Chereads / A Representação do Deus Supremo - Apocryphal Testament / Chapter 22 - Capítulo 3 - Respeite a sua história e lute!

Chapter 22 - Capítulo 3 - Respeite a sua história e lute!

A dupla dinâmica rumava em direção ao endereço descrito no papel. Lado a lado enquanto caminhavam debaixo do sol de outono à tarde.

A menina intrigada em pensamentos, decidiu perguntar ao Sado à respeito do evento anterior.

— Sado, me responda com sinceridade.

— Hum? Que foi, Yuki?

— Por que mentiu para o seu amigo?

— Ah... Isso...

Os belos olhos dela, decorados com cílios finos e brancos, esperando uma resposta... Ele coçou o rosto com um dedo e respondeu se sentindo sem saída.

— Eu também não sei. Só não queria que soubessem da sua existência, ao menos por enquanto, sabe?

— Hein? — ela ergueu levemente as sobrancelhas um pouco confusa. E vendo que ela estava assim, Sado se obrigou a explicar melhor.

— Eu pensei que fosse um lance só meu... Só nosso. Me dói um pouco em dizer isso, e faz parecer que eu sou alguém arrogante demais, mas eu queria que mais ninguém fosse envolvido nas nossas loucuras mágicas e bizarras além de mim e você.

Levemente envergonhado ele disse o que existia em seu coração. Apesar de ser um pensamento bastante egoísta, ele genuinamente queria ter algo como um segredo especial só dele. Seria um algo que o faria se sentir bem quando pensasse sobre. Sado queria ter algo exclusivo só para si.

Um pensamento bastante infantil, embora...

— Hum... — Yuki afinou os olhos bonitos — Ciúmes, é?

— Quê!? Não! N-não é nada disso! Não me entenda errado, por favor!

O garoto entrou em pânico tentando se justificar, e em resposta à reação exagerada dele, Yuki riu exacerbadamente.

Ela começou a rir da sua brincadeira e até mesmo esse gesto era incrivelmente fofo — mesmo que ela caçoasse dele, Sado não poderia ignorar a voz da menina que chegava em seus ouvidos como uma melodia límpida.

— Eu sei, me desculpe. Eu entendo perfeitamente esse sentimento. — respondeu limpando uma lágrima do olho.

— Entende...?

— Sim. Eu sou assim afinal de contas. Possuir algo único que ninguém mais têm. Sei muito bem como é isso, Yasutora Sado.

— .....

Ouvir ela pronunciar todo o seu nome o deixou levemente constrangido, e ele não soube como reagir.

"Por que eu tô sendo assim?", pensou indignado consigo mesmo.

Então, embasbacado com sua própria ingenuidade, ele suspira limpando o cenho.

— Eu sou mesmo um idiota.

— Disse algo?

— Não, deixa pra lá. Vâmo logo pro nosso destino, porque eu quero que esse sábado valha a pena.

— Tudo bem.

Continuaram sua caminhada em direção ao destino desejado.

♧◇♧◇♧◇

— É aqui?

— Sim. Posso afirmar com toda a certeza de que o endereço é esse.

A questão foi levantada pelo garoto que de baixo, olhava o prédio da firma. Não aparentava ser nada mágico ou espiritual. Era somente um edifico normal, isso ele poderia dizer.

Mas...

Foi Yuki quem o respondeu e buscou com o olhar vagamente os arredores. Ela sentia uma aura estranha que permeava pelo local.

— Sinto um rastro fedorento no meu nariz.

— Rastro é? Tem cheiro de quê?

— Não é algo que você pudesse entender. É algo sublime que não se aplica ao senso de olfato comum. Mas eu sinto, porque estou interligada com o mundo invisível. Não se aplica aos 5 sentidos, senão até mesmo você poderia sentir.

— Eu não entendi nada. Tudo o que você fala, só me deixa ainda mais confuso. Me dá uma explicação que até um primata entenda, por favor.

— Vamos por assim: Tenho um mau pressentimento, mas isso se revela no meu cérebro como se fosse fedor. Eu percebo que realmente algo do paranormal passou por aqui. E não é como os magos Arcanos. É puramente pútrido.

— Que seria?

— Cheira a crueldade, morte, desesperança e sanguinolência.

— ...

O menino engoliu seco com esses dizeres dela e não pode deixar de sentir um calafrio vindo do interior do seu peito.

Estava lidando com algo que não entendia. Algo que a maioria dos seres humanos não eram capazes de entender completamente.

Algo sobrenatural.

Ele apertou seu punho com força, como que renovando sua coragem.

— Vamos entrar.

Era a sua escolha.

E, adentrando o prédio, a dupla dinâmica estava no hall. Foram em direção à recepção onde um segurança se mantinha parado.

— Autorização? — disse ele.

"Ferrou. O que eu falo?", entrou em pânico interno o menino dos cabelos desgrenhados. Porém, logo foi movido pelo toque de ombro de Yuki ao lado que disse:

— Sado, o cartão.

— Ah, certo... Aqui, senhor.

Ele retirou do bolso o pequeno cartão e ofereceu ao segurança, que nem faz questão de se mover. Apenas falou:

— Visita?

— Sim.

— Estamos em horário de trabalho no exato momento.

— Não seja mau, tio. Viemos de longe para ver um conhecido nosso. Deixe-nos passar, por favor.

Quem deu a palavra agora foi a menina cheia de confiança. No que o segurança aparentou pensar por alguns segundos sobre a condição dos dois jovens e, após um breve instante de silêncio...

— Peguem o elevador ou as escadas. Avisarei o meu superior que duas crianças estão visitando.

A dupla se entre olhou com um sorriso de conquista e agradeceram por ter sido algo rápido.

Feito isso, seguiram para...

— Sado, vamos usar as escadas.

— Ué, por quê?

...Para a escadaria, onde Sado, que já estava se separando para chegar até o elevador, foi parado.

— O que eu disse lá na entrada? Esse tipo de coisa costuma afetar o desempenho de eletrodomésticos e componentes tecnológicos. É melhor não corrermos riscos.

— Hum... Agora que você falou, faz parecer aquela situação de filme onde o elevador trava na metade do caminho e não abre nem a porta.

Era um feito cinematográfico bastante popular em filmes que envolviam suspense, terror e horror. Imaginar que poderia tirar uma lição real disso era assustador.

Portanto, seguiu a precaução da menina e subiram pelos degraus da escadaria.

— Esse prédio têm no máximo 3 andares. Presumo que o escritório fica no segundo andar. Vêm.

— Uau, olha como ela é toda esperta e analítica.

Ele seguiu a liderança dela dando suas impressões pessoais. Yuki respondeu: "Sou toda grata pelos elogios", antes de sair do rumo das escadarias e por a mão em uma maçaneta de uma porta.

— Ops, melhor bater antes, certo? Etiqueta em primeiro lugar

O som de "toc-toc-toc" dos dedos finos dela reverberaram três vezes na madeira, seguido de um "Com sua licença, estou entrando", da menina que abriu a porta.

A vista era de um escritório comum com um punhado de trabalhadores engravatados, alguns computadores em mesas e muitos papéis sobre elas.

Brevemente a dupla recebeu da atenção de todos os presentes ali, mas logo voltaram a seus afazeres naturalmente.

— Hehe... Então isso é trabalhar em um escritório, huh?

Sado sempre pensou que se formaria na escola e iria ir trabalhar em um escritório como esse.

O clima no ar era tão entediante que ele jogou no lixo essa ideia.

— Pode esquecer.

Foi para o seu lixo mental de ideias que ele tinha regularmente e que desistia após um período ou outro de insistência.

Algo como: querer ser astronauta; namorar uma modelo; ficar milionário — todas nasciam de uma certa inspiração efêmera e eram descartadas a medida em que ele conhecia a realidade.

Cada boa ideia dele era jogada fora assim.

— Mas aqui sinto que não tô perdendo nada. Lugarzinho mais tedioso esse.

Quando ele terminou de dar sua última impressão negativa sobre o ambiente de trabalho e jogar no lixo mental a hipótese de trabalhar dessa forma, foram abordados por um dos trabalhadores do prédio.

— Pois não, jovens. Sinto muito a falta de educação dos meus colegas de trabalho, hee, hee. A que devo a visita? Estão procurando por alguém?

Óculos de grau, uma barbicha espetada e algumas rugas nos olhos.

O homem de meia idade, Sado Yasutora reconheceu essa figura.

— Tu é o pai do Ike! — apontou o dedo.

— Oh? Se não é o garoto estranho, amigo do meu filho estranho. Safado, era?

— É Sado, e não "safado"!

— Há, há! Fica tranks aí Tarado! Eu reconheço a face de um fera, só de bater o olho nele, cara!

O homem dizia excentricamente com as mãos na cintura.

Nessa situação estranha Yuki levou a voz até o único quem poderia ajudá-la agora.

— Sado, esse aí é o pai do seu amigo?

— Sim. É o pai do Ike, que nunca acerta o meu nome!

— Eu vejo... Agora que você falou...

Ela notou certas semelhanças faciais e físicas entre eles, puxando o que lembrava perfeitamente de sua memória sobre a aparência de Ike, amigo do Sado, à este homem.

— Há, há, caras! O que me dizem? Por qual motivo lhes devo a visita, Saco?

— Pare de fazer bullying com meu nome!

— E essa gatinha do seu lado, cara? Por que não apresenta ela para o seu velho aqui. Não vai pensando que eu vou deixar essa passar, cara!

— Para de agir como se você soubesse o que é ser um adolescente...! Mas então, meu velho-pai-adotivo-de-consideração, ela é minha ami-...

— Prima. Sou a prima de Sado. Me chamo Yuki, senhor pai-adotivo-de-consideração do Sado.

Antes que o menino desmentisse sua própria mentira anterior, a garota disse isso repentinamente.

A reação do garoto não poderia ser outra senão a de arregalar os olhos surpreso.

Mas quem ficou muito mais chocado foi o pai de Ike — que dizia carinhosamente que Sado também era seu filho.

— Oh, cara! Isso sim é um grande achado, cara! Por que você nunca falou que tinha uma priminha, cara!? Agora eu tenho uma filha, cara!

— Você disse essa palavra tantas vezes que ela perdeu o sentido, cara!

— Há, há, há, há!

Yasutora Sado soltou os ombros cansado, e Yuki esboçou um sorriso amarelo com essa interação.

Aos olhos dela, a família de Ike aparentava ter integrantes bastante "diferentes". Mas não achava ruim.

— Yuki, me desculpe pelo velho aí. Ele é gente boa.

— Está tudo bem, Sado. Cada ser humano é tão único e individual em sua forma de ser, pensar, agir, comer, falar e se expressar. Indivíduos singulares e complexos. Distintos uns dos outros. É essa diferença que eu acho tão mas tão bela... Deve-se ser respeitada e apreciada, pois cada um é 1 em 7 bilhões... Ou até mais do que isso...

— Uau... Isso foi... Foi incrivelmente lindo de se dizer...

A menina albina terminou seu pequeno monólogo com um sorriso acolhedor, transmitindo uma aura que aqueceria todos os corações.

Sim, todos. Até mesmo...

— Aaaaah! Essa é minha menininha, cara! Yuki é uma filha tão exemplar! Sabugo, seja mais como ela, cara!

— O nome dela você acerta, né velho decrepito!? E que raios você fez com meu nome!? Eu virei um milho!

— Não fale assim, Sandro, meu segundo filho. Fica tranquilo aí, fera!

— ...Isso é meio impossível no momento.

O pai de Ike que com todo o carinho de um pai de meia-idade que chegava na faze da velhice, abraçou Yuki sentindo-se orgulhoso e quase engoliu a menina com o abraço pois ela era muito pequena.

Yasutora Sado suspirou.

Ele continuou:

— Então, velho. Não viemos aqui fazer visitas e trocar papo furado. Viemos fazer algumas perguntas, então você poderia fazer o favor de nos responder?

— Perguntas? Sim, eu posso. Mas já vou avisando que esse velho aqui não entende dessas coisas de mangás. Esse velho aqui até tenta se inteirar no mundo jovem de seus filhos, mas não chegou no nível de ser um expert, cara! Então pegue leve comigo, fera!

— Fica tranquilo que não é sobre isso. Enfim... Yuki, diga a ele.

Dando a fala para a menina que foi desabraçada pelos braços longos do pai do Ike, ela assentiu para Sado e...

— Senhor, gostaríamos de saber umas coisas. Poderia responder a primeira pergunta?

— Claro... Por que isso está parecendo um interrogatório?

— Não é nada pessoal. Enfim, você está informado sobre os boatos de pessoas desaparecendo recentemente?

O pai de Ike colocou a mão no queixo de barbicha ouvindo sobre isso e logo sua aura descontraída mudou para um tom de seriedade.

— Hum... Agora que disse... Sim, se não me engano, há esses boatos por aí. Embora eu não sinta que seja algo realmente sério... Bem... — ele fez uma pausa como que pensando. Então... — Um dos nossos trabalhadores diz ter tido contato com algo sobrenatural e um outro está realmente desaparecido.

— Poderia nos levar até ele?

— Claro, menina. Mas ele não parece estar em posição de querer uma conversa, então deixamos ele no canto. Venha, eu os levo.

O homem deu as costas e instigou Yuki e Sado que os seguia.

Era essa a pista que precisavam então seria de grande ajuda se o homem colaborasse.

Entretanto, não era essa questão que permeava a mente de Yasutora Sado.

— Ei, Yuki. — chamou-a baixinho.

— Sim, Sado?

— Por que disse aquilo? Por que continuou na mentira de que você é minha prima?

Embora tenha sido ele quem começasse com isso de forma desastrosa, o garoto pensou que havia se desculpado por isso e que não precisaria mais investir nessa mentira.

Mas...

— Ah, aquilo? Simples. Reforcei essa ideia porque ele é o pai do Ike, aquele quem soube primeiro. Você quase desmentiu isso na frente do pai dele, e isso iria gerar uma grande controvérsia em relação ao que disse minutos atrás.

— ...Eu não tinha percebido isso... Quer dizer que eu vou ter que dizer pra todo mundo que eu conheço que você é minha prima!? Não consigo ser tão falso assim...! Eu sou o mocinho da história! Ninguém mente tanto assim de repente!

Ele se arrependeu amargamente de tê-lo feito. Yuki o consolou com palavras.

— Relaxa. Seu amigo vai entender quando falar a verdade. Afinal de contas, é o seu melhor amigo, afinal.

— É, você tem razão...

Ele fungou o nariz se lamentando. Perpetuar essa mentira para Ike acabou se tornando algo doloroso.

Assim que terminou de se lamentar, e atravessar o escritório seguindo as costas do pai de Ike, Sado e Yuki foram guiados até o canto, onde...

— Aí tá ele.

— Hum.

...Onde um homem extremamente deprimente digitava no teclado do computador, tecla por tecla, de forma exageradamente lenta.

— Dá pra sentir a aura depressiva dele daqui. Só de chegar perto eu já me sinto afetado...

— Não zombe dele. Seu apartamento é igual. — respondeu a garota.

— É eu... Espera, quê? Meu apartamento...?

— Quando te segui na noite que te protegi de Fenícia, a maga Arcana da lança, eu entrei no seu apartamento para curar seus machucados...

— ...Eu gostaria de esquecer isso. — lembrou envergonhado.

Sado naquele momento estava sujo de terra, lágrimas e ranho. Ele ainda não tinha descoberto sua capacidade que não é nem magia e nem superpoder. E ainda teve sua cueca (samba canção) exposta.

Yuki continuou:

— E lá eu senti a sua aura depressiva impregnada por todo canto. Sado, você realmente exala uma sensação de alguém muito pra baixo...

— Quê? Eu? Pra baixo? Eu!? Pffft... Não viaja, Yuki. Eu sou um protagonista de história de fantasias agora. Protagonistas assim não são tristes. Eles superam todos os seus problemas!

— Você tem certeza do que está falando? Sado eu me preocupo com...

— Relaxa, relaxa. Se um dia eu fui um adolescente normal vivendo em um mundo patético... Agora não posso dizer o mesmo. Sim. Não sou mais o mesmo de antes. Sou melhor. Tenho uma habilidade agora! Sou um protagonista!

Não importa o quanto ela tentava falar, o garoto não daria ouvidos e continuaria reacendendo sua determinação.

Sado se sentia muito contente e quanto mais pensava sobre aventuras e criaturas, mais sentia seu interior fervilhar de emoção.

No fim, o pequeno desvio deles terminou com Yuki aceitando isso um pouco a contragosto e dizendo "Só leve isso a sério, por favor". Fazendo ele questionar logo em seguida.

— Ué? Por que me diz isso? Eu tô levando a sério. Por que só diz essas coisas para mim?

— Digo isso, pois me preocupo com você, Sado. Fui eu quem te trouxe pra esse tipo de situação. Me sinto responsável por isso.

— Até gostei que disse que tá preocupada, mas eu já disse pra relaxar. Se eu tô aqui é pra fazer a diferença!

— Eu sei, eu sei... Olha, te explico depois. O nosso "anfitrião" aqui já deve estar ficando com dores de cabeça.

E assim de fato terminou o desvio deles, e foram puxados de volta ao objetivo.

O homem aparentava não se importar e tudo o que fazia era murmurar coisas baixinho e digitar no computador com o dedo indicador bem devagarinho.

Sem apresentar alguma reação aos 3 que ali se encontravam, quem lhe chamou a atenção foi o pai de Ike.

— Senhor, Tsukiama, temos visita.

— Huh...? — o homem se virou na cadeira rotatória quando foi tocado no ombro. — Ah, não vi vocês aí...

Aparentemente, sequer havia notado que Sado e Yuki conversavam ao lado, literalmente perto o suficiente para poder ler o que estava escrito na tela do computador.

Yuki não fez questão de bisbilhotar, mas Sado deu uma espiada e viu que eram palavras desconexas umas com as outras e não deixou de franzir a testa achando isso muito estranho.

Continuando... O homem com enormes olheiras, parecia que não dormia a dias, cabelos desgrenhados piores que os de Sado e exalando um odor por falta de banho — este homem deprimente se pronunciou com a voz rouca e fraca, completamente desanimado.

— ...O que querem comigo?

— Uhm, bem... Desculpa aí a intromissão mas...

— Somos investigadores. Estamos investigando um caso paranormal, senhor Tsukiama. Poderia nos contar a sua versão da história?

— ...Eita!?

Quando foram dirigidos às palavras do homem, Sado Yasutora apresentou certa dificuldade em dialogar. Porém, mais rápido do que a capacidade dele em formas palavras, Yuki puxou um distintivo do bolso da calça e falou com grande atitude e discernimento.

O menino se espantou em ver ela puxando algo que não tinha, de forma totalmente anormal e não deixou de expressar sua surpresa.

Vendo isso, o homem responde:

— Policiais, huh? E o que esperam ter de mim? Ninguém acredita nas coisas que eu falo mesmo.

— Nós acreditaremos, senhor Tsukiama. É por isso que estamos aqui.

— ...Por mim?

— Pode ter certeza. Eu escutarei sua história. Confiarei em suas palavras. Te ajudarei no seu problema. É por isso que estou aqui. Então confie em mim e nos conte... Nos conte o que fere o seu coração.

— ....

Terminou ela tocando no ombro do homem transmitindo toda sua credibilidade no olhar.

É valido dizer que Tsukiama se sentiu mais leve ao receber o toque, como se fosse livrado de um enorme peso nas costas, embora o peso em seu coração ainda exista.

A princípio, também, o homem estava com a mente tão abalada que sequer questionou de estar sendo consolado por uma garota que parecia ter saído do fundamental e que mesmo assim dizia ser uma investigadora.

— T-tudo bem... Irei contar a vocês...

Ele engoliu seco.

♧◇♧◇♧◇

— Entendo... Sua esposa foi levada diante de seus olhos... Eu sinto muito em ouvir isso, senhor Tsukiama.

Os 3 estavam sentados em cadeiras enquanto Tsukiama contava sua história segurando uma xícara de café quente. O pai de Ike havia se retirado para os afazeres do escritório.

Era justo comentar que a aura deprimente do homem havia desaparecido. Todos que olhavam na direção dos três também pareciam estar se sentindo muito melhores.

Mais precisamente, a menina de aura radiante passava a ser um calmante a todos na sala. A presença de Yuki subjugava toda a má sensação e até deixou os funcionários mais felizes.

Cada gesto dela iluminava o ser.

— Mas nem é o pior de tudo... Eu escapei. Eu consegui escapar. Mas o que eu vi... Não consigo dormir direito até agora...

Dizia assim o homem abalado.

— O que você viu?

— Eu... Eu...

Ele apertou sua coxa com força, lembrando-se do ocorrido. A garganta secou e nem mesmo o café amargo funcionava. Era simplesmente doloroso demais contar algo assim. Duvidava da sua própria sanidade.

Porém...

— Está tudo bem, senhor Tsukiama. Eu estou com você.

O toque da palma da menina que se inclina para tocar na superfície da palma do homem abatido era o suficiente para ele recobrar as forças.

Desacreditado, só o que ele poderia dizer em troca era...

— Você é um anjo...?

Ela sorriu.

— Já me disseram isso antes. Então como um anjo guardião, eu estarei aqui para assegura-lo de que nada te fara mal algum.

— ....

— Eu prometo. Por isso, confie em mim e em meu parceiro aqui.

— Opa, beleza?

Sado saudou o homem erguendo a palma. Então, vendo os dois jovens que se disponibilizavam para ajudar com esse caso de mistério, Tsukiama respirou fundo e os três se ajeitaram em suas cadeiras.

— Foi à 3 dias atrás... Admito que tive vários desentendimentos com meu colega de trabalho, o senhor Nakamura, é mais jovem do que eu, e mesmo assim eu briguei com ele quando estávamos bêbado. Ele... Naquela noite ele... Ele havia se transformado em outra coisa. Eu não sei explicar. Pode parecer loucura mas... Não era deste mundo.

A entonação na voz do homem pareceu mudar para algo mais grave. Ele cria veemente no que dizia, e por isso, achava que ela loucura das mais absurdas de todas do qual se possa dizer à alguém.

Mas não para Yuki que estava habituada até demais com essas coisas, e Sado Yasutora que conheceu recentemente esse mundo sombrio e mágico.

— Senhor Tsukiama, você verdadeiramente teve um contato com algo paranormal, e eu posso assegurar a você... Foi um dos grandes. — revelou a menina seriamente.

— ...Então eu não estou louco. É... Eu realmente vi... Há, há... Há...

— Por favor, senhor Tsukiama. Poderia nos ajudar a desvendar esse mistério?

— Vocês... Vocês podem trazer minha espoja de volta?

Com essa pergunta, houve um silêncio naquele canto de sala por um breve instante. O som de teclas sendo pressionadas e de máquina impressora tomava o ambiente.

Yuki encarava Tsukiama. Tsukiama encarava de volta e Sado olhou-a de canto de olho sentindo certa tensão no ar.

De repente, o brilho acolhedor dela que subjugava o ambiente mórbido enfraqueceu. Talvez um aspecto de que Yuki ficou tensa com essa questão levantada pelo homem.

E, passados alguns segundos ela abriu a boca:

— Sinto muito, senhor Tsukiama... Levando em conta o tempo que passou dês do desaparecimento da mesma, receio que seja quase impossível que ela esteja bem, ou viva...

— ...Entendo.

Por um instante, houve um brilho efêmero nos olhos mortos do homem, mas que foram apagados completamente pela dura realidade.

O único brilho que restou foram lágrimas.

— Então é isso... Não há salvação. Me pergunto a todo instante o porquê de não ter sido eu quem foi levado... Ela não merecia... Quem brigava era eu. Quem mereceu foi eu. E ainda assim... Ainda assim quem restou vivo foi eu...

Era o lamento deste homem.

Sado permanecia quieto e não sabia o que dizer. Sentia que se abrisse a boca aqui, só falaria besteiras. Então ele deixou tudo isso para a Yuki que liderava a situação com sua gentileza e cautela.

A dor era refletida nos olhos dela. O homem que se martirizava todo dia pela perda. A menina era tomada de sensibilidade.

A cadeira foi então repentinamente arrastada como que saltando dela e o homem foi recebido em seu momento de angústia o abraço fraternal daquela que desprezava somente o ódio e a dor.

Os braços de Yuki envolveram os cabelos do homem que foi posto em seu peito liso.

Ela dizia:

— Eu sei que sente dor. Uma dor tão profunda que não é mais capaz de viver. Sente que o seu futuro se fechou para você e você nem têm comido direito. Que se culpa pelo ocorrido e só quer ter sua esposa de volta. Eu sei. Foi realmente uma grande perda, e é por isso que eu estou aqui neste momento, senhor Tsukiama Aihou.

— ...Você.

— Está tudo bem. Chore o quanto quiser. Mas saiba que se escolher chorar agora em meus braços, terá tido o compromisso de nos ajudar em nossa missão. Que missão você se pergunta? A missão de impedir que outros como você sofra desse mesmo destino. Jovens e crianças. Mulheres e idosos. Foi trágico, foi. Mas pode ser ainda pior quando outros e mais outros são afetados.

Ela acariciava os cabelos dele, transmitindo afeto incompreensível.

— ....

— Mas você pode mudar isso. Você se culpou tanto e amaldiçoou sua vida tantas vezes. Se julgou incapaz e nada fez. Porém, pode haver mudança agora. Você pode decidir mudar isso, senhor Tsukiama. Pode ser melhor. Pode ser algo próximo ao que chamam de "herói". Eu tenho certeza que se fizer isso, sua esposa  onde quer que ela esteja, estará orgulhosa disso. Sabe por quê?

— ....Por quê?

Ela sorriu gentilmente para o homem com feições incrédulas.

— Por que ela veria novamente o homem do qual se casou. O homem que você mostrou ser no dia em que se conheceram. Respeite a sua história, Tsukiama Aihou.

— .........

— E então? Você escolhe chorar e depois se levantar ou continuar caído enquanto o futuro se fecha para você cada vez mais?

Foi uma pergunta injusta pois o homem tremia em seu colo.

Estando ele muito comovido, ele lembrou-se do dia em que conheceu sua esposa, e da noite em que a perdeu.

"Eu sou o cara mais durão que existe!"

Por isso, ele chorou.

Ele chorou e chorou.

— Eu iriei ajudá-los!! Eu não mereço nada disso! Mas eu irei ajudá-los! — ele olhou para cima. Não o teto, mas além dele. — Eu prometo, querida! O seu marido é o cara mais durão que existe!!

Com lágrimas nos olhos... A couraça do coração foi quebrada revelando ali no interior um forte desejo de lutar.