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Chapter 3 - 03 - Carona Inesperada

— Perfeito! Vou pegar o carro. Me espere aqui na frente do restaurante. - Disse Dante saindo em direção ao estacionamento.

OK.





Enquanto Dante pegava o carro, fiquei pensando nas coisas que acabaram de acontecer no restaurante. Será que eu estava fazendo a coisa certa? Pode não parecer, mas sou bem inseguro em relação às minhas escolhas. Sei que estou precisando melhorar as minhas notas, mas estou-me arriscando, arriscando o meu bem mais precioso, meu coração.

Estava absorto em pensamentos que nem vi quando um Sedan preto parou na minha frente.





— Vamos? - Disse Dante abrindo a janela e acenando para mim.

— Ei? - Arregalei meus olhos que já são grandes.

— Ta esperando o que aí na calçada? O seu príncipe chegou. - Ele disse gargalhando.

— Aff... O que eu tenho que ouvir! Você está mais para sapo usando a carruagem roubada do príncipe. - Disse eu entrando no carro.

— Nossa, eu não sabia que você me adorava tanto. - Ele fez cara de surpreso.

— Ahh sim, tanto que não consigo mais viver sem você! Oh! Senhor, o que farei da minha doce vida agora? - Coloquei as mãos no rosto encenando a minha fala.

— Você é uma boa atriz.

— Obrigada! - Respondi colocando o cinto. — Vamos?

— Qual o endereço? Assim já coloco no GPS.

- OK. - Passei o meu endereço e ele enviou com cara de quem vai aprontar.

— Agora tenho seu endereço salvo! Isso é magnífico porque se você voltar na sua palavra, sei onde lhe achar.

— Era por esse motivo que eu não queria que você informasse o meu endereço! - Bati com a minha mão na testa.

— Calma, não vou aparecer lá do nada... Só quando tiver motivos! - Ele traiu com o canto dos lábios.

— Para alguém que não quer se relacionar com uma aluna, você flerta muito bem! - Eu disse sarcástica.

— Não pense besteiras, só disse que podemos estudar, tramar mais encontros, despistar curiosos... Essas coisas.

— Ahhh, bem, podemos fazer isso num café que é bem mais apropriado.

— Não, poderemos fazer isso no seu apartamento ou no meu escritório, é mais reservado.

— No seu escritório então.

— O que você esconde no seu apartamento?

— Ué, eu só não sou sociável. Aquele é o meu cantinho, não gosto de compartilhar.

— É por isso que não tem namorado!

— Aff, como é? Ta preocupado por isso?

- UE? Por que estaria? - Fazendo cara de inocente. - Nossa, você pega quantos ônibus para chegar na faculdade?

– Dois.

— 40 minutos de viagem. Você faz isso diariamente?

— Sim, pela manhã e de noite quando voltar para casa. Tenho um trabalho de meio período que me ajuda a custear a faculdade, passagem e o aluguel do meu ap.

— Como consegue pagar tudo isso com um emprego de meio período? - Perguntou chocado.

— Eu ganhei bolsa na faculdade, a passagem tem desconto porque sou estudante e o aluguel não é tão caro por ser longe do centro da cidade.

— Não fica ruim passar por esse trajeto diariamente?

— Não, eu vou ouvir as minhas músicas, pensando na vida e quando tenho trabalho para fazer, inicio neste tempo.

— E como tem notas baixas se é tão dedicado? - Perguntou incrédulo.

— Eu não tenho notas baixas e sim medianas. Quero melhorá-las.

— Ahh entendi, pensei que você estava com notas abaixo da média em algumas questões.

— Não, mas está no laço.

— Por qual motivo você deseja melhorá-las? É por causa dos professores?

— Não, é porque tenho mais oportunidades de conseguir um emprego melhor no futuro. Que se baseará no meu histórico escolar.

– Entendido. Sabe, não gosto da forma que você rebaixou na faculdade.

— Eu não me importo, eles não vão-me dar um trabalho, então quando por uma hora, será pelo meu esforço e não por indicação. Prefiro assim.

— Muito bom! Futuramente procure-me para eu saber como foi sua trajetória a procura da auto realização.

— Vou pensar no seu caso. - Eu falei sorrindo.

— Já vi que nada irá parar na busca pela realização dos sonhos né?

— Exatamente! Você persistirá em tudo aquilo que acredita. Futuramente pode ser que eu esteja em outra profissão, mas a experiência que vivi e todo o conteúdo que aprendi, não estará em.

— Com toda certeza. O conhecimento é algo que as pessoas nunca conseguirão tirar de você.

— Concordo, por isso sou chamado de antissocial. Prefiro ficar estudando, pesquisando e ouvindo as minhas músicas a sair, beber até cair e acordar sem saber o meu nome.

— Isso são fases, acredito que quem gosta vai ficar nisso até curtir e quem não gosta, faz outras coisas para se divertir, como por exemplo, assistir um filme, certo?

— Sim, eu gosto.

— Imaginei, é bem o seu perfil. Confesso que conheci poucas pessoas parecidas com você.

— Sério? Normalmente isso seria ruim na visão dos meus professores. - Eu disse rindo.

— Não fale assim, minha irmã é parecida com você em vários aspectos. Você só ganha em teimosia e língua afiada.

- Zumbir. Eu não sabia que você tinha uma irmã. - Falei surpresa.

— Sim, o nome dela é Deby.

— Vocês são próximos? - Perguntei curioso.

— Já vi que te deixei curioso sobre minha vida particular. - Ele falou.

— Que fique bem claro, sou curioso por natureza, isso não quer dizer que tenho interesse em você.

— Sei...Mas, respondendo a sua pergunta, sim, nos damos muito bem. Ela não gosta da Lola, vai pirar quando eu contar o que estamos fazendo.

— Imagino, quem gostaria de uma mulher tão superficial e antipática? - Respondi sem pensar, olhando pela janela do carro, absorto em pensamentos.

— Eu gostei e foi meu erro. Perdi a fé nos relacionamentos e no momento, sinto-me perdido. As mulheres que convivem até o momento, são todas iguais a Lola e querem se aproximar tirando vantagem por eu ser conhecida.

— Entendi, por isso você armou tudo isso né?

– Sim.

— Mas, se eu for fotografado com você por um paparazzi e isso chegar na mídia, não será um problema?





Por um momento, vi confusão nos seus olhos, demorou alguns segundos até que ele me respondeu:





— Se acontecer, paciência. Na frente do público fingiremos ser um casal.

— Ó queee? - Foi mais forte que eu o berro que dei.

— Você está preocupado em aparecer na mídia, com um homem do meu porte e talento? Qual é o seu problema? - Me disse com o cenho franzido.

— Sou totalmente contra. Não quero me arriscar.

— O que você iria arriscar?





Por um momento, pensei em responder a "verdade". Mas, a verdade era mais complicada do que aparentava. Será que a "verdade" seria aceita por ele como um bom motivo? Então, fiquei inseguro e não respondi.





— Você não vai me responder? Apresentar um bom argumento para não representarmos diante da mídia?

— Então, o primeiro deles é que não quero me expor. Isso afetaria minha carreira.

— Como iria interferir? Não estou entendendo.

— Eu me ofereceria trabalho só para namorar você. Não quero isso. - A verdade mesmo é que eu estava protegendo o meu coração. Quanto mais eu passasse tempo com ele, menos o meu coração estaria seguro.

— E isso seria ruim?

— Sim, quero fazer a minha jornada e carreira sem precisar subir nas costas de alguém. Quero reconhecimento e mérito pelo meu esforço.





Dante ficou com a aluna que estava em sua frente. Era admirável o modo como ela pensava. Como as pessoas não enxergavam isso?





— Entendo, mas é um risco que vamos correr. Ouça, se isso acontecer e você não querer algum emprego, fale comigo, vou tentar ao máximo te ajudar no que for preciso. Não quero te envolver em polêmicas ou arruinar a sua negociação.





Senhor, por que comigo? Como você resistirá a isso? Plano B Kyra? Pense.





— Quanto mais eu penso sobre isso, mais quero desistir.

— Não tem mais como retroceder. Já nos vimos no restaurante e a essa altura, todos da minha empresa, clientes, acionistas já sabem da missão da Lola e também que eu fui acompanhado no restaurante por uma linda dama.

— É, não tem mais como retroceder. Como fui me medir nisso? - Falei frustrada levando a minha mão a testa, chacoalhando de um lado para o outro qualidades.

— Devido às suas notas? - Ele falou em tom sarcástico.

— Ahhh, e não sei da onde tirei a "linda dama", mas obrigada.

— Você realmente não sabe a beleza que tem né?





Quando ele disse isso, na hora, fiquei com as bochechas vermelhas de vergonha. Dispensar os rapazes da faculdade era fácil (apesar de quase não ter pretendentes), mas homens iguais a esse que tem objetivo e não desistir fácil, era uma droga, uma droga que poderia viciar. - Ooiiii, Kyraaa, sou sua consciência e estou dizendo: corra para as montanhas, isso não vai terminar bem, o seu coração estará destruídoooo...- Chacoalhei a minha cabeça novamente para não ouvir a minha consciência.





— Você entende como um sim. -Disse Dante.

— Eu não sou como as outras garotas. Não gosto de luxo, sou simples e também não tenho dinheiro para extrapolar por aí.

— Eu sei, mas as suas feições não têm como mudar. Roupas e maquiagem só realçam a beleza.

— Você está dizendo isso só para eu convencer a te ajudar né? - Falei sorrindo.

— Claro que não. Você chamou mais a minha atenção na palestra do que a sua amiga que tanto os professores dizem ser inteligentes e belas.

— Sei...

— Ué, quando nos conhecemos, eu quis saber o seu nome, me apresentou e não quis muito conhecer sua amiga. Garanto que se eu fizesse uma proposta que te fizesse, ela não recusaria. Mas, eu gostei do seu gênio, da forma como foi sincera e da sua fisionomia.

— Ta e desde quando uma morena, com olhos castanhos, de 1,68 de altura chamaria mais atenção que uma loira, com corpo escultural, de olhos verdes?

— Questão de gosto minha cara. Esse perfil que você falou sobre si mesmo, aos meus olhos, não é ruim. Mas, você não deve se rebaixar por isso. Entendendo que a maioria dos homens ficaria encantada com a beleza da sua amiga, porém, nem todos os homens são iguais.

— Ah quem fala, a Lola é Loira dos olhos azuis e corpo escultural. - Soltei uma gargalhada.

— Não é justo me julgar por um relacionamento mal sucedido.

— Não sei, não conheço as suas outras ex. - Falei com ar de vitória.

— Nem quero conhecer, é só ladeira abaixo.

— Imagino!

— Chegamos! - Disse o GPS.

— Onde eu estaciono?

— Pode fazer o retorno e deixar-me em frente ao prédio "Jardim das flores" nº 70.





O Jardim das flores era um prédio simples, com 5 andares, todo amarelo-claro com as janelas de vidro e marquises brancas.





— Qual o seu andar?

— Meu andar é o 5º, apartamento 501. - Falei sem pensar.

— Seu apartamento tem elevador?

— Não, só escadas.

— Posso subir?

— Você quer subir por quê?

— Não vai me oferecer uma xícara de chá?





Não.





— Se eu não subir hoje, subirei amanhã para finalizarmos o acordo.

— Que acordo? - Falei

— Namorada de aluguel. - Falou piscando para mim.