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Chapter 7 - Capítulo 2.2: O Apagão

Um homem sábio uma vez me disse:

"Talvez você consiga encontrar coisas boas até nas maiores catástrofes, uma das qualidades que mais falta nas pessoas é o otimismo."

Otimismo? Em uma situação como essas, a única coisa que não preciso ser é ser otimista.

Estou cansado, esse dia foi longo demais.

"Irmãozinho? O que está acontecendo com você?

"...Quer saber? Não precisa se importar muito com esse senhor Nagumo. Me ajude a descobrir o paradeiro dos nossos pais primeiro."

"M– mas tem certeza que eles estavam no incêndio? Se eles estivessem, eles poderiam ter morrido…"

Com uma expressão séria, eu digo:

"Eles não estão mortos pois não encontraram os corpos deles."

Minha irmã, que já estava preocupada, fica com ainda mais receio do que eu disse.

"Mas Ayato… você não lembra que–"

"Estou muito cansado… Não vou aguentar ficar acordado por muito tempo. Vou deitar na minha cama, mesmo que a eletricidade ainda não tenha voltado.", eu disse logo após interrompê-la.

Eu comecei a subir as escadas lentamente, enquanto o sangue da minha mão continuava a cair pelo chão da sala escura.

"A– Ayato! Nossos pais devem estar… estar… mortos! Você vai mesmo dormir nesta situação? O seu cansaço é um problema maior que isso?"

Paro de subir as escadas por um momento e levemente me viro em direção dela.

"Você não sabe pelo que eu passei hoje."

"...Ah."

Volto a subir as escadas para chegar no meu quarto.

"Irmãozinho…"

Que dor de cabeça. Eu quero descansar o mais rápido possível.

"Han… Ayato?"

Sou interrompido por minha irmã novamente.

"Espera… cuidado!"

"O quê?"

Ouvi o som de algo fazendo um barulho muito forte. Meus olhos se fechavam enquanto a voz da minha irmã ecoava pela minha cabeça.

Descansar realmente melhora muitos dos meus problemas…

Fiquei inconsciente logo após isso.

"Ayato! Ayato!"

Começo a respirar intensamente.

"Onde… estou?"

Eu acordo em um lugar extremamente familiar. À minha frente, minha irmã estava se inclinando em direção ao meu rosto.

"Ayato! Você está bem? Eu fiquei tão preocupada!"

Minha irmã ficou me encarando enquanto suas lágrimas caiam sobre a minha roupa. A única coisa que sinto no momento é uma sensação de déjà vu.

"O que… aconteceu comigo?

"V– você não lembra? Você estava subindo a escada, mas estava tão cansado que desmaiou antes de chegar no seu quarto. Eu não pude te salvar antes de você cair no chão. Eu sinto muito!", disse ela em um tom de remorso.

"Então eu caí da escada…"

Estou no hospital, o mesmo que visitei faz pouco tempo. Consigo perceber que as luzes estão ligadas, mas não tenho certeza se é só por causa de um gerador de energia ou se a eletricidade no bairro realmente tenha voltado.

"...Irmã, pode me dizer que horas são?"

"Ah, são por volta das 10 da noite. Por quê perguntou isso?"

"Nada de especial, apenas… estava curioso."

Desde a última vez que vi o horário, que foi justamente durante o incêndio, eram por volta das 7 da noite. Isso significa que não fiquei inconsciente por tanto tempo assim.

"Caramba… eu já estava preocupada com os nossos pais, mas você me deixou ainda mais em desespero. Temos que encontrá-los logo, senão eles serão dados como mortos."

Dados como mortos? No máximo eles seriam dados como sumidos. Minha irmã é exagerada como sempre nesses casos. 

Mas ainda me pergunto, o que tem de tão diferente nessa volta do tempo, para a minha irmã simplesmente se esquecer do senhor Nagumo? E o que aconteceu com os meus pais? Será que foram levados para o hospital de fora do bairro que possuía luz durante o incêndio? Yokohama é uma cidade bem grande, mas será que apenas uma incêndio daqueles conseguiu acabar com a eletricidade de milhões de pessoas, e de todos os hospitais próximos?

Tanto faz, eu ainda estou com muito sono.

Decido não responder minha irmã, considerando que fiquei por um tempo ignorando ela enquanto pensava sobre outras coisas na minha mente.

"Ayato… se quiser dormir, não estou te impedindo, mas eu vou tentar descobrir onde nossos pais estão.", minha irmã diz com um tom de arrogância e desprezo pela minha preferência.

A verdade é que a minha irmã ficou bastante brava e até decepcionada comigo por preferir dormir do que ajudá-la a encontrar os nossos pais, mas eu diria que ela não tem motivos para realmente ficar brava comigo.

Eu junto as minhas forças para respondê-la.

"Você não entende… sabe por que estou cansado assim? Eu fiquei procurando eles enquanto o incêndio ainda estava no seu auge. Eu até vim para este hospital perguntar sobre o paradeiro dos nossos pais, mas não consegui nenhuma resposta. Você acha que estou me importando mais em recuperar minhas energias, mas eu as perdi justamente por causa deles. Eu quero nossos pais de volta, mesmo sabendo que eles estavam no fogo e sumiram, mas é pedir demais querer estar no conforto de uma cama depois desse dia extremamente cansativo e estressante?"

O rosto da minha irmã muda de uma expressão zangada para outra de culpa.

"Q– quer saber? Pode dizer, eu fui sim egoísta. É… que estou muito preocupada com eles. Só de pensar que eles provavelmente morreram, me faz ter muitos calafrios. Mas não se preocupe, pode ficar dormindo no hospital até receber alta, enquanto isso eu vou encontrá-los, não só por eles, mas também… por nós dois, os filhos deles."

Ela volta a sorrir, e começa a se preparar para sair do quarto que estou.

Mesmo depois de ter dado praticamente uma bronca a ela, não me recusei a desejá-la sorte na procura dos

"...Boa sorte."

"Te vejo depois, Ayato."

Minha irmã se retira do quarto e me deixa sozinho no hospital.

"Ela deve ter me levado de carro até aqui.", eu disse, enquanto pensava sobre ela.

Minha mão esquerda não estava mais doendo, então levanto-a no alto, percebendo que seus ferimentos foram tratados. Apenas não estou conseguindo enxergar tão bem assim, já que não sei onde meus óculos estão no momento.

Eu vou dormir, não tenho muito a fazer até ser liberado pelo hospital.

"Senhor Nagumo… eu vou descobrir o que aconteceu com você, e também vou encontrar os meus pais, eu prometo."

Este dia finalmente chegou ao fim, mas o que sinto é que ficará apenas pior a partir daqui.