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Chapter 7 - Capítulo 7: As ondas do mar.

O dia seguinte foi repleto de perguntas, sermões e aquela raiva típica de pais cujo filho saiu de madrugada e quase morreu. Sinceramente, em algum momento desejei apenas sumir, mas sabia exatamente o que eles estavam tentando transmitir: preocupação.

Honestamente, nunca tive isso em minha antiga vida. Essa preocupação irritante de pais cheios de razão era, na verdade, algo bom. Mesmo sendo irritante, eu sabia que eles só queriam o meu bem. Depois de longos minutos de conversa, fui finalmente liberado. Não, eu não fiquei de castigo; afinal, para meus pais, não poder sair de casa seria o mesmo que tirar minha alegria. E eu amei essa metodologia de criação.

- Algum avanço? - Perguntava a Christopher.

Nesse instante eu estava sentado em um caixote grande de madeira no porto da vila. O capitão também estava sentado, mas mais abaixo em um caixote menor. Era de dia e o mar parecia calmo, as gaivotas e as ondas eram as coisas mais predominantes entre os sons. O Sombra da Maré não estava mais agitado, aparentemente as buscas tinham cessado.

- Não sei se podemos chamar disso. - Respondia Christopher.

O capitão estava usando uma camisa velha e seu clássico sobretudo púrpura. Seu cabelo avermelhado estava preso em um coque enquanto seu rosto preocupado formava uma mistura de incerteza com raiva.

- Achamos algumas pistas de Selene durante a procura, tudo indica que ela realmente conseguiu sair da vila, já para onde foi, aí é um mistério que ainda não resolvemos. - O capitão levantava. - Mas, resolvemos o problema da maldição, mesmo que não seja a melhor das especialistas, pedi para que Amelia analisasse o que restou do círculo mágico lá de baixo, já que a maré está mais baixa. Ela conversou com alguns conhecidos e conseguiram identificar como um amplificador de magia, e o local dava para justamente próximo a área de pesca dos pescadores locais, ou seja, a maldição entraria através da comida.

- Isso explica o fato do buraco sair embaixo d'água - pensei por um momento. - Só acho estranho pensar que toda aquela estrutura foi construída e ninguém suspeitou...

- Bart, tem certeza de que você tem oito anos? - Christopher olhou para mim com curiosidade. - Sério, você lutou contra esqueletos lá embaixo, tomou uma decisão extremamente difícil que resultou em nossa fuga e tem um pensamento bem adulto... O que você é?

Cada afirmação do capitão me deixava mais vermelho. Ele estava certo. Eu não era apenas um garoto de oito anos. Embora meu corpo aparentasse ser de uma criança, minha mente era de um adulto. Eu tinha experiências e sabia como pensar em situações complicadas, mesmo que não tivesse vivido algo semelhante em minha vida anterior. Eu era um adulto, e adultos sabem como resolver problemas... ou pelo menos a maioria deles.

- Eu só precisei amadurecer mais cedo do que as outras crianças da minha idade... - respondi com a voz fraca. - E também não é tão difícil pensar de um jeito mais maduro que vo-

Antes que eu terminasse, Christopher me deu um cascudo que fez minha cabeça arder. Reclamei de dor por um tempo, e depois continuamos nossa conversa. As horas passavam rapidamente. O dia foi tranquilo, sem sinal de perigo, e com o anoitecer, fui para casa.

Os dias e semanas passavam sem nenhum sinal de Selene, apesar de todos os piratas da vila estarem alertas e procurando pela feiticeira. O tempo do Sombra da Maré na região também se esgotava e, com o passar dos dias, eles finalmente precisavam partir. Eu me sentia dividido. Por um lado, estava feliz por ter conseguido salvar minha nova família neste novo mundo. O prazo para a maldição se propagar havia chegado ao fim, e ninguém na vila estava amaldiçoado ou morrendo por causa disso. Por outro lado, isso significava que meu tempo com Christopher teria acabado, o tempo com o homem que um dia Bart deveria chamar de pai, conforme escrito em minha antiga vida. Essa quebra de acontecimentos criava uma dúvida: como seguir a história de Bartolomeu Cooper?

- Pai... — Próximo de meu pai, eu o chamava.

- Hm? Diga, meu filho. - Meu pai respondia.

Estávamos perto da praia. Meu pai mexia na rede enquanto eu estava sentado dentro de nosso pequeno barco de madeira que usávamos para pescar. Era uma tarde, e no porto próximo dali, todo o navio do Sombra da Maré estava agitado. A tripulação inteira fazia esforços para agilizar a partida da vila.

- Você nunca me repreendeu por isso, mas também sempre expressou que essa não era sua vontade... — Suspirei, levantando meus olhos até meu pai. - Eu sei que sou muito novo para lhe pedir isso, então terei que esperar até ter idade, mas... - Olhando para meu pai nos olhos, eu fazia uma expressão confiante. — Você me deixaria ser pirata?

Eu poderia relatar em detalhes tudo o que conversamos, a resposta do meu pai e como aquela conversa terminou. No entanto, por mais que isso vá contra as convenções narrativas, decidi apenas seguir em frente. Pode me odiar o quanto quiser por isso, mas se eu revelar agora, algo crucial no futuro será comprometido. É algo que ocorreu anos depois, após a resposta do meu querido e amado pai, e sua importância só poderá ser compreendida em seu devido tempo.

Então, por que não avançamos dez anos no futuro? Sim, dez anos. Desde aquela "enigmática" conversa com meu pai, venho "trabalhando" para conquistar meu lugar no mar. Treinei incansavelmente, dia após dia, sem hesitar. Quando Christopher partiu, prometi a ele que o encontraria no mar, e eu precisava cumprir essa promessa. Minha magia estava mais refinada e controlada; após aprender a usá-la de forma árdua, já conhecia a sensação e passei a treinar a ativação até entender completamente seu funcionamento. Como resultado, percebi que tudo, literalmente tudo, era possível com uma dose de sorte. E você verá isso claramente enquanto me acompanha.

Minha saída da vila foi tranquila, até porque eu não comentei com ninguém. Sim, foi uma espécie de fuga. Deixei para trás apenas um bilhete para meus amados pais, dizendo que o dia havia chegado. Para ser sincero, isso não foi uma surpresa para eles. Daí em diante, precisei me aventurar de uma forma um tanto... inédita.

- Homens, carreguem esses barris até nosso armazém. Precisamos partir o quanto antes!

Exatamente, eu estava dentro de um barril aleatório indo parar dentro de um navio aleatório. Mas como eu disse: sorte!

- Meu Deus, como esse barril está pesado! - um marujo reclamava ao tentar levantar o barril no qual eu estava. - Será que veio algo a mais nisso?

- Abre isso, podem ter colocado algo que não é nosso - outra voz sugeriu.

Dentro do barril, eu me concentrava e deixava minha magia exalar. Então, a mágica acontecia.

- O que vocês estão esperando? Carreguem logo esses barris, sabem como foi difícil fazer o comerciante esconder armas entre essas frutas? - uma terceira voz falava em tom mais baixo, como se não quisesse que ninguém além deles ouvisse.

Com o tempo e o balançar, eu já podia sentir que estava dentro do navio. Minha empolgação ficava cada vez mais explosiva, e eu não conseguia conter minha ansiedade. Quando tudo finalmente se acalmou, saí do barril e me vi dentro de um armazém escuro. Minha mão foi até o fundo do barril, de onde tirei a adaga que Christopher havia me dado em minha primeira missão. Olhei para ela com carinho e sorri. Agora seria assim: eu, minha adaga e as roupas do corpo. Eu não tinha mais nada. Teria que conquistar tudo dali pra frente.

Enquanto espiava pelas frestas das paredes de madeira a movimentação no convés, esperava o melhor momento para sair do armazém. Minhas roupas comuns — uma blusa velha amarelada de mangas longas, calça e botas marrons desgastadas — me ajudavam a não me destacar, o que me daria mais tempo. Pegava uma maçã e comia antes de sair, mas claro, exalava minha magia para prevenir qualquer importuno, mas...

- Ô, você aí! - uma voz me chamou por trás.

Eu olhei para dentro do armazém de onde tinha vindo, mas não havia ninguém lá.- Aqui em cima, idiota! - a voz chamou novamente.

Quando olhei para cima, um homem com um longo sobretudo preto estava me encarando. Eu podia tentar fingir que ele não era o capitão, mas, ao comparar sua roupa com a dos outros, ficou claro que ele era, sem dúvida, o capitão daquele navio.

- É... senhor? - respondi com receio.

- O que você estava fazendo no armazém? - o capitão do navio indagou.

- Precisei verificar se a mercadoria estava correta, senhor! - rebati.

- Certo... mas quem é você? - A curiosidade marcava a expressão do homem.

- Meu nome é Bartolomeu, senhor. Eu entrei neste navio como um dos novos marujos que pretendem desbravar este oceano por glória. - falei, exalando novamente minha magia.

Atrás de nós, um homem grande, com pele negra, careca e um tapa-olho, se aproximava. Sua presença era esmagadora. Ele colocou sua mão direita no meu ombro por trás.

- Ele deve ser um dos novos cadetes, senhor. Fiz o recrutamento conforme solicitado por você. Deixe o rapaz sentir as ondas do mar - disse ele, sorrindo para o capitão.