"....."
Ele permaneceu calado olhando a mesma cena de novo.
Seu peito era esmagado pela incerteza, e esse sentimento subiu ao cérebro abafando sua visão, sua respiração e seus ouvidos.
O exterior estava abafado, mesmo com a brisa do vento.
Demorou alguns segundos até ele se reconectar com o mundo por conta desse sentimento ruim.
— Sado, você está bem? Parece que viu um fantasma.
Embora, só voltou a si quando a menina menor que ele se colocou em sua frente. Sado olhou pra baixo, para os olhos dela, por puro reflexo.
— Yuki?
— Sim, Sado. Sou eu. Está passando mal? Se sente tonto?
— Não é que... Já não passamos por esse parquinho antes? Por que estamos aqui novamente?
— Hum? — ela fez uma cara de quem genuinamente não estava entendendo. — Que eu me lembre, nunca estivemos por aqui, Sado. Acho que está confundindo as coisas.
— Eu tô...?
Ele olhou ao redor novamente. Não fazia sentido algum. Ele claramente esteve ali cerca de quase 1 hora atrás.
Esse sentimento ruim dizia isso.
E pra piorar tinha a sacola de compras.
"Isso já não foi comido antes?"
Ele tinha certeza de que os condimentos dentro da sacola plástica foram comidos, mas aqui estavam todos intactos como se tivessem sido regenerados.
O que era surpreendente, até as embalagens foram repostas...
Era cômico pensar em algo assim. O garoto só estava tentando ignorar a realidade.
O que fazer?
Em uma situação dessas, ele olhou para a menina. Tirando o fato de que aparentava um pouco receosa com o semblante confuso de Sado, ela estava tranquila quanto a todo o exterior que os cercavam.
Ele podia confiar nela. Yuki Sato era sem dúvidas especial, muito inteligente e tinha um conhecimento bastante vasto sobre magias, religiões e coisas do sobrenatural.
Se ela não falou ou não fez nada até agora, então, talvez, seja por que não era motivo de se alarmar.
Se fosse isso, é provável que ficasse tudo até que bem, certo?
Mas o problema também era...
— E o tio que tava conosco?
Ele tinha que fazer essa pergunta.
— Que tio?
— ....
É, ele teve que perguntar isso.
♧◇♧◇♧
— Me sinto enjoado...
Com a mão na barriga, o menino via seu reflexo no espelho. Estava dentro de um banheiro de uma loja qualquer após ter saído do parquinho.
Ele aproveitou para beber água da pia e lavar o rosto antes de verificar em seus olhos de que não estava louco.
— A princípio sou o mesmo de antes.
Reconhecendo que estava tudo bem consigo mesmo, Sado encarou seu rosto por alguns instantes.
O sentimento de estranheza não desaparecia. Era como um prelúdio do fim. Como se estivesse metido em um evento realmente bizarro.
— Mais bizarro do que magos e lanças?
Quando ele para pra pensar sobre isso, conclui que seus últimos dias eram a mais pura loucura.
Não era isso que ele queria? Uma aventura mágica ou semelhante?
— ...De que adianta tudo isso, se não tenho controle da situação?
Ele queria uma aventura mágica para se orgulhar e escapar da monotonia do mundo real. Porém, se até isso fugisse de suas mãos, Sado já poderia se considerar um tremendo inútil.
Um inútil que não tem utilidade no mundo mágico e nem no normal.
Um inútil em ambos os mundos.
— Tá, chega de ficar depressivo. Preciso voltar pra Yuki o quanto antes e resolver seja lá o que está prestes a acontecer.
Ao menos sua determinação não poderia entrar na escuridão. Deveria se manter esperançoso de que serviria para algo.
"Um protagonista em situações como esta não fica se lamentando. Eles vão lá e sempre resolvem todos os problemas.", assim pensou se retirando do banheiro da loja.
O local era uma lojinha de suvenires baratos e Sado não estava interessado em nenhum deles no momento.
Ele agradeceu a moça do balcão e saiu para a rua, onde Yuki estava esperando escorada com as costas magras na parede.
— Tá se sentindo melhor? Quer uma aguinha Sado?
— Tô sentindo um déjà vu cabuloso agora... Mas tô bem. Só vâmo depressa resolver a nossa caçada às maldições e ver o que a gente faz depois pra comemorar.
— Hum. Tudo bem. Mas se sentir-se mal de novo, quero que conte pra mim.
— ...Ter uma menina se preocupando comigo assim, é tão... Tão... Acolhedor.
— Bobo. — ela sorriu.
Seguindo em frente após o comentário do Sado que sempre sentia certa aspiração quando percebia que Yuki se importava, a dupla voltou a caminhar.
— Tem certeza de que não vai comer? — apresentou ela a velha sacola de compras com doces e salgados.
— N-não... Valeu. A fome já passou.
— Tudo bem, querido. Guardarei pra você caso queira mais tarde.
— "Querido" ? Uhm... OK. Valeu.
Ele não deixou de se sentir um tanto estranhado com a forma em que ela se referiu à ele.
Embora fosse Yuki de sempre.
E, nesse intervalo onde se deslocavam pela rua, Sado se sentindo incomodado, não conseguia puxar tantos assuntos triviais. Talvez a sua ansiedade de jovem tenha crescido nesses últimos anos?
"Não... Eu só não quero preocupá-la. Se eu ficar questionando, iremos perder o ritmo do rumo atual. É melhor seguirmos direto para o prédio da firma. Merda... Sinto que já vi tudo isso antes...! Se continuar assim eu vou ficar maluco!"
Enquanto se martirizava internamente pela ocasião, o garoto foi tragado de seus pensamentos quando...
— Oh!? Sado! Sado, é você!
Um alguém apareceu atravessando a rua.
— Ike? O que faz por aqui, de novo?
— Eu quem pergunto, Sado! Não apareceu em aula ontem, não atendeu minhas ligações e eu te encontro do nada zanzando pela rua. Você está um pouco longe de casa, huh?
Ike, o melhor amigo de Sado Yasutora havia aparecido, e pela sua expressão por trás dos óculos, estava bastante irritado.
Sado largou os ombros e repreendeu o amigo.
— Deu pra você virar um disco quebrado, foi? Eu sei, tá bom!? Não precisava ter voltado aqui e ter repetido a mesma coisa!
— Repetido?
— É! Mas enfim, entregou o remédio para a sua mãe?
— Sado...
Subitamente, Ike o olhou com olhos desconfiados.
Sado não compreendeu essa reação e também estranhou.
Então Ike aproximou-se de Sado a uma distância que seria desconfortável pra qualquer pessoa, tocou em seu ombro e disse-lhe no ouvido:
— Como sabe disso?
— Heh? Como eu sei? Como assim "como eu sei disso"? Você quem disse, burrão.
Dando um tapa na mão do Ike, Sado se desvencilhou do melhor amigo. Ike só ficou ainda mais confuso.
— E quando que eu te contei uma coisas dessas? Você sequer atendeu minhas ligações!
Não era como se a culpa fosse de Yasutora Sado sobre esse quesito. Na quinta-feira ele havia sido atacado e perseguido pela maga da lança e quase morreu, perdendo assim seu celular de flip pela rua.
Na sexta-feira ele já não sabia mais onde estava seu celular e foi atacado por outro mago, esse que usava chamas e um taco de metal. Ele quase morreu.
Na noite do mesmo dia, teve uma batalha contra um indivíduo amaldiçoado e venceu sem qualquer problemas pelo "Faker" que o protegia aos ataques mágicos e negava todos os efeitos. E, por conta disso, estava cheio de si contra a maga da lança que na segunda batalha contra ela, foi abatido tantas vezes que foi parar no hospital.
Enfim, sábado e ele se encontra aqui.
Teve tanta bagunça em apenas 2 dias e meio do que teve em todo seu ano letivo.
— Tsk, foi mal, foi mal. Eu perdi meu celular, feliz assim?
— Poxa... Sério? Ah, tá. Desculpa.
O raivoso Ike, em menos de 1 segundo, aceitou completamente toda essa situação.
E então...
— Sado, quem é essa aí do seu lado?
— Ah, ela... Prima.
— Uma prima!?!? E loli desse jeito!?
— Já falei pra parar...!
Ike que continuava com a piada de mal gosto, ignorou o Sado que já começou a se estressar novamente e em um salto (literalmente), foi-se para frente de Yuki — a prima de mentira do Sado.
— V-v-você é a priminha desse cara preguiçoso aqui?
Acerca da pergunta dele, a menina ela...
Ela o olhou com grande brilho nos olhos.
Um cabelo branco lindo esvoaçante.
Um sorriso meigo e perfeito nos lábios finos e macios.
E juntou as palmas ao lado do rosto, dizendo:
— Sim! Eu sou a prima do Sado, Ike. É um prazer gigantesco te conhecer!
— Kiiiuu!!!
Como quem é atingido por uma bola invisível no meio da cara, Ike voou para o chão caindo de costas quando se atirou para trás.
A pancada o deixou imóvel, mas Yuki não havia feito nada.
— Oi! Seu maluco, você está bem!?
Naturalmente, Sado foi até o amigo para o recolher de volta. E ali, viu que jogado no chão todo esparramado, ele sorria com uma expressão totalmente vermelha no rosto.
— Ah, uh... Hihi... Hehe... Há...
A expressão de Sado perdeu toda a cor, como que uma sombra cobrindo seus olhos. Era deplorável. Sem dúvidas ele senti certa aversão em ver esse bastardo todo excitado no chão.
— .....Você gostou disso, não foi?
♧◇♧◇♧◇
Depois de ter esse segundo evento com Ike, Sado o ergueu e o deixou zonzo dentro de uma ruela entre os prédios.
Ike que agora estava no mundo da lua, demoraria a voltar para a realidade, então Sado se despediu dele e assim ambos rumaram de volta ao objetivo.
— Tá tudo bem em deixar ele lá daquele jeito? Ele é seu amigo.
— Tá tudo bem sim. O cara sabe se virar.
Sado respondeu andando ferozmente para frente, ignorando totalmente a preocupação de Yuki.
— Por que está irritado?
— ...
— Sado... Se não quiser falar, eu entendo. Mas é bom expor pra fora sentimentos ruins.
— Deixa eu conferir algo. Vêm.
— Ok. Mas pra onde? Tem uma pista sobre as maldições?
— Pista, pista, eu não tenho. Mas quero verificar algo.
— Tudo bem. Se você diz, eu acredito.
— .....
Não havia motivos para ele confiar tanto nisso — a sua intuição — e Sado estava confuso com os eventos de agora. Mas algo... Algo dentro do seu coração o dizia que as coisas não estavam certas por aqui.
Ele seguiu essa intuição a risca.
Para logo, após caminhar algumas quadras de distância, parou em frente a um prédio de três andares.
— Oh, você tinha razão. Sinto o cheiro de algo ruim pairando por toda a área. Parece que algum amaldiçoado andou por aqui com frequência.
A pequena Yuki concluiu assim ao lado dele, de forma rápida. Mas Sado Yasutora já sabia de tudo isso.
Ficou feliz pela confirmação dela, o que colocou embasamento em sua intuição sutil, mas já sabia de tudo isso, logo não ficou surpreso.
— Vamos entrar, minha intuição tá afiada hoje.
— Olha só ele dando o seu melhor! Parabéns, Sadinho. Gostei de ver.
— Valeu, Yuki. Você realmente tá me elogiando. Sinal que fiz algo bom, hehe.
Por mais que ele sinta que está trapaceando como quem joga um jogo online após ter visto a versão beta antes de todo mundo.
De qualquer forma, Sado e Yuki entraram dentro do prédio com Yuki dizendo:
— Sado, tome cuidado, em situações como essas...
— Eu sei, eu sei. Não é bom pegar o elevador e tudo mais. Relaxa, Yuki e deixa comigo.
— Bem, eu ia dizer para termos cautela, mas você tem razão também.
Foi falando isso que eles chegaram até o segurança do prédio. Sado usou a desculpa de que eram policiais e surpresa com isso, Yuki seguiu o embalo e forjou um distintivo a partir das moléculas, mudando-as e moldando-as a nível subatômico em sua palma.
Curiosamente funcionou e quando eles disseram que queriam falar com alguém, o segurança os escoltou até a escadaria e apontou para o andar de cima.
A dupla seguiu até o segundo andar. Então, vendo a porta do escritório dos trabalhadores, Sado a abriu sem muita educação.
— O senhor Tsukiama Aihou está por aí!?
Ele foi recebido pelo olhar de todos quando gritou isso.
♧◇♧◇♧◇
Sado e Yuki (logo atrás dele) foram recebidos pelo pai do Ike.
— Olha só, se não é o Suado, cara!
— Não vim falar com você, então sai da frente. A gente já conversou demais a alguns instantes atrás.
— Ué, cara? Não lembro de ter te visto essa semana, Sand.
— O que esperar de um velhote cheio das rugas de expressão? Agora dá licença porque eu quero falar com o senhor Tsukiama.
— Ei, ei, ei! E não vai nem me apresentar essa mocinha aí atrás de você?
— Diz isso como se não a conhecesse minutos atrás! Você bateu a cabeça fortemente na estante, foi, velho?
— Minha cabeça e principalmente minha estante estão em perfeito estado, cara!
Sado ignorou todas as argumentações do pai do Ike e passou pelo escritório recebendo olhares de todos os trabalhadores. Não era uma sensação boa quando te encaravam como se você fosse um garoto rebelde, mas ele não deu tanta atenção para isso agora.
No momento ele...
— Velhote dois, o que cê tá fazendo aqui?
Ele questionou aquele do qual o seu mal pressentimento lhe instigava no profundo de sua mente.
Era Tsukiama Aihou.
Tsukiama estava apertando as teclas do teclado enquanto olhava para o monitor de tubo com a postura toda encurvada.
— Sério, tio. O que aconteceu naquele bar, afinal de contas? Por que todos saíram de lá?? Inclusive eu! Ei, me responda.
Era uma enorme falta de educação quando o interlocutor da conversa sequer olha para a pessoa que está falando tão apressadamente.
Tsukiama parecia incrivelmente concentrado no seu trabalho, ou só estava rudemente ignorando o Sado.
Seja o que for, isso o irritava.
— Ei!! Dá pra olhar nos meus olhos enquanto eu falo com você!? Tiozão, tá maluco!?
— ....
— Tá brincando com a minha cara!? Olha pra mim e responde algo!!
Irritado e com dor de cabeça, Sado Yasutora avançou no homem com certa rispidez, virou a cadeira em que ele estava sentado e o segurou nos ombros fortemente para olha-lo nos olhos.
Assim que Tsukiama foi tirado de sua tela onde digitava coisas sem sentido...
— Oh, jovem... Eu não vi você aí... — disse com o fatídico desânimo de outrora.
— Hein? Ah, tanto faz! Quero saber o porquê de estar aqui agora quando deveríamos estar naquele bar de merda que fede a cigarros de merda!
Sendo confrontado pelas palavras do garoto de cabelos pretos, Tsukiama não pareceu demonstrar qualquer sinal de que estava se importando. Na verdade, de que estava entendendo realmente.
— Bar...? Que bar...? Não conheço nenhum bar... Se era isso de que precisava, deixe-me trabalhar...
Mas as palavras de Tsukiama Aihou não faziam o menor sentido.
Yasutora Sado sentiu aquela aflição dormente no interior do peito de quando estava no parquinho pela segunda vez.
Ele encarou Aihou nos olhos por alguns segundos sem saber o que dar em resposta. Estava confuso. O cérebro não recebeu corretamente a mensagem.
— Que?
Foi só o que ele disse.
Foi tudo o que ele disse.
Então, com um sentimento mórbido no coração, Yuki o chama de trás.
— Sado, algum problema com este homem?
— Como assim "este homem"? É o cara da nossa investigação, Yuki...
— ? Não lembro disso.
— ????
O garoto soltou o homem e se virou dizendo essas coisas com um rosto meio perturbado. Porém, a resposta da menina era ainda mais perturbadora e ele ficava cada vez mais confuso.
Era uma pegadinha?
Yuki e Tsukiama planejaram pregar uma peça no Sado, e até mesmo Ike e o pai dele estavam envolvidos.
Era de igual, muito inconcebível, mas foi o que o seu cérebro tentou achar como desculpa para escapar dessa realidade.
— Todo mundo ficou louco de repente...? Isso não têm graça! Não tem!
— Oi, oi, Sujo. Se acalma. — pronunciou o pai do Ike ao se aproximar.
— Me acalmar, velho!? Vocês estão todos estranhos assim do nada! A comida que eu comi, o Ike, o velhote 1, o velhote 2... Até mesmo você, Yuki, quem eu mais poderia confiar nessa situação bizarra!
Sim. Ele não sabia como e nem o porquê. Era como se a mente de todo mundo (menos a dele) estivesse embaralhada como um tabuleiro montado cujo alguém o jogou no chão e as peças se espalharam.
Ou era ele o anormal aqui?
Não. É uma possibilidade, mas ele queria trabalhar com ela por último se esse fosse o caso.
Ele não sabia quando e nem o porquê, mas...
— Tudo está estranho dês de que...
Ele sabia um lugar.
— Dês de que entramos naquele bar...
Repentinamente sua mente bagunçada pelo estresse clareou como uma lâmpada em uma sala.
Não haviam dúvidas aqui. Era sem dúvidas... Sem dúvidas obra do sobrenatural agindo mais uma vez diante de seus olhos escuros.
Todos os olhares olhavam para ele com preocupação. Mas estavam todos calados assim como ele.
Depois da consulta com Tsukiama, foram até o bar, e Sado ficou junto da dona do bar e do velhote.
Yuki quem saiu.
E depois disso...
Depois disso o quê?
Já não estava mais no bar. E tudo parecia ter regredido.
As mentes, as pessoas, os eventos. Tudo.
Isso sem sombras de dúvidas era algo sobrenatural.
E havia aqui alguém que era o inimigo comum do sobrenatural.
Tudo regrediu.
Tudo menos ele, Sado Yasutora.
— Eu vou lá naquele bar.
— Sado, não se preocupa com essas coisas. Hey, está tudo bem. Vamos procurar pistas em outro lugar!
Quando o garoto fez mansão de dar um passo, Yuki se pôs no caminho.
— Yuki, deixa eu passar.
— Sako, cara, não quer uma água? Você parece pálido.
— Eu vou lá naquele bar...
Ele passou pela garota e pelo pai do Ike sem recuar.
"Eu não aguento mais... Tá todo mundo estranho! É mágico. Só pode ser isso!"
Sabendo da possibilidade de ser uma armadilha cruel, ele rangeu os dentes e se pôs a correr.
Bateu o pé do carpete da sala e saiu pela porta descendo as escadas rapidamente.
— Sado!
O grito da menina não o alcançou. Não iria alcançar. Seus sentidos, seus pensamentos — estavam todos direcionados ao misterioso bar.
— Merda. Que merda! O que tá havendo aqui, afinal!? Maldição!
Nas ruas ele corria com velocidade máxima.
Sua mente por mais que agora marcava um objetivo, ainda estava sentindo como se faltasse algo.
— Tinha que ser assim, huh? Não poderia ter sido mais óbvio, como um mago ou besta? Situações como essa do qual o inimigo não está claro é meio chato de se resolver!
Mas ele sorriu.
— Infelizmente pra você, senhor destino, eu sou o cara do qual escapa das situações mais improváveis!
Se era algo sobrenatural, bastava dar um soco nisso e tudo se resolveria.
— E é isso que eu vou fazer. Eu só preciso achar o culpado e pronto!
Ele correu e correu em direção ao estabelecimento.
Foram mais algumas quadras de pura corrida, passando por ruas e mais ruas.
Sado cansado, pois não era do seu costume correr tanto, ofegava suado olhando para a fachada do bar.
Era um bar comum onde pessoas comiam, principalmente bebiam e fumavam.
— Ela não me seguiu até aqui. Então eu posso entrar e fazer a bagunça que quiser.
A respeito de Yuki, ela havia sido deixada para trás e ele até ficou um pouco feliz com isso. Ter ela aqui, por mais forte que ela seja, poderia ser um problema. Era um risco que ele não queria cometer.
Se ela foi afetada por essa distorção na Realidade, o que mais poderia afeta-la também?
— Por isso só deve ser eu.
Concluindo assim ele entrou no bar pela porta da frente, como da primeira vez.
E, assim que entrou, foi recebido pela mesma mulher de antes. Uma mulher de meia idade mas que fora conservada pelo tempo.
— Ora, ora, um garotão entrando no meu bar assim de repente? Lamento, mas se você estuda, não irei oferecer bebida alcoólica alguma.
— Que bom que eu não vim pra isso. Posso dar uma olhada no seu bar?
A mulher ergueu uma sobrancelha.
— Não tem nada de errado com o meu bar pra um garoto estar se preocupando a toa. Vai querer comprar algo?
— Tô sem dinheiro.
Sado que respondia a dona do bar de forma leviana, não percebeu a veia saltando na testa dela quando a mesma ouviu que ele estava sem dinheiro.
Ele foi pro centro do bar e fazia algumas perguntas enquanto olhava para os lados.
— Tia, aconteceu alguma coisa no seu bar recentemente?
— Mas que coisa, garoto pobretão. Quer fazer perguntas mas não vai comer nada? Falta de respeito dos jovens de hoje em dia, huh? E eu já te falei que não há nada de errado com essa espelunca, então se já é o suficiente, pode ir embora, aqui não é hotel.
— Se fosse hotel, só pela sua recepção seria zero estrelas.
— Quê? — outra veia pareceu pulsar na testa dela, o que deixou o jovem acuado.
— Nada. Uhhm... — tentando mudar de assunto e investigando, Sado apontou. — Tia, o que tem naquela porta ali?
Ele apontou para a porta de trás, a mesma onde Yuki havia ido antes.
— Ali? É só a porta dos fundos. Leva pra rua. Aproveita que você não tem dinheiro e dê o fora daqui.
— Hum. Eu vou sim. Obrigado.
— Tsk. Tá me agradecendo por quê? Pirralho.
A mulher com os braços cruzados pareceu irritada com Sado que tendo dessa reação nada amigável, esboçou um sorriso incomodado.
Então, terminando seu curto diálogo com a dona do bar, o jovem foi até aquela porta e pôs a mão na maçaneta de metal.
Era gelada.
— Me parece só uma porta normal. Yuki foi mais longe do que isso?
Embora gelada e com uma sensação esquisita no peito, ele só pode concluir que não existia nada anormal nesta porta.
Abrindo-a ele sai do estabelecimento que fedia a cigarro e recebe a luz do sol.
Era outono, mas as árvores não davam indícios de que estavam alaranjadas ou que iriam cair para o início do inverno.
Este ano estava sendo o outono menos outono no Japão.
Sado ignorou essa breve análise do dia e caminhou em linha reta seguindo a rua.
Era uma rua normal.
Ele caminhava e, por mais que sozinho, passava por edifícios, apartamentos e becos sem perceber efeitos do sobrenatural.
— Pra mim, parece tudo normal.
A cada passo, nada parecia que sairia do chão ou pularia das paredes.
Sado andou com essa leveza de sensação por mais alguns bons minutos até parar.
— Ué?
Ele não parou porque se lembrou de algo.
Não parou porque alguém o chamou.
Mas sim porque havia um muro de tijolo no meio da rua.
— Eu não conheço essa parte da cidade. É o lado oposto de onde eu moro, mas não me parece certo um muro cobrir toda a rua.
Era por isso que não passava carros ali onde ele estava? Andou por alguns minutos e não viu movimentação de veículo ou pedestre algum.
O sentimento de se sentir inteiramente sozinho em uma rua longa em linha reta pressionava ele por dentro.
O garoto olhou para trás.
— Não têm ninguém me seguindo também.
Além disso, um breve sentimento de perseguição surgiu dês de que começou a caminhar pela rua sozinho.
Ele se arrependeu de ter deixado Yuki para trás.
E se algo ruim acontecer com ele? Ele sequer estava com seu celular.
— Não. Não posso me acovardar agora. Eu cheguei até aqui e voltar atrás seria um vexame pra qualquer herói de histórias.
Com um "vejamos", ele averiguou os arredores para ver se havia algo que pudesse usar para subir em cima e pular o muro.
Nada achou, mas...
— Bem. Tem um beco ali. Acho que posso usar ele pra contornar o muro e sair para o outro lado? Conhecendo a Yuki, ela deve ter pulado o muro com um único salto. Mas eu não tenho essa força toda.
Ele era um jovem normal, com capacidades dos quais qualquer ser humano nasce. Não existia nada de especial aqui quando se tratava de habilidades físicas.
Pra falar a verdade, Sado era um sedentário. Só isso era motivo o suficiente para ele ser considerado abaixo da média física.
— Prometo que começarei a treinar quando eu me estabelecer em casa.
Dizendo suas promessas para o futuro, ele escolheu entrar no beco.
O beco era escuro. A luz do sol era barrada pelos apartamentos deixando o estreito beco frio e com aspecto mal.
— É um belo lugar para ser assaltado.
Seus pés passavam por ratos e lixeiras.
A quietude do local permitia a Sado somente ouvir os passos dos seus pés e nada mais.
O seu olhar atento prestava atenção em cada canto estreito do beco.
— .....
A ruela tinha uma atmosfera própria tão distante da rua em que estava que causou calafrios no garoto.
Nada parecia sai dali. Mas tudo parecia existir ali.
Toda possiblidade de causa. E todas ruins.
Roubo, assassinato, estrupo, agressão, sequestro, envenenamento, overdose por injeção, mutilação...
— Isso tá parecendo umas tag de mangá super bizarro que dá pra se encontrar por aí...
Abafando as cruéis possibilidades, ele chegou em algo.
— Hum. Uma cerca de grade.
Tal como havia dito, em sua frente um cercado de arame existia. Porém, esse tipo de cerca é fácil de se escalar e pular para o outro lado.
E é isso o que ele irá fazer.
O garoto colocou suas mãos na grade de ferro e tentou se empoleirar nele.
Escalar era fácil, só exigia certo equilíbrio e força.
Assim, ele escalou a grade de poucos metros e estando no topo se sentou na parte fixa.
— Hehe, molezinha. Agora é só descer e dobrar o beco. Espero que todo esse esforço valha a pena.
Limpando o suor da testa com a manga do seu casaco azul, ele respira um pouco de ar.
Feche os olhos e suspire descansando um pouco.
O ar era leve e o vento soprava agradavelmente em cima dessa cerca. Tão agradável que era aterrador o contraste de diferença de quando estava lá em baixo, no beco abafado e sem luz, para a sensação de agora.
Mas ele não poderia ficar aqui para sempre. Sado sabia que estava perto de encontrar algo. E ele iria até o fim para resolver esse mistério.
Abra os olhos após ter respirado um pouco e se prepara para o que vier.
— Vamos, Sado Yasutora, você consegue!
Ele saltou da cerca e pousou no chão.
— Ué...?
O pouso foi rápido demais, como se ele não estivesse nem um pouco alto.
Na verdade, olhando agora para os seus pés...
— Que claridade toda é essa?
Ele resolveu levantar a cabeça e olhar para o que estava diante de seus olhos.
Um beco? Não.
Um muro? Não.
Maldições? Também não.
— Tá brincando comigo... Né?
Seus olhos tremeram. Tremeram a ponto de lhe causar um nó no estômago.
Visão do inferno?
Visão de algo cruel e indescritível?
Nada disso. Era apenas um parquinho à céu azul, onde pais brincavam com seus filhos e carros eram conduzidos na rua ali perto.
E...
— Tá falando sozinho, Sado?
A voz. Seus ouvidos tremeram e ele instintivamente virou a cabeça em direção a voz.
Um pouco mais baixa que ele, estava ali de pé, uma menina de cabelos brancos.
— Yuki...
— Eaí, belezinha?
Com a mãos nos bolsos, ela sorriu pra ele.
— Eu tô ficando louco?
O garoto sentindo-se tonto olhou para os arredores.
Yuki, playgrounds, rua, comércios, um banco...
...Era a exata mesma imagem que viu duas vezes seguidas, e nada mudava.