A beira da rodovia, uma placa já velha e desgastada anunciava o bar e restaurante Parada Obrigatória. Uma parada que nem todos estavam dispostos a fazerem, uma vez que a fama do local não era das boas... quer dizer, dependia muito de cada pessoa. Para os caminhoneiros aquele era o melhor local para se comer, e como comiam! Para as famílias, o que se comia ali era imoral. Mas quem liga para moral quando se está como fome?
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- Você me perdoe, Guto! Mas essa menina nunca foi flor que se cheire – Júlia dizia em tom exaltado, quando viu Rosa entrar na sala.
Constrangida com a cena, mas sem ter a certeza de ter sido ouvida pela enteada, Júlia olhou para Rosa e perguntou se ela iria ajudar no estabelecimento da família. Era noite de domingo, e o restaurante estava cheio. No entanto, noventa por cento dos que ali estavam nada comiam, apenas se embriagavam.
Não era o melhor Restaurante/bar da região, porém ficava distante da cidade e por sua localização tornou-se o lugar favorito de quem gostava de beber acompanhado, sem o olhar atento dos vizinhos. As mulheres que frequentavam o bar ao invés de gastarem, ganhavam dinheiro. Os caminhoneiros tornaram famoso o restaurante Parada Obrigatória, pois traziam em suas bagagens muita carência e dinheiro. Não muito dinheiro. Porém, isso não importava. O dinheiro era suficiente para comerem e beberem a vontade. E depois "comer" a vontade novamente.
- Vou tomar banho e venho já ajudar! – Rosa respondeu fingindo não ter escutado o comentário maldoso da madrasta. Guto olhou para aquela cena sem nada dizer, pegou uma cerveja no frízer e voltou para o salão para atender o cliente, que resmungava irritado pela demora. Um homem de uns 40 anos entrou no bar no momento em que Guto tentava acalmar o cliente impaciente.
- Não há mesas vagas? – o homem perguntou a Guto.
- Não. – Guto respondeu após conferir o pequeno espaço lotado de homens gordos e fedorentos acompanhados de moças limpas e cheirosas, um contraste que resultava em um cheiro confuso.
– Temos mesa lá dentro – falou para não perder o cliente.
A mesa que Guto se referia era a mesa de jantar da família. E do que importava a mesa de jantar se ninguém usava? Numa casa com dois adolescentes e um bar, era quase impossível reunir a família em torno de um mesa para jantar.
O homem se apresentou com formalidades, deixando o dono do estabelecimento surpreso. Sentou-se à mesa e pediu fartas poções. Quando perguntado se queria cerveja ou cachaça, surpreendeu ainda mais dizendo que não bebia álcool. Pediu um suco para acompanhar seu jantar.
Ele era diferente de todos os que frequentavam o Parada Obrigatória, talvez não soubesse que ali podia se comer de tudo. Ou talvez só estivesse com fome de comida mesmo. Ele era diferente, inclusive no nome: Dornelles.
Júlia deixou de atender os pedidos de bebidas e foi a cozinha ajeitar o jantar de Dornelles. Não demorou a sair. A comida era feita a tarde e o máximo que era feito antes de ser servida, era montar as poções e esquentá-las. O que durava não mais que 10 minutos. O suco foi que demorou um pouco mais, quase ninguém pedia suco de laranja.
Dornelles já estava servido. Julia e Guto no salão serviam bebidas aos demais clientes. O vai e vem deles do salão ao frízer era semelhante aos carros na rodovia, com a leve diferença da velocidade: eles corriam bem mais rápidos que os carros para conseguir atender a todos.
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Um corpo nu surgiu numa flecha de uma porta de madeira. O jantar perdeu o sabor. E Dornelles vendo que ninguém o observava, decidiu conferir quem era que estava ali, sem roupa. Ao colocar o olho na rachadura da porta, conseguiu ver um lindo corpo feminino. Uma escultura feita sob medida para o desejo. Sem perceber que estava sendo observada, a moça nua molhava o corpo com a sensualidade de uma estripe. Dornelles passeava sem nenhum pudor com o olhar pelo corpo de Rosa. E sentiu-se pronto para guerra, armado com o vigor de um adolescente.
Pela porta da cozinha, Jonas entrou escondido para evitar a bronca da mãe. E tomou um susto ao ver aquele homem desconhecido olhando pela rachadura do banheiro da família.
Conferiu com o olhar o salão e viu o vai e vem de Júlia e Guto, na correria para atender os clientes. Percebeu então que só poderia ser Rosa no banheiro. Bateu com a tampa da panela com muita força para alertar o homem de que tinha alguém ali.
O homem pareceu não se importar com o barulho. Então Jonas deixou que a tampa da panela caísse no chão ressoando um barulho escandaloso.
No susto, Dornelles quase caiu ao voltar para sua mesa, apressado.
- QUE FOI ISSO? – Júlia gritou do salão. E o menino respondeu que não tinha sido nada.
Inconformada com a resposta dele, foi até a cozinha e descobriu que todo o escândalo tinha sido resultado da tampa da panela caindo no chão. Ela aproveitou para perguntar onde o menino tinha passado a tarde. Jogando bola com os amigos. Essa foi a resposta dele para sua mãe.
Acreditando ou não, ela aceitou a resposta do filho, pois não tinha muito tempo para conversa, o restaurante/bar precisava dela.
Não se passou muito tempo até que Rosa fosse para o salão ajudar a servir as mesas. Dornelles já havia terminado seu jantar e decidiu demorar mais tempo no bar. Chamou a menina, ela tinha 17 anos, mas com o corpo de uma mulher feita. Seus cachos molhados davam um charme a mais ao seu rosto e seus olhos claros refletiam as luzes amareladas do salão. Seus seios, fora das amarras do sutiã, saltavam em uma blusa amarela de algodão.
- Traga-me uma cerveja, ... – pediu fazendo gestos como se quisesse que ela se apresentasse, que dissesse seu nome.
- Rosa. – ela respondeu entendendo a intenção dele.
Trouxe a cerveja e o serviu. Segunda cerveja. Terceira cerveja... e essa já era a sétima cerveja que Rosa servia a Dornelles. O estabelecimento já estava fechando e a mesa dele era uma das duas mesas que ainda tinha alguém sentado. Guto decidiu não mais servir as mesas. Estavam cansados e precisavam relaxar o corpo exausto de um fim de semana de muito trabalho.
Vendo que não restava mais ninguém no bar, Dornelles chamou Rosa e pediu a conta. Antes de sair deu a ela uma gorjeta de 100 reais com seu número de telefone anotado.
Ela colocou o dinheiro no bolso com cuidado para que ninguém visse. Seus cuidados não foram suficientes, pois Jonas viu quando ela recebeu o dinheiro. Mas nada disse. Ele só percebeu porque tinha ficado de olho no cliente, já que quando chegava em casa mais cedo havia visto ele espiando Rosa pela rachadura da porta.
O restaurante/bar teve suas portas fechadas. O relógio marcava quase três horas da manhã e todos só queriam descansar. Júlia e Guto foram guardar as comidas, enquanto Rosa e Jonas foram, cada um, para seus quartos. O fim de semana estava oficialmente terminado.