"O– o que é isso? Como isso… pôde acontecer?"
Uma luz extremamente forte chama a minha atenção. É como se eu estivesse em um filme de terror.
"D– droga… não consigo lembrar de nada. Por quê… a minha mão está sangrando tanto?"
Não faço a mínima ideia de como eu cheguei neste lugar. Minhas memórias estão embaçadas, minha visão está cansada. Com esses sintomas, a única coisa que tenho vontade é vomitar.
Minha visão está embaçada, pelo menos meus óculos estão intactos.
Essa luz forte… não consigo parar de encará-la.
Como isso foi acontecer? não tenho nenhuma ideia de como chegou a essa situação.
"Parece… que estou perto de casa."
Parece tudo tão familiar, mas não consigo ter lembranças deste acontecimento. Apenas consigo sentir angústia e sofrimento.
À minha volta, dezenas de pessoas estão apavoradas com o ocorrido, todas elas, assim como eu, questionam o motivo para esse lugar estar tão hostil.
Enquanto eu estava concentrado, um homem que não reconheço se aproxima de mim.
"Ora, ora… o que temos aqui?", ele diz, com um tom sarcástico.
"Eu n– não sei. O– o que está acontecendo aí?"
Esse homem começa a sorrir levemente e dá uma pequena gargalhada.
"Você ainda não percebeu? Estamos presenciando um incêndio! Mas eu diria que você não deve se preocupar com isso. Tudo será resolvido em alguns instantes quando os bombeiros chegarem. Por outro lado… Com essa mão sangrando, apenas os médicos irão te ajudar."
Com seu sorriso pretensioso, ele facilmente consegue me diminuir sem mesmo falar uma palavra.
Sua aparência ameaçadora mas elegante me faz ter muitas dúvidas sobre o quão 'inofensivo' ele pode ser.
Seu complexo de deus é aparente mesmo sendo difícil de enxergar seu rosto por completo.
"Você não precisa falar sobre isso para mim. Depois eu cuido da minha mão quando eu pelo menos descobrir o que aconteceu comigo."
Ele percebe que estou desatento e confuso e continua a me fazer ter mais perguntas do que respostas.
"Tem certeza que vai ficar imóvel esperando pelas respostas chegarem até você?"
"O– o quê?"
"Vamos, me diga. É você e apenas você quem decide o quão ignorante tu és. Suas emoções conflitantes parecem como um grande muro que te impede de progredir, mas quanto mais perto de passar do muro, mais você percebe que nada se passa de um vidro, que pode ser facilmente quebrado."
Minha cabeça começa a doer.
"Q… quem é você? Por que está falando isso para mim?"
"Honestamente, essa sociedade como conhecemos me dá nojo. Apenas tive pena deste seu rosto ridículo, não espere que eu serei empático com alguém qualquer."
Seu sorriso vai aumentando quanto mais ele continua a falar.
Eu começo a me levantar de pouco a pouco, tentando ter uma vista melhor dele.
"Pelo visto você não gostaria de me responder. Os humanos realmente são criaturas inúteis."
Ele fecha os seus olhos e suspira profundamente.
"Então esta será a hora que partiremos em caminhos diferentes. Não espere que nos encontraremos novamente, posso dizer que sou um tanto quanto excêntrico em relação a seguir padrões. Adeus, garoto."
O homem começa a caminhar em direção à escola pegando fogo, e em um piscar de olhos, a silhueta do seu corpo desaparece completamente.
"Quem… é ele?"
Este homem é tão misterioso quanto a senhorita Hashimoto, até mais para falar a verdade. Não seria nenhum exagero chamá-lo de cínico.
"Você ainda não percebeu? Estamos presenciando um incêndio!"
Minha cabeça começa a doer muito mais.
"Que droga..."
A dor na minha mão ensanguentada já era o bastante, mas essa dor de cabeça me deixou em uma situação ainda menos satisfatória.
"Ah… Agora entendi tudo."
A próxima coisa que percebi foi que minhas memórias finalmente voltaram.
Mal estava conseguindo ficar de pé, mas a dor e o sofrimento que estavam entranhados nas minhas memórias me fizeram desabar.
"Então… esse foi o incêndio que matou o senhor Nagumo…?"
Não… não pode ser. Como eu voltei para este exato momento? Este deve ser outro incêndio… não o que tinha acontecido antes.
Rapidamente peguei o meu celular com a minha mão direita, que não era a que estava sangrando.
Logo na tela de desbloqueio dele, havia a seguinte data:
Data: 1 de Abril de 2024
Isso tudo que está acontecendo… é exatamente igual àquele dia.
"Então é verdade? Eu…"
Meu celular caiu da minha mão por causa do 'choque' que tive.
"Eu voltei no tempo?"
Isso não é possível, viagens no tempo ferem as leis e teorias estabelecidas no nosso universo.
Se eu realmente voltei no tempo, todos os eventos que aconteceram antes, incluindo a morte do senhor Nagumo, ainda não aconteceram.
Eu pego o meu celular do chão, e falo:
"Então ainda há a chance de salvá-lo."
Onde só havia sofrimento, meu coração se encheu de esperanças novamente.
Preciso tomar uma decisão antes que tanto o senhor Nagumo quanto os meus pais sejam prejudicados.
O verdadeiro problema é a minha mão esquerda, que está praticamente inútil. Vai ser muito mais difícil de conseguir salvar alguém. E também estou mais fraco por causa da dor de cabeça e náusea que tive por causa daquele espelho e essa tal viagem no tempo. A única coisa que poderia fazer seria chamar as autoridades… mas tenho quase certeza que alguma outra pessoa já tenha feito exatamente isso.
Os meus pais e o senhor Nagumo… Será que consigo salvá-los?
Gostaria de pensar em outros problemas, como o motivo de eu ter voltado no tempo, mas essa situação em que estou agora me impede de focar em mais casos.
A primeira coisa que fiz foi fazer uma ligação para os bombeiros, mas por causa da falta de luz que o incêndio causou pelo bairro, vai demorar um bom tempo para eles se mobilizarem. Tenho certeza que foi por causa disso que pessoas como o senhor Nagumo tiveram que recorrer a salvar outras pessoas ao invés de fugirem.
Logo depois, eu tentei me aproximar do fogo, enquanto tentava procurar pelo senhor Nagumo e os meus pais. Como não sei onde é que eles estavam durante o incêndio, fica muito mais difícil de socorrê-los. Mas preciso pensar em algo, não posso deixar o senhor Nagumo morrer novamente.
Percebo que praticamente todas as pessoas já evacuaram desse local, exatamente como da primeira vez, impossibilitando um trabalho em equipe de outros civis antes dos bombeiros chegarem.
Salvar a vida do senhor Nagumo parece algo impossível, é como se o destino estivesse conspirando contra a vida dele. Nenhuma das opções que pensei são possíveis. Se continuar deste modo, meus pais podem até sobreviver, mas o senhor Nagumo vai morrer posteriormente de qualquer jeito. A minha única opção é encontrá-lo e propor um outro jeito para salvar os meus pais, mas não consigo encontrar nenhum dos três.
Está tão errado em querer salvar a vida de uma das poucas pessoas que me via como um ser humano normal, e não como alguém especial?
Ele foi importante demais para mim, eu não quero abrir mão da bondade dele.
"A verdade é que eu não tenho mais nenhum familiar vivo, e lugares como esse me fazem esquecer da solidão."
Meus pensamentos continuam a me lembrar dos momentos que tive com ele.
Será que ele realmente gostaria de ser salvo? Agora que tenho uma escolha, não seria justo salvar alguém que já estivesse decidido em se sacrificar.
Será que o motivo por ele ter se arriscado para salvar meus pais, foi porque ele julgou ter uma vida menos importante que eles?
Eu estou errado em querer salvar o senhor Nagumo?
"Droga…", eu disse.
Talvez seja até melhor seguir o fluxo da vida naturalmente. O quão diferente pode ser um futuro onde o senhor Nagumo está vivo?
Eu gostaria muito de salvá-lo, mas considerando que não há opções, ele precisa morrer. Isso é pelo bem dos meus pais, que serão salvos por ele.
Eu lentamente me afasto do incêndio, sabendo que a morte do senhor Nagumo será novamente causada neste mesmo lugar.
"Quantas vezes eu devo me despedir de você, senhor Nagumo?"
Uma lágrima caiu do meu rosto. Eu finalmente decidi que não havia como encontrar uma situação onde todos saíssem vivos.
"Se pelo menos essa viagem no tempo pudesse me transportar para algum horário mais cedo que esse…"
Este lugar apenas me faz lembrar de memórias ruins, eu gostaria de sair daqui o mais rápido possível.
Contrariando o senso comum com minha teimosia, decidi sentar no banco onde o senhor Nagumo costumava ficar, ao invés de procurar algum médico por causa da minha mão ferida.
"Mesmo com um incêndio daqueles logo atrás de mim, essa visão para o mar continua muito bonita de noite. O senhor Nagumo estava certo esse tempo todo."
Será a segunda vez que o senhor Nagumo falecerá. Desde que viajei no tempo, a história começou a se repetir de novo. Haverá o funeral dois dias depois de sua morte, logo na cerimônia de início das aulas que eu estava esperando ansiosamente comparecer.
O que foi aquilo? Como pode ser possível viajar no tempo? Tem algo de muito errado naquele porão da escola, mas eu só vou conseguir descobrir depois da comoção diminuir. Os espelhos que começaram a brilhar inesperadamente com certeza estão relacionados com isso tudo.
"Suspiro."
O que eu estou falando… Eu não consigo nem encontrar alguma maneira de salvar o senhor Nagumo, não é como se um mistério sobrenatural como esses seria algo mais fácil de se resolver.
Com isso, os bombeiros finalmente chegaram na escola, que continuava pegando fogo desde que eu havia chegado lá.
Eles rapidamente se mobilizaram para apagar o fogo, que lentamente começou a diminuir com a ajuda de mangueiras. Fiquei observando a ação deles no banco, ansiosamente esperando pelo resgate dos meus pais e do senhor Nagumo.
Quando o fogo foi apagado por completo, eu ansiosamente voltei para a escola para procurar os meus pais e o senhor Nagumo.
Além dos bombeiros, haviam algumas ambulâncias por perto como precaução, mas estranhamente, não encontraram nenhum ferido.
Não consigo encontrar meus pais, e o senhor Nagumo até agora ainda não apareceu. Por agir de forma suspeita, alguns bombeiros e médicos ficaram me encarando com uma dúvida aparente.
"Ei garoto, o que você está fazendo aqui?", um deles me pergunta.
Eles devem saber onde algum dos três está.
"Estou procurando pelos meus pais, vocês tem alguma ideia de onde eles estão? Tem um senhor com uma idade mais avançada que também estou procurando."
Eles ficaram confusos e preocupados, enquanto pensavam em alguma resposta que me deixaria satisfeito. Enquanto isso, eu escondia minha mão que estava machucada.
"Você tem certeza que seus pais estavam por perto? Não encontramos ninguém além dos escombros da escola. Não avistamos nenhuma pessoa em volta deste lugar também, como se ele estivesse completamente evacuado."
Eu não acreditei no que ouvi.
"Mas… eu tenho certeza de que eles estavam no incêndio! Meus pais trabalham aqui, e eles estavam no final dos seus turnos quando o incêndio começou. Alguém pode ter salvado eles, mas onde estariam agora?"
Os bombeiros tentaram me consolar, falando que iam tentar procurar por eles, mas que não garantiriam nada. Eles me recomendaram procurá-los no hospital, pois havia chance de eles já terem sido levados até lá, mesmo com a falta de energia.
A temperatura mínima que os ossos derretem é muito superior à temperatura média do fogo, seria impossível os corpos deles simplesmente desaparecerem depois do incêndio ser apagado. O que significa que o senhor Nagumo deve ter conseguido salvá-los. Mas como que eles saíram despercebidos da atenção dos bombeiros logo depois de serem resgatados? Como eu desmaiei logo após sair do incêndio, não tenho nenhum conhecimento sobre o que aconteceu logo depois que o senhor Nagumo salvou a todos.
Logo quando havia acordado do desmaio daquela vez, fui recebido pela minha irmã, no hospital, mas fui liberado logo em seguida. Seria a escolha mais sensata ir para lá?
Eu também liguei para os meus pais à procura de alguma resposta, mas eles também não atenderam o telefone.
Percebendo que nenhuma das pessoas que procurava estavam mais aqui na escola, julguei que eles poderiam estar no hospital.
"Desculpa, mas não estamos recebendo pacientes agora por causa da falta de luz. Se quiser continuar procurando eles, o hospital mais próximo está fora do bairro.", foi o que uma enfermeira me disse do lado de fora do hospital.
Como esperado, esse hospital não está disponível. Pelo visto, eles ainda tem alguns geradores para seus pacientes, mas não é o bastante para mais pessoas que precisam ser atendidas. Não tenho condições algumas para conseguir ir ao hospital de outro bairro, apenas voltar para casa depois desse dia extremamente longo.
Eu caminhei muito mais que o normal hoje, e foi ainda mais difícil suportar esses 'sintomas de viagem no tempo', além da minha mão machucada, claro.
Eu chego em casa, e minha irmã abre a porta para mim.
"Oi Ayato! Como foi o seu… dia…"
Minha irmã nitidamente percebe a situação da minha mão esquerda e sua expressão muda completamente.
"Por que a sua mão está sangrando tanto!?"
"E– eu explico depois, mas tenho outro assunto mais preocupante no momento."
"E quais seriam esses assuntos tão importantes que deixam sua mão de lado na nossa conversa?", ela pergunta.
Criando força e coragem para dizer, eu falo com um tom mais alto:
"O senhor Nagumo… e os nossos pais… desapareceram. E não consegui encontrá-los."
Ela fica muito mais surpresa e preocupada do que antes.
"O que… aconteceu com nossos pais para eles sumirem desse jeito?"
Houve um incêndio que tomou conta da minha escola de ensino fundamental, nossos pais estavam lá, mas não consegui encontrá-los depois que apagaram o incêndio.
"Você já ligou… para eles?
"Já liguei para eles, mas não recebi resposta alguma."
"Mas Ayato…"
Ela não entendeu corretamente o que eu falei.
"Pode falar."
"Quem é esse tal de senhor Nagumo, que sumiu junto com os nossos pais?"