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Chapter 2 - 02- Jantar Obscuro

— Oi?

— Quero dizer, eu não costumo me relacionar com alunas, realmente vai contra os meus critérios. Só que é maçante por onde eu passo e as universitárias grudam em mim pensando que teriam alguma chance. Você me chamou atenção porque não vou precisar me preocupar com isso, já que parece ter uma opinião diferenciada e forte, não depende dos outros para isso.

Em questão de 30 minutos, ele já tinha me analisado de uma forma bemmm certeira. Caramba! Pensei.

— Vou te propor um acordo, se você aceitar é claro, fique ao meu lado no jantar essa noite, assim, não precisarei ficar dispensando as mulheres que irão se aproximar.

— O que eu ganho com isso? - Perguntei fazendo bico porque não queria ir no jantar.

— Posso te ensinar a analisar as pessoas, conteúdos que aprendi com a minha carreira ou até mesmo melhorar em alguma matéria.

Realmente o acordo era bom, eu estava com dificuldades em algumas matérias e ter o conteúdo dele seria interessante porque é uma das áreas que mais gosto na Administração.

— Beleza, negócio fechado! - Eu disse com firmeza.

— Que bom. - Disse ele sorrindo. - Você é uma garota inteligente, soube negociar.

— Não me parabenize ainda, não é fácil passar tempo comigo, ainda mais tendo que me ensinar.

— Isso é verdade. - Disse o João.

— Ahh me desculpa, não fizemos as devidas apresentações. - Disse Dante a João.

— Não tem problema, eu me chamo João e pode ficar tranquilo que eu e a Kyra somos somente amigos. - Disse sorrindo.

— João! Era mesmo necessário isso? - Eu disse indignada.

— Oh se eraaa... amiga, como você está acompanhada, vou ali dar uma paquerada ok?

— Ué, você não disse que queria que eu fosse no jantar com você? - Retruquei.

— Era só para você sair de casa! - João saiu rindo.

— Hunnn... - Dante fez cara de surpresa.

— O que foi?

— Você não tem namorado.

— É... Foquei na faculdade e no trabalho, não tive tempo para isso.

— Determinada você.

— Sim, mas, bora para o jantar? - Eu disse indo na frente

— Você não vai se trocar? - Perguntou surpreso.

— Não, se eu for para casa me arrumar e voltar, já passarão das 11 horas da noite. - Eu sorri divertida.

— Ahh, sinceridade isso é muito bom. Pena que eu realmente vou precisar ir para o hotel que estou hospedado para me trocar. Tranquilo você ir na frente?

— Totalmente! Até mais.

Saí da faculdade, olhei para o prédio enorme, cheio de prestígio, nas cores cinza e preto com janelas de vidro fume e me perguntei se estava fazendo a coisa certa, pois até agora, só tinha incertezas na minha cabeça e no meu coração. Afastei os pensamentos negativos e fui para a parada esperar o ônibus.

Coloquei os meus fones curtindo "rock" porque me animava e entrei no ônibus que levava até o restaurante que a turma iria se reunir.

Quando cheguei ao restaurante, a turma já estava reunida com os principais palestrantes em cerca de umas 15 mesas unidas pelo restaurante para que todos pudessem conversar e para a minha incrível surpresa, não havia espaço para eu me juntar a eles (o que eu nem estava com vontade de fazer). Sorri pela situação e caminhei até um garçom para verificar aonde eu iria sentar-me.

— Olá! - Eu disse sorrindo para o garçom.

— Boa noite senhorita! Em que posso ajudar? - Falou ele bem simpático.

— Tem alguma mesa disponível em que eu possa me sentar para jantar?

— Um momento, deixa eu verificar para você. - O garçom foi até a recepcionista para verificar a lista de reservas, se teria alguma mesa disponível. Ele retornou e me perguntou: Qual o seu nome?

— É Kyra.

— Kyra, você está esperando alguém?

— Sim, Dante.

— Ele já reservou uma mesa no canto, próximo da janela, mesa 22. Vou te levar até ela, venha comigo.

Eu segui o garçom até a mesa que Dante reservara. Fiquei impressionada pelo fato de ela ser bem reclusa (não é próxima da minha turma) e tinha uma bela vista da rua, com suas árvores caindo as pétalas no asfalto (É, se você esperou a descrição de um restaurante de luxo, acabei com as suas expectativas né?). A vista e o restaurante eram simples, mas acalmavam o meu coração porque eu tinha fobia de restaurantes luxuosos por passar micos aleatórios. Enquanto estava prestando atenção na vista, nem percebi Dante chegar e quando me dei conta de que havia alguém na mesa, levei um susto.

— Caramba! Desculpa, eu não ouvi você chegar. - Me desculpei.

— Boa noite para você também! - Disse ele achando graça do susto que tomei.

— Boa noite! Você foi bem rápido ao ligar para cá e reservar uma mesa. Eu nem pensei nisso.

— É que eu não queria sentar junto a sua turma, quero comer em paz. - Disse fazendo careta.

— Ahh entendi, você quer sossego. Bem pensado, até porque para você teria lugar na mesa, mas para mim não. — Eu disse com expressão divertida. - Não que isso me incomode, mas as pessoas, digo mulheres ficariam no seu pescoço a noite toda.

— Isso era o que eu queria evitar. O que vai pedir?

— Aqui eu vi que eles fazem pratos prontos, mas também lanches. To afim de pedir x-salada prensado com porção de fritas.

— Você não come coisas saudáveis? - Disse ele rindo.

— Como em casa. - Disse fazendo careta. - Quando eu saio, como coisas que vão me deixar feliz.

— Entendi. Vou pedir o mesmo lanche que o seu, até porque eu nunca comi x prensado.

— Beleza.

— O que você faz aqui Dante? - Perguntou uma moça muito linda, sério, ela estava com um vestido vermelho rendado, tomara que caia, com um cinto que destaca muito bem a sua cintura.

Dante estava bebendo e levou um susto tão grande que o refri saiu pelo nariz. Eu vendo a cena, comecei a rir (eu realmente não vou para o céu).

— Lola, o que faz aqui? - Perguntou sem entender a situação.

— Eu estou em um jantar de negócios pela empresa, no caso, a sua empresa e você me deixou sozinha só para acompanhar essa "fedelha"? - Disse ela apontando para mim com desdém.

— Olha o que você fala! Ela é minha namorada. - Disse Dante fingindo estar ofendido com a falta de educação dela.

Desta vez foi eu quem quase se engasgou com o refri.

— Sua namorada uma ova! - Retrucou Lola. - Não é porque demos um tempo, que você pode sair com quem quiser, ainda mais sem a minha aprovação!

— Quem disse que eu preciso da sua aprovação? Além do mais, não demos um tempo, terminamos. Coloca isso na sua cabeça.

— Não docinho, nós só vamos terminar quando eu disser que terminamos.

— Você está totalmente errada, a culpa do nosso término é sua, não mandei você me trair e ainda ter a capacidade de querer dar um tempo para aproveitar com o seu amante! Agora faz um favor a nós e nos deixe comer em paz.

— Como ousa? - Gritou no restaurante e todos os olhares se concentraram em nós.

— Ah e tem mais uma coisa, você está demitida! Não quero mais os seus serviços.

— Idiota! Isso não vai ficar assim. - Lola saiu batendo os saltos furiosa.

Eu fiquei olhando a cena admirada com o que acabei de presenciar. Era por este motivo (Lola) que ele estava querendo evitar e não as mulheres do jantar. Agora tudo faz sentido em minha mente.

— Agora faz sentido! - Eu disse.

— O que? - Dante me olhou com o cenho franzido.

— Você queria fugir da Lola e não das mulheres que estão presentes aqui. O que eu não entendo é: como você sabia que iria encontrá-la aqui?

— Lola sabia que eu estava na cidade e não iria sossegar enquanto não me encontrasse.

— Bom, sinto muito pelo seu relacionamento. É por isso que tentei evitar de me relacionar com alguém no período da faculdade.

— Mas você deveria tentar, nem todas as pessoas são ruins.

— Eu sei, mas como eu te disse, eu estudo as pessoas e quando só estão interessadas no seu corpo, se gabando para os amigos que você é feia e que só serveria para "dar uns pegas", você acaba evitando entende?

— Já falaram isso de você? - Ele me questionou me fitando como se quisesse ler a minha alma.

— Sim. Não sou considerada bonita na minha turma, bom na faculdade né. As pessoas só tem olhos para a Lucy, mas sabe, eu não tenho inveja porque quando alguém gostar realmente de mim, vai ser pelo o que eu sou. Máscaras caem, beleza envelhece, o que fica é algo que a maioria quer esconder, a sua verdadeira essência.

— Concordo com você em tudo o que disse, menos que você não é bonita. Eu te acho bonita, então não ligue para o que os outros dizem. - Dante disse piscando para mim e sorrindo.

Fiquei corada porque eu nunca ouvi ninguém dizer isso. Realmente aquele homem era um perigo para qualquer mulher e eu só me pergunto: como alguém poderia traí-lo? Óbvio que ele não iria saber em hipótese alguma, o que eu pensava, mas realmente ele mexia comigo. Ainda bem que ele não notou o meu embaraço porque logo em seguida, meu professor Louis veio ao nosso encontro reclamando que não estávamos sentados com eles.

— Louis, não se incomode, eu preferi me sentar com Kyra do que com a multidão. Gosto de comer com calma. - Disse Dante.

— Mas com Kyra? Você poderia ter se sentado com a Lucy. - Questionou Louis.

— Como você pode destratar a Kyra assim? Ela é tão inteligente quanto a Lucy, é uma ótima companhia.

— Só você que acha isso. Ela tem uma língua afiada, sem contar que poderia tirar notas exemplares, mas prefere ficar no meio termo.

— Vocês dois esqueceram que eu ainda estou aqui? - Falei com sarcásmo. - Ah, não estou aqui para agradar ninguém professor Louis. Goste você ou não, trabalho para pagar a faculdade, não sou bancada por ninguém e isso já é um mérito pessoal!

— Não foi isso que eu quis dizer Kyra. - Louis tentou se desculpar.

— Eu estou farta de todos a minha volta me menosprezar, então pense assim, daqui a pouco o semestre finaliza e você nem precisará olhar mais para a minha cara, sei que isso o incomoda! - Eu disse isso e me levantei. Não estava com bom humor para ter que aturar tudo. - Dante me desculpe, mas a noite já se encerrou para mim. Se quiser, pode se sentar com eles.

Eu saí do restaurante com um amargor na garganta. Era inacreditável as coisas que me aconteciam e o único lugar que eu me sentia bem era em casa (no apartamento que eu morava). Saí tão absorta em pensamentos que não vi que um braço tinha segurado o meu pulso. Eu gritei de susto.

— Calma! - Disse Dante.

— Senhor, você quer me matar do coração? - Eu disse ofegante.

— Óbvio que não. Você esqueceu de me passar o seu número.

— Ahhh, ops! - Eu passei meu número a ele que anotou imediatamente no seu celular.

O engraçado disso é que ele anotou meu número com o nome de "Vespa". Quando eu li aquilo, comecei a rir.

— Vespa é? - Eu desdenhei.

— Caramba! Olho biônico você. Sua curiosa. - Falou ele escondendo o celular.

— O que eu vou te chamar? - Eu falei de modo pensativo.

— Pelo meu nome, seria uma boa referencia.

— Capaz, não sou boazinha. Ah, já sei! Irritante, perfeito. - Eu falei sorrindo.

— Irritante? Nossa, quanto mais eu te conheço, mais acho você parecida com uma vespa!

— Então tenha muito cuidado para não ser picado! - Eu saí em direção ao ponto de ônibus rindo.

— Espera, deixa que o irritante "perfeito" aqui te leva em casa.

— Irritante perfeito? Oi? Onde? - Eu disse procurando na rua para soar sarcástica. - Não precisa, pode deixar que eu sei o caminho! Obrigada.

— Se você não aceitar, não vou te ensinar as matérias que precisa.

— Chantagista você! Isso não estava acordado... - Eu disse protestando.

— Você quem sabe. - Disse ele curvando o canto direito dos lábios em um sorriso.

— Aff, tudo bem. - Concordei fazendo birra.

— Você tem que pensar: que namorado eu seria se deixasse você ir embora de ônibus? Tem pessoas nos olhando.

— Ahh, eu tinha esquecido disso. - Olhei para o restaurante e a Lola estava parada bem na frente, só nos observando.- Bora lá que temos plateia!