpreendia.

- Por pouco tempo... - Christopher afirmava avançando contra os monstros.

O homem era rápido, mesmo em um ambiente apertado, Christopher sabia exatamente como se mover sem ter que se preocupar com as paredes. O ruivo tirava sua cimitarra da cintura pela primeira vez na minha frente. Ela era bastante bonita, além de ter um aspecto gélido em sua lâmina, com algumas serras pela extensão do fio da lâmina. A lâmina "dançava" contra os esqueletos deixando um rastro gélido toda vez que era balançada contra os esqueletos.

O combate estava acirrado entre o capitão e o primeiro esqueleto com o machado. Enquanto isso, o segundo esqueleto se preparava para disparar outra flecha, mas era rapidamente acertado em cheio na cabeça por uma esfera de luz lançada por Selene.

- Não pense que o deixarei agir como bem entender! - Selene gritava para o esqueleto recém-atingido por ela.

As coisas pareciam estar indo bem, mas isso durou pouco. Atrás de nós, de onde havíamos vindo, mais dois esqueletos surgiam, cercando nós três.

- Merda... - Eu praguejava assim que percebia. - Não querendo dar pressa, mas estamos com problema aqui atrás...

Christopher normalmente já teria finalizado um mero esqueleto, mas aquele estava mais resistente e forte que o normal.

- Eles não são simples esqueletos. - Christopher falava, se defendendo de um ataque. - Acho que são do tipo cavaleiro.

- Isso não é bom... - Selene afirmava. - Precisamos recuar, Cooper!

- Eu gostaria também, mas está difícil aqui sabia? - Christopher mais uma vez golpeava o esqueleto.

Durante esse tempo, os dois esqueletos que vinham por trás partiram para cima de mim. Foquei em me esquivar primeiro, o que não era tão difícil, dado meu tamanho e peso menores. O primeiro esqueleto, empunhando uma espada, me golpeou, mas usei a adaga que Christopher me deu para me defender, causando um imenso choque que me fez recuar alguns passos. Olhei para o esqueleto, respirei fundo e entrei novamente em postura de combate.

- Você está me obrigando a mostrar minha força.