Dia 12 de setembro, 23h30 da noite — Kandori no Uta, área residencial.
— Querido, querido, não seja tão bruto.
— Eu estou te falando! Quando eu pego as chaves do apartamento, os vizinhos reclamam tanto de tanto que eu vou te fazer gritar durante a noite.
— Você vai? E como vai fazer isso?
A noite estava escura e não se via nenhum transeunte pelas ruas frias da cidade.
Os posts pouco iluminavam aquela área de residência barata, e eram via folhetos e jornais largados ao chão.
O casal apaixonado andavam abraçados de forma grudenta falando seus pensamentos mais íntimos um para o outro enquanto exalavam o fedor de álcool do bar que saiu a 15 minutos atrás.
— Você vai ver o que eu vou fazer com essa bunda.
— Uhmn... Só não me bata tão forte que nem você bateu no Nakamura.
— Ah, aquele bastardo. Acha que posso me intimidar na frente de todo o mundo só porque tomei uns goro? Mostrei a ele o seu lugar! Há, há, há!
— Ele saiu bem zangado enquanto aquele nariz segurava ensanguentado. Mas... — uma mulher que antes exibia um sorriso no seu rosto vermelho de bebida, agora pareceu acuada.
- Huh? O que foi, querida? Ele vai ficar bem. Nem bati tão forte assim.
— Eu sei, querido. Mas ele saiu gritando coisas como maldições e que iria te amaraldiçoar pelo resto da vida.
- Huh??? E você ainda acredita nessa besteira?? São só palavrinhas imundas de um imundo fracassado! — fale o homem com a cara ainda mais vermelho de álcool do que a mulher.
Eles pararam frente a um beco, debaixo da iluminação de um poste cheio de mariposas envolto da luz.
— Eu sei mas... Sei lá, querido... Isso me deixa com calafrios. Ainda mais quando há barcos de pessoas desaparecendo de forma misteriosa... Existem pessoas que dizem terem visto até criaturas misteriosas no meio da noite, e isso.... Isso me assusta um pouco, sabe?
A luz começara a farfalhar um pouco enquanto parecia perder o seu brilho. Movimentação alguma se via nos arredores por causa do horário, tarde que era.
— Fala sério, benzinho. Você acredita mesmo nesse papo de louco? Isso aí não existe! Maldição alguma vai pegar este homem aqui! O seu marido é o cara mais durão que existe, você sabia!?
O homem indicado para exalar a carga pesada de álcool. A mulher pareceu renovar um pouco os ânimos com esse gesto e radiação.
— Você é tão homem assim? Vai me proteger, vai?
Ela se agarrou nele enquanto passava a mão no peitoril do seu marido falando de forma manhosa.
— Pode deixar que o cara com quem você se casou, vai te proteger de tudo. Só não vai te proteger dele mesmo!
— Ai, querido, na rua não!
Carícias pelo corpo e em áreas com curvas e beijos salientes no pescoço — a mulher ria fazendo pouco esforço para se livrar disso.
Embora...
— Querido, ouvi um barulho. Veio daquele beco ali.
Ela se desvencilhou dos ataques do homem e foi indicada na direção dita, quebrando o momento de ambos.
— Você se torna?
O homem olha para o mesmo lado. Era um beco longo cuja iluminação do poste não alcançava. Aparentava ser tão frio quanto a rua.
— Não, relaxa querida, foi só um gato.
— É para um perseguidor, hein? E se é o tal do Nakamura de novo? — uma mulher instiga.
—Ó Nakamura!? Eu arrebento o nariz dele pela segunda vez! Tá me ouvindo, Nakamura! Covarde!
A voz berrante ecoou pelo beco. Quando o homem fitou melhor o seu olhar, conseguiu ver a silhueta de seu colega de trabalho.
— Tá nos perseguindo, é? Quer que eu vá aí te dar uma lição!?
— .... — mas resposta alguma teve.
— Tsk, tá zombando da minha cara... Querida fique aqui. Eu vou ver o que está triste quer nos seguir.
Ele se desvencilhou de sua esposa que disse "cuidado" e adentrou o beco passando por caixotes, lixos e ratos. Era a parte entre os condomínios e apartamentos em que as pessoas atiravam seus lixos. cerca de 25 anos estar se escondendo e os perseguindo.
— O que você está fazendo se escondendo em um beco daquelas a essa hora, hein?
Mas o homem mal iluminado não respondeu.
Com o silêncio, o homem fedendo a bebida, estalou a língua estressado.
— Me responda quando eu falo com você, porra!
Levou sua mão e o agarrou pela gravata querendo satisfação.
E sentindo algum líquido pingando aos montes em seu punho.
— Mas o quê...?
Levando a outra mão ao bolso, o homem pegou seu celular e ligou a luz para conseguir ver o rosto de seus colegas.
E o que ele viu apontando a luz para Nakamura era...
— Ah!?
Um rosto com a boca cortada, sem lábios, completamente desfigurado, sendo visíveis os dentes. O sangue fresco que escorria, gotejava em sua roupa e no chão, sujando ambos.
Era uma visão grotesca de Nakamura que ele certamente não esperava ter.
Automaticamente o espanto mórbido e o álcool em seu estômago reagiram e ele sentiu ânsia.
— Mas! Mas que droga!
Tentou se desapegar do homem ferido grotescamente na cara, mas algo o prendia.
Mesmo que ele puxasse a mão duas ou três vezes. A razão para isso era...
— Maldito! Me solte!
A mão de Nakamura segura firmemente, impedindo que o homem se desvencilhe.
Tal força não era algo normal. O jovem tinha todo esse potencial em segredo? O punho foi duro que nem uma pedra.
Não obstante, um grito estridente foi ouvido da entrada do beco.
— Querida!
Reagindo ao berro de sua esposa, o homem virou o rosto imaginando o que poderia ter feito ela gritar.
Todavia, o que ele viu superava em tudo todas as suas expectativas. Era sem dúvidas além da imaginação.
— ....!!
Mãos e braços secos de cor acinzentados que saíram e se contorceram da escuridão. Vindas de lugar nenhum, não residentes do mundo.
Não desse mundo.
Saíam da calçada escura e espantavam todas as mariposas que fugiram com a luz apagada. Até mesmo a energia do celular parecia apresentar defeitos e piscar.
Os mesmos braços secos de aparência decrépito como cadáver agarraram as pernas, braços e torços da moça enquanto ela gritava.
Gelados e obscuros, estavam puxando-a para junto de si. Dezenas de braços.
E ela não apresentou resistência o suficiente para se soltar.
Algo estalou na mente do homem ao presenciar essa cena horrível. Um senso comum em todas as mentes.
De que se ele deixasse sua mulher ser tragada pela escuridão, essa poderia ter sido a última vez em que poderia vê-la com seus olhos.
— Querida!!
Aos prantos, ele tenta se soltar do braço de Nakamura que estava como um defunto.
Sendo segurado por uma força fixa e anormal, a mão de Nakamura estava tão gélida quanto o beco.
— Querida, não!!
Ele esclareceu. Ele estendeu sua palma restante e se concentrou com a força de seus pulmões enquanto sua esposa foi engolida pelas sombras até o pescoço.
A mulher estendeu a palma para ele, tentando ter esperanças de um possível salvamento.
Mas era tarde demais.
Ele viu sua esposa ser consumida por completo por silhuetas no formato de braços secos e sem vida bem diante de seus olhos.
Espantado, com um olhar cético, ele questionava a realidade.
Isso é real? Poderia ser descrito como uma causa real e verídica? Ou você estava ficando louco?
Fosse o que fosse, ainda senti a mão de Nakamura segurando seu punho.
E tudo o que ele pensou era que isso poderia ser uma piada de mal gosto.
— Nakamura... O que você...?
As palavras querendo questionar saíam pela metade. Ele, pouco importando a cena que viu do rosto desfigurado do seu colega de trabalho, só conseguiu pensar em sua esposa e nada mais.
Sua mente estava confusa, e parecia que até Nakamura havia sido uma vítima. Mas vítima do que afinal?
O homem parecia divagar entre a linha tênue que o separava entre a razão e a loucura. Parecia não ter respostas. Seu cérebro alcoolizado tinha medo de qualquer resposta.
Então ele escutou:
— Nakamura? Quem é esse?
Escutou em seu ouvido a voz do homem que o segurava.
— Você não sabe que os mortos não têm nome?
...A rua foi deixada gélida e sem ninguém.